Fundação Enigma escrita por Abraxas


Capítulo 6
Capitulo 6 – Pirâmide Atlante.




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Bernardo acorda ao som de um despertador de algum tema de algum seriado animado Japonês. Normalmente, aqueles que tenham robôs gigantes e /ou do gênero Space Opera. O rapaz dos seus 16 anos, cabelos castanhos, um pouco acima do peso e óculos de armação transparente, levanta-se da cama e calça os seus chinelos. Caminhando de forma sonolenta, lava o seu rosto em seu banheiro reservado no seu grande quarto. Este a qual é entupido de tralhas, maquetes, “Action-Picturs”, pôsteres... Um verdadeiro Geek.

Como um “morto-vivo”, o rapaz chega na cozinha e se senta no local reservado para ele. A sua Mãe, imensa, com uma camisola de cetim coloca a sua tigela diante do garoto.

— Bom Dia, Mãe... – ele diz.

— Bom Dia. Sei que é Domingo, mas temos que arrumar o seu Quarto. Infelizmente, o seu Tio jornalista de coisas estranhas estará nos visitando hoje. Não sei o porquê de querer passar um tempo com ele. – diz sem dar uma pausa no seu discurso.

“É para ficar um bom tempo sem você, sua Chata!” Pensa o rapaz colocando um cereal matinal e leite numa tigela.

— Nossa! Nunca imaginei que o irmão do seu Pai fosse tão misterioso. Normalmente, jornalistas são comunicativos e simpáticos, mas este sujeito não explica direito o que faz naquele Jornal sem sentido e estranho. “Pirâmide Atlante” , credo! O título assusta! Eu tive que dar uma folheada naquela “coisa”. Não diz nada com coisa alguma. Se falasse sobre celebridades, tudo bem, mas fala de bebês estranhos, Discos Voadores, trecos de Outro Mundo, etc. Como aquele Jornal vende? Como pode?! – diz a gorda tagarelando sem parar, só parou de falar quando enfia uma torrada em sua boca.

“Graças a Deus! Silêncio afinal!!!” Pensa o garoto ao comer o seu cereal amolecido pelo leite.

Depois do Café-da-Manhã, Bernardo começa a arrumar o seu quarto, antes que sua Mãe aparecesse e começasse a reclamar sobre jogar as suas preciosidades no Lixo. Mesmo sendo o mais rápido possível na sua arrumação, a senhora obesa aparece e faz todas as reclamações que o seu filho tanto conhece.

Logo, a limpeza e arrumação estão concluídas.

Finalmente, Bernardo arruma as suas malas e espera a buzina do carro do seu tio. Depois de duas horas, duas buzinas ecoam pela casa, a do veículo e a Voz estridente de sua Mãe. Como num relâmpago, o garoto corre em direção do carro. Infelizmente,  o abraço macio e caloroso de sua volumosa Mãe interpõe entre ele e sua Liberdade.

Depois de um “pequeno” discurso de Dez Minutos sobre recomendações, cuidados e preocupações tolas poluem o ouvido do garoto. Finalmente, o rapaz é liberto e entra correndo no interior o veículo.

Mais Dez Minutos de uma conversa monótona e paranóica da verborrágica Senhora e do monossilábico tio do rapaz. Milagrosamente, o carro é ligado e parte ao seu Destino tendo, ao fundo, a obesa Senhora acenando para os seus parentes.

Depois de cinco minutos de silêncio, o garoto comenta ao Tio:

— Ela é um saco! – cuspe a frase.

— Concordo. – retruca o seu Tio.

A viagem foi tranqüila e silenciosa.

Ambos falaram muito pouco e assuntos inerentes. Só uma curiosidade do Tio a respeito de suas atividades escolares e preferências pessoais fizeram o rapaz se abrir mais com o Tio.

No final da viagem, ambos adquiram intimidade suficiente para o garoto fazer as perguntas que deram o Real motivo da viagem.

— Tio... Conhece a “Deep Web”? – pergunta Bernardo.

— Conheço. Costumo freqüentá-lo. Por quê?

— Verdade que tem Sociedades Secretas lá? – pergunta de forma inocente o rapaz.

O seu Tio ri.

— Tem de tudo lá! Vão de Criminosos, Idiotas, Hackers, Cultistas, Conspiradores, Sonhadores, Doentes Mentais, etc. – foi a resposta.

— O que o Senhor faz lá? – pergunta o rapaz.

Ele não respondeu de pronto. Demorou um tempo para responder. Tanto que conduziu o rapaz para uma lanchonete de beira de estrada para almoçarem, pois já tinha passado algumas horas daquela viagem.

Ao entrarem, o Tio do garoto indica um determinado local no meio de inúmeras mesas.  Instalados, fizeram os seus pedidos e receberam os seus lanches. Sentados naquela lanchonete, mastigando o seu hamburger com fritas o garoto observa o seu Tio olhando de um lado para outro como estivesse esperando alguém.

— Garimpando. – foi a resposta dada depois de horas de evasivas.

— Garimpando? – repete surpreso o garoto.

— Naquele lodo coletivo de estupidez humana, existe um Mundo Paralelo. Algo que está além de sua imaginação. Eles costumam mandar mensagens secretas usando aquele lodaçal. O meu trabalho é pegar estas mensagens e retransmiti-las para outros que não podem chegar perto da “Deep Web” ou não queriam, entende? – explica o homem bebendo o seu refrigerante.

— Ahn... – balbucia o garoto.

O homem continua a olhar para fora do estabelecimento. De súbito, dá um aceno para alguém lá fora.

Minutos depois, surge um loiro de terno e gravata que o cumprimenta.

— Grande, José Luiz da Pena! – exalta o loiro. 

— Fala, Gustavo Trevo! – retruca o Tio do Rapaz. Como vai a Fundação Enigma?

— Vai bem... – neste momento o loiro encara o garoto bebendo o seu refrigerante. Quem é?- aponta para ele.

— Meu sobrinho, Bernardo. – e faz um gesto de aprovação.

O Homem se senta ao lado do garoto para que fique de frente de Jose Luiz. Simplesmente, ignora o garoto.

— Então, podemos falar de negócios? – diz o loiro ansioso. Afinal, a grana é tanta que podemos ignorar certas Condutas Sociais.

— Bem... Tem um grupo novo recrutando um monte de gente. Um tal de Cigarra 331, mas eles usam os mesmos enigmas e códigos da Sociedade do Super-Gênios. – explica o Tio do Garoto. Os reptilianos voltaram de sua expedição à Titã 949 e estão querendo o Portal de Nib. 

— A Sociedade é perigosa... Aqueles sujeitos não podem chegar nesta Realidade. Já os Reptilianos, são problemas dos Grays. Eles que se virem! – decreta o loiro.

De súbito, José Luiz da Pena se inclina no acento e dá um sorriso largo, pois lembrou uma novidade importante.

— Ah, sim! Sua Bruxinha, nhem? Conseguiu roubar o “Jardim do Caos” do Nyarlathotep. A Cabal inteira está louquinha para trazer a Bruxa para as fileiras deles. Só que Oscar está sendo muito “amiguinho” dos agentes do Triângulo. Não é melhor avisar que a relação com eles pode ser um empecilho para os Planos do seu Grupo? – alerta o jornalista.

Gustavo fica branco e depois fica muito furioso.

— Não acredito! Você não sabia de nada?! Eles estão enfrentado o Nyarlathotep sozinhos? Não é a toa que a Cabal está em polvorosa! – exclama surpreso o jornalista.

— Os meus patrões vão ficar furiosos comigo, se você publicar esta notícia! – diz o loiro. Por favor, segura esta notícia por duas semanas. – implora.

O jornalista fica um pouco irritado.

— Está bem... Uma semana. Nada mais e quero mais um Milhão de Dólares por isso. Sabe o quanto segurar esta informação é antiético, mas você é o meu primo e os seus patrões, os Anões de Zurique, são clientes honrados e cheios do Dinheiro. – e sorri maliciosamente.

Gustavo tira o seu talão de cheques e escreve com velocidade. Depois entrega o cheque para o jornalista.

Os olhos do Homem crescem devido ao valor da cifra.

— Duas semanas... A matéria está congelada por duas semanas. – balbucia o jornalista.

— Obrigado! – e se levanta da mesa. Prazer conhecê-lo, garoto. – e o loiro parte as pressas dali.

Depois de alguns minutos de silêncio, Bernardo pergunta:

— É assim que ganha a Vida? – questiona.

O tio dá um sorriso de orelha a orelha e cita uma frase em Latim.

“Scientia potentis est!”— respondendo com a famosa frase “Conhecimento é Poder”.

Depois de lancharem, a dupla caminha pelo vilarejo e acabam chegando a uma estranha banca de Jornal.

Ao contrário da maioria desse tipo de estabelecimento que é bem iluminada e os seus produtos são expostos e de maneira clara e organizada. Naquela banca é o oposto. É escura, feia e os seus jornais são empilhados dentro de caixas. O mais impressionante é a sua grande rotatividade de clientes. Dizem que edições antigas ou recolhidas se encontram ali e em excelente estado de conservação, como estivessem recém-lançadas. Basta encomendar ao jornaleiro.

Em por falar no jornaleiro...

— E aí, Haroldo? Como vai? – pergunta José Luis da Pena diante daquele enigmático ser.

Os olhos do Homem se erguem na direção do jornalista.

— Na mesma. – foi lacônico em sua resposta.

— Trocou de pele? – pergunta o jornalista.

Neste momento, o homem olha fixamente para o rapaz ao lado do jornalista.

— Não se preocupe. É o meu sobrinho. – explica o homem.

Bernardo fica estudando os biótipos, tanto do tio, quanto do jornaleiro. José Luis da Pena é um homem alto, magro, cabelos castanhos, uma idade aproximada de 50 anos, calvo e bem vestida. Com uma camisa social listrada de azul sobre um fundo branco, uma jaqueta cheia de bolsos usada, normalmente, por fotógrafos nos anos setenta ou oitenta do século passado, bege, calça jeans azul e mocassim escura, talvez azul marinho ou preto.

O jornaleiro é um homem dos seus trinta anos cabelos negros e compridos coma aqueles cantores de Black Metal. Sem barba, como o tio, mas a sua pele é branca, quase anêmica e brilhante. Usa roupas velhas, mas o cheiro é adocicado e suave. Aqueles trapos são restos de algum fã de bandas de Black Metal. Quando vir um show de Rock Metal, os seus fãs estão vestidos da mesma forma que o jornaleiro.

O que o garoto fica impressionado com o jornaleiro é o seu olhar sinistro e assustador.

— Está a venda? Ele me parece apetitoso... – comenta o jornaleiro.

Bernardo sente os seus instintos berrarem “Perigo” como num antigo seriado de ficção científica na TV.

Inconscientemente, o jovem se posiciona atrás do tio.

— Não está não. – diz de forma tranqüilizadora. Pode estar acima do peso, mas ele está sobre a minha responsabilidade. – decreta o jornalista.

— Pena... Crianças como ele são uma iguaria muito apreciada em determinados lugares. – e lambe os beiços. Vamos aos negócios! Trouxe os exemplares que te pedi? – pergunta o jornaleiro.

O tio de Bernardo retira de sua mochila um bolo de papéis enrolado e amarrado em um barbante grosso. Parecem jornais ou revistas antigas.

— As edições anteriores da “Pirâmide Atlante” com a revista “Caminhos da Terra”. – diz o jornalista. Tudo que me pediu.

— Ótimo! Tenho clientes ansiosos por isso. – nesse momento o jornaleiro retira do bolso um maço de notas.

Bernardo observa que são notas de dinheiro de vários países e também de variados valores e épocas.

— Estamos em 2016, não é? – pergunta o jornaleiro

— Exato. Não me tente enrolar colocando notas do Futuro, pois não quero ser chamado novamente pelo Tesouro Nacional por ter depositado dinheiro de origem desconhecida. – reclama José Luis. Não quero voltar a ficar na “Malha Fina” dos Anões de Zurique. Sabe como eles são chatos enquanto a isso...

O jornaleiro faz uma carinha de inocente.

— Foi um lapso. – explica.

— Sei! – diz o jornalista de braços cruzados.

Logo as notas de dinheiro de alto valor são colocadas nas mãos de José Luis. Depois o “jornaleiro” pede para que confira as notas, coisa prontamente feita pelo Tio de Bernardo. Então, Então, um aperto de mão conclui o negócio.

— Obrigado! É um prazer negociar contigo. – diz o jornaleiro.

Um aceno com a cabeça e o jornalista volta a puxar o seu sobrinho pelo pulso para longe dali.

— O que foi aquilo?! – pergunta Bernardo.

— “Aquilo” é um distribuidor. Um fantasma atemporal, um Raksasha, para ser exato. – explica o Tio.

Novamente, o garoto olha para trás e a banca desaparece como nunca estivesse existido. 

— Sumiu, não é? – comenta o Tio sem olhar para trás.

— Como sabe dessas coisas? É incrível! É como estivesse num Conto de Fadas... – comenta encantado Bernardo.

Súbito, o seu Tio para de andar, se agacha e olha fixo para o seu sobrinho.

— O que eu faço é fascinante, incrível e extraordinário, mas são coisas que a Humanidade não está preparada para saber. São criaturas que podem seqüestrá-lo e ninguém vai sentir a sua ausência, pois Eles têm Poder de “apagar” a sua existência. Existem outras Terras e outras dimensões tão sinistras e estranhas que você enlouqueceria só de vislumbrá-las. Tudo que é descrito nos livros como Fantasia é REAL. E coisas que estão além da Imaginação, tudo são verdadeiras. – explica sério.

— Então o Senhor escreve sobre isso? – pergunta Bernardo.

— Sou um dos que põe Ordem no Caos. Descrevo para aqueles que não podem sair dos seus planos, mas são poderosos ou perigosos demais para si e/ou  para os Mundos que desejam conhecer. São Entes, Panteões, Alienígenas, sabe Deus o que são... Eu mesmo nem sei para quem eu escrevo, mas tenho a obrigação de fazê-lo. – desabafa o jornalista.

— Então o senhor é rico, Tio? – pergunta o sobrinho.

— Riqueza é algo relativo. Às vezes, nem todo Ouro da Terra pode comprar o último gole de água de um Planeta destruído. – explica o jornalista. Eu tenho dinheiro para me manter e pagar os meus informantes e funcionários. Mas é tolice acumulá-lo, pois o mesmo volta para aqueles que ditam as Regras desta Realidade. Não é o Dinheiro e a Riqueza que compra o Poder, mas é o Poder que consegue Dinheiro e Riqueza. O que fazemos é pegar as migalhas que os Titãs devam cair de sua mesa de jantar. – conclui.

Bernardo começa a entender como é o trabalho do seu tio. A comparação dele sobre os insetos e gigantes o faz ficar um pouco triste. Pois sempre imaginou um Mundo a explorar e crescer, mas agora descobre que não há nada a ser descoberto. Não há Orgulho ou Vaidade da exclusividade, pois existe alguém já o fez antes.

Bernardo descobriu que o Universo é grande demais...

— Posso trabalhar com o Senhor? – pergunta inesperadamente.

— Por quê? – pergunta o Tio um pouco surpreso.

— Porque eu sempre quis ser astronauta e descobridor de outros Mundos e outras Culturas, mas o senhor tem a sua disposição Universos inteiros co-existindo no seu cotidiano. É como viajar no espaço sideral, mas sem Nave Espacial alguma.  É maravilhoso... – os olhos do garoto brilham.

O Orgulho do jornalista é tocado profundamente. Quando apresentou a sua filha, ela ficou tão horrorizada que José Luis teve que apagar a sua memória dela. Agora para o seu sobrinho Geek, foi a experiência da Vida dele.

Não escolhemos os nossos Destinos, são os Destinos que nos escolhem.”  Traz as lembranças do seu Pai, quando ele apresentou aquela Realidade fantástica para José Luis da Pena. “Deus sabe muito bem o que deve ser feito.” Pensa o Jornalista.

— Está bem. Vamos fazer um estágio... Se for um bom funcionário, você fica. Que tal? – diz o sorridente homem.

Não é preciso dizer que o garoto comemorou muito a decisão do Tio.

Depois de uma rápida comemoração celebrada na forma de um sorvete, pois no meio da tarde a temperatura aumenta um pouco.

Durante a caminhada até a redação, José Luis da Pena explica ao sobrinho algumas coisas importantes.

— Bernardo... Quando conhecer a Redação do Jornal, quero que tenha em Mente que nada que irá aparecer é de nossa Realidade, com exceção dos três Humanos em nossa Redação. Eu, você e Felipe que é o coordenador de Impressa e só! – explica.

O rapaz fica surpreso.

— O resto é o que?! Robôs? – pergunta Bernardo em tom de brincadeira.

Afinal, o rapaz já tinha lido o expediente do Jornal, deve ter umas doze pessoas trabalhando, fora os estafetas e distribuidores.

Já o jornalista, ao ouvir a pergunta do sobrinho completa:

— Robôs... Não é má idéia... – balbucia. Não, garoto. São coisas um pouco diferentes...

De súbito, o jornalista diz:

— Vamos fazer o seguinte, vamos descansar da viagem num Hotel de um conhecido meu e amanhã de manhã e apresento o pessoal da Redação. – conclui.

E assim foi feito. O Hotel era aconchegante e bem instalado. Ambos jantaram e pernoitaram. Era a primeira vez que Bernardo dorme sozinho num quarto que não era o dele.

O garoto dormiu bem, mas estranho Sonho o perturbou. Uma linda garota loira olhava fixamente para ele enquanto dormia. A menina era linda, mas assustadora pelo fato de olhar fixamente para o seu rosto como um gárgula.

Oito horas da manhã, Tio e sobrinho chegam a Redação do misterioso Jornal “Pirâmide Atlante”. Na Verdade, um prédio velho e um pouco sombrio de cinco andares. A Redação ocupa o terceiro andar inteiro. Estranhamente os outros andares não são ocupados, mas a verdade que o Jornal comprou o prédio inteiro.

— Pretendo fazer um museu no Primeiro Andar e uma Biblioteca editorial no Segundo. – explica o jornalista subindo as escadas um pouco ofegante ao subir.

— Por que não tem um elevador? – pergunta o sobrinho um pouco cansado.

— “Mens sana, corpore sano.” – responde o tio em Latim, querendo que todos tenham atividade física.

Bernardo fica em silêncio ao conseguir subir os três andares do prédio.

Diante da porta de vidro, está um homem dos seus vinte e oito anos, cabelos curtos, negro, olhos grandes e penetrantes. O seu sorriso largo ao ver o seu chefe o novo visitante.

— Este é o seu sobrinho? ! Cara, que maneiro! – cumprimenta o jovem negro. Sou Felipe! Eu que coordeno a confusão dos jornalistas. – explica.

José Luis da Pena olha para a porta de vidro com o nome “Pirâmide Atlante” e pergunta ao rapaz:

— Por que não está lá dentro? – questiona preocupado.

Sem graça, Felipe explica:

— Márcia está atacada hoje. Houve uns problemas na casa dela, sei lá. Aldeões queimaram tudo e ela resolveu passar a noite no Quarto Andar, mas sabe como fica a Bianca quando sabe que tem alguém no Prédio. – conclui.

O Tio de Bernardo dá um longo suspiro.

— Mulheres... – desabafa. Vamos conversar com ela. – e José Luis abre a porta de vidro entrando de vez na Redação acompanhado pelo Sobrinho e o seu empregado.

A Redação do Jornal é uma área grande cheio de mesas e computadores. Num espaço de doze por doze metros bem distribuídos harmonicamente. Sentada de cócoras, está uma garota vestida de roqueira, com uma guitarra nas costas e com o seu longo cabelo cobrindo o seu rosto. Ela está abraçando as suas pernas toda deprimida.

— Márcia... Minha Flor, o que houve? – pergunta José Luis da Pena.

Soluçando muito, a garota começa a sua justificativa com uma voz de garotinha mega fofa.

— A minha casinha foi atacada por Sem Terra do Mal. Tive que fugir... – soluço. Vim pra cá, mas a Bianca ficou-me “secando” a noite toda. Fiquei com Medo! Então resolvi ficar aqui, na Redação. Fiz o meu trabalho e quero ir para casa da Bionne... – mia a garota com o rosto ainda coberto.

— Bionne? – pergunta Bernardo ficando sensibilizado com a História da moça.

— É a tal namorada/namorado, sei lá o que dela. – explica Felipe tentando segurar o riso.

Bernardo não entende muito que o Felipe quis dizer com isso.

Então a surpresa.

— Este é o seu sobrinho? – pergunta Márcia olhando para o rosto de Bernardo.

O Geek leva um susto e um arrepio percorrendo a sua espinha.

O rosto dela é muito bizarro. Os olhos enormes de íris escuras como nos animes, nariz fino, boca pequena. Para simplificar como é o seu rosto, é um “Gray” com cabelo de garota e sem as lentes negras cobrindo o seu globo ocular.

— Ele é simpático... – sorri a garota com a sua boca minúscula.

Foi como um soco no estômago. Controlar a repulsa xenofóbica e aceitar a aparência bizarra da Márcia.

— É a primeira vez que ele vê um híbrido querida. – diz José Luis da Pena apoiando as mãos nos ombros do sobrinho.

— Ah... – Márcia pisca os olhos de forma lateral como num Lagarto ou anfíbio. Por isso o susto. – e dá uma risadinha. Não tem problema. Você se acostuma e alisa a cabeça do garoto com a sua mão de quatro dedos. 

Apesar da repulsa e do Medo, Bernardo reage bem.

— O-Obrigado e d-desculpa.  – balbucia o garoto.

— Você é legal. – comenta a hibrido. Ao contrário de sua filha. Eu fiquei deprimida por semanas por causa do escândalo. – diz triste

— Nem me fale. Aquilo me magoou muito. – fala o Tio de Bernardo. Márcia é uma boa moça, mas Estética Humana e o instinto de verossimilhança que faz certas pessoas xenofóbicas, como a minha filha. – diz José Luis. 

Bernardo mais acostumado com a idéia de Alienígenas foi mais fácil aceitar a aparência da hibrido. Tanto que o rapaz faz uma pergunta ousada: 

— Ahn... Posso alisar o seu rosto? – pergunta o rapaz.

— Pode. – e a hibrido ajeita o seu cabelo para expor a sua bochecha.

O rapaz toca delicadamente o rosto da criatura. Mesmo com certo tremor na mão, o rapaz sente a pele macia e um pouco áspera da hibrido. Tendo a pele acinzentada, ela tem um sangue vermelho, por isso a garota fica ruborizada. Como qualquer menina humana. 

— O seu toque é tão doce que até esqueci-me do motivo de minha depressão... – comenta Márcia segurando a mão do rapaz com as suas mãos.

De súbito, uma voz ecoa na Redação. Um grito escandaloso e agudo. Por causa do ruído todos se viram na direção do Som.

Um humanóide de forma brilhante rosada como um plástico cobrindo todo o seu Corpo faz uma pose de indignação. Ela tem 1,60m; cabelos compridos, porém lembra mais um glacê de bolo rosado; forma feminina; olhos pequenos, mas expressivos; sem nariz e um risco que lembra uma boca. Sinceramente, é esteticamente mais aprazível do que a Márcia.

Todavia, a sua aparência da garota chiclete rosa não diminui a sua postura autoritária e cheia de ciúme.

— O que está fazendo com a minha namorada, Humano? – berra.

— Bonnie... – balbucia Márcia.

Tanto José Luis, quanto Felipe começam a gargalhar. Bernardo fica sem ação, estático, mantendo a sua mão parada no Ar. 

— Como pôde?! Um humano seduzindo uma menina Pura e Inocente como a Márcia! – e corre em direção da garota hibrida e a abraça. Você é minha! Só minha! – decreta a garota rosa.

— Bonnie... – balbucia toda romântica a garota vestida de roqueira.

Não é preciso dizer que as duas iniciam um namoro do tipo mais indecente que passa imaginar.

— Pára! Para! O meu sobrinho é menor de idade! Ele AINDA não pode ver este tipo de saliência. – ordena José Luis batendo palmas.

Só aí a garota-chiclete-rosa desgruda de sua namora.

— Prazer! Sou Bonnie 2611 – C. Sou uma forma de Vida Protoplásmica que assumiu esta forma humanóide. – apresenta-se a rosadinha ao sobrinho do jornalista.

— Prazer... – responde um pouco sem graça o garoto.

Logo, a garota rosada pede que dispense a sua companheira para a sua residência. Pois ela soube o que a Bianca tinha feito com a Márcia e não queria iniciar um conflito, ainda mais com visitas na Redação. Pedido prontamente aceito.

— Elas nunca irão entender o conceito do contrato de trabalho... – comenta José Luis ao seu sobrinho depois que a duas partem dali. 

Como um zoológico bizarro, entra na Redação um reptiliano com um caneco metálico com algum líquido quente e lendo jornal. Terno, gravata e sapatos engraxados, como qualquer humano chegando para mais um dia de trabalho. Depois se senta no seu espaço reservado na Redação e cumprimenta a todos de uma forma mecânica sem tomar conhecimento no que está em sua volta.

— Bom Dia a todos! – diz ele da forma mais genérica possível e sem olhar diretamente para ninguém, então começa a digitar o seu computador.

— Günter... O meu sobrinho está aqui. – alerta o jornalista. 

— O que?! – só aí que a criatura humanóide, mas com aparência de lagarto olha na direção dos humanos. AH! Olá, sou Günter. Sou revisor ortográfico e tradutor do Jornal. – diz sem sair de sua cadeira. Desculpa não te dar atenção, mas tenho serviço acumulado. – e depois de acenar cordialmente, a criatura de terno volta a trabalhar com afinco.

— É o nosso workaholic da Redação. – explica Felipe a Bernardo.

Em seguida, entra um cara peludo, enorme, branco, um Yeti ou Pé- Grande como queiram chamá-lo entrando no recinto adentro.

— Simon! Bom Dia! – diz José Luis da Pena.

O Yeti o olha de cima a baixo e fala com a sua voz tempestuosa:

— Bom Dia, Senhor Da Pena! Gostaria de conversar com o senhor sobre a sua atitude de censurar uma reportagem da Fundação Enigma? Isso pode arruinar a reputação de nosso Jornal. – diz a criatura.

Então, Jose Luis da Pena e o Yeti resolvem conversar em um lugar mais reservado.

Felipe e Bernardo ficam olhando para a dupla, quando o sobrinho do jornalista pergunta:

— Quem é? – curioso.

— É o Redator. Ninguém gosta dele, mas é super-competente. Chato, neurótico e perfeccionista, mas é o melhor naquilo que faz. – explica o jovem negro.

— Um Pé Grande? – comenta surpreso Bernardo.

— Espere para ver os animais inteligentes que estão para vir... Sempre tem um que faz plantão. – e ri.

O garoto faz uma cara engraçada.

Quem entra na Redação e uma mulher- planta, um humanóide que tem folhas no lugar de cabelo e caule verde no lugar de carne. É como fosse uma paródia vegetal de uma mulher humana. Bonitinha até, nada mais, com sues óculos de lasca de madeira e uma amêndoa cujo prendedor de cabelo. 

— Oi, Gardênia! – diz Felipe todo meloso.

— Olá. – responde a garota planta retribuindo o cumprimento com um leve aceno ao sentar em sua cadeira.

— Adoro esta garota! – confessa Felipe para Bernardo.

— Mas não é uma planta?!  - exclama o garoto em voz baixa.

— É daí?! Ela é quase igual a uma humana, só que tem forma de planta. – explica.

— Seria como transasse com uma bananeira... – indigna-se Bernardo.

Felipe fica todo corado.

— NÃO CREIO! – pensa alto Bernardo.

Neste momento, um cão e um gato chegam a Redação, juntamente com uma ruma de pardais. O cão abre a porta e bicharada entra.

— Chegaram! – diz Felipe. São os melhores informantes da Redação. Os animais inteligentes. Bernardo não são bem animais, na Verdade, são metamorfos, mas só se transformam em animais. – explica.

— Ufa! Ainda bem! Pensei que iria virar um Doutor Dolittle? – ironiza Bernardo.

— Quem é o garoto, Felipe? – pergunta o Labrador Retriever com a língua de fora.

— É o sobrinho do Patrão. – explica o negro. O nome dele é Bernardo.

O cão olha para o rapaz e faz uma observação maldosa.

— Ele gritou como uma garotinha, como a prima dele, quando viu a Márcia? – e ri.

— Osíris!!! – censura a gata angorá. Perdoe-me o meu marido. Ele é muito “engraçadinho”...

— AH! Não é Verdade?! – indigna-se o cachorro.

— Você é impossível Senhor meu Marido! – e a gata fica se esfregando nas pernas de Bernardo. O meu nome é Ísis, o idiota sem educação do meu marido é Osíris e aquela ruma de Pardais é o nosso filho Hórus. Diga olá ao rapaz, querido! – ordena a gata.

— Oláááá!!! – dizem os Pardais em coro.

— Temos muito trabalho há fazer! – diz a gata. Desculpa se não ficáramos aqui para conhecer-nos melhor. Tchauzinho! – e a gata parte.

— Tchau, garoto! Não se mije todo quando for ao quinto andar. – e gargalha o cão.

Quando os animais vão as suas mesas de trabalho, Bernardo comenta:

— Surreal... – balbucia embasbacado.

— Reparou que eles não articulam a fala, mas ouve-se perfeitamente o que eles dizem. – admira Felipe. Parece telepatia, mas eles emitem sons. Eu só não sei como.

— Eufonia. – observa Bernardo.

— O que?! – não entende o jovem negro.

— Eles usam o Ar como cordas vocais são como uma telecinésia, só que produzem sons audíveis e agradáveis ao ouvido humano. Quase o mesmo efeito dos ventríloquos, ao criar a ilusão da voz no boneco. – explica o garoto acima do peso.

— Como sabe disso? – fica surpreso Felipe.

— Seriados Japoneses... Animes. – revela.

— Depois em empresta. – pede o jovem negro.

— Claro.

Neste momento, uma linda e jovem loira fica diante do vidro. Bernardo fica sem ação ao vê-la. É a mesma garota que conheceu no Sonho. Os seus olhos verdes, porte altiva, beleza nórdica, desenhos femininos e sensuais revelam toda a essência do imaginário sexual masculino.

— XI!!! Chegou Dona encrenca! – desabafa Felipe.

A sua roupa delicada e ao mesmo tempo reveladora faz coração de Bernardo disparar. Ao abrir a porta de vidro e caminhar em sua direção, quase fez aquele adolescente desmaiar de emoção e excitação.

— Bernardo... Bernardo?! BERNARDO!!! – grita o jovem negro.

— Não adianta, Felipe. – diz a loira com Voz sensual. Eu sou o Sonho sexual do Gordinho. – e ri. Quanta irá bater em minha homenagem? – pergunta a loira alisando o queixo do rapaz com a ponta do dedo.

— Cinco... Talvez seis... – balbucia o garoto sem ação.

A loira dá uma risadinha debochada.

— Viu? O Bernardinho já sonhou comigo. – revela.

— Sai Satanás! – diz o jovem negro. Ele é o sobrinho do seu Mestre! Não pode brincar com ele, está no acordo! – recorda com raiva.

A loira dá uma cuspida no chão.

— Merda! Acorda, Panaca! – e estala os dedos.

— Ahn, o que?! – balbucia Bernardo.

— Cara! Você sonhou com ela? – questiona o jovem negro.

— Uma vez... No Hotel... – revela o sobrinho do jornalista ainda balbuciando.

A loira abre o seu cabelo com os dedos como num leque ou véu dourado.

— Não é culpa dele. – diz a loira. Eu estava com insônia e resolvi assombrar algumas pessoas na região. Só para espantar o tédio. Fiz a minha aura de Medo na horrorosa da Márcia e entrei na Mente do Gordinho filho dele. – explica apontando com o polegar para José Luis da Pena que se aproxima para ver o que está acontecendo.

— Senhorita Bianca Lorellei! – censura o tio de Bernardo. Contenha-se! Sei que possui autonomia, mas existe um acordo a ser seguido. – lembra.

Com um sorriso malévolo, Bianca retruca:

— Até algum herdeiro me dê a Liberdade da quebra do acordo. – e sorri. Acho que o seu sobrinho é um excelente candidato. Afinal, ninguém vive para sempre... Seja para mim ou para o Senhor... – e olha para o jornalista com malícia. Porém o meu Tempo de Vida é um “pouquinho” maior do que o seu... Não é Verdade? – ironiza a loira.

Um pouco irritado com a atitude da loira de aparência de dezessete anos, José Luis da Pena diz:

— Ele não o herdeiro de nada por aqui, Bianca! – diz o homem. Bernardo vai estagiar no Jornal, se vai ou não herdar alguma será escolha dele.

A loira ri.

— Como disse para sua filhinha que ficou com medinho da coisa feia da Márcia? Eu tive o prazer de mostrar para a feiosa o quanto a sua filha aprecia a aparência de coisa de outro Mundo daquela aberração! – e gargalha.

José Luis da Pena bate no rosto da loira na hora.

Bianca fica surpresa. Afinal, em todos estes anos, o homem nunca havia tocado nela.

— Fique longe da minha filha e da Márcia, Maldita! Eu teria orgulho de ter uma filha como a Márcia! Ela é pura, honesta, gentil, humana e maravilhosa! Coisa que nunca irá será, sua Monstra!!! – grita o tio de Bernardo.

A Redação inteira fica em silêncio.

— Você me bateu... – balbucia a loira.

— E vou bater de novo, seu Demônio! – explode. E vou mostrar ao meu sobrinho o que faz no quinto andar. – ameaça o jornalista.

Neste momento, a Loira ajoelha e implora.

— Desculpa! Desculpa! Eu sou grossa e estúpida!!! – e chega ao ponto de beijar os pés do tio de Bernardo. Perdão! Perdão! – diz aos prantos.

Depois de alguns minutos, o dono do Jornal brada aos seus funcionários.

— O show acabou! Ao trabalho pessoal!!! – ordena.

Tudo volta ao normal na Redação.

Ao meio-dia, o quarto andar é um imenso refeitório. Todos recebem as suas respectivas refeições. É um show de bizarrices culinárias e cheiros de revirar o estômago. Mesmo assim, os humanos têm uma ótima refeição.

— Cara... Adorei o seu tio esbofeteando na cara da Bianca! – vangloria Felipe. Que som lindo! SPLAT!!! – fazendo a onomatopéia do tapa.

— Eu fiquei com pena dela... – diz Bernardo. Ela pode ser mal-educada e egoísta, mas não acho que seja isso tudo que dizem...

— Ah, é?! Tá com peninha? Quer vê-la comendo? Já, já, você acaba com este encanto de loirinha-modelo-fofa-sexy. Vem comigo! – ordena o jovem negro.

— Espere aí?! Não tem um acordo sobre não entrar no Quinto Andar? – questiona Bernardo.

Felipe retruca.

— O acordo diz que não se pode pôr os pés lá, mas ninguém disse que não se pode ver o ouvir o que se passa lá dentro. Esse acordo foi feito no século XIX, na época do seu bisavô. Quando não se tinha inventado circuito interno de TV e áudio. – explica.

— Ela é tão velha assim? – pergunta o garoto.

— Ela não é humana, cara! – responde Felipe. Tem uma sala no quarto andar que dá para ver tudinho. Chamamos de Sala dos Horrores. Recomendo levar um balde. Quando eu vi a primeira vez, vomitei o meu almoço todo! – e ri.

Bernardo fica apreensivo.

Guiado por Felipe, Bernardo é levado para uma sala que lembra um auditório de áudio visual. Lá já tinha uma platéia. O reptiliano do Günter com o seu balde de lagartas vivas fazendo o seu papel de pipocas. O Labrador falante do Osíris  sentado na poltrona com o rabo abanado. Ambos com os olhos fixos na tela.

— É ai, galera!? Já começou? – pergunta Felipe.

O cão percebe que o jovem negro tinha um convidado reclama:

— PÕ! Se esse moleque vomitar aqui, eu vou marcar o meu território também! – ameaça o Labrador em urinar no recinto.

— Calem a boca! A Loira trouxe a sua primeira vítima! – avisa o reptiliano.

A tela mostra a loira puxando uma humanóide de quatro braços e pele azul. Podiam-se ouvir os gritos de horror da criatura jogada contra a parede.

— Será que ela vai comer o cérebro dessa vez? – pergunta o cachorro.

Todos censuram com um sonoro chiado de silêncio, exceto Bernardo que olha fixo na tela.

Bianca avança na criatura e começa a bater violentamente na cabeça do ser até ouvir o som do crânio se quebrando.

A galera vibra.

Bernardo sente asco.

Depois, a cabeça do ser azul de quatro braços é aberta e a loira começa a comer o cérebro da criatura com a mão. Osíris pula de Felicidade e exclama:

— Adoro isso!!! Olha só como ela mastiga o miolo como chiclete. Ela preza bem a alimentação, pois uma boa mastigação aproveita todos os nutrientes do alimento. É uma lição de Vida! – debocha o cão.

Algo quer sair do estômago de Bernardo para tomar um Ar.

— Com licença... – pede Bernardo.

— Terceira porta a direita. – alerta o reptiliano olhando fixo na tela e lambendo os seus dedos.

O garoto aceita a indicação do Homem Lagarto e vai ao Banheiro. Ele lava o seu rosto e fica horrorizado com o que vê. E o pior, a insensibilidade daqueles que viram aquelas cenas dantescas e tratavam como um Filme B de Terror. Tudo aquilo acontecendo no Andar de cima.

Horas mais tarde, Bernardo fica na cobertura olhando aquela pequena cidade no meio do nada. Pensando no que viu e descobriu, neste dia extraordinário. Onde o impossível se tornou Real e o Horror é algo corriqueiro. Pela primeira vez, o rapaz conheceu o que é Vida e Morte. O Belo e Medonho. Tudo isso marcou a sua existência e o seu modo de Pensar para sempre.

— Soube que o pessoal mostrou para você o que faço no quinto andar. – diz aquela voz melodiosa e sensual de Bianca que surge ao lado do garoto no parapeito da cobertura.

— É. – responde Bernardo de forma lacônica.

— Essa sou eu! – diz a loira. Sou um Monstro. Eu crio aquelas criaturas, pois é a minha alimentação. O quinto andar está cheio deles. Eu uso a máquina de transporte do quatro andar, vou planeta dos arianos e compro os de casta inferior.  Apresento os meus documentos como Nórdica e trago o meu alimento para cá. Tudo dentro dos acordos interplanetários de milhares de anos. Trabalho aqui para pagar honestamente pelo meu alimento. É caro! Por isso a minha neurose sobre o acesso do quinto andar. – explica.

Bernardo ainda fica em silêncio.

— Eu morro de Inveja da Márcia. – confessa Bianca. Ela é tudo aquilo que o seu tio disse, eu, não. Gosto de ser Má, Gordinho! – diz a loira. Os meus pais expulsaram de casa por liberar o nosso alimento. Pode? O único ato de bondade ou de piedade de minha parte e acabo sendo punida. – e ri. No meu exílio, conheci o seu bisavô e me apaixonei por ele. Através das minhas juras e Amor inventei um monte de acordos e acabei sendo escrava deles. Na Verdade, gosto do Jornal e de sua família. Fui eu que abriguei este monte de exilados de outros Mundos e Realidades. Somos todos uma Grande Família. – conclui.

Depois de um grande silêncio, Bernardo diz:

— Tá legal. Vou pra casa. Até amanha. – diz o garoto saindo do parapeito e voltando para dentro do prédio.

A loira ajeita o seu cabelo devido o vento e diz a si mesmo.

— Otário! – cospe a palavra.

No dia seguinte, a manchete de capa do Jornal Pirâmide Atlante:

“Professor Simon alerta: A maior ameaça da Humanidade é a Igreja dos Super Gênios!” 

 


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Notas finais do capítulo

Fim do capítulo seis.



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