Ore no Goshujin-sama escrita por Assa-chan


Capítulo 10
Segunda Fase




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Sakura

 

Suspirei, rolando os olhos. Peguei a caneta em mãos, olhando para aquela folha de papel por cima do meu banco. Terça-feira, prova de matemática... A matéria que eu mais odeio.

 

Lancei um olhar furtivo para a pessoa ao meu lado, vendo um rapaz com um grande sorriso no rosto que resolvia as questões sem hesitar sequer um segundo. Sorri, camuflando uma risada. Syaoran amava aquele tipo de coisa. Tenho certeza que se fosse pelas ciências exatas ele estaria em primeiro lugar na escola.

 

Apoio a caneta de volta em cima do banco, seguro meu pulso com os dedos da mão direita e faço com que este realize um movimento circular no sentido anti-horário. "Eu não vou conseguir me concentrar", conclui, fechando os olhos enquanto fazia a mesma coisa com a outra mão.

 

Voltei minha atenção ao papel. Escrevi meu nome, vendo que não tinha muito o que fazer além disso. Eu não tinha estudado. Eu teria que recompensar tudo nas outras matérias, sorte que a de ciências do dia anterior tinha ido bem.

 

Talvez aquela sexta-feita continuasse fixa em minha mente, ecoando em continuação as palavras doces que Syaoran dissera com aquele sorriso timido que ele casualmente dava quando estava comigo.

 

'O que eu quero mesmo é fazer isto por você, Sakura. Indepentemente de vencer ou perder.'

 

Olhei pro teto, depois novamente para a prova. Minha cabeça borbulhava repleta de perguntas; Quando foi que nosso relacionamento chegou a esse nível? Quando foi que ele havia começado a pensar na minha felicidade mais do que em seu egoísmo e em sua incessante obsessão pela vitória?

 

- E, principalmente, quando foi que eu comecei a pensar em nada mais do que ele? - murmurei pra mim mesma, batendo a ponta da caneta contra o banco.

 

 

*****

 

- Sakura! - Syaoran exclamou, me encontrando enquanto eu saia de dentro da biblioteca. Tinha ido entregar uns livros de matemática que eu peguei emprestado, mas que acabaram sendo inúteis.

 

- Ah, oi. - murmurei. - Hoje vai almoçar comigo? - Sim. Eu tenho idéias pra segunda parte do plano. Continua com o mesmo nome. - comentou entusiasmado. - Dessa vez vai dar certo.

 

Sorri. Ele era tão puro e fiel que chegava a ser engraçado. Me vi presa naquele infinito âmbar por mais de cinco minutos, dez talvez. Não conseguiria dizer com precisão. Assenti depois de um tempo ao ver que ele estava se tornando impaciente, e com razão.

 

- Então, o que exatamente quer dizer "bater e correr"? - perguntei caminhando ao seu lado pelo corredor que levava à cantina.

 

- Você tem que ignorá-lo. - Syaoran disse enquanto abria a porta.

 

- E como isso iria me ajudar? - perguntei, adentrando o recinto ao seu lado. Ele era idiota ou algo do gênero? - Eu andei falando com o Wei sobre isso. - eu o encarei com raiva, reprovando-o por conversar com seu mordomo sobre meus assuntos privados. O Li pareceu não se importar, sentando-se na primeira mesa que viu enquanto continuava a falar. - E acho que ele tem razão. Eu imaginava algo assim também, mas o que ele me disse faz muito mais sentido.

 

- Vai continuar no impessoal ou vai me dizer do que é que está falando? - perguntei, acomodando-me na cadeira de frente pra ele.

 

- Pois bem. - Syaoran suspirou, colocando os dois bentous sobre a mesa. - Talvez isso não se aplique bem aos colegiais, mas o sensei é um homem. E, como o Wei disse, homens gostam da caça.

 

- Caça? Eu pareço com um coelho pra você?

 

- Vai me deixar acabar, sim ou não? - cruzei os braços, esboçando uma careta. O Li percebeu meu consentimento e prosseguiu. - É mais do que claro que se continuar assim você não irá a lugar algum. Tente demonstrar que não se importa com ele, e acho que um pouco de ciúmes não mata ninguém.

 

- Diga-me logo o que pretende que eu faça.

 

- Falta mais ou menos uma semana para o natal. Temos que fazer com que ele queira passar essa data contigo. Acho que seria uma boa coisa se ele achasse que você tem um namorado ou algo assim. Ou melhor, se você, por exemplo, não ligar muito pra ele quando o ver na sua casa, ou não ficar conversando com ele quando as aulas dele acabam, ou se parasse de ficar vermelha que nem um tomate quando simplesmente o vê seria um começo.

 

- Mas... Mas... Eu acho que não consigo. Fora que... Um namorado? E quem seria, você? - Isso iria contra aquilo que dissemos naquele jantar na sua casa, então provavelmente vamos ter que achar outra pessoa. Mas acho que só o ignorar é o bastante.

 

- Hmm. - resmunguei. Teria que confiar nele. Mas, dentro de mim, certa indiferença crescia. Eu já não tinha pressa. Por um segundo pensei que daria no mesmo conquistar Yukito ou menos.

 

"Não, Sakura, acorda!" me reprovei intimamente. "Estamos falando do Yu-ki-to, claro que você quer ficar com ele!"

 

- Sakura. - saí de meus devaneios, encontrando os olhos curiosos de Li que me observavam atentamente. - Você anda fazendo muito isso ultimamente.

 

- Isso? - repeti, confusa.

 

- Sim, isso. - continuou, arqueando uma sobrancelha. - Ficar no mundo da lua no meio de uma conversa. Mais cedo, quando eu te chamei na biblioteca, aconteceu a mesma coisa. Algo de errado? - Errado? Nada! Que pergunta. - rolei os olhos pela mesa, tentando mudar de assunto. - Hoje eu tenho kendo com o nii-chan. Não precisamos ir pra casa juntos.

 

- Mas amanhã é o ultimo dia de provas. Tem história. Certeza que vai ir praticar kendo?

 

- Estou enferrujada. - suspirei. - Meu pai é um arqueólogo, Syaoran. Eu sei tudosobre a história do Japão. E a dinastia Meiji é simples.

 

- Okay, então.

 

Me senti aliviada por ele ter engolido aquela desculpa. Bem, era verdade que eu não precisaria estudar aquele dia, mas não iria praticar kendo. No final de semana anterior eu tinha passado mais de cinco horas no dojo com meu irmão. Estava mais do que em forma. Mas o fato é que eu precisava de um pouco de distancia para colocar minhas ideias em ordem. Pensamentos estranhos demais andavam passando pela minha cabeça, e eu sabia que Syaoran era a fonte deles.

 

No período das provas as atividades dos clubes param temporariamente até a volta das férias de inverno. O que nos leva diretamente ao Natal, e à Yukito. Como eu iria conseguir evitá-lo? E o melhor, como é que eu iria fazer pra ele entender que eu o estava ignorando?

 

Estalei a língua. As idéias de Syaoran nem eram tão boas assim, afinal de contas.

 

*****

 

Hora de ir pra casa. Esperei um pouco até que Syaoran fosse embora, dizendo que Touya iria me buscar. Outra mentira. Por que eu o fazia sempre? Não pertencia à minha personalidade mentir daquela forma.

 

Tirei meus sapatos de dentro do armário no saguão de entrada e os joguei ao chão. Ainda tinham algumas pessoas fazendo os mesmos movimentos que eu. Olhei pra fora e vi os primeiros flocos de neve caírem lentamente e derreterem assim que chegavam ao solo. Coloquei os sapatos, encolhendo-me em minha jaqueta ao sentir o vento frio que assoprava gotas de água misturadas ao gelo pra dentro da escola.

 

Observei atentamente as pessoas caminharem apressadas para a estação que ficava a pouco mais de dez minutos da escola. Iria me molhar se continuasse daquela forma, ali, parada. No entanto, eu não tinha vontade alguma de ir pra casa, tampouco de ficar lá.

 

- Sakura-chan! - ouvi alguém exclamando. Era Yukito, e eu nem precisei me voltar pra saber disso. A forma em que meu coração batia já denunciava o dono daquela voz.

 

Eu quis me virar e ir falar com ele, quis ver seu doce sorriso. Então... As palavras de Syaoran me interromperam.

 

'Tente demonstrar que não se importa com ele.'

 

Ouvi os passos apressados de meus professor calmamente diminuirem, até cessarem completamente pouco antes de mim. Fechei os olhos com força e comecei a correr. Escutei meu nome ser repetido uma ou duas vezes antes de eu conseguir alcançar o portão.

 

Ignorar era realmente dificil. O "sensei" iria sofrer realmente muito se não funcionasse.

 

*****

 

Segunda-feira, provas acabadas, mais uma semana de aula e depois finalmente as tão proteladas férias de inverno. Eram as minhas preferidas. Levantei da cama escutando Touya me chamar. Olhei pro relógio; tinha que esperar mais uns dez minutos antes de Syaoran chegar. Aquele final de semana nem o tinha visto, o que era bem estranho. Normalmente vinha me encher e me desafiar no dojo, mas naqueles dois dias nem sequer uma palavra.

 

Dei de ombros. Não queria que o primeiro pensamento da manhã fosse logo ele. Entretanto, nos últimos tempos, ele era a primeira coisa que me vinha em mente quando abria ou olhos de manhã e a última antes de fechá-los à noite.

 

- Sakura, sua monstrenga! - ouvi meu irmão gritar do outro lado da minha porta - Tem alguém no telefone que quer falar contigo! Venha responder de uma vez, eu estou atrasado!

 

- Sim, sim... - limpei meus olhos com as costas de uma das minhas mãos, caminhando pelo quarto e quase caindo uma ou duas vezes antes de alcançar a porta. Abri-a, estendi a mão e peguei o telefone fixo em mãos. O levei à orelha, dizendo um 'bom dia' bem preguiçoso. Quem poderia ser àquela hora da manhã? - Senhorita Kinomoto? - só tinha uma pessoa que me chamava daquela forma.

 

- Wei! - sorri, fechando a porta e voltando a me jogar sobre a cama. - Qual o motivo da ligação? - Nada em especial, senhorita. - esperei que continuasse, achando ainda mais estranha aquela chamada. - Acontece que o Shaoye XiaoLang não esteve muito bem este final de semana, e hoje não vai para a escola. Então ele me pediu para que eu lhe avisasse.

 

- Não está bem? Por acaso é algo de grave? - Oh, não. Uma mera febre. Tanto que acho que somente mais um dia de repouso e ele vai melhorar.

 

- Certo, então. Melhoras. - ele se despediu, então eu encerrei a chamada.

 

Desci da cama e comecei a me arrumar. Iria pra escola sozinha. Desde aquela nossa pequena briga eu não pegava o trem só, chegava a ser estranho. Fui até a janela e afastei as cortinas; a cidade parecia ter uma coberta branca por cima dela. Quando era criança, eu adorava brincar na neve... Com Tomoyo. Me perguntei se estava bem. Balancei a cabeça. Eu não era mais aquela garotinha idiota que todos gostavam de enganar. Que, principalmente ela, gostava de se apropriar. Tomoyo sempre foi invejosa, quis tudo o que eu tinha pra si. E, de certa forma, conseguiu.

 

Sai de casa depois de alguns minutos. Tinha medo de escorregar por causa da neve e do gelo, então preferi me dirigir até a estação um pouco antes. Arrumei meu cachecol assim que sai do portão de casa e peguei minhas luvas; estava mais frio do que eu esperava, e uma saia não era a melhor coisa pra se usar naqueles tempos. Por um segundo senti inveja de alguns rapazes que passavam por mim. Eles usavam calças.

 

Levei as mãos até a boca e assoprei esfregando-as para aquecê-las um pouco. Caminhava devagar, as casas passando diante de meus olhos. Dei tchau pra uma ou duas pessoas de minha antiga escola. Pessoas que não via há realmente muito tempo, e nem sequer me recordava de seus nomes.

 

Cheguei à escola em tempo. Troquei os sapatos e subi as escadas hesitante; mais uma vez teria que ignorar Yukito. Estive fugindo dele nos últimos quatro dias. No final de semana ele veio até nossa casa, e eu pedi para Touya dizer que eu não estava. Ele ligou pro telefone fixo no domingo, e eu deixei tocando quando vi pela bina que era seu número.

 

O natal seria no sábado. "Como se aquele teatrinho fosse resultar em alguma coisa", pensei afastando a porta da classe e cruzando tal entrada. Olhei pras pessoas ali dentro. Bufei; não estava com vontade de saldar ninguém. Tirei meu casaco e cachecol e os pendurei no cabide. Sentei na minha carteira de sempre, deixando o rosto repousar sobre a mão flexionada. "Vai ser um dia tedioso." conclui em pensamento, bocejando rumorosamente com a mão na frente da boca.

 

E assim foram as primeiras aulas, exatamente como o almoço que eu tive que comprar. O presente de natal da família estava meio comprometido. Nada de chocolate pro Touya aquele ano.

 

Voltei pra classe antecipadamente. Sentei-me na carteira que ficava no fundo do recinto ao lado da janela. Quanto eu queria que aquele fosse meu lugar. Escutei o barulho do resto dos alunos voltando aos seus lugares; logo a aula de música iria começar. Música, ou seja uma hora tentando não olhar pra Yukito. Sorte que era aula teórica.

 

- Kinomoto-san. - uma garota, que eu nem saberia dizer o nome, cutucou meu ombro. Me voltei para olhá-la.

 

- O que foi? - Levantei-me, tencionada a voltar pra minha carteira.

 

- O Tsukishiro-sensei disse que quer vê-la na sala dos professores.

 

- A-A mim? - gaguejei sem querer, sentindo a face esquentar. - Sabe o motivo? - Não. - ela fez um semblante desolado. - Vim somente dar o recado.

 

- Certo. - dei um meio sorriso, pensando que não poderia ignorar mais ele. Qual era a razão de ter me convocado? Eu tinha certeza que fui bem na prova teórica sobre música clássica. Aliás, os resultados saiam sexta, nem tinha um real motivo pelo qual me chamar ali.

 

Engoli em seco quando cheguei de frente para aquela porta. A sala dos professores nunca me pareceu tão assustadora. Segurei a maçaneta, estava obviamente gélida.

 

De lá de dentro não era audível sequer um suspiro. Respirei bem fundo e pausadamente. Apertei a maçaneta, abrindo enfim a porta.

 

- Com licença... - murmurei, adentrando o recinto com receio. Olhei em volta, estava vazio. Observei melhor; tinha alguém sentado no batente da janela à minha direita. Era ele. Os cabelos grisalhos e a corporatura esguia não me deixavam mentir.

 

- Sakura-chan. - ele sussurrou, virando-se pra me olhar. Desceu da janela, logo vindo em minha direção.

 

"Nada de corar, Sakura. Controle-se." minha mente dizia imperativa e repetidamente, enquanto meu corpo já se sentir amolecer. Desviei o olhar, concentrando-me no piso branco daquele cômodo mal iluminado.

 

- S-Sim? - respondi hesitante, ainda incapaz de olhá-lo, apesar de estar a poucos metros de mim. Então, aconteceu o inesperado. Senti os dedos de Yukito, mornos e delicados, tocarem meu queixo, obrigando-me a fitá-lo. Estava sem óculos, e aquela era de longe a expressão mais triste que eu havia presenciado sobre aquela bela face.

 

Mas, apesar do susto, eu não me sentia incomoda. Me perguntei o porque; respostas não me vinham em mente. Não estava ansiosa, meu coração não batia particularmente forte. O que estava acontecendo comigo? - Eu te... Fiz algo?

 

- Hã? - Aquele garoto, Syaoran Li, te disse algo de estranho? - pela primeira vez, eu percebi uma tonalidade diferente em sua voz. Ou melhor, adversa à normal. Era quase como se outra pessoa estivesse falando comigo. Entretanto, era ele. Com o rosto vazio, uma voz mais forte e os olhos brilhantes. Mas continuava sendo o homem pelo qual me apaixonei. - Por que deveria? - Você anda me ignorando, Sakura-chan. - Yukito finalmente soltou meu queixo, deixando as mãos caírem respectivamente ao longo de seu corpo. - Existe um motivo? Eu sei que sábado estava em casa. Eu sei que domingo não me respondeu porque quis, assim como quinta e sexta preferiu correr quando me viu. Se tem algo, por favor me diga.

 

- N-Não... tem nada...

 

- Eu não entendo. - ele sorriu, mas continuava sendo um semblante melancolico. - Mas agora eu não posso conversar sobre isso, tenho aula. - suspirou, chegando perto de mim e parando bem ao meu lado, colocando uma da suas mãos sobre meu ombro direito. - Me espere depois da aula. Quero tomar um chá contigo, e esclarecer isso. - encerrou a conversa, saindo da sala e fechando a porta atrás de si.

 

Permaneci ali, petrificada.

 

Eu não sabia o que Syaoran tinha feito, mas estava funcionando.


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Notas finais do capítulo

Se acharam esse capitulo grande, o proximo vai se tornar exagerado. XD
Mas acho que os outros vão voltar a serem menores. Uma revelação sobre Yukito no capitulo 11, não percam!
E, reviews?