Still Into You escrita por dobrevastar


Capítulo 3
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/580370/chapter/3

Está tarde quando ouço passos arrastados no corredor estreito do trem, e então um tombo. Levanto-me, abro a porta do quarto e deparo-me com um Haymitch novamente bêbado, caído no chão.

– Você está bem?- pergunto, tomando a garrafa de sua mão e a deixando de lado para ajudá-lo a se levantar.

– Me deixe, eu ainda tenho dignidade – resmunga Haymitch.

– Sua dignidade te abandonou há muito tempo – digo, puxando-o para cima, Haymitch é pesado. O encosto a parede e espero que ele pelo menos tenha a decência de ajudar a si mesmo e se apoiar nela.

– Só cale a boca e me ajude.

– Olhe os modos!

– Danem-se os modos!- diz ele.

– Anda logo, entre no seu quarto que eu quero voltar a dormir.

– Onde está minha faca?

– Não precisa dela. Anda, para a cama.

– Preciso sim, onde está minha faca?- Haymitch se desencosta da parece e nós dois caímos, ele quase esmaga meu braço.

– Haymitch, meu braço – digo, tentando puxá-lo e, com muito esforço, consigo. Haymitch está incosciente – Ah, mais essa agora – resmungo, me levantando, olho para ele – Sinto muito, mas vai ter que ficar aí. Boa noite, Haymitch.

Deito-me novamente, pensando em como está frio e como Haymitch pode pegar alguma doença dormindo naquele chão gelado, e eu não preciso de um doente agora, as vésperas dos Jogos Vorazes. Levanto-me e jogo uma coberta por cima de seus ombros e tiro o cabelo de seus olhos. Mais tranquila, eu posso voltar ao meu quarto e dormir.

No dia seguinte, quando saio do quarto, percebo que Haymicth não está mais no corredor, mas a coberta que coloquei sobre seus ombros ontem está jogada no chão, eu a pego e jogo para dentro do quarto de Haymitch, pois não voltarei a usar aquela coberta. Vou para o quarto de Katniss Everdeen.

– Levanta, levanta, levanta! Hoje teremos um grande, grande, grande dia!- digo. Ela me olha com cara de poucos amigos, mas isso não me assusta, afinal, lido com Haymitch todos os anos.

Deixo ela se trocar em paz e, quando vou acordar Peeta Mellark, ele não está em seu quarto. Vou para o vagão-restaurante e encontro ele e Haymitch conversando.

– Bom dia – digo sentando-me a mesa – Dormiram bem?

– As camas são muito confortáveis – diz Peeta.

– Concordo. Seria ótimo se todos ficassem nelas durante a noite, não é?- digo, olhando para Haymitch – Não concorda, Haymitch?

– Então foi você que colocou aquela coberta lá?- ele pergunta, passando geléia num pão.

– Hã... não. Que coberta?- me faço de desentendida, não há necessidade de ele saber – Eu só escutei você se arrastando pelo corredor e, quando fui te ajudar a chegar até a sua cama, você caiu em cima do meu braço, podia tê-lo quebrado.

Haymitch dá risada, enfiando o pão inteiro na boca.

– Ei! Compostura, por favor – digo, mordendo um pedaço minúsculo de pão.

Haymitch me olha abismado, limpo os cantos da boca com o guardanapo e explico:

– Boa forma. É importante, não acha?- para dar ênfase, olho-o de cima a baixo.

Ele dá de ombros e começa a passar geléia num segundo pão.

Começo a passar os cronogramas de hoje, assim que chegarmos a Capital, o que acontecerá, como será, e, no final, olho para os dois esperando perguntas.

Haymitch dá de ombros e Peeta Mellark parece muito nervoso para sequer falar um simples “ok”.

– Você quer parar com isso?! É irritante – digo para Haymitch.

– O que? Não estou nem aí para horários, qual a necessidade disso? Qual a necessidade de você nisso, hum?

– Manter vocês no horário, é isso que eu faço. E também, deveria ser mais valorizada, pelo menos reconhecida, por ter que lidar com um bêbado chato todos os anos.

– Oh, Effie Trinket me chamou de chato – ele se finge de ofendido, depois morde um pedaço do pão e, ainda mastigando, ele sorri e diz: - É o máximo que consegue, boneca?

– Viu, é por aguentar esse tipo de situação que eu deveria ser reconhecida – digo, olhando para Peeta Mellark.

– Se não está satisfeita, aproveite que estamos chegando a Capital e vá para casa, se demita e se foque em algo mais importante, tipo um marido, fiquei sabendo que o último não suportou você por muito tempo – diz Haymitch, então me olha de cima a baixo – O dia em que achar alguém que te aguente, aí sim, deveria ser reconhecido.

Levanto-me, pego minha xícara de café e saio do vagão, murmurando obscenidades àquele bêbado velho e gordo que está sentado a mesa mastigando de boca aberta enquanto passo por Katniss Everdeen em direção ao meu quarto.

– Sejam bem-vindos a Capital – digo, empurrando Katniss e Peeta trem afora, onde há um monte de paparazzis e fãs para nossa recepção – Vocês vão adorar, muito luxo, muita comida, muita cor, muito brilho.

– Assim como você? Toda essa comida está te deixando com mais carne, Effie Trinket, não está na hora de outra dessas cirurgias?- zomba Haymitch, mas ignoro seu comentário e evito olhar para ele.

– Eu nunca fiz cirurgia, Haymitch – digo, ainda mantendo meu sorriso em frente as câmeras, apesar da vontade de dar um tapa em meu companheiro de time me chamando de gorda.

– Jura? Nem para tirar algumas costelas ou algo assim? Porque sua cintura é anormalmente fina.

– Obrigada.

– Não foi um elogio.

– Vou tomar com um, então!

Haymitch ri.

– Tome como quiser, boneca da Capital.

Continuo empurrando Katniss Everdeen e Peeta Mellark pelos corredores até chegarmos ao elevador, onde cruzo os braços e fico olhando para Haymitch.

– O que foi?!- ele pergunta.

– Nada – estreito os olhos – Só você me chamando de gorda e depois dizendo que sou anormal.

– Não falei de você. Falei da sua cintura.

– E minha cintura está onde, esperto?

– Tem certeza de que nunca fez cirurgia?

– Sim, eu tenho certeza, Haymitch.

Ele dá de ombros e chegamos ao décimo segundo andar.

– Muito bem, teremos um dia cheio, a equipe de preparação de vocês chegará logo para, hm, ajeitá-los para encontrar seus estilistas. Descansem enquanto podem – digo.

Eles vão para os quartos e Haymitch vai para a cozinha.

– Será que você não consegue ficar sóbrio por um dia?- pergunto, seguindo-o.

– E para que eu ficaria sóbrio?

– Não sei. Fazer um bem a si mesmo?

– Não preciso, estou ótimo estando péssimo.

– Sabe que não faz sentido, não é? Quer dizer, eu não entendo você, Haymitch Albernathy.

– Não preciso que me entenda.

– Ah, não? Bom, alguém precisa te entender, ou pelo menos te conhecer. Você podia ser um pouco mais aberto as pessoas, quem sabe? Por exemplo, por que você nunca se casou? Ou o que aconteceu com sua família?

– Ok, passou dos limites – diz Haymitch saindo da cozinha, novamente eu o sigo, mas ele bate a porta na minha cara – Me deixe em paz!

– Haymitch, que falta de educação!- bato na porta. Não houve resposta, bufei e sai.

Na hora do jantar Haymitch resolve aparecer, e Peeta parece desesperado por respostas.

– Vocês precisam aceitar a probabilidade de que não sobreviverão nem a Cornucópia.

– Talvez a gente consiga – diz Peeta.

– Quase nunca conseguem – retruca Haymitch.

– Quase, Haymitch – digo, tentando fazer com que ele pare de falar sobre como essas crianças serão massacradas.

– Mas eles precisam aceitar que estarão mortos na próxima semana – diz ele. Eu seguro a mão dele e a aperto, lançando-lhe O Olhar, Haymitch recua a mão e eles começam a discutir outros assuntos e eu me concentro em apenas ouvir.

– Levanta, levanta, levanta! Hoje é um grande, grande, grande dia!- digo batendo na porta do quarto de Katniss Everdeen – Hoje você terá aulas de etiqueta comigo, então de pé!

Passei a manhã inteira ensinando um pouco de etiqueta para aquela garota, como andar de salto, como se portar diante das câmeras, essas coisas. Depois permiti a nós duas comermos alguma coisa, e fiquei desapontada ao ver todas as maneiras que ensinei a ela durante a manhã serem jogadas no lixo quando a comida chegou e Katniss Everdeen atacou tudo com as mãos.

Durante a tarde, a entreguei a equipe de preparação para arrumarem ela para a entrevista de hoje a noite, com Caesar Flickerman.

– Olá – diz Haymitch entrando na cozinha, onde estou tomando uma xícara de café. Percebo que não dirigimos a palavra um ao outro desde que ele bateu a porta na minha cara.

Olho para ele e volto a tomar meu café, ciente da minha falta de modos, mas de que importa a presença ou a falta de modos quando se está com Haymitch Albernathy?

– Ah, que é isso, Effie? Por que está brava? Só por que eu te chamei de gorda?

Olho para ele de olhos arregalados.

– Não que você seja – corrige Haymitch rapidamente jogando as mãos para o alto como quem se rende – Só estou dizendo que...

Ele para de falar quando vê o olhar que lhe lanço. Haymitch ri.

– Do que está rindo?- pergunto.

– Olha, as primeiras palavras do dia – diz Haymitch – “Do que está rindo?”- ele finge escrever as palavras no ar e então admirá-las.

Tomo mais um golé do café, ele se aproxima e se serve uma xícara, mas, antes de beber um gole, ele olha desconfiado para mim.

– Foi você quem fez?- pergunta.

– Sim.

Ele cheira e depois toma um golé, fazendo uma careta.

– Nossa, isso está horrível!

– Haymitch, por que você faz isso?

– Isso o que?

– Estragar esse momento de paz, quando não estamos implicando um com o outro.

– Sei lá – diz ele dando de ombros – Não se preocupe, terá outro ano que vem.

– Como assim?

– Sempre temos essa “paz” um dia antes dos tributos irem para a arena, é como se déssemos uma trégua.

– Isso me parece tão errado.

– Por quê?

– Estarmos tranquilos assim um dia antes de eles morrerem.

– Que pessimismo, Effie Trinket.

– E você acha que eles vão sobreviver?

– Aquela garota... ela me deu um pouco de esperança.

– Haymitch Albernathy esperançoso?- arqueio as sobrancelhas e olho bem para ele, surpresa.

– Não comece. E não conte isso para ninguém.

– Pode confiar em mim, Haymitch.

– Faça por merecer, boneca da Capital.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Still Into You" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.