– O resgate será feito no terceiro dia do Massacre Quaternário – diz o holograma de Coin.

Plutarch afirma e eu dou mais um suspiro.

– Vocês terão que estar no aerodeslizador antes, mandarei um com a insígnia da Capital, mas sejam o mais discreto possível.

– Coin, me deixe levar Effie Trinket, ela pode ser útil.

– Em que? Ela vai ensinar boas maneiras aos meus soldados? Ou dormir com eles?- zombou Coin, então seu rosto endureceu – Conheço a fama de Effie Trinket, não a quero em meu Distrito. Ela não me é útil.

Mordo a língua para não responder Coin e simplesmente balanço a cabeça, arrependendo-me do dia em que me envolvi com aquela mulher.

**

Haviamos acabado de conseguir um patrocinador quando Plutarch apareceu na porta. Ele balançou a cabeça discretamente e eu concordei.

– Eu já volto – digo.

Saio e encontro Plutarch no corredor.

– Precisamos ir, Haymitch, agora.

– Plutarch, me deixe levar Effie, por favor.

– Não posso permitir, Coin disse sem acompanhantes – diz ele.

– Mas e se eles...

– Não podem fazer nada com ela. Effie Trinket é uma cidadã da Capital, não tem nenhum envolvimento com o que está acontecendo e nem com os que estão envolvidos. Certo, Haymitch?

– Certo. Eu só vou buscar uma coisa e podemos ir.

Ele concorda e eu volto para a sala, onde Effie está conversando com o patrocinador ainda.

– Com licença, só um minutinho – digo puxando Effie para um canto da sala – Effie, eu preciso ir agora.

– O que? Para onde?

– Eu não posso te falar. Quanto menos você souber melhor.

Ela balança a cabeça.

– Preciso ir agora, mas eu vou voltar. Confie em mim, boneca.

– Confio, Haymitch – diz ela, apertando minhas mãos.

– Até breve, Effie Trinket.

– Até breve, Haymitch Albernathy.

E então eu abandono o prédio e entro no aerodeslizador no momento em que vários Pacificadores entram no prédio e começam a parar as pessoas na rua. Tento me lembrar do que Plutarch disse, que as pessoas da Capital não serão prejudicadas.

*

– Effie, está sozinha?- pergunta Portia na porta.

– Sim, Haymitch acabou de sair – digo – Posso ajudar?

– Estou muito preocupada com Cinna. Ele está desaparecido, Effie.

– Oh, meu Deus! Quem faria isso?

– Acho que foi a própria Capital.

– Mas por quê?

Nesse momento quatro Pacificadores entram na sala e agarram a mim e a Portia, e nos arrastam para fora do prédio.

– O que está acontecendo?!- grito, me debatendo contra o Pacificador.

– Nenhum sinal de Haymitch Albernathy, senhor – diz outro Pacificador – Parece que ele deixou o prédio.

– Você – o Pacificador que me segurava me gira em seus braços para que eu fique de frente para ele – Onde está Haymitch Albernathy?

– Eu não sei – digo.

– Não minta para mim! Onde está Haymitch Albernathy?- ele repetiu, apertando ainda mais meus braços.

– Eu já disse, eu não sei – repeti, e depois senti apenas uma pancada na lateral da cabeça.

Eu juro, esperei de pé por ele, pois sabia que ele viria logo e me resgataria daquela cela imunda em algum lugar no subterrâneo da Capital, sabia que ele se importava comigo, e por isso não me sentei no chão (não havia cadeiras, o chão e as paredes estavam úmidos). Ficava andando de um lado pelo outro na cela, contando os segundos, que se transformavam em minutos, e esses minutos se transformaram em horas, e passaram para dias, e então já contava uma semana, e eu ainda esperava de pé, o único momento no dia em que eu tinha um pouco de descanso, era quando me levavam a uma pequena sala bem iluminada para me torturar e, quando pensavam que eu havia morrido, me deixavam em paz por alguns minutos, e então eu era obrigada a continuar respirando e abrir os olhos. As torturas foram diferentes nos primeiros dias, mas creio que tivesse acabado a criatividade, então eles escolhiam a que achavam eficiente de acordo com o humor.

– Effie, está sangrando – diz Portia, na cela ao lado.

– Estou bem – digo, mas minha mão está tremendo e meu braço está queimando no local do ferimento.

– Aqui – diz Caesar Flickerman, que está na cela do outro lado, ele rasga um pedaço da própria roupa e eu estendo meu braço para que ele amarre. Caesar, ao contrário de Portia e eu, não vem sofrendo nenhuma tortura que possa prejudicar seu físico, já que pelo que sei o estão usando na televisão para entrevistar Peeta e fazê-lo convencer os rebeldes a pararem.

Apesar de tudo, posso ver que ele está bem mais magro, e com manchas escuras abaixo dos olhos.

– Como está Peeta?- pergunto.

– Nada bem, está desnutrido, e muito mal-tratado, eles usam muita maquiagem quando gravamos o programa. Acho que estão fazendo algo com as memórias que ele tem da Katniss, no início, ele demonstrava que estava tentando poupá-la, estava tentando salvá-la, agora ele parece com raiva toda vez que toco no nome dela – diz Caesar.

– Oh, meu Deus, e se eles tiverem telessequestrado Peeta?- pergunta Portia.

– É uma possibilidade, mas só fazem três semanas, para telessequestrar alguém completamente levaria muito mais tempo.

– Não significa que não estejam tentando – digo.

Um Pacificador aparece para levar Caesar e outro se dirige a cela de Portia.

Recosto-me as grades da cela e espero eles retornarem, mas quando eu vejo a porta da minha cela se abre.

– Vamos – diz uma voz grave, mas muito conhecida. Viro-me para encarar o homem.

– Kriss?

– Olá, Effie.

– Você veio...

– Vim para interrogar você. Anda logo – diz ele.

– Mas eles acabaram de levar Portia – digo, ainda boba de vê-lo ali, tranquilamente falando em me torturar.

– Sua amiga terá um destino diferente hoje.

– O q-? Eles irão matá-la?- pergunto – Kriss, você não pode deixar isso acontecer, eu sei que tivemos alguns problemas no passado, mas você precisa ajudá-la! Por favor!

– Eu não irei contra a Capital, Effie.

Avanço nele, arranhando seu rosto e socando-o.

– Você é um covarde! Me julgou durante todos esses anos e na verdade é você que tem medo de... – ele me acerta no rosto e eu caio no chão.

– Eu não tenho medo de nada, Effie Trinket – diz ele segurando meu rosto e me fazendo virar para ele – Você é que deveria temer o que posso fazer com você.

Ele puxa minha mão e a examina, e fico feliz em ver que tem uma marca de arranhão em seu rosto, da testa até o queixo.

– Que tal começarmos arrancando essas unhas? Elas podem ser perigosas, não é?- ele sorri e me puxa pelo cabelo, obrigando-me a levantar, e sinto que estou chorando.

Tudo que escuto são ecos dos meus gritos e a risada de Kriss, e me pergunto constantemente por que me casei com aquele homem e quando ele desistirá de se divertir comigo e me matar de uma vez.

Sou jogada de novo naquela cela imunda, tremendo, chorando e sangrando.

– Effie, você está bem?- pergunta Caesar Flickerman aproximando-se da grade que nos separa.

– Descobri que meu ex-marido está aqui. Ele quer que eu volte a usar aliança – digo, mostrando a mão onde Kriss colocara um anel que havia acabado de ser retirado das chamas.

– Meu Deus!- diz Caesar – Prescisamos jogar água nisso.

– Não... poupe sua água.

Olho para a cela do outro lado.

– Onde está Portia?- pergunto.

Caesar olha para baixo e engole em seco.

– Eu sinto muito, Effie... Portia foi sacrificada agora a pouco, para representar o que acontece com os rebeldes, até mesmo da Capital.

Levo a mão à boca para conter o grito que quer escapar de minha garganta e começo a chorar compulsivamente, Caesar se aproximou mais, ficando colado na grade, e me aproximou para que pudesse me abraçar, e eu não sei dizer quantas horas se passaram enquanto eu chorava, até que dois Pacificadores apareceram novamente na porta da cela, e Caesar não estava mais ali.

Eu me levanto, seco as lágrimas, e caminho até eles de cabeça erguida, enquanto eles me conduzem novamente aquela sala para ouvir as mesmas respostas. Eu não sabia onde Haymitch estava. Eu só sabia que ele não viria me resgatar.