Seiya

Mas não me atrevi a sair do lugar. Com os olhos fechados, ouvindo o som da água correndo pelo corpo da amazona, esperei que as ondas de desejo me invadissem, mas nem assim parei de pensar nela, na deusa... Em todo o seu esplendor.

– Está com medo, Seiya? Por que não me olha?

– Você não pode imaginar como eu quero abrir os olhos, a intensidade do meu sonho de ter uma vida normal, te pegar nos braços e ser... Pelo menos um pouquinho... Feliz. - Falei bem devagar, com medo de encorajá-la.

Pude sentir seu hálito inebriante em meu rosto e suas mãozinhas sinuosas deslizando pelo meu peito, tão suaves como as asas de uma borboleta, enquanto ela sussurrou:

– Poderíamos ser... Apenas nós dois. Sem tanto peso, tanta responsabilidade. Eu poderia cumprir o juramento das amazonas, só para variar.

Rimos juntos. Ela continuou, imperiosa:

– Me olhe, Cavaleiro. Me olhe, e se não me desejar, se não sentir nada, pode virar as costas e ir embora. Então fingiremos que nunca aconteceu.

– Shina... Você sabe que é impossível.

– Por favor, Seiya. Eu preciso saber se você não sente mesmo nada por mim.

Eu podia imaginar como seus olhos brilhavam de forma apaixonada, como sua boca estava frouxamente entreaberta, como sua respiração estava sensualmente descompassada... Já havia visto isso. Duas vezes antes dessa ocasião, Shina já havia dito que me amava, com lágrimas e sangue, ao tentar proteger a minha vida. Nas duas vezes. Senti um bolo na garganta:

– O que posso fazer, querida?

A amazona pegou meu rosto com imenso cuidado e trouxe-o para bem perto do seu:

– Eu quero que você olhe para mim, meu amor.

Seu comando veio cheio de energia; deixei meus olhos se abrirem enfim.

– Você é linda. - Não pude deixar de dizer. Era verdade, assustadoramente verdade.

Ela pôde ver a tristeza em meu olhar, o pesar que eu estava tentando esconder. Meu coração parecia quebrado de tanta dor. Seus lindos olhos verdes se encheram de lágrimas e compreenderam, por que passavam pela mesma situação.

– Você a ama tanto assim...? - Perguntou-me.

Abaixei a cabeça e me afastei:

– Mais do que eu posso suportar.

Ela também se afastou; mas não vi para onde, pois saí dali o mais rápido possível. Enquanto caminhava, o luar parecia mais intenso e mais brilhante.

Parei e coloquei as mãos nos bolsos da calça, sem conseguir deixar de dizer:

– Não acredito que tudo foi um teste.

Ártemis em pessoa se materializou na minha frente e disse calmamente:

– No mundo promíscuo onde vive, você não pode entender. Athena é a mais pura de todos os Olímpicos; nunca sequer um beijo passou pelos seus lábios, seus ideais sempre foram os mais nobres, sua mente, a mais privilegiada. A forma mais íntima de um toque masculino que ela recebeu foi o seu, Pégaso.

Empalideci, apesar de já saber daquilo.

– Eu a carreguei nos braços quando ela não podia mais andar, Caçadora. Isso não conta... Não deveria contar...

A deusa da Lua suspirou de forma impaciente e respondeu:

– A alguns dias você tocou no corpo da deusa na forma de um abraço, com tanta ternura que quase não resistiu ao desejo por ela. Não foi, Pégaso?

Não consegui dizer nada. Ártemis olhou-me profundamente triste, como se realmente se importasse conosco, e disse mais:

– Eu sei do que somos capazes quando estamos com medo. E nós tememos você. Não acredite nem por um minuto que deixaremos de te observar.

Não consegui me controlar mais e gritei:

– Mas por que os Olimpianos tem medo de mim? Não tenho a intenção de ofender ninguém. Só quero proteger Athena e o nosso mundo, para que um dia não tenhamos que conversar num planeta em ruínas.

A deusa da caça ficou profundamente imóvel como se alguém tivesse chamado seu nome sem que ela desejasse, mas não desviou seu olhar frio do meu, apesar de notar o quanto ela desejava fazer isso.

– Você não tem idéia de como essa trégua é frágil, tem Pégaso? - sussurrou com raiva. No mesmo instante, a lua se preencheu de tal forma que a noite pareceu dia.

– Se quer a paz duradoura - Continuou Ártemis, implacável - esqueça Athena. Por muito tempo, você ficou conhecido entre nós como o grande transgressor. Séculos mais tarde, sua imagem não melhorou muito. Pare enquanto é tempo! Não destrua tudo de uma vez.

Ao dizer isso, Ártemis se deixou envolver pela energia impressionante de seu satélite guardião, se desfazendo delicadamente em uma grande explosão de luz.

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