A Liberdade do Corvo escrita por Raquel Barros, Ellie Raven


Capítulo 26
Capitulo Vinte e Cinco - Arya


Notas iniciais do capítulo

Para tudo existe um motivos, sadizinhas.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/581239/chapter/26

Surpresas nunca são de mais. Mas algumas surpresas são simplesmente inacreditáveis. Ethan Baelfire Apache é o meu irmão Baelfire. Aquele que eu juro que achei que tinha morrido. E meu Deus! Ele estava ali, o tempo todo. Na minha cara, na cara de todos? E como eu posso ter tantas certezas disso? Tendo! Simplesmente tenho como o calor que esquenta meu coração. É apenas a certeza invisível que move o mundo. Uma fagulha de esperança que incendiou uma floresta inteira. Mas o que seria de mim sem a esperança? Há alguns meses atrás nunca imaginaria que conseguiria ver o céu e as estrelas novamente e hoje eu não só vejo como tenho uma campainha agradável para isso.

–Hazazel roubou o filho do irmão? Mas por que ele faria isso?

Pergunta Zoey o que todos nós nos perguntamos. Não faz o menor sentido. Roubar o filho do irmão? Pelo amor de Deus! Que isso? Hazazel já tinha um filho quando o Baelfire nasceu. Não faz o menor sentido ele ter destruído minha família para roubar o Bael. Apesar de que agora a destruição da minha família faz sentido. Se Hazazel tivesse roubado o Baelfire com meus pais vivos é claro que ele seria recuperado logo depois. Então era mais pratico matar-los, para dar um sumiço em Baelfire e em mim também.

–Hazazel tem um filho biológico consideravelmente fraco. Talvez ele tenha medo de que quando morrer Miguel der o reino “suado” que Hazazel conquistou para a Beverly de mãos beijada.

Explica meu avô, William, o Lorde Dark, que todo mundo jurava que estava morto. Não quero nem ver como meu tio vai reagir quando souber esse detalhezinho muito significante. Minha tia e Eva tinham salvado William um pouco antes de ele morrer de verdade e o esconderam do mundo e de todos. Mas essa atitude foi apenas para salva-lo da fúria de Hazazel. Afinal, Alef assassinou Drakon.

–E o que o Ethan tem a ver com isso?

Indaga Emma. Foi uma pergunta com certeza valida.

–Hector era extremamente determinado, cabeça dura, um estrategista espetacular e muito poderoso...

–E a Aurora era uma grande influenciadora, conquistava as massas com poucas palavras e atitudes, era uma maravilhosa lutadora... Bem, acho que o Hazazel deduziu que o Ethan seria a mistura perfeita para governar o reino dele. Personalidade e poder fazem um líder forte hoje.

Completa Eva. Parece que ela conheceu minha mãe. Mas quem não conheceu minha mãe? Eu! E toda a culpa foi do... Ah! Você já sabe. William olha para Eva de como se ela o tivesse traído escondendo a existência da minha mãe dele. Ele também não a conheceu. O raciocínio de Eva faz muito sentido. No curto período de tempo Ethan realmente demonstrou essa “qualidades”. Ele é realmente uma cabeça dura e também muito poderoso. E a maioria dos lideres que eu conheço também são assim. A Beverly, o Alef, o próprio Hazazel... Ter uma personalidade ajuda na hora de não ser influenciado, e poder inspira medo. É coisa de louco.

– Arya, você é quantos anos mais nova do que Baelfire?

Pergunta William não me chamando de baixinha. O que foi um alivio. Eu sou uma garota de baixa estatura, mas quando me chamam de baixinha é como se me disser-se que sou baixa até para uma baixa. Afinal baixinha é diminutivo de baixa. Ninguém precisa me lembrara o quanto o mundo pode ser grande.

–Dois.

–É a caçula?

–Sou.

–Hector teve outros filhos?

–Sim! O Jasper e o Neal.

–E eles são filhos de quem?

–Da Hannah, ela morreu no parto do Neal.

–A Hannah? A humana? Quantos anos esse meninos tem? Uns cem?

–Não! Jasper tem vinte e dois e Neal tem vinte.

Corrijo gostando do fato que sei de alguma coisa pelo menos. É que aqui todo mundo sabe muito, e eu pareço uma jumentinha perto dele. Mas isso é só consequência dos anos em Fell. William levanta as sobrancelhas, talvez impressionado com a quantidade de anos que Hannah viveu.

–Quem é que vai contar para o Ethan que ele é irmão da Arya?

Indaga Emma penalizada. Sabe o que eu acho? Que Emma está apaixonadíssima pelo Ethan. Os olhos delam brilham apenas de nós dizemos o nome dele. Se isso não for paixão não sei o que é.

–Você?!

Responde Eva, minha avódastra. Eva é uma mulher super gente boa. Não sei como meu avô conseguiu conquistá-la com tantos defeitos darks. Por que isso é o que ele mais tem: Defeitos de Dark.

–Mas por que eu?

–Simples! Quem estava no agarramento com o Ethan até alguns instantes atrás? Você é a pessoa certa.

Explica Zoey cruzando os braços, voltando a ter aquela pose de durona que é a cara dela. Mas isso é só para esconder o que ela está sentindo. A Zoey está dilacerada. O Cyrus acabou por deixá-la assim. Em cacos. Ele também não saiu daqui cem por cento. Na verdade, acredito eu, que Cyrus está pior do que a Zoey no quesito coração partido. E isso não é bom. Nem um pouco bom. Só para tio Dexter é claro. Ele não quer que a Zoey fique com o Cyrus.

Enquanto Zoey e Emma discutem me ocorre uma coisa: O Ethan não vai acreditar que eu sou irmã dele. Primeiro, por que não somos parecidos. O Ethan é loiro e têm olhos verdes, eu sou morena e tenho olhos azuis. Irmãos sempre têm alguma coisa em comum fisicamente e isso não temos. Segundo, por que ele acreditaria que é irmã de uma fugitiva de Fell? Não faz nenhum sentido ele ter uma irmã que estava em Fell quando ele estava no palácio em Great Master. E por que Hazazel prenderia a irmã mais nova e não a deixaria perto dele? Não vai fazer sentido na cabeça dele. Terceiro, porque o Hazazel fez a cabeça dele. Foi o Hazazel que criou o Ethan. Foi ele que lhe entregou valores, regras, ensinou o que era certo, o que era errado. A criação que Hazazel deu para o Ethan moldou sua personalidade e seu ódio pela família Blood. Para Ethan somos inimigos e é muito pouco provável que ele passe a me ver ou a ver meus irmãos ou até o William como família. Para ele, família é Hazazel, e ponto. E quarto, um colar não prova nada. Na verdade o colar pode ser apenas uma coincidência. E por que o Ethan acreditaria nisso? A vida dele é perfeita. Ou melhor, quase perfeita. Ele mora em um palácio de Master Great, têm servos a sua disposição, comida com fartura, e vai herdar o trono. Para fazer com que meu desconfiado irmão acredite que na verdade o seu pai não é seu pai, mas seu tio, nós precisaríamos de uma prova mais concreta.

–Ele vai achar que é um truque!

Aviso interrompendo a discussão entre Emma e Zoey.

–Ah! Por quê?

Indaga Emma, como sempre ingênua.

–Primeiramente, não somos parecidos, Ethan é loiro e têm olhos verdes, eu sou morena e tenho olhos azuis. Irmãos sempre têm alguma coisa em comum fisicamente e isso não temos. Segundo, por que ele acreditaria que é irmã de uma fugitiva de Fell? Não faz nenhum sentido ele ter uma irmã que estava em Fell. Terceiro, o Hazazel fez a cabeça dele. Para Ethan é somos inimigos e é muito pouco provável que ele passe a me ver ou a ver meus irmãos ou até o William como família. Para ele, família é Hazazel, e ponto. E quarto, um colar não prova nada.

Explico frustrada. Talvez for irmã do Ethan não vá servir para nada.

–Ser cabeça dura serve?

Pergunta Aspen. Olho para ele e faço uma careta. Aspen tinha que ficar de repouso. São ordens medicas. Mas não, aquele humano sonso simplesmente quebra o repouso e está de pé na minha frente, com o cabelo ainda bagunçado, e um sorriso de garoto traquino que me deu uma vontade de arrancar de seu rosto. Ele quase me matou do coração! E eu não estou de brincadeira. Esse humano quase morreu ontem. Tipo, o coração dele parou. Eu fiquei desesperada. Não só eu, mas todo mundo.

–Como o que Aspen? E o que você está fazendo em pé?

–Como prova de que são irmãos? Vocês são um a cara do outro. E eu só estou em pé por que não gosto de ficar parado, me da nos nervos. E eu não morri ainda.

Responde meu mestre( ler-se namorado) fazendo uma piada muito sem graça com a morte.

–Como é?

Pergunto cruzando os braços.

–Nada não! E aí, se você é irmã do Ethan não te faz uma princesa de Great Master também?

–Não sou eu que sou irmã do Ethan, ele que é meu irmão. E para Great Master não passo de uma fugitiva perigosa.

–Você está complicando nossa vida criatura! Como assim ele é seu irmão e você não é irmã dele?

–Eu sei que ele é meu irmão, mas ele não sabe que sou sua irmã, isso faz que ele seja meu irmão, mas eu não seja sua irmã?Entendeu?

–Hã? Não! Definitivamente não! E olha só Arya eu sou um gênio e tal, mas não estou duzentos por cento ok? Não abusa da minha inteligência.

–Affs! Deixa isso quieto, Aspen! E para de ser convencido?

–Você quer o que? Tudo ao meu redor me prova que eu sou uma pessoa a frente do meu tempo. Eu posso ser meio sadic sabia? Ah! Não! Eu não posso! Isso diminuiria minha genialidade em cinqüenta por cento. Afinal, sou genial para um humano, e mais inteligente do que a maioria dos cromes por aí.

–Você é metido e convencido!

–E vós sois a aluna mais cabeça dura que eu já tive. Não pode simplesmente balançar a cabeça e concordar, ou rir como faz a Zoey?

–Sois? Que sois Aspen? Nem meu avô diz isso, pelo amor de Boreh, volta a dormir.

Peço da maneira mais calma que eu consigo. Esse humano me da nos nervos e nos hormônios. Depois dizem que eu sou a cabeça dura. Aspen faz uma careta e nega-se:

–Hahaha! Engraçadinha! Eu dormir tanto que estou entediado só de lembrar! Eu quero é ação! É luta! Quero doce também! Daniel! Oh Daniel.

–Que foi, Lorde Aspen?

Pergunta Daniel. Desse eu tenho é pena. Mandam-no ir para lá, vim para cá, voltar lá. Não dão paz nem descanso para o garoto em momento nenhum. Isso sem contar os momentos em que dão ordens opostas para o guri.

–Trás alguma coisa doce para mim, Daniel.

–O que, por exemplo?

–Chocolate. Brigadeiro... Sei lá! Algo que não seja branco nem amarelo, nem colorido...

–Daniel, não traga nenhum doce para o Aspen. Traga para ele o remédio

Ordena Eva. Daniel faz uma cara de confuso digna do Oscar. Quem ele obedece? Eu não disse que esse menino sofre. Eu é que não queria está na pele dele.

–Mas por que não?

–Por que o senhor, dono Aspen, tem diabetes se não lembra.

–Olha só! Tia, eu posso morrer a qualquer momento! A qualquer momento, entendeu? Eu preciso aproveitar o que é bom na vida. E doce está na lista.

–Como assim você vai morrer Aspen?

Indago. Esse papo já está é sério. Morrer a qualquer momento já não é uma brincadeira. Com certeza não é. Aspen olha para minha cara, e fica sem palavras por alguns momentos. Depois passa a mão no rosto e exclama:

–O que você está fazendo aqui? Meu Deus! Esqueci... Merda, merda, merda. Porcaria de remédio.

–Aspen?

–Ok! Temos que conversar.

–E você foi descobri isso agora?

Ironizo furiosa com ele. O que esse humano está me escondendo?

–Vem logo!

–Eu tenho que resolver o assunto sobre o Ethan...

–Não precisa Arya, temos quatro cérebros para pensar sobre o assunto. Vá conversar com o Aspen, é bem mais importante.

Diz Eva com um olhar solidário. Agora eu quero é fugir dessa conversa. Não preciso saber sobre a saúde do Aspen mais do que eu já sei. Ele está doente. Eu sei disso.

–Hã, mas...

–Vem logo, merda!

Chama Aspen irritado esperando enquanto segura a porta. Vou a sua direção muxoxo. O que esse humano está me aprontando? Entro na sala, e Aspen fecha a porta atrás de si. Agora sim ele estava nervoso. Ansioso se preferir. Tentava acalmar sua respiração da maneira mais silenciosa possível.

–Ok! O que é que você tem?

Pergunto quebrando o silencio.

–Não! Arya, perguntou errado! O que é que eu não tenho?

–Me diga você?

–Não tenho câncer no cérebro, nem no pulmão, nem no fígado. E muito menos na próstata, sou muito jovem para isso. Mas para compensar meu coração não funciona direito, tenho anemia falciforme, diabetes e lúpus. E no dia que a base Um entrou em erupção, descobri que agora tenho leucemia aguda em estado terminal.

–Você vai morrer?

Sussurro minha pergunta como se eu não acreditar-se nas minhas próprias palavras. Mas sinceramente não acredito. Sei que leucemia é grave o suficiente para levar a morte. Mas, tinha que ser o Aspen? Logo o Aspen com tantos problemas de saúde? Mas a vida é tão injusta. Comigo, com o Aspen... Logo agora que estou arranjando uma felicidade em meio a esse caos que é a guerra descubro que o Aspen vai morrer. Quer dizer, todo mundo morre um dia, mas, a maioria não se vai tão cedo.

–Todo mundo vai morrer um dia, só que eu tenho apenas meses de vida, no máximo, um ano.

–Um ano, Aspen?

Pergunto sentando na cadeira mais próxima. Ah! Meu Boreh! Um ano é muito pouco. São apenas 365 dias. São doze meses. E para quem está morrendo é um piscar de olhos, e para quem quer curtir cada momento com quem está morrendo é um tempo menor ainda. Aspen continua parado a minha frente, escondendo as mãos no bolso do moletom e olhando para baixo.

–Um ano, no máximo.

–Por que não faz um tratamento?

–Para me garantir mais alguns dolorosos anos de vida? Arya, primeiramente, teríamos que achar um doador de medula óssea compatível. E minha irmã com certeza não está nessa lista. A maioria dos humanos de hoje tem algum problema grave no sangue e eu não posso receber de um sadic!

–Não tem nenhuma outra solução?

–Apenas se eu virar um sadic, e sinceramente, me recuso a fazer parte de uma espécie que extinguiu a minha de maneira tão brutal. E eu não tenho medo de morrer. Tenho medo de não viver antes de morrer.

–Por que você não me contou?

Pergunto sem acreditar no que ouço. Cadê a minha esperança de nesse instante? Desapareceu. Simplesmente sumiu como uma agulha no palheiro. No lugar da esperança apareceram as lagrimas. Tantas quantas são possíveis, deixando minha visão turva, e escorrendo por minhas bochechas como a chuva escorre pelo vidro da janela. Meu coração parece pesado em meu peito. As mãos quentes de Aspen segura minhas bochechas. Eu me jogo em seus braços, com minha cabeça em seu peito. Queria ouvir seu coração enquanto podia. Aquele som frenético e forte.

–Eu estava com muito medo, Arya.

–De que?

–De você não querer um humano, ainda mais um humano com a expectativa de vida tão baixa.

–Agora estou furiosa com esse humano.

–E é justo. Eu não posso te pedir para ficar comigo quando posso partir a qualquer momento. Você é jovem de mais para se envolver comigo e depois sofrer com minha morte.

–E você é jovem de mais para morrer.

–Tenho vinte anos! A maioria dos humanos que eu conheci não passou dos doze. Tenho quase nove anos a mais de vida do que minha espécie normalmente tem hoje.

–Aspen, para de falar de morte! Você já está me dando nos nervos.

–Desculpas se essa é minha atual realidade.

–Você não está morto ainda.

–Estou quase morto.

–Você não me parece quase morto.

Insisto. Ele quer por que quer colocar em minha cabeça que está quase morto. Mas eu não deixo. Só vou acreditar que Aspen vai morrer quando ele morrer. Antes disso, ele que tire de sua cabeça que vai conseguir me convencer de que ira morrer. Ficamos em silencio por alguns minutos, abraçados como se não existir-se mundo.

–Aspen...

–Estamos em um momento emocionante, não o atrapalhe.

Resmunga Aspen apenas rabugento como sempre é. Como é que eu fui me apaixonar por esse homem? Como meu Deus? É humano, preconceituoso, odeia minha espécie, é rabugento, convencido e está morrendo. Deve ser de família. Meu pai se apaixonou por uma humana e eu estou seguindo o mesmo caminho. Levanto os olhos para dar uma encarada no Aspen. Parece que quando ele fica emocionado fala bobagens.

–Que é? Vi isso em um filme. Ok! Pergunta.

–O que vou fazer sem você?

–Sei não!E como não vou esta aqui, não vou opinar. Mas...

–Mas...

–Quero que você ame alguém, tenha filhos com esses lindos olhos e coloque meu nome no mais velho. Eu sei que você vai conseguir convencer o dono do seu coração a isso. É tão cabeça dura.

–Você é quem é o dono do meu coração.

–Só por alguns meses... Depois achara um substituto melhor do que eu para ocupar o meu lugar. E vou devolver seu coração assim que eu tiver certeza que vou morrer.

–Para de falar isso.

–Você está chorando antecipadamente?

–Estou.

–Meu Boreh!Se continuar assim vai ficar difícil. Olha só... Quer continuar com isso?

–Com isso o que?

–Com esse inicio de relacionamento predestinado a um final digno de romance triste?

–Quero sim.

–Então me prometa uma coisa.

–O que?

–Assim que eu morrer, você vai criteriosamente da todo esse amor guardado nesse coração minúsculo para alguém com tempo para cultivá-lo.

–Prometo. E por que está chamando o meu coração de minúsculo? Ele é maior do que o seu!

Concordo, e reclamo com ele logo em seguida. O que é que esse mundo tem contra as baixinhas? O que? E esse senhor está simplesmente dizendo que meu coração é minúsculo. Pode isso? Minúsculo é o coração dele. É do tamanho de sua mão fechada. O meu, diferentemente é duas vezes maior do que o dele, por que o meu corpo precisa de mais sangue sendo bombardeado para o cérebro.

–Aposto que sim. Mas é que você é minúscula.

–Aspen!

–Quê? Eu estou mentindo?

–Eu não sou minúscula.

–É verdade! Você é baixinha.

–Não sou baixinha. Sou uma GDBE.

–E isso é?

–Garota de baixa estatura.

–Da na mesma, nanica.

Retruca rindo e me dando um beijo na testa. Odeio quando beijam minha testa. É como se dissesse que eu sou nanica. Uma hora eu dou uma surra nesses varas paus que se acham o máximo por causa da altura. Tamanho não é documento.

–Eu não sou nanica, você que é alto de mais. Parece um vara pau.

–E você com uma anã. Só faltou a barba.

–Avatar.

–Eu não sou azul.

–Então, pé grande.

–Então você é um Hobbit.

–Que é isso?

–Deixa para lá.

–Ok!

–Ok!

Concorda Aspen sentando no chão. Com aquela cara de menino amarelo não resisto e peço:

–Agora me beija.

–Com prazer.

Concorda Aspen rindo como um garoto traquino. Ah! Meu Deus! Onde fui me meter? Onde é que inventei de amarrar meu burro, como diz a Zoey. O Aspen me da um beijo adocicado atrás do outro e isso me faz rir. Desde que nos beijamos na arvore ele deixou de ser tímido. Sempre que possível me rouba algum beijo inesperado. Ou vários como está fazendo agora. Logo depois segura minha cabeça com aquelas mãos quentes dele, e me da um beijo mais demorado. Que é interrompido pelos gritos da Zoey:

–Arya! Aspen!

–Oooh, Zoey! Vê se me erra.

Irrita-se Aspen. Acho graça nessa amizade dos dois. Os dois ficam se perturbando a todo o momento. São dois sem noção. A Zoey revira os olhos quando me ver quase que em cima do Aspen.

–Temos assuntos mais urgentes para resolver.

Avisa enquanto eu me levanto e ajudo o Aspen a levantar. A Zoey faz uma careta para o Aspen quando ele pergunta:

–Por exemplo?

–Voltar à base com o restante dos materiais. A maioria foi enviada pelas águias, mas não achamos seguro mandar as armas de fogo com elas. Sabe, como é né?

–Ir agora?

Pergunto um tanto preocupada. E os Sauters? Eles normalmente ficam de olho para ver se não tem nenhuma comida perto de onde as perdi. Sabe que bem que eu queria que os Sauters fossem vegetarianos. Seria tão mais prático.

–Sim!

Confirma a Zoey de maneira energética. Algo me diz que ela quer ir para os braços da mãe e desabafar. Eu também queria. Na verdade, e queria saber onde foi que enterraram meus pais. Só para ir fazer uma visitinha. Mas dificilmente me contariam. Quase não me contaram como eles morreram quanto mais. Claro que eu sei que eles foram enterrados. Esse ataque Sauter foi para matá-los. Depois de o conseguirem os Sauters foram embora. É que Hazazel os controla.

–Conferiu a região para ver se tem Sauters?

Indaga Aspen, arrumando o moletom cinza. Ele se espreguiça, deixando um pouquinho do seu abdome bem definido a mostra. É esse humano não perde para nenhum sadic mesmo. Só na saúde.

–Sim! E o mais próximo está a quilômetros de distancia. Também vamos com um blindado. Melhor. Com vários blindados.

–Coleção Pack?Maravilha!

Comenta Aspen satisfeito. Eu odeio quando eles têm essas conversas silenciosas. Principalmente por que eu não entendo merdas de nada. E Aspen e Zoey têm muitas dessas conversas com muita freqüência.

–O que tem essa coleção Pack?

Indago infeliz na minha ingenuidade. Aspen passa o braço por minha cintura, me levando mais perto de si e explica com um sorriso habitual no rosto:

–Bem. Um carro só se conecta via Bluetooth a outros, fazendo com que apenas um dos carros precise ser dirigido. Os outros recebem comando pelo carro em que há um motorista. É mais seguro para longas viagens. É como uma matilha. E as chances de nos pegarem com todos nos em um único carro blindado é menor do que se tivemos todos em carros separados. Os Sauters são até perigosos, mas não tão inteligentes. E com os holográficos enganá-los vai ser como descascar banana. Isso se eles conseguirem nos alcançar.

–Já acharam a Gwen?

Pergunto preocupada. A Gwen tinha sumido quando estava perseguido o Caleb. Ela era quem estava mais furiosa com o trio. Não consigo imaginar o por que.

–Ela já voltou.

Responde Zoey com uma careta.

–De onde?

–Os meus primos queriam roubar nossas informações mais confidenciais, a Gwen estava perseguindo o Caleb.

Respondo aproveitando a oportunidade. Aspen levanta as grossas e negras sobrancelhas e muito surpreso pergunta:

–Daqui?

–É! Daqui!

Concorda Zoey.

–Nunca que eles conseguiriam.

–Por que?

Pergunto.

–Não há informação confidencial nenhuma nas bases. Estão todas em um lugar separado e bem protegido do qual Hazazel nunca imaginaria. Por isso o espião deles não está ajudando muito, nossos planos são bolados horas antes.

–Tem um espião aqui?

Indago incrédula. Mas como alguém é capaz de trair esse lugar, essa pessoas, essa causa? Queremos proteger uma espécie de sua total extinção e conquistar oficialmente nossa independência. Confesse, é uma causa nobre. Melhor do que quere mandar no mundo inteiro como a de Hazazel.

–Vários e por todos os cantos. Sabemos de quem são quase todos, exceto dois: Águia Vermelha e Earthworm. O restante é muito indiscreto.

Responde Zoey, colocando as mãos no bolso da calça jeans.

–E eles sabem que sabemos?

Pergunto colocando minhas mãos no bolso do Aspen. Há um claro congestionamento dentro deles. As mãos grandes e quentes do Aspen estavam sendo pressionadas pelas minhas pequenas e frias mãos. Ele deu uma tremida quando elas se encostaram. De frio é claro. Minha temperatura é mais amena do que a de Aspen. Afinal, meu sangue tem a temperatura menor do que a dele.

–Não! Exceto a Águia Vermelha. Já conclui que faz parte do conselho, e que a minhoca é quem manda as informações para Great.

Responde Zoey rindo da minha linda falta de informação. Devo avisar com antecedência que é apenas por falta de tempo. Mas como está faltando tempo para tudo, e para todos, então não é uma boa desculpa.

–E quando vocês descobrirem, o que vai acontecer com eles?

–Vão passar por um julgamento e dependendo das conseqüências que suas informações causarem, o castigo pode ser desde ser afastado do cargo e expulso da Base, a prisão perpetua até a guerra acabar e em casos mais graves a morte.

Responde-me Aspen. Agora estou até com pena desses espiões, mas, as atitudes deles podem acabar com vidas. Paro de penar nisso e vou ao meu quarto para me arrumar para a partida.

–--

Depois que me arrumo, me despeço de meu avô, da avódastra, de Simom, o simpático, e de Daniel, o sofredor. Nosso reduzido grupo vai para a garage onde vários modelos diferentes de carros estão estacionados. Tem também lindas motos que pareciam mais maquinam prateadas e pretas de outro mundo com tantos assessórios e outros trequinhos irreconhecíveis. Algumas têm até armas acopladas. Quero pilotar uma dessas. Seria o máximo. Mas eu tenho que contentar com um carro preto para seis pessoas. Ele tem um designer felino. Linhas graciosas e no pára-choque os faróis pareciam olhos. Não sei como é que seis pessoas vão caber em um carro que parece tão pequeno. Mas minha duvida logo é assassinada brutalmente quando entro no carro. Ele é espaçoso como uma nave. Tem dois bancos de cada lado em três fileiras e seis portas que abrem para cima. Uma porta para cada banco. Parece até um besouro de cabeça para baixo com olhos de gatos que pode se camuflar onde quer que esteja. Também tem lugares para colocar armas, um painel super tecnológico, e apesar de não parecerem, as portas são de vidro com blindagem para um missel. Sento do lado do Aspen na frente. Ele coloca luvas de pilotagem e óculos aviadores pretos. Tem um leve problema de visão. Aspen aciona algum programa no painel eletrônico do carro. Esperamos alguns minutos enquanto o download completa. Quando isso acontece uns vinte carros ligam o farol e fazem sozinho duas filas ao lado do nosso. O motor do nosso ronca lindamente enquanto a porta da garagem abre, revelando a floresta esbranquiçada. Um segundo depois estávamos em alta velocidade correndo para o mundo exterior. A luz e o calor do sol vão direto à minha cara. Ah! A liberdade. Só não vejo a hora de sair desse carro com um piloto prestes a morrer que quer viver perigosamente. Pior ainda, ele quer nos levar junto. Vê se pode.

–Gwen! Você está sabendo qual é a nova novidade do pedaço?

Pergunta Zoey quebrando o silencio. A Gwen levanta aqueles olhos azuis esverdeados dela e pergunta desanimada:

–Qual, Zoey?

–A Arya é provavelmente irmã do Ethan.

–HÃ?

–Isso aí! Irmã.

–Mas como?

Pergunta Gwen me dando uma olhada estranha. Só espero que nosso inicio de amizade não seja afetado com essa noticia bombástica. Ser irmã do Ethan não está exatamente entre as vantagens de ser Arya, está entre as perto de ferrar com a Arya. Do jeito que essa criança é odiada naquela Base. Estou até achando que é melhor esconder isso da grande maioria.

–É uma longa historia mais tarde te explico.

Respondo pela Zoey. Do que jeito que essa daí pode ser sensacionalista, não se pode arriscar.

–Promete?

–Prometo.

–O que é aquilo ali?

Pergunta Emma, que estava atrás apontando para três pontos pretos na nossa frente. Enquanto chegamos mais perto, percebo que na verdade são três homens encapuzados atrapalhando nossa passagem. Cyrus com um arco imenso nas mãos, Caleb, milagre ele está totalmente vestido, e Ethan, como sempre, o príncipe entre os plebeus. Sinceramente não sei pra que tudo isso. Só prova mesmo que o povo de Great Master tem juízo de menos e pose de mais. Aspen para o carro na frente deles. E Gwen rosna mais atrás:

–Parece que as cobrinhas estavam nos esperando.

–É melhor que as envolvidas desçam. Exceto a Arya é claro.

Avisa Aspen, segurando minha mão. Zoey faz careta e a Emma se livra da tarefa:

–Ele está falando com você Gwen.

–Eu? Eu não! É provável que o Cyrus me atinja com uma daquelas flechas só por ter acabado com o sonho dele de conquistar a Zoey.

Nega-se Gwen agora um pouco desesperada. Ok! Pelo menos ela sabe que suas atitudes têm conseqüências. E a atitude nobre de deletar o Ethan tem como conseqüência sua cabeça a prêmio.

–Então vai o Harv!

Diz Emma. Parece que ela não quer mesmo encarar meu irmão.

–Mas eu não! Você que resolvam seus problemas com os greateanos! Eu não tenho dada a ver com isso.

–Medroso!

Acusa Gwen na maior cara de pau. Como se ela não tivesse com medo também.

–Sou mesmo! E só sobrevivi até agora por causa disso.

–Ok Então! Eu vou!

Informa Zoey, já saindo do carro. Sinto um calafrio. Algo me diz que isso não vai acabar bem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Por favor ninguém me xingue nos comentários. E comentem. Comentários me dão animação. Gosto de saber que tem alguém me lendo só para variar. Não posso esquecer de avisar que essa parte historia está entrando na famosa reta final do qual tem mais uns dez á quinze capítulos no máximo extrapolando. Depois que terminar essa parte vem a segunda. Como já disse antes vou dividir a historia em três partes por que se não vai ficar com muitos capítulos passando dos cento e quinze. Beijos para vocês sadizinhas, essa historia ainda revesa muitas surpresas para todos os capítulos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Liberdade do Corvo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.