Alguns anos se passaram, e eu observava Elsa de longe. Ela havia ganhado uma irmãzinha que tal como ela, era linda. Anna era a cara de seu pai e ela e Elsa eram muito apegadas e unidas.

Acho que passei a amá-la. Sentia-me na obrigação de cuidar dela, zelar por ela. Mas sinto que falhei no dia que aconteceu O acidente com Anna.

Creio que já comentei que atingi Elsa com gelo, que penetrou seu coração e bem, eu não sei o que era para ter acontecido, mas, com isso, ela adquiriu os mesmos poderes que os meus. E é incrível!

Mas voltando ao assunto, em uma noite de insônia de Anna, acordou Elsa e ela a convidou para brincar com neve. Ambas sorriram e desceram as escadas numa grande euforia. Elas desceram e eu fui em seu encalço. Começaram a brincar alegremente e em certo momento, a coisa desandou. Anna pulava nas montanhas de neve que Elsa fazia. No momento seguinte, Elsa escorregou e tive que me controlar para não correr até ela. Até certa idade, permiti Elsa me ver, cuidava e olhava por ela. Mas quando já tinha consciência do que via e do que falava, tive receio de me mostrar. De assustá-la.

Quando Elsa escorregou, ela não conseguiu fazer uma montanha de neve a tempo, colocando Anna em risco. Ao notar isso, sem querer,atingiu Anna com um lapso de poder que a fez desmaiar, atingindo gelo em sua cabeça.

Ela clamou por seus pais enquanto abraçava sua irmãzinha desmaiada.

Ambos chegaram desesperados pelos gritos de Elsa.

– Ela está gelada!- diz a rainha, com pesar e angústia em sua voz.

– Vamos, eu sei quem pode ajudar.

Pois é. Eu também.

Trolls. Os Conhecia, porém, mantinha distância saudável.

O rei e a rainha iam a cavalo e Elsa, por estar nervosa, ia deixando um rastro de gelo. Os segui e cheguei a clareira dos trolls.

Me escondi atrás de algumas árvores. Vovô Pappie logo restaurou a saúde de Anna e disse a Elsa que seus poderes iam crescer muito mais. Não pude deixar de sentir certo orgulho inflar em meu peito.

Logo, o rei e a rainha levaram Elsa e Anna embora. Observei-os cavalgar até não poder vê-los mais.

– Jack, você deve tomar cuidado...

Um leve arrepio subiu pela minha espinha e meu coração saltou para a boca.

Olhei para frente e vovô Pappie me encarava com aqueles olhos recheados de sabedoria.

– Por quê? O que eu fiz?

– Porque essa menina encantada pode ser a sua perdição, rapaz.

– Mas o que ela fará?- questionei assustado.

– Ela? Nada. Você fará. Mas ela será o motivo.

E nisso, se retirou silenciosamente, tão silenciosamente quanto uma pedra pode ser.

*-*

O resto da história você deve conhecer. Elsa se privou da civilização e um dia que muito me marcou foi o dia que Elsa estava triste, já que teve um lapso de poderes fora de controle. Seus pais não a entendiam. Eles apenas a viam como a filha amada, a primogênita que deu errado.

Anna perdeu sua memória. E eu, eu fiquei ao lado de Elsa o tempo todo. Mas é claro, ela não podia me ver. Isso me partia o coração.

Continuando com o lapso de poder de Elsa, seus pais conversavam com ela, mas não era o bastante. Ela se sentia só.

– Anjo da guarda! Nunca lhe pedi nada! Nunca te vi também, mas, desde pequena, desde que me entendo por gente, sinto você perto de mim. Cuidando. Por favor, não me deixe sozinha agora! Eu preciso de você! Me mande um sinal! Qualquer um!

Meu coração se apertou tanto naquela hora que eu cheguei a ofegar. Como poderia recusar um pedido assim? Sincero, doído, vindo do ser que cuido desde que nasceu (Sem que ela soubesse).

Como eu não me revelaria a ela, eu fui até a janela de seu quarto, e encostei meu cajado na janela, formando o desenho que eu quisesse.

Ela chegou mais perto e observou os flocos de neve que caiam delicadamente na janela. Isso chamou a atenção dela, já que era verão.

Ela encostou as mãozinhas enluvadas na janela e com meu cajado eu desenhei um floco de neve. Ela soltou um suspiro estupefato e tirou a luvinha. Ela também encostou na janela e formou um outro floco de neve, mas este com padrões diferentes.

Fiquei ali, com a pequena Elsa, por um tempo. Aposto que essa parte você não sabia, não é?

Aquela foi a última vez que me manifestei a ela.

Passou os anos e meus santos Guardiões, ela tinha se tornado um linda moça! Linda mesmo! Seu corpo havia amadurecido, porém, seu rosto e seus olhos mantinham aquela inocência que ela sempre teve. Assim como a frieza que ela ganhou com a morte de seus pais. Sim, ela se fechou ainda mais.

E se esqueceu de mim.