– Haymitch, por favor, pare de beber por cinco segundos!- diz Effie.

Eu paro, olho para ela, conto cinco segundos e tomo outro gole.

Effie revira os olhos e toma a garrafa de minha mão.

– É incrível que você ainda não tenha morrido. Deveria me agradecer por ainda estar vivo.

– Eu te amaldiçoo, isso sim, por me manter vivo.

– Haymitch, que horror – diz ela – Bom, no seu caso...

Dou risada.

– Não se preocupe, boneca. Vaso ruim não quebra. Vou te atormentar por uns bons anos ainda.

– Hmpf, que ótimo, mas por enquanto, você não vai mais beber – diz Effie – Faltam quarenta e cinco minutos para a Colheita e nós somos os únicos prontos? Onde está o povo desse Distrito? E o prefeito?

– O povo desse Distrito – imito-a – tem mais o que fazer do que andar de um lado para o outro numa peruca cor-de-rosa, histéricos. Afinal, são eles que serão mandados para a morte. Falando nisso, quem serão os azarados desse ano?

– Não fale assim.

– E o que quer que eu diga? Que é uma honra para aqueles coitados serem escolhidos para os Jogos? Piada.

– E não é?

Olho bem para Effie, mas ela não está brincando.

– Você não tem mais o que fazer?- pergunto.

– Tem razão, preciso encontrar o prefeito. E levar essa aguardente para longe de você. Fique aí.

Effie se afasta e eu me levanto a procura de mais aguardente pelo prédio.

Olho para o relógio e descubro que a Colheita já começou. Effie está em frente ao microfone, esperando o filme acabar para pegar os nomes e ir embora logo, ela odeia o 12.

– Primrose Everdeen – diz ela naquele sotaque irritante da Capital, lendo primeiro o papel das garotas (“damas primeiro” como ela sempre diz).

Depois disso há uma confusão, no qual a irmã da garotinha se voluntaria e todos fazem tocam os três dedos aos lábios e os erguem (típico sinal para os mortos, que ironia). Eu reconheço aquela menina do Prego, já a vi algumas vezes por lá, vendendo a caça. Ela parece a ponto de chorar, apesar de sua bravura, e não acho que ela seja nenhuma Johanna Mason para estar usando suas lágrimas como estratégia. Vou ao seu lado, digo qualquer coisa que me vêm a cabeça e depois só me lembro de ter caído do palco.

*

– Onde está Haymitch?- pergunto, quando chega a hora do jantar.

– Ele disse que iria tirar uma soneca – disse Peeta Mellark.

– Oh, bem, foi um dia exaustivo – digo aliviada por não ter que aturar Haymitch durante o jantar.

Conversamos pouco durante a janta, mas estou feliz por eles pelo menos apresentarem boas maneiras a mesa. Depois disso assistimos as Colheitas nos outros Distritos, e estou desapontada com o estado que minha peruca fica depois do abraço de Haymitch.

– Haymitch está bêbado todo ano – diz Peeta Mellark rindo.

– Todo dia – corrige Katniss Everdeen rindo também.

– Que estranho vocês acharem isso engraçado – comento, desconfortável com os comentários a respeito de meu colega de trabalho -, pois o mentor de vocês é sua corda de salvação quando estiverem na arena. Será ele que mandará as dádivas que podem salvar suas vidas, então eu não estaria achando isso tão engraçado.

Haymitch escolhe esse momento para aparecer e me fazer passar vergonha, vomitando no tapete e caindo desmaiado sobre aquela coisa.

– Querem saber? Riam a vontade!- digo desviando daquela poça e daquele corpo inconsciente para não sujar meus sapatos e vou para meu quarto.