– Como estão nossos patrocinadores?- pergunto.

– São bem mais do que no ano passado – diz Haymitch.

– Então eles têm chance?

– Não sei, alguns deles querem apenas se divertir, e isso não é bom. Eles podem dar as dádivas mais inúteis quando mais precisarem.

– E isso é um problema, não é?

– É claro que é um problema.

Mordo o lábio inferior enquanto tento pensar em algo.

– Olá, olá, bom dia - digo, entrando na sala para patrocinadores do Distrito Doze, onde há dois patrocinadores.

– Oi, Effie Trinket, não é?- pergunta a mulher.

– Isso mesmo, prazer...?- cumprimento-a.

– Meu nome é Penélophe, e este é Jorgeous – disse a mulher apresentando o homem baixinho de sobrancelhas laranja atrás dela – Gostaríamos de patrocinar seus tributos este ano. Eles nos parecem bem... interessantes.

– Compreendo – digo, assentindo com a cabeça – Eles são incríveis! Já ouviu a teoria de que, quando se esfrega bastante o carvão, surgem pérolas? Pois então, nossos tributos são essas pérolas que custamos a encontrar e, se ajudá-los, tenho certeza de que não se arrependerão. Não é, Haymitch?

Haymitch está no canto da sala muito ocupado com um copo de uísque que nem escuta, eu peço licença e vou até ele, lhe tirando o copo e o puxando comigo.

– Estava dizendo aos patrocinadores como nossos tributos são pérolas, você não concorda?

– Claro, claro, se você diz – ele dá de ombros.

– Obrigada – digo entredentes olhando para Haymitch, então abro um sorriso para os novos patrocinadores – Vocês querem beber algo, queridos? Ou falar mais um pouco sobre os tributos?

– Não é preciso, Effie, já estamos decididos. Iremos patrocinar Katniss e Peeta – diz Penélophe.

– Os amantes desafortunados – completa Jorgeous.

– Isso mesmo – concordo.

– Bom, foi um prazer, senhorita Trinket – diz Jorgeous se despedindo – Deixaremos os dois a sós.

– Como assim?- pergunto, sem entender.

– Você e o mentor não são... íntimos?- pergunta Jorgeous baixinho, apenas para mim.

– Não! Claro que não!

– Ah, perdão – diz ele – Pensei que fossem, sabe, seria uma ótima estratégia para conseguir patrocinadores, os tributos apaixonados na arena e os mentores apaixonados aqui – ele dá uma piscadela e sai.

– O que ele disse?- perguntou Haymitch.

– Hã, nada, nada – digo, pensando sobre o que ele havia falado, era mesmo uma ótima estratégia.

– Sério? Você parece nervosa.

– Estou ótima – voltamos a assistir, a televisão mostra Katniss correndo do grupo de carreiristas e penso em como esse será seu fim, ela sobe em uma árvore e fica a uma altura de três metros dos outros Carreiristas, que não conseguem escalar com a mesma facilidade. Katniss se amarra a árvore e molha um pouco o ferimento em sua perna, causado pela bola de fogo.

Ao meu lado, Haymitch está inquieto, ele bebe um, dois, três goles da bebida, então bate o copo com força na mesa e sai da sala. Eu o sigo. Para minha surpresa, Haymitch não foi atrás de mais bebida, ele foi atrás de mais patrocinadores.

– Sim, sim. Tenho certeza de que não iram se arrepender – diz Haymitch, conversando com mais três pessoas.

– Eu e Haymitch fizemos um trabalho excelente neles!- digo, então o dou um cutucão – Não é?- ele concorda e eu continuo – Já ouviram a teoria de que, se esfregar bastante o carvão, ele vira pérola? Katniss e Peeta são como o carvão que eu e Haymitch esfregamos e agora são pérolas!

Fico feliz que as pessoas aceitem minha teoria, conseguimos vários patrocinadores e mandamos remédio para a ferida de Katniss. Só não entendia porque a maioria das pessoas nos olhava com malícia e estranheza.

– Effie, você sabe que não é verdade, não é?- perguntou Haymitch me puxando para um canto.

– O que?

– A teoria das pérolas. Não é verdade.

– Não?

– É claro que não! Se fosse, o Doze não seria aquela merda que é.

– Olha os modos!- digo – Bom, os patrocinadores não sabem disso, sabem?

– Pelo visto, não.

– E você pretende contar a eles?

– Não.

– Então não importa se é falsa ou não, contanto que acreditem.

– O que? Effie Trinket mentindo? Por dois tributos malcriados?- pergunta Haymitch.

– Não estou mentindo. Estou omitindo um fato.

– Conta outra, boneca – diz Haymitch rindo, e então percebo que estamos a uma distância muito próxima um do outro. Olhamos-nos nos olhos e então incoscientemente olho para sua boca, e quando levanto o olhar ele também olha para a minha.

Não sei dizer quem deu o próximo passo, mas nos aproximamos a ponto de sentir a respiração um do outro e, se eu erguer um pouco meu rosto, nossos lábios se encontrarão.

Mas, ao invés de dar mais um passo e beijar Haymitch, eu me afasto e vou embora.