Ore no Goshujin-sama escrita por Assa-chan


Capítulo 9
O fim do desafio e o começo dos sentimentos


Notas iniciais do capítulo

Negar é bem mais fácil que admitir.



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Quando eu acompanhei Sakura até a porta pra deixar minha casa, as palavras de Tomoyo ainda martelavam minha mente incessantemente.

'Você realmente a ama, certo?'

"Não, eu não a amo", disse internamente enquanto me jogava em cima do sofá. Então por que queria tanto que ela fosse feliz? Cobri minha cabeça com uma almofada, espantando tal pergunta. "Eu simplesmente quero ganhar dela!", exclamei em minha mente, prensando os olhos com força.

Naquela semana acabei me envolvendo mais do que esperava com a Daidouji, e não sabia se poderia realmente confiar nela. Entretanto, eu gostava daquela situação. Sentia que ela era o tipo de pessoa por quem eu poderia me apaixonar sem ter que inventar desculpas.

Mas na realidade eu simplesmente tinha medo que as palavras de Tomoyo fossem uma verdade que eu estava escondendo há tempo até demais.

*****

No dia seguinte, uma sexta-feira, eu fui buscar Sakura como de costume, por mais que o frio tivesse aumentado demasiadamente. Faltavam pouco menos de vinte dias pro outono abacabar, no entanto o inverno parecia já ter começado. E eu comecei a me preocupar com a aposta - duas semanas não seriam o suficiente, e eu sabia muito bem disso.

- Sakura? - eu indaguei ao ver algo de estranho em pé atrás da porta que estava meio aberta. Os cabelos estavam completamente alvoroçados ao ponto de eu nem conseguir distinguir a face das madeixas, o pijama amarrotado e mal colocado, os pés descalços. E por algum motivo tal criatura - que eu ainda me via incapaz de indetificar -, esfregava a manga da camisa contra os olhos.

- Hm? - o ser resmungou, e eu percebi que definitivamente se tratava de Sakura.

- Você... - eu estava assustado. Certo, aterrorizado era o adjetivo correto. - O que houve com você?!

- Ela acorda sempre assim na semana de provas. - vi o sorriso largo de seu pai detrás da garota. - Ontem ficou estudando até tarde e agora está assim. - ele apoiou uma mão sobre o ombro da filha afastando-a ligeiramente para poder passar. - Syaoran-kun, eu preciso sair agora. - Fujikata parou ao meu lado, já pronto pra seguir seu caminho. - O Touya já foi embora há um tempo... Pode dar um jeito na Sakura?

- "Dar um jeito"? - demandei a mim mesmo, pois a este ponto o Kinimoto já tinha saido do portão. Afinei os olhos, sabendo que iria me arrepender se ficasse ali. Mas era tarde demais, Sakura já tinha despencado em cima de mim.

- Ei! - eu segurei-a pelos ombros chacoalhando-a, e a Kinomoto pareceu acordar. Ou ao menos em parte. - Acorde!

- Pai...? - os olhos esmeralda finalmente ganharam certa ênfase em meio à confusão de mechas castanho-claro que tinha se tornado seu rosto - Mais... Cinco minutos...

- Eu não sou seu pai, garota! - ela continuou apoiada a mim, e ao notar pessoas passando e fazendo comentários indiscretos eu não vi escolha a não ser pegá-la nos braços e levá-la pra dentro. Sakura era leve. Ou melhor, quase não pesava nada. Eu poderia carregar aquele corpo até a escola e voltar sem me cansar. Aonde é que ficavam os músculos que ela tinha naquela corporatura frágil e ligeira?

A deitei em cima do sofá. "Ela vai precisar do uniforme," cogitei o óbvio enquanto a via se remexer e balançar os braços como se estivesse empunhando uma espada. Ela até mesmo sonhava com kendo?

Subi as escadas procurando por seu quarto. Aquele dia eu tinha chegado dez minutos adiantado, e com um pouco de sorte conseguiria entrar na escola antes do primeiro sinal. Adentrei o recinto instantes depois, percebendo que estava exatamente como sua dona: caótico e indefinido.

Entretanto, as roupas perfeitamente dobradas junto à mochila em cima de uma cadeira logo chamaram minha atenção. "Isso é coisa do Fujikata," afirmei em pensamento, pegando o uniforme e correndo pro andar debaixo.

Ela ainda estava dormindo quando eu fui até o sofá novamente. Eu sabia que não iria conseguir acordar ela de sua 'hibernação' - recuso-me a dizer que ela estava dormindo -, como uma pessoa normal. Como primeira coisa pensei em lhe dar café, mas preparar e fazê-la beber levaria muito tempo e esforço. Então eu olhei de esgueira pras escadas, lembrando que no andar de cima tinha um banheiro. Eu poderia jogar ela debaixo do chuveiro; se não acordasse assim simplesmente não acordaria mais.

A peguei novamente nos braços, subindo os degraus com cautela pra não escorregar. Abri a porta do banheiro empurrando-a com o pé. Deixei-a no chão mesmo, indo abrir o box e a água do chuveiro. Esperei que esquentasse, então suspirei fundo, pondo-a ali de baixo. Corri, saindo do banheiro e logo fechando a porta com força. Apoiei-me à mesma, deslizando até alcançar o solo.

Aquela garota só sabia me dar trabalho.

- AHHH! - eu ouvi Sakura gritando, e agradeci aos céus que finalmente tivesse despertado. Entretanto, outra coisa me chamou a atenção; um forte barulho de algo caindo ao chão e em seguida silêncio. Arregalei os olhos, desconsertado. Imaginei o pior, obviamente. Levantei impulsivamente, virando a maçaneta no mesmo instante e precipitando-me pra dentro do recinto.

No entanto, o que eu vi, não foi exatamente o que tinha pensado.

A porta no box estava no chão por baixo dos pés descalços de Sakura junto à camisa do pijama. O vapor impedia um pouco da minha visão, mas pude claramente observar as curvas sutis e delicadas dela se desenharem por trás da curtina de fumaça. Ela estava de costas, e vagarosamente virou-se até me ver, dilatando as pupilas de forma quase exagerada.

A pele rosada, o sutiã quase transparente, os cabelos molhados. Ao ver o corpo meio-nu dela acima do umbigo meu coração disparou, e me senti pietrificado. Por um segundo acreditei que fosse um anjo em forma humana.

Entretanto, esta foi a última imagem que eu tive antes de sentir algo de extremamente duro acertar minha cabeça e perder a consciência.

*****

- ...orda, idiota! - parecia um sonho. Aquele tipo de sonho confuso, que faz parecer realidade cada pequeno detalhe. Mas eu não costumava sonhar com Sakura me balançando e me dando tapas na cara. - Acorda antes que eu morda e arranche suas orelhas!

- Ai! - eu exclamei. Doía. Esfreguei um dos olhos com a mão esquerda. Tive que bater as pálpebras uma ou duas vezes antes de me acostumar com a luz. Não é um sonho, deduzi em pensamento.

- Levanta. - abri os olhos de uma vez, vendo Sakura completamente diferente "daquilo" de pouco tempo antes. Os cabelos ainda estavam ligeiramente úmidos, porém penteados e em ordem como todos os dias. Trajava o uniforme de inverno e uma jaqueta azul por cima. Os olhos verdes dela me encaravam com certa indignação.

Foi então que eu me lembrei o que tinha visto.

- E-E-Eu não fiz por mal! - berrei, sentando-me - Seu pai mandou eu dar "um jeito" em você, mas você não acordava, então eu tive que te jogar debaixo do chuveiro, mas aí eu pensei que tinha caído e se machucado e fui ver o que tinha acontecido, e quando abri a por... - ela cobriu minha boca com uma mão, suspirando pesadamente.

- Eu acredito. - disse com um tom sincero e cansado - Mas... Agora levanta. Acho que dá pra chegar na escola antes do segundo periodo.

- Quanto tempo eu dormi? - segurei a cabeça com uma mão, sentindo uma forte dor bem ao centro da testa. Passei um dedo em tal ponto, e senti que ali tinha um curativo. Olhei-me em volta; estávamos na sala e eu sobre o sofá. Como foi que ela tinha me levado até lá?

- Quase uma hora. - Sakura respondeu já caminhando - Vamos logo.

- Ei, Sakura. - eu segurei seu pulso, e ela parou para me olhar - Quer matar aula hoje?

- Hã? - a Kinomoto franziu a testa, contrariada - Por que diabos eu iria querer matar aula contigo?

- Estamos atrasados de qualquer forma. - eu me ergui, ainda segurando-a. - E teriamos bastante tempo pra pensar na segunda fase, fora que hoje só tem revisão pras provas da semana que vem.

Eu pude ver claramente que seu rosto demonstrou um semblante tentado por tal proposta. Seria melhor para nós dois, por mais que os boatos entre o servo e a princesa fossem só piorar após a escola toda saber que todos dois estávamos ausentes.

- Ok. - ela puxou o braço, segurando a parte que meus dedos envolviam com a mão livre - Mas não podemos ficar aqui em casa. O Touya vai chegar mais cedo hoje, acho que na hora do almoço.

- Podemos ir até o rio. Não costuma passar muita gente, e mesmo estando frio a brisa é suave e se levarmos chá isso não vai ser um problema. - propus o primeiro lugar que me veio em mente, e a vi levantar uma sobrancelha calmamente e depois assentir.

Sakura colocou uma jaqueta grossa e me emprestou uma de seu pai, dizendo que com a que eu estava iria acabar pegando uma gripe. O caminho de sua casa até o rio era curto, e eu empurrava minha bicicleta ouvindo-a - sem realmente a escutar -, falar sobre Yukito.

Ao chegar à beira que ficava por baixo da ponte, sentamos por cima de uma espécie de toalha amarela que ela tinha levado, olhando as águas que escorriam livremente à nossa frente. Ela tinha parado de tagarelar há algum tempo, muito provavelmente por ter notado que aquele assunto não me interessava nem mesmo um pouco.

- Então? - ela indagou depois de um tempo.

- Sakura, o Tsukishiro-sensei mudou seu modo de ser contigo? - eu respondi com outra pergunta, jogando o corpo pra trás segurando o tronco com os braços apoiados ao chão.

Ela ficou quieta por um tempo. Talvez tenha sido questão de minutos, mas não conseguiria dizer bem. Eu continuava olhando pro céu cinzento daquela manhã de outono imaginando o motivo de alguém como ela, que podia ter qualquer garoto da nossa idade, gostar tanto de uma pessoa inacessível quanto Yukito.

- Não. - ela abraçou as pernas, e eu voltei-me pra ela - Ele continua sendo o mesmo. - fez uma pausa, e eu esperei que continuasse - Quer dizer que foi um fracasso?

- Eu não diria. - cruzei as pernas, sorrindo sinceramente - Mas não acho que se possa mudar uma pessoa tão facilmente.

- Eu fiquei tão feliz com suas palavras que nem pensei na realidade que estas escondiam. Talvez ele simplesmente quisesse dizer "você não tem mais 10 anos" ao invés de "você subiu em meu conceito e acho que posso te considerar". - ela afundou o rosto no espaço que ficava entre os joelhos, os olhos apagados e tristes. - Syaoran... Eu queria ser um homem.

- U..Um homem? - repeti estarrecido, olhando-a com curiosidade.

- Sim. E de preferência gay. - eu cobri a boca pra esconder uma gargalhada, esperando um complemento que desse significado àquela frase. - Pois se fosse assim... Se eu me apaixonasse pelo Yuki-kun da mesma forma... Provavelmente não sentiria meu coração despedaçar-se pela sua indiferença, pois ao menos saberia que um amor entre homens nunca funcionaria e colocaria meus sentimentos em paz. - fez uma pausa, talvez pensando no que tinha acabado de dizer. - Seria fácil desistir. - suspirou. - Mas... A cada sorriso que ele me mostra... A forma em que me chama "Sakura-chan", os abraços dos quais eu sinto saudades... Tudo me faz querer ter ele só pra mim, e é doloroso. Talvez seja por isso que eu odeio tanto ser uma garota.

Eu tirei meus dedos de frente dos lábios, agradecendo aos céus por não ter rido. Não tinha graça. Um amor não correspondido nunca é agradável, e guardá-lo por anos e anos deve tê-la feito sofrer.

Olhei-a sentindo meu peito apertar-se. Sakura paceria frágil, pequena, indefesa. Bem longe do demônio ao qual eu estava acostumado. Eu quis com todas as minhas forças abraçá-la, mas pensei que ela iria poder acabar se quebrando.

Entretanto, a realidade é que eu sabia que se eu o fizesse algo de muito mais forte iria brotar. E eu não estava preparado pra isso.

- Vocês vão ficar juntos. - eu afirmei, enfim. - Nem que seja a última coisa que eu faça.

A Kinomoto me olhou, os olhos parecendo mais duas piscinas verdes. Porém, eu nunca tinha visto sequer uma lágrima realmente escorrendo por seu rosto. Sakura era forte o bastante para segurar o choro antes que este de fato chegasse. E foi exatamente o que aconteceu naquele instante, pois um novo semblante espantou a angústia. Um meio sorriso. Um meio agradecimento. Uma meia esperança.

- Mas eu não posso cumprir meu prazo, portanto acho que tenho que anular a aposta. - sorri sem jeito - O que eu quero mesmo é fazer isto por você, Sakura. Indepentemente de vencer ou perder.

- Syaoran. - eu escutei meu nome sair daqueles lábios ténues antes que ela mesma tomasse a iniciativa de rodear meu corpo com os braços finos mas cobertos por mais de uma camada de roupa. Não pude não corar. - Obrigada, Syaoran. - eu senti gotas quentes alcançarem meu pescoço, e aceitei o abraço ainda receoso - Leve o tempo que precisar... Mas, por favor, não me abandone.

Aquela foi a primeira e última vez que a vi chorar. E não sabia o motivo, mas pensei que fosse realmente bonito seu rosto repleto das lágrimas que tanto guardou. Talvez por que tenha sido a únca verdadeira expressão que eu tinha visto naquela face em anos. As palavras daquele dia ainda estão frescas em minha mente. Naquele instante algo de muito maior nasceu, mas não soube dar-lhe um nome.

Assim como eu não soube ver a solidão por detrás daquela última e incerta frase.


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Notas finais do capítulo

OHH Syao! ♥
Larga e Sakura e pegael. ;_; GSDUISHGUD
Agora temos um periodo bem turbulento na fic!
A escrevi até o capitulo 12, então sei até mesmo como termina-la. O tamanho dos capitulos tende a aumentar.
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