Welcome to my Life escrita por Érih Grace, Gabbsbe


Capítulo 5
Disturbia


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpa pelo atraso, mas o cap. tá aqui!



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P.O.V. Helena:

— Pai! Por favor, eu estou bem! — Falei pela milésima vez, enquanto ele dizia o quão irresponsável fui por fugir assim.

— Tudo bem, Helena... Mas, por favor, não fuja assim! — Ele olhou para Mike. — E você, poderia muito bem ser um irmão melhor, não acha?

Mike o olhou com desprezo. Não, Mike não merecia aquilo.

— Pai, eu sei que Mike anda errando bastante sobre certas coisas ultimamente, mas ele é um bom irmão apesar de tudo! Se não fosse por ele, eu estaria naquela praça até agora. — Eu disse, olhando para Mike, que me encarou, surpreso. Aposto que ele não esperava por aquilo.

— Mas, filha...

— Mas nada, pai. Dê um desconto, vai! A culpa não é dele, se eu resolvo pirar do nada. E o importante é que eu já estou bem, e medicada. Agora o que eu preciso é tentar dormir um pouco.

— Tudo bem, mas, Mike, não pense que só por que Helena está te defendendo que você vai se safar das suas responsabilidades! — Dito isso, papai saiu da sala, me deixando sozinha com Mike, que bufava de raiva.

— A relação de vocês sempre foi assim? — Perguntei, me referindo aos anos que antecederam minha moradia nesta casa.

— Não... — Mike suspirou. — Mas isso não importa! Por que me defendeu? Eu estou acostumado a levar a culpa por tudo!

Suspirei pesado. Aquele garoto gostava de me irritar!

— Por que você não teve culpa. Não quero que aconteça com você o que aconteceu com nosso irmão! Não vou aguentar se você também for embora. Apesar de ser um idiota, que adora me humilhar na frente das outras pessoas, você ainda é o meu Mike, aquele que me fazia dormir quando eu tinha pesadelos! — Deixei uma lágrima escorrer, mas logo a sequei. Mike me olhava, sem expressão.

— Você roubou tanto o meu lugar quanto o lugar do meu irmão no coração daquele velho! Ele era legal com nós, até que você chegou! A princesinha do papai! O que você quer Helena? Que eu me curve diante de você, agradecendo por me livrar de uma surra? Pois não terá isso. Pode ficar aí com toda sua majestosa presença, que eu tenho mais o que fazer! — Mike se levantou, ameaçando sair da sala, mas eu o segurei. A esta altura eu já estava chorando.

— Mike... Por favor... Eu não sou assim! Tudo que eu queria era uma família! Não é fácil pra você, mas também não é fácil pra mim! Eu sei que faz tudo isso pra chamar a atenção do nosso pai... quer dizer... do seu pai! Eu sei que você sofre por papai não te valorizar. Mas eu também sofro! Mike, você conhece minha história! Passei fome, levei muitas surras, passei frio, eu não tinha um lugar para dormir, nenhum teto, nenhum abraço protetor! Nada! A única coisa que eu tinha era aquele maldito homem, que me abusava toda noite, e meu medo! E ainda dói! Dói, dói aqui dentro, — apontei para meu peito. — mas eu consegui uma família. Consegui alguém que me amasse, e eu faço de tudo para ser perfeita! Para não me rejeitarem, para eu não ter que voltar para aquele buraco! Mike, nunca quis e nunca vou tomar seu lugar. Você também é importante para mim! Mesmo com seus defeitos, mesmo com os MEUS defeitos, você faz parte de mim... Me deixe te ajudar?

— Pra que Helena? — Mike segurou forte em meus braços. — Me diz porque eu deveria acreditar em você! Me dê um bom motivo!

Mike era forte, ele segurava meus braços com muita força. Podia vê-los ficarem vermelhos, mas eu não ligava. Antes que eu pudesse responder, Mike continuou a falar:

— Pra você fazer como todos, e me usar até que precisa de mim, e depois fingir que não existo? Fazer como nosso irmão, que disse que voltaria para me buscar, e nunca mais deu notícias? Eu deveria mesmo confiar em você?

— Chega, Mikhael! Eu não sou fria a esse ponto! Não, não posso te garantir que estarei sempre disponível, ou de bom humor, pra te aguentar, mas o que custa tentar? — Falei, segurando seu rosto, tendo uma bela visão de sua face. Ele havia mudado tanto, crescido, mas ainda podia ver traços daquele antigo Mike.

—Chega você, Helena! Cansei desse papo. O que você é? Acho que Pietro e Louis estão certos, você deveria ter ficado naquele lugar! E você tem sorte de minha mãe não conseguir ver nenhuma criança na rua!

Mike saiu pisando forte, e senti meu mundo desabar.

— Mike... — O chamei, antes que ele subisse a escada.

— O que foi agora, Helena?

— Você poderia me fazer dormir, como antigamente? — Perguntei, tímida. Sabia que ele ia dizer não, então abaixei a cabeça. Ouvi um suspiro.

— Venha! Espero que durma logo! — Levantei a cabeça e ele me esperava. Sorri fraco, caminhando até ele. Subimos até meu quarto, devagar, pra não acordar ninguém.

Ele se jogou em minha cama, colocando os braços atrás da cabeça. Deitei ao seu lado, colocando a cabeça em seu peito. Podia ouvir sua respiração, fraca.

—É tão fácil te atingir, Leninha! — Ele disse, passando um braço ao meu redor, e secando minhas lágrimas com a outra mão. Eu não conseguia parar de chorar.

Ele havia mudado de perfume, mas algo me parecia tão familiar...

— Eu sou frágil. Me desculpe! — Falei, o encarando triste. Ele riu.

O desgraçado riu!

— Durma, Helena. Amanhã sua equipe de psicólogos vem te visitar! — Ele riu outra vez, e fechou os olhos.

— Não acredito que papai chamou eles! — Falei me sentando, o que fez Mike abrir os olhos.

— Você esperava o que? Você quebra seu banheiro, — Mike apontou para a porta do meu banheiro, que provavelmente havia sido faxinado. — tenta matar um segurança, e ainda sai correndo seminua, no meio da noite! Queria o que, miss estou chamando a atenção? Que ele ficasse super calmo? A princesinha dele sumiu nhá nhá nhá — Mike fez cara de nojo, o que me fez rir.

— Acho que somos bipolares! — Falei, me deitando novamente. — Boa noite, Mike!

— Eu não! Você sim, tem até um atestado médico provando isso! — Vi ele sorrir. — E boa noite, Helena...

Eu não sabia o que dizer, mas eu me sentia segura ao lado dele, não daquele jeito clichê, dessas historinhas de romance que você pode ler por aí[N/A: lê-se a ironia, o.k.?]. Ele era meu irmão, mesmo não tendo meu sangue correndo em suas veias. Ele era aquele irmão mais velho que eu sonhei, quando eu tinha apenas 4 anos. Tirando a parte que ele era um tremendo de um filho da mãe, quando estava com seus amigos, ou com ciumes de mim, com o papai...

Por falar em papai... Eu precisava conversar com ele. Ele não podia continuar tratando Mike daquele jeito, ou iria perder mais um filho para o mundo. E eu também preciso conversar com mamãe. Ela estava tão assustada hoje, e a culpa era minha. Minha mãe era um doce, era uma mulher forte, mas quando se tratava dos meus distúrbios, ela era tão frágil quanto aquela Helena de 5 anos, que vivia jogada pelos cantos.

–-----------------✞-------------------

Acordei com dor de cabeça, devido as medicamento que haviam me dado, para me acalmar na noite passada. Estava amanhecendo, e Mike ainda dormia ao meu lado. Olhei bem para seu rosto. Suas feições eram as mesmas do pequeno Mike, mas agora ele parecia mais homem, mais maduro.

Me levantei e caminhei até o banheiro, vendo o espelho quebrado. E aí tudo voltou. As lembranças, os pensamentos, tudo! Peguei minha escova, coloquei em cima de suas cerdas uma quantidade generosa de creme dental, e levei até minha boca. Antes mesmo da escova encostar em meus dentes, um click surge em minha mente.

Senti uma dor enorme no peito, e tudo o que eu podia ver eram mendigos, se arrastando durante a noite, em busca de um lugar para dormir, enquanto eu tremia. Sentia meu corpo tão pequeno, tão frágil. Eu era uma criança. Então senti um cheiro muito forte de álcool, e duas mãos grandes, sujas e ásperas me puxa, com força.

Outro click.

Uma mulher ajeitada, com brincos e colares enormes caminha em minha direção.

— Ei, garota! Você conhece Jack J. Smith? — Ela me olhava com nojo.

— Conheço! O que a senhora quer com ele? — Falei, ingênua. Estava fazendo meu trabalho. Jack iria me castigar se eu mandasse um tira para ele. Eu tinha apenas 5 anos, mas quando se vive nesse mundo, você acaba tendo que aprender tudo muito rápido.

— Quem é você para quer satisfações minhas, ô, favelada? — Ela me chacoalhou forte, apertando meu braço, que ficou vermelho.

— Des-desculpe, s-senhora, mas me ordenaram a f-fazer is-isso! — Gaguejei.

— Não me interessa! Onde ele está?! — A mulher esbravejou.

— Ele está rondando a praça central!

— ótimo! — Antes de ir embora ela olhou para mim, e pediu: — quantos anos você tem, ratinha?

— Cinco, senhora! — Falei, abaixando o olhar.

— Hm. Fala muito bem para ter essa idade...

— Jack disse que eu sou inteligente como minha mãe foi!

— Deve ser! — Ela olhou para mim, com um olhar estranho, e sumiu.

What's wrong with me?

Why do I feel like this?

I'm going crazy now


(O que há de errado comigo?

Por que me sinto assim?

Estou enlouquecendo agora)

A escova caiu no chão, e tive que me apoiar na pia, para não cair. O que estava acontecendo? O que era aquilo? Memórias perdidas no baú do sótão do meu cérebro . Eu sento que estou enlouquecendo.

No more gas in the rig

Can't even get it started

Nothing heard, nothing said

Can't even speak about it

all my life in my head

Don't want to think about it

Feels like I'm going insane

Yeah


(Sem gasolina no tanque

Não consigo nem dar a partida

Nada ouvido, nada dito

Não consigo nem falar sobre isso

toda a minha vida na minha cabeça

Não quero pensar nisso

Sinto como se estivesse ficando louca

Yeah)

Aquela mulher das minhas memórias tinha algo que me deixava curiosa.

Parei para pensar na minha vida, nos meus problemas, e... Me senti escassa de motivos para respirar. Me senti sem motivação para tudo. Me abaixei, e ao pegar a escova, percebo Mike na porta, me encarando.

It's a thief in the night

To come and grab you

It can creep up inside you

And consume you

A disease of the mind

It can control you

It's too close for comfort


(É um ladrão no meio da noite

Que chega e te pega

Pode arrastar-se para dentro de você

E te consumir

Uma doença da mente

Pode te controlar

É tão perto do conforto)

Eu havia tirado o roupão e estava só de lingerie, então, Mike me encarou de cima a baixo. Ele sorriu de lado, e deu um passo na minha direção. Eu dei um passo para trás, me encostando na bancada, no mesmo momento que Mike me alcançou e colocou uma mão em minha cintura e a outra em minha nuca, me aproximando. Ele era uma ladrão, que tirou meu momento, e queria me arrastar pra longe. E ele sabia que tinha uma doença em minha mente, que me consumia, e sabia que não era bom brincar comigo. Senti sua respiração descompassada, e em segundos, seus lábios macios tocaram a pele do meu pescoço. Estava a ponto de explodir!

Put on your green lights

We're in the city of wonder

Ain't gonna play nice

Watch out, you might just go under

Better think twice

Your train of thought will be altered

So if you must faulter be wise

Your mind is in disturbia

It's like the darkness is the light

Disturbia

Am I scaring you tonight

Your mind is in disturbia

Ain't used to what you like

Disturbia

Disturbia


(Vista suas luzes verdes

Nós estamos na cidade das maravilhas

Não vou jogar limpo

Tome cuidado, você só pode ir por baixo

É melhor pensar duas vezes

Seu fluxo de pensamentos será alterado

Então se for errar, seja prudente

Sua mente está paranóica

É como a escuridão na luz

Paranóia

Estou te assustando essa noite?

Sua mente está paranóica

Não é mais como antes

Paranóia

Paranóia)

Aquilo era loucura. Eu estava beijando meu irmão ! O que eu tinha na cabeça? Aquilo era um erro, logo comigo que sou tão prudente! Eu só podia estar paranoica. Afastei Mike, e ele me olhou assustado, por ter nos separado. Caralho, eu já estava toda confusa, por causa da minha vida de merda, e Mike aparece com essa!

Faded pictures on the wall

It's like they talkin' to me

Disconnectin' phone calls

The phone don't even ring

I gotta get out

Or figure this shit out

It's too close for comfort


(Retratos desbotados na parede

É como se eles falassem comigo

Telefonemas que não se completam

O telefone sequer toca

Eu tenho que sair

Ou resolver essa porcaria

É tão perto do conforto)

Olhei apreensiva para Mike, e saí do banheiro, indo e sentando em minha cama. Ele veio logo atrás, sentou-se ao meu lado, e bufou.

—Helena... Me desculpa... Sei lá o que aconteceu, eu só...

— Mike, fica shiu, ok? Foi um acidente! — Falei, puxando o ar com força.

— Ah, claro! É que eu tropecei, e caí com a minha boca na sua! Acontece isso nas melhores famílias! — Ele falou, passando as mãos, nervoso, pelos seus fios de cabelo.

— Chega, Mike! Vamos esquecer, ok? Somos irmãos e isso não podia acontecer! — Me levantei, e abracei, a cabeça de Justin, fazendo a mesma ficar na altura de meu umbigo. — Não vamos se estressar com isso, já passou, não aconteceu, tá bom? — Olhei fixando em seus olhos.

— Tudo bem, você está certa!

Faded pictures on the wall

It's like they talkin' to me

Disconnectin' phone calls

The phone don't even ring

I gotta get out

Or figure this shit out

It's too close for comfort


(Retratos desbotados na parede

É como se eles falassem comigo

Telefonemas que não se completam

O telefone sequer toca

Eu tenho que sair

Ou resolver essa porcaria

É tão perto do conforto)

Mike se levantou, depositou um beijo em minha testa e saiu, com a cabeça baixa. Meu Deus, que loucura era aquela?

Me joguei em minha cama, e fiquei encarando a parede ao meu lado. Retratos meus, antigos o suficiente para chegarem a estar desbotados se encontravam pendurados nela. Olhei especificadamente para um que onde eu, Mike e Andrew estávamos lado-a-lado, sorrindo. Senti saudades daquela época, era como se fosse hoje. Eu até posso ouvir as vozes de nós três conversando aquele dia. Me virei de lado. Eu tinha que sair daquele lugar. Caminhei lentamente para fora do meu quarto, desci as escadas e fui até o jardim de inverno. Aquele era um dos meus refúgios, nos dias de tormentas. Vi a sombra de alguém sentado, e distingui por ser a de Andrew. Mas que droga, ele não estava sumido? Caminhei até ele, e quando coloquei minha mão sobre seu ombro, sua imagem se desfez, e tudo que senti foi um grande nada.

Release me from this curse

I'm trying to remain tame

But I'm struggling

You can't go, go, go

I think I'm going to oh, oh, oh


(Libere-me desta praga

Estou tentando manter o controle

Mas não estou conseguindo

Você não pode ir

Eu acho que estou indo)

Ah, cara, eu estou cansada disso. Por que essas vozes, esses tormentos, essas dores não saem da minha cabeça? Liberte-me disso! Ah, querido Andrew, não vá embora, não agora! Volte! Eu juro que fico calada, só te olhando. Não vá embora...

Não foi Andrew que foi embora, eu que fui. Ele nunca esteve aqui.

Bum bum be-dum bum bum be-dum bum

Bum bum be-dum bum bum be-dum bum

Bum bum be-dum bum bum be-dum bum

Bum bum be-dum bum bum be-dum bum


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Notas finais do capítulo

É isso, beijos!



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