A marca da Fênix escrita por Giovana Moysés


Capítulo 7
Lago do Esquecimento




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Os primeiros raios do sol tocavam a terra e o rosto dos dois, que dormiram encostados em um tronco oco de uma árvore que havia caído a mais tempo do que Aurora vivia. Ela abriu os olhos lentamente se abituando a forte luz do sol.
Lirái estava acordado dobrando suas cobertas para coloca-las de volta nas bolsas, agora eles teriam que carregá-las nas costas pois abandonaram seus hirvelgs quando desceram a queda na noite passada. Os dois estavam muito doloridos para prosseguir viagem, então resolveram partir só quando escurecesse.

– Bom dia Aurora. - Ela se curvou na direção dele ainda sentada no chão, estava com as costas latejando de dor.

– Bom dia, péssima ideia ter descido aquilo. - Lirái riu de sua expressão de dor e se aproximou dela com uma espécie de maçã amarela.

– Na verdade foi a ideia que salvou nossas vidas. - Ele lhe entregou a maçã e ela agradeceu. - Mas acho que será necessário que você aprenda a manusear aquela espada, porque eu não vou aguentar ficar protegendo você toda hora.

Ela se sentiu ofendida por um lado, mas sorriu concordando, era horrível maneando uma espada. Ela podia ter feito esgrima na escola mas foi a muito tempo e só por um mês porque no outro já tinha sido expulsa.
Os dois ficaram um pouco por ali mas desmontaram acampamento e seguiram mais adiante. Lirái queria achar uma boa clareira, ele imaginava que como uma princesa élfica Aurora necessitava aprender a usar uma espada e na verdade ela também achava que necessitava de aulas, não queria ficar sempre dependendo de Lirái e se ela fosse encurralada sem ele, como iria se virar?
Outro fato era que ela estava muito triste por ter se separado de Lord, ele fora seu maior companheiro. Lirái contou que eles voltariam para o reino, eram inteligentes demais para serem capturados pelos elfos negros.

– Lirái me fala, como vocês costumavam fazer para as viagens muito longas como a nossa, por quê eu estou morrendo de caminhar. - Ela falou mostrando a língua em sinal de cansaço e isso fez Lirái rir muito.

– Nós usávamos os hirvelgs ou dragões. - Aurora o olhou incrédula e Lirái riu de novo. - Sim nós tínhamos dragões no reino, mas foi bem antes de eu nascer, então a única vez que eu vi um foi em um festival da luz. Eu pude chegar bem perto do asas de prata do Rei.

Aurora ficou com um sorriso bobo imaginando o pai a levando para passear em cima de um dragão pelo reino, mas desviou o pensamento. Os dois chegaram a uma clareira não muito grande, mas larga o suficiente para que pudesse se jogar futebol nela.
Lirái largou as bolsas e Aurora também. Ele tirou a capa e logo em seguida a aljava, por último retirou a couraça deixando o peito desprotegido, só com o tecido grosso da túnica. Aurora o fitou sem entender o que se passava com ele.

– Saque sua espada. - Ele disse avançando na direção dela, que obedecia de prontidão. - Essa espada não é o tipo correto que deveria ser para você, foi um bom presente de Eikki, mas você terá que se esforçar para ter bom desempenho com ela.

– Que ótimo além de eu ser péssima, ainda empunho a espada errada. - Ela balbuciou e Lirái sorriu.

Ele se aproximou dela e ajustou seu braço no ângulo correto, fitou-a de cima à baixo e depois balançou a cabeça em negativa sorrindo como se estivesse tudo errado. Ele puxou as espadas das costas e as segurou como tentando medir seu peso.

– Essas são as espadas de lâminas gêmeas, foram forjadas iguais e do mesmo metal. - Ele lhe estendeu a espada da mão direita. - Pegue essa, acho que vai gostar de usa-la.

Aurora pegou e mexeu a espada no ar como se estivesse desenhando com a lâmina no ar. Ela estava distraída e essa foi a chance que Lirái achou para poder começar o treinamento. Ele avançou rápido com a espada no auto e na hora Aurora conseguiu desviar e se defender, as espadas se tocando fio-a-fio e Aurora o fitando perplexa imaginando como conseguira ser tão rápida e se Lirái estava louco por atacá-la distraída.

– Seus reflexos são bons. - Ele fez um giro desvencilhando sua espada da dela e avançando com outro ataque.

Isso a fez recuar e ela tropeçou caindo com abunda de encontro ao chão duro. Lirái riu e se ofereceu para ergue-la mas ela se recusou e levantou sozinha, agora ela havia se irritado. Lirái viu pelas expressões de seu rosto que ela não estava nada contente e que iria se vingar da queda que lhe havia proporcionado.
Ela avançou para cima dele brandindo com a espada em mãos, ele sorriu e esquivou de seu ataque furtivo. Aurora atingiu o seu golpe no vento, Lirái ria bocados com a tentativa mau sucedida da jovem, algo que a deixou mais furiosa ainda. Ela voltou e agora Lirái e ela trocavam pequenos golpes de espada, até que ele rebateu um de seus avanços e fez sua espada cair ao longe.
Aurora com os punhos serrados investiu contra ele, que segurou seus pulsos e sorriu, era como lutar com uma criança desajeitada mas muito bonita. Ele a largou e ela se afastou esfregando os pulsos e fitando o chão envergonhada.

– Não é culpa sua não ter um bom desempenho com uma espada. - Ela se largou desajeitadamente no chão, sentou com as pernas cruzadas. Lirái sabia que ela estava aborrecida, mas necessitava incomodá-la mais um pouco. - O povo do Sol não tem predileção por espadas ou arco, preferem lutar com as mãos e quando é necessário eles utilizam uma espada de pequeno porte.

Isso não a animou mas fez com que seu temperamento se acalma-se por hora. Então Lirái começou a falar dos movimentos dela de uma forma engraçada que até a fez rir. Eles ficaram naquilo por um curto tempo até que ela quis continuar treinando com a espada.
Lirái fez ela treinar com uma árvore enorme, era um alvo inofensivo. No final de tudo os dois se deitaram na fina relva da clareira e se fitaram rindo, comeram e beberam o que tinha e Aurora cochilou, ela ainda estava exausta da noite passada. Ela dormiu escorada no ombro de Lirái, que nada pode contra isso. Ele tinha pensamentos inoportunos com o rosto de Aurora tão perto do seu, mas desviou eles rapidamente.
Quando Aurora acordou deveria estar perto da hora do sol se por, Lirái também cochilara e acordou com os olhos embaçados. Eles decidiram continuar a viagem. Começavam a entrar em uma parte diferente da floresta, ali as ávores não eram tão altas, deveriam ter no máximo dois metros de altura e eram muito corpulentas, algumas possuíam frutas parecendo um pompom pequeno de líder de torcida, vermelho e macio. As folhas das árvores tinham uma coloração azul-cobalto e dava para se ouvir um som como um tipo de música instrumental composta só por violinos e flautas, era hipnotizante e calmo, dava vontade de dormir e dançar.

– Estamos chegando a uma parte muito mágica dessa região, a floresta que antecede o Lago do Esquecimento. - Lirái olhou em volta e Aurora também totalmente fascinada, era como no dia que entrou pela primeira vez na floresta amarela. - Não se fascine com a doce música, canção de fada hipnotiza fácil e te faz dormir, os que adormecem aqui não acordam nunca mais.

Aurora engoliu em seco, parecia que quanto mais belo as coisas ali mais mortíferas. A floresta era densa e eles mal sabiam se estavam no fim ou no meio dela. Eles estavam um pouco cansados de caminhar e não achar saída, até que Aurora notou que eles estavam dando voltas em círculo, ela percebeu que eles estavam indo e vindo e passando pela mesma árvore, que tinha o tronco parecendo uma carranca medonha, com um sorriso maligno.

– Lirái estamos caminhando em círculos. - Ele parou e respirou fundo, já tinha notado que davam passos no mesmo lugar.

Aurora se sentou e começou a pensar consigo mesma. Quis testar uma coisa, pediu que Lirái a segui-se e como ela imaginava eles voltaram para o mesmo lugar.

– Eu já sei o que está acontecendo aqui.- Lirái a fitou cansado, então balançou a cabeça para que ela prossegui-se. - A floresta e a canção das fadas está entorpecendo nossos sentidos fazendo com que nossos pensamentos se conturbem e não consigamos seguir outro caminho. Temos que pensar antes dela.

– Está querendo dizer o que com isso?

– Venha deixe eu te mostrar.

Então ela mandou que ele visualiza-se o caminho da frente que era o que eles iriam pegar, mas quando iam passar, Aurora o puxou correndo para a direita e então começou a dizer o caminho que pegariam e quando estavam quase passando por ele, ela seguia para o outro lado. Eles correram por toda floresta, até que atravessaram as árvores chegando ao fim daquela floresta infernal e logo já se via a margem do lago.

– boa ideia para fugir do encanto da floresta. - Lirái ofegava entre cada palavra. - Mas da próxima tenta me dizer o plano antes de pô-lo em prática.

– fica feliz, saiu vivo de lá. - Ela riu.

– É verdade e agora chegamos a última fronteira da região das folhas, isso é ótimo, um terço da jornada já está feito. - Ele falou como que em deboche.

Então Aurora se virou para planejar o jeito de atravessar o rio e não deu bola para o sarcasmo de Lirái. O fato nada reconfortante era que no outro lado da margem só haviam formações rochosas enormes, eles jamais conseguiriam escalar aquilo. Outro fato era que a margem terminava dali dois metros a sua direita, isso queria dizer que eles não poderiam contornar o lago e voltar para a floresta não era alternativa. Então só restava a opção de usar um bote, mas não havia nenhum ali. Até que como um truque de ilusionismo um bote para duas pessoas apareceu ancorado no final da margem, ela e Lirái se fitaram surpreendidos, mais Aurora do que ele.

Os dois se foram e entraram no pequeno bote, Lirái o empurrou águas a dentro, para que continuassem sua jornada.

– Como esse bote apareceu aqui?- Aurora olhava as estrelas começando a pipocar no céu escuro da noite e Lirái permanecia de pé remando.

– É uma condução mágica, ela aparece para quem deseja cruzar o lago e cruzar o lago não é algo tão bom assim. - Aurora não entendeu, então olhou com as sobrancelhas arqueadas pedindo uma melhor explicação. - Esse lago antes era uma vila, onde elfos e ninfas viviam juntos. Mas um dia uma grande enchente inundou a vila, afogando a todos, as árvores onde as ninfas residiam foram submersas, assim elas ficaram presas a água e suas mentes atormentadas.

Um arrepiou percorreu o corpo de Aurora, eles estavam na parte mais laga e funda de todo o lago. Lirái permanecia centrado remando fitando o horizonte, aquela história também o causava calafrios.
Aurora desviou o olhar para a outra margem, para as árvores da floresta encanta e parado ali viu um enorme garanhão negro, ele tinha a pele lisa e molhada como se tivesse acabado de sair do lago e sua crina ensopada de água não parava de pingar nem por um segundo. Ele olhou para Aurora seus olhos vermelhos a fitando, então ele relinchou fazendo sair um vapor de suas narinas.
Ela desviou os olhos para chamar Lirái e quando voltou a visão o animal não estava mais ali, tinha desaparecido como se nunca tivesse existido.

– Eu não vejo nada Aurora. - Ela não entendeu ele estava ali, como poderia ter sumido.

Lirái disse que poderia ter sido um hirvelg pastando por ali, mas Aurora teimava que ela tinha visto um cavalo preto enorme. Aurora então centrou sua atenção para as águas, elas estavam calmas e lisas como um espelho refletindo as estrelas do céu, era como contemplar uma galáxia. Ela esticou a mão para tocar o espelho d'água mas antes de seus dedos encostarem na água Lirái deu um grito.

– NÃO FAÇA ISSO! - Ela voltou a mão para dentro do bote de sobressalto. - Um toque e tudo que você tem como memória desaparecerá, é como uma maldição das ninfas. Já que elas foram obrigadas a esquecer a própria vida se transformando em monstros, elas passaram isso para a água, tirando as memórias das pessoas e depois devoram seus corpos.

– Isso é horrível, acho que perder o que chamavam de vida fez com que elas quisessem tirar a dos outros. -Ela sussurrou fitando a água com tristeza, sabia o que era não ter uma vida e nenhuma lembrança de seu passado.

– Mas como há um lago para esquecer há um para lembrar. Tudo que é muito poderoso sempre possui um oposto, lembre disso Aurora. - Lirái a olhou e sorriu. Aurora achou o jeito de ter seu passado de volta.

– Lirái onde se localiza esse outro lago? - Ela falou puxando ele para baixo esse movimento fez o bote balançar muito forte.

– Calma Aurora! O lago da memória fica longe e fora de nossa rota. - Ele respondeu tentando fazer o bote ficar estável.

– Você não entende, é a única chance de recobrar o que eu perdi. - Ela começo a chorar. - você não sabe o que é viver uma mentira, não lembrar como é o rosto dos seus pais .

Lirái enxugou as lágrimas de suas bochechas e desviou o rosto para as formações rochosas talvez procurando o que dizer naquela hora. então voltou o rosto para o dela e sorriu.

– Sei o que está passando, mas é perigoso. O lago da memória fica depois do bosque dos espíritos perdidos e nem todos que lá entram conseguem sair. - Ela lhe olhou implorando, depois de fitar seus olhos verdes ele não pode dizer que não faria. - Está bem Aurora, levarei você lá.

Ela ficou tão contente que o abraçou fazendo o bote balançar bem forte. Os dois ficaram ali, Lirái remando e ela mexendo no colar por dentro da roupa, até que ela jurou ter visto um movimento na água, como o de uma serpente más não deu importância. Eles estavam quase chegando ao final do lago, uma praia de areia se estendia a sua frente.
Em um movimento rápido o bote começou a balançar e tremer, Lirái remou forte para frente, mas por um minuto o bote não ameaçou se mexer. Aurora estava perto da lateral e quando foi se afastar algo a puxou para dentro da água. Lirái estendeu o braço para pegá-la, mas já era tarde demais, ela estava dentro do lago agora.
Ele ancorou o bote na praia e pulou na areia, desesperado não sabia se mergulhava ou ficava ali. Mas sabia que ao tocar a água esqueceria de tudo e seu intuito de salvá-la se perderia.

– Aurora... Aurora! - Ele gritava em aflição.

Debaixo da água Aurora afundava, ela ainda se lembrava de quem era. Estava com os olhos abertos e pode contemplar a antiga vila, ainda inteira: árvores, a grama, as casas, um velho poço e um estábulo. Tudo ali como em uma noite de inverno, como se as pessoas só estivessem dormindo.
A luz da lua atravessava a água e iluminava até o fundo do lago. Foi quando ela sentiu algo passar atrás de si, se virou na água na direção da coisa e se deparou com um espírito de ninfa desforme, ela tinha a parte inferior de uma serpente e o dorso de mulher, só que escamoso e cinza, não tinha cabelos e seus dentes eram como as presas de um tubarão e as unhas como as garras de um tigre.
O ser abriu a boca e fez um barulho esganiçado, então mais delas começaram a aparecer circundando Aurora. ela se debatia para espantar as mulheres-serpente de sua volta, porque estava sem sua espada. Uma das mulheres-serpente veio na direção dela, mas quando viu o cristal balançando na água se afastou, elas não avançavam ao ver o cristal iam para frente mas voltavam rapidamente para sua posição original.

Elas ficaram em círculo envolta de Aurora arranhando a água com as garras e mostrando os dentes tentando amedrontá-la. Foi quando uma tomou mais coragem e arranhou o braço de Aurora rasgando sua túnica. O sangue se misturando a água, a dor lancinante tomando conta de sua mente, Aurora fechou os olhos como em um desmaio.
Então todas elas vieram para cima dela em sinal de ataque e Aurora abriu os olhos e eles estavam amarelos, o cristal em seu peito emitiu um brilho de mesma cor altamente cegante que fez com as mulheres-serpentes parassem e nisso o brilho explodiu fazendo os espíritos desapareceram em pétalas de flor.
Lirái viu a forte luz explodir quase a seus pés e ameaçou se jogar na água, quando no outro lado uma garota saia da água com a mão em cima de um enorme arranhado no braço esquerdo. Ele correu em sua direção temendo que ela não fosse mais Aurora e sim uma versão quase morta dela.

– Aurora você me reconhece. - Ele perguntou parando em sua frente.
– Claro que te reconheço seu idiota. - Aurora passou a seu lado e se sentou em uma pedra. Lirái suspirou aliviado de ver que ela ainda era ela.

– Isso está horrível. - Tocou em seu ferimento e ela gemeu. - Aurora como não perdeu a memória? E aquela luz amarela foi você.

– eu acho que o cristal me protegeu. - Ela falou segurando o cristal na mão.

– Sem querer alarmar nada mas seus olhos estão dourados. - Lirái puxou sua espada e a lâmina refletiu o rosto de Aurora banhado pela luz da lua e ela pode ver que seus olhos estavam como uma moeda de ouro.

Lirái enfaixou o braço de Aurora para parar o sangramento e voltou ao bote para pegar as coisas, os dois partiram rumando bosque a dentro, eles resolveram descansar uns vinte metros além do lago. Lirái estendeu o cobertor por cima de Aurora que adormeceu em cima de um monte de folhas secas e depois ele se sentou apoiando em uma enorme pedra e ali dormiu .
Quando ele acordou na manhã seguinte estava rodeado por guerreiros e um deles lhe apontava uma lança, ele sentiu que estavam enrascados .


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Notas finais do capítulo

Eu não sei o que colocar de nota, mas qualquer dúvida que tiveram em relação a qualquer parte da história té agora, ficarei grata em responder.
Até semana que vem!!



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