Fala Sério, Crush! escrita por Ferla, little Nyx


Capítulo 11
Acho que tenho uma teoria. Acho. - Little Nyx


Notas iniciais do capítulo

Bom, eu sei que eu dei uma bela sumida nesses últimos séculos. Mas, e aí, já se formaram na faculdade? E os filhos como estão?
Brincadeira amores. Eu tive um bloqueio muito grande, inclusive nem escrevi mais para as minhas outras fanfics que eu tenho, está tudo parado. Eu também estava passando um perrengue na escola por causa daquelas malditas provas. E por fim, eu tive uns problemas pessoais aqui em casa, sabe, aquelas coisas de família.
Espero que entendam :3
Eu consegui escrever uma história para vocês, acho que ficou meia boca, mas espero que gostem.



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Eu tenho uma teoria.

O amor é psicológico.

Nós o criamos.

Criamos paixões.

Felicidades e tristezas com a outra pessoa.

Criamos o desejo sobre o homem.

Criamos o sofrimento.

Isso, o sofrimento. Nós sofremos porque queremos. Colocamos nosso cérebro para trabalhar com a infelicidade após o término de um relacionamento, uma rejeição ou um amor platônico. Todas essas coisas são da nossa cabeça. Se esforce para não sofrer e veja o resultado.

É assim que eu sou. Uma pessoa altamente treinada para não se apaixonar e não sofrer as consequências de um coração partido. Sei quando devo ou não falar com um garoto que estou em perigo de apaixonar-me. Luke, meu melhor amigo, diz que eu apenas sou assim porque não achei o cara certo ou qualquer coisa do gênero, mas eu não acredito. Eu não quero sofrer então simplesmente eu não vou.

A minha teoria era a melhor, mais compreensiva e modéstia a parte, a maior verdade já contada por um ser humano de polegar opositor e tele-encéfalo altamente desenvolvido. O tal tele-encéfalo altamente desenvolvido, permite a nós armazenar informações, relacioná-las, processá-las e entendê-las, mas na realidade, não é bem assim que nós fazemos. Nós guardamos apenas aquilo que julgamos importante e processamos apenas o que queremos. E é por esse motivo que sofremos por garotos, pois, nós não relacionamos aquela ignorada como ele não querendo algo conosco, relacionamos como se ele estivesse fazendo isso apenas porque está com vergonha. Não processamos as palavras certas dele quando diz “Queria muito sair”, nós ouvimos “Quero sair com você”. E por fim, nunca entendemos que no final ele apenas não queria nada.

Mas, eu estou generalizando e não posso fazer isso. Eu não sou assim. Eu relaciono, processo e entendo que não quero um crush para ter com o que me preocupar enquanto estou comendo. Poxa, eu estou comendo, porque eu deveria me preocupar com um garoto se eu tenho um prato de batatas-fritas na minha frente?

Só que, é mais do que óbvio que nem todo mundo tem essa capacidade. Luke, por exemplo, gosta de uma menina da nossa sala desde que nós temos dez anos. A menina – Larissa – é uma completa de uma ridícula simplesmente porque é a menina que todos os meninos querem e famosinha na escola, mas segundo Luke, ela é maravilhosamente perfeita.

É assim que funciona:

Ela não gosta dele.

Ele sofre.

Ela faz alguma coisa mínima que ele interpreta como um “sinal de que ela gosta dele”.

Ela não gosta dele.

Ele sofre.

E eu automaticamente tenho que escutar Luke se menosprezando por ela, bolando mil e um planos para fazê-la gostar dele, dizendo que faria qualquer coisa por Larissa, resmungando como ela não notava a presença dele. E assim vai.

Era um ciclo vicioso. E que acontecia no exato momento.

— Eu realmente não consigo tirar o doce som daquela voz sussurrando o meu nome. – os olhos de Luke brilhavam.

— Ela não sussurrou o seu nome, ela falou normalmente. – digo cansada.

— Cala boca, Beatriz. – meu amigo fica sério – Depois de tempos tentando fazer ela me notar, finalmente ela lembrou o meu nome!

— Claro que ela lembrou – digo – ela foi pedir-lhe um favor e precisava que você o fizesse, por isso ela lembrou o seu nome. Se bem que ela poderia lhe chamar até de Lucas que você faria o favor com a maior felicidade da sua vida.

— Por que você faz questão de acabar com a “maior felicidade da minha vida”? – pergunta.

— Não estou acabando, – sorrio – só quero acordar você para a realidade.

— Se a realidade é um mundo igual ao seu onde não existem crushs – ele aponta para mim – prefiro ficar na ilusão, muito obrigado.

Suspiro meio irritada e meio cansada de ouvir toda aquela ladainha novamente. Eu sempre avisava as pessoas de que não acabaria bem essa história de gostar de alguém, mas ninguém nunca me escutou. Eu sempre estive certa.

— Bia, eu vou arranjar alguém para você. – diz Luke.

— Boa sorte com isso. – sorrio, cínica.

— É sério, você precisa parar de pensar dessa maneira – ele me dá um tapa – parece que você não tem coração. Quer morrer encalhada é?

— Depende, – digo – se eu estiver encalhada, porém rica, por mim está ótimo.

Ele franzi a testa e não responde. Era só o que me faltava, além de ter que ficar aguentando ele falar da crush dele, ainda tinha que escutar ele falando que iria arrumar alguém para mim. E depois algum tempo tentando convencer Luke de esquecer essa ideia de me arrumar um crush, seu celular toca e ele atende rápido – provavelmente na esperança que fosse Larissa.

— Alô. – ele tenta fazer uma voz sexy e eu reviro os olhos. – Ah, oi Brian. Não, eu só estou com um pouco de dor de garganta. – eu solto um riso alto e Luke me bate. – Claro que você pode vir, a Bia está aqui também. Tudo bem, dude, estamos te esperando.

Ele desliga e sorri maléfico em minha direção.

— Não, não e não! – digo levantando de sua cama, já sabendo o que ele diria.

— Mas Bia, o Brian é uma pessoa legal! – diz – E nós conhecemos o cara desde os nove anos.

— Não importa! – grito – Tire essa maluquice da sua cabeça!

— Não vou tirar. – Luke teima – Brian vai vir aqui e eu vou fazer de tudo para juntar vocês dois.

— Eu realmente queria muito saber porque eu ainda sou sua amiga. – bufo irritada.

— Você não vive sem mim. – ele se gaba – E, por favor, você não pode negar que o Brian é um gatoooooo!

— Um “gatoooooo!”? – sento-me de novo na cama – Sério mesmo? Estou começando a duvidar da sua sexualidade.

— Me erra, Beatriz. – ele joga uma almofada. – Mas vai, pode dizer que você concorda comigo. – me encara firme.

— Não, não concordo. – dou de ombros.

— Sei. – ele sorri – agora eu estou começando a duvidar da sua sexualidade.

Mostro o dedo para Luke e ele ri. Ficamos nos provocando por mais algum tempo até ouvirmos o som da campainha, a mãe de Luke atende e eu escuto passos até o quarto.

— Oi, Dude. – Brian entra no lugar e cumprimenta Luke com aqueles toques estranhos que só os meninos sabiam fazer, e que na minha opinião, eles tinham uma entidade secreta dos “toques”, porque sinceramente, não era possível. – Oi, Bia. – ele beija meu rosto.

Luke e Brian iniciam uma conversa sobre alguma coisa de basquete que realmente não me importava, e nesse meio tempo, passo a observar os dois.

Luke não era uma pessoa exatamente grande, mas tinha uma beleza incomparável. Seus cabelos loiros formavam um topete para cima, na qual ele mexia o tempo todo. Olhos verdes que, dependendo da luz, mudavam de cor. E por fim, ele era alto e magro, mas, ao mesmo tempo, tinha o corpo definido, muito provavelmente por jogar basquete.

Já Brian, ao contrário de Luke, era realmente gigantesco e realmente muito lindo – uma coisa que eu já mais admitira em voz alta, muito menos para Luke. Brian tinha cabelos escuros e olhos azuis de dar inveja. Era grande, mas não apenas no sentido de altura, ele tinha ombros largos e braços fortes. Eu perto de Brian seria igual a um gatinho perto de um poste, pois, eu não tinha nem 1,60m.

Mas, não era porque Brian me dava vontade de chorar de tão lindo que conseguia ser, que ele era um crush. E Luke pelo visto não queria entender isso, pois minutos depois de conversarem sobre o assunto deles, deu a desculpa que ia ajudar a mãe em uma coisa e já voltava. Cretino.

— Tudo bem, Bia? – Brian pergunta jogando-se ao lado de mim na cama.

— Sim, estou ótima. – respondo, direta.

— Luke me contou que você gosta de Ballet Clássico. – ele comenta

— Ele lhe contou? – arqueio uma sobrancelha – Sim, eu gosto bastante.

— Ainda existem pessoas com gostos bons. – ele faz uma reverencia para mim, brincando.

— Não me diga que gosta de Ballet Clássico também? – pergunto surpresa.

— Eu adoro. – diz – É incrível como é possível expressar tantos sentimentos através da fisionomia e dos movientos corporais.

— Eu achei que era única que pensava assim. – sorrio – Qual o seu favorito?

— Não sei bem especificar qual mais gosto – digo pensativa –, mas confesso que os clássicos como “Lago dos Cisnes” e “Quebra-Nozes” são os que mais me encantam.

— Concordo com você. – diz – Serge Diaghilev realmente fez um magnífico trabalho.

— Serge Diaghilev? – pergunto, tentando não parecer tão horrorizada com o que ele acabara de afirmar.

— Sim, você não o conhece? – pergunta.

— Claro que conheço – franzo a testa – Diaghilev trouxe para a audiência francesa os melhores bailarinos das Companhias Imperiais, como Ana Pavlova, Tamara Karsaviana e Vaslav Nijinsky e três grandes ballets sob direção de um jovem brilhante coreógrafo Mikhail Fokine, a quem a crítica francesa fez os melhores comentários.

— Sim, claro. – concorda, parecendo nervoso.

— Os russos foram convidados a voltar ao seu país em 1911 e Diaghielev formou sua própria Companhia, o "Ballet Russo", começando uma nova era no ballet. – suspiro.

— O cara é uma lenda. – comenta Brian, coçando as mãos.

— Nos dezoito anos seguintes, até a morte de Diaghilev, em 1929, o “Ballet Russo” encantou plateias na Europa e América. – termino – Lamento até hoje não poder assistir o original, queria ter nascido mais cedo.

— É, você realmente sabe quem ele é. – sorri.

— Sim, eu sei. – digo seca – Mas, voltando ao assunto anterior, “Lago dos cisnes” e “Quebra-Nozes” foi criada por Tchaikowsky, uma lenda. E não por Diaghilev.

— Ah, mas é claro. – bate em sua própria testa. – Como pude me confundir de um jeito tão idiota.

— Sei – tento não rir. – confundir.

A capacidade de burrice do ser humano estava me surpreendendo a cada momento. E não era nem porque Brian havia trocado Tchaikowsky por Diaghilev e sim porque eu tenho absoluta certeza – e eu quase nunca estou errada – que Luke disse a ele meus gostos e Brian foi fazer algumas pesquisas sobre o assunto.

Brian tenta começar alguma outra conversa, mas percebe que, depois dessa horrorosa tentativa de me vislumbrar, não daria certo. E depois de algum tempo em silêncio, Luke volta sorrindo e eu o retribuo falsamente.

— Da próxima vez que mandar seu amiguinho pesquisar coisas inteligentes para falar a mim – sussurro, me levantando em direção à porta. – diga para ele procurar em algum livro e não no Yahoo! ou Wikipédia.

Saio do quarto acenando de leve para Brian, que parecia não muito feliz. Mas, qual é? Se for para falar sobre Ballet Clássico comigo, pelo menos saiba algo sobre o assunto e não fique tentando dizer coisas inteligentes apenas para eu me surpreender, até porque isso nunca iria acontecer.

***

Eu nunca fui uma pessoa que reclama da escola.

Pelo contrário, eu gostava de adquirir conhecimento para um dia poder ser uma pessoa muito mais desenvolvida mentalmente que os semiadultos babacas da nossa nova geração. Mas hoje, acordar cedo não foi legal. Não quando você, logo que chega ao colégio, já é obrigada a ouvir – de novo – sobre a crush.

— Ela veio falar comigo de novo e dessa vez não foi por interesse. – diz Luke.

— E foi porque dessa vez? – pergunto sem a mínima vontade de saber a resposta.

— Ela queria uma indicação para um livro. – sorri.

— Ela foi pedir indicação a você?! – gargalho alto. – E você indicou o quê? Os três porquinhos?

— Eu só não te mando para aquele lugar porque estou de bom humor. –responde – E não, eu indiquei Machado de Assis para ela.

— Uau! Literatura Brasileira! – arregalo os olhos. – Você fez uma pesquisa no Yahoo! igual ao seu amigo Brian?

— Idiota. – mostra o dedo – Poxa Bia, você foi muito cruel com o pobre coitado.

— Cruel? Ele merecia muito mais por ter confundido “Ballet Russo” com “Lago dos cisnes” e “Quebra-Nozes”. – falo irritada e ele ri. – Para você pode parecer bobeira, mas para mim é coisa séria, ok?

— Sério? Ah, ta bom! – revira os olhos.

— Claro que sim! – protesto – Imagina se eu confundisse os Bulls e os Lakers?

— Você deixaria de ser minha melhor amiga. – ele diz serio.

— Viu? – digo.

Nós encerramos a conversa no momento em que Luke vira a cabeça subitamente parando o olhar em Larissa logo em sua frente. Eu podia não saber o que se passava na cabeça de Luke agora, mas tinha certeza de que seu coração estava prestes a sair pela boca.

— Oi, Bia. – ela acena e eu retribuo com o sorriso menos falso possível – Oi Luke.

— O-oi, L-larissa. – isso era nojento. – Está tudo bem? E o livro? Já começou?

— Calma - ela ri – ainda nem tive tempo de comprar. Eu pedi recomendação pra você hoje de manhã, se lembra?

— Ah, sim. – Luke coça a cabeça.

— Bom, na verdade, eu queria perguntar outra coisa. – ela abaixa os olhos. O que era isso? Ela estava tentando ser fofa? Que ridícula!

— C-claro, pode perguntar o que você quiser. – responde meu futuro ex-melhor amigo.

— Eu queria saber, – ela faz uma pausa. – se você não aceitaria ser meu par no baile de inverno?

Se Luke estivesse bebendo alguma coisa ele com certeza cuspiria tudo em cima dela – ou de mim para não molhar a amada. A crush de Luke estava convidando ele para o baile, e por mais estranho que posso parece eu estava feliz por ele, mas só tinha uma coisa me incomodando: em todos os bailes de inverno, desde o primeiro ano, eu e Luke sempre comprávamos jujubas, nos sentávamos no meio fio, e ficávamos falando das roupas das pessoas, da decoração, ou qualquer coisa que envolvesse o baile.

Era a nossa tradição. E tradição, não se pode quebrar, não é mesmo?

— Mas é claro que eu quero! – responde, sem nem pensar duas vezes.

É.

Elas podem.

— Luke, - o chamo – mas nós tínhamos aquele compromisso.

— Que compromisso? – diz, sem nem ao menos olhar para mim.

— Jujubas. – digo direta e ele parece lembrar.

— Ah, é verdade. – Larissa parecia não entender e nem fazia questão de explicar. – Bia, eu sei que nós fazemos todos os anos, mas dessa vez nós poderíamos deixar de lado não é?

— Deixar de lado? – franzo a testa.

— É, porque, convenhamos, é coisa de criança aquilo. – ele diz rindo, porém, eu não via o humor.

Nunca fui alguém que ligou muito para essa coisa de sentimento, mas aquela frase havia atingindo algo que nem eu mesmo pensei que tinha. Doeu de uma forma que eu mal conseguia disfarçar. Era como se alguém tivesse me dado um tapa muito forte no rosto.

Coisa de criança? Quem ele pensa que é para falar uma coisa dessas? Nós fazemos isso desde os quinze anos! Era para ser uma coisa de que nós nos lembraríamos no futuro quando fossemos adultos, e do nada tinha acabado por uma menina qualquer? Eu sou a melhor amiga dele! Eu sou prioridade!

— Eu posso arrumar um par para você, Bia! – Larissa diz como se fosse à ideia mais genial do mundo, apesar de que provavelmente esse era o máximo que o cérebro dela conseguia pensar.

— Eu não preciso de um par. – digo.

— Vamos, Bia! – incentiva Luke – Por mim!

Por ele? Eu faria isso por ele?

Sim, eu faria.

Porque apesar de ser inadmissível a ideia de ser trocada, ele ainda era meu melhor amigo. E eu tinha certeza que ele estava mais feliz do que quando ganhou a primeira bola de basquete, e era assim que e gostava de vê-lo.

— Tudo bem. – me dou por vencida. – Quem você me arrumaria?

— O Keaton. – ela aponta para um menino que entrava na sala.

Sigo o menino com os meus olhos até ele ir cumprimentar seus amigos. Isso era definitivamente um inferno.

Keaton era o típico de menino bad boy que toda escola tinha. Só queria saber de pegar as meninas, transar com elas e depois largá-las como se fosse um pano velho sem mais nenhum utilidade. Todas as garotas eram caidinhas por ele, provavelmente por ele ser muito gostoso e lindo. E sim, eu estava usando essas palavras, porque mesmo o achando ridículo, eu ainda era uma menina e o achava extremamente quente.

— O Keaton. – repito – Tudo bem.

Essa poderia ser a pior noite da minha vida, mas vai ser divertido ver as meninas me olhando com inveja, pelo menos eu iria rir um pouco da falta de noção das pessoas.

***

A aula de história passou magicamente rápido, para a minha tristeza. Nós estávamos aprendendo sobre os gladiadores escravos de Roma, que se enfrentavam para entreter o público, e o duelo só terminava quando um deles morria, ficava desarmado ou ferido sem poder combater.

E eu não posso deixar de negar que foi o que eu quis fazer com Larissa, quando ela novamente resolveu dar as caras para mim. Mas eu não iria desarmá-la, feri-la ou matá-la para entreter o público, faria isso para a minha própria felicidade.

— Bia, preciso fazer uma pergunta. – diz.

— Nossa, porque você não procura no Google já que têm tantas dúvidas? – digo sarcástica.

— Eu sei que você não gosta de mim. – ela diz – Mas nós temos uma coisa em comum: o Luke.

— Ele não é seu para nós termos em comum. – rebato.

— Tenho muita certeza de que ele vai querer ser bem mais meu do que seu. – sorri falsa.

— Tenho certeza de que você só o quer para você para conseguir nota em educação física, já que você não tem inteligência nem para segurar uma bola de basquete. – cruzo os braços.

— Será que você pode parar de ser arrogante por dois minutos! – ela bate os pés.

— Tudo bem. – suspiro – O que você quer?

— Bom, eu sei que o aniversário de Luke esse ano cairá no mesmo dia que o baile de inverso, então eu pensei em presentea-lo. – ela explica – Mas não sei o que comprar.

— E o que a fez pensar que eu vou lhe ajudar? – pergunto.

— Bia, eu sei que você não gosta de mim, mas eu gosto de Luke e isso deveria ser o suficiente para pelo menos nos aturarmos. – Larissa parecia estar falando a verdade em relação a seus sentimentos.

— E porque de uma hora para outra você começou a gostar dele? – digo – Ele esteve sempre correndo atrás e você nunca nem soube o nome dele. Porque isso agora?

— Na verdade, nem eu sei. – suspira – Depois que eu terminei com o meu último namorado, percebi o quanto eu fui insignificante para todos os anteriores. E eu sempre percebia o quanto Luke se importava comigo mesmo eu nunca dando chance. Todo esse tempo tinha alguém maravilhoso do meu lado e eu não queria saber, mas finalmente eu me toquei que Luke é incrível, e que não precisa muito esforço para alguém gostar dele, pois aquele loiro tem seu jeito conquistar as pessoas.

— Isso é verdade. – sorrio – Quando nos conhecemos, eu estava muito irritada porque um menino tinha jogado meu livro de estórias em uma poça d’água, mas Luke disse a seguinte frase para mim: “Pelo menos agora os personagens não vão passar calor”. – ela ri – E mesmo com apenas oito anos eu achei aquele comentário idiota, mas logo comecei a rir da bobeira que ele tinha falado, deixando passar toda a raiva que eu estava sentindo.

— Ele é incrível. – sorri largamente – Então, o que eu devo comprar para ele?

— Você poderia dar um livro sobre basquete a ele, mas nisso não posso lhe ajudar, não sei sobre o assunto. – digo.

— Eu não sei praticamente nada sobre livros e muito menos basquete.

— Ele gosta muito de colecionar gravatas, apesar de não usar nenhuma delas. – dou risada. – Na casa dele tem uma parede com uma exposição de variadas cores.

— Não sei comprar gravatas. – diz parecendo irritada.

— Compre um perfume. – dou outra ideia.

— Mas ele já parece ter vários, o cheiro dele é ótimo. – Larissa parecia querer desistir.

— Ele tem apenas um, na verdade. – digo – É de menta, eu que dei para ele quando tínhamos quinze anos, desde então ele parece não usar outro perfume.

— E o que você vai dar a ele? – pergunta, levantando uma sobrancelha.

— Jujubas. – sorrio vitoriosa.

— Jujubas? – franzi a testa.

— Sim. – afirmo – É a comida preferida dele, então eu vou comprar muitos pacotes de jujubas e colocá-los em potinhos personalizados que eu mesma vou fazer.

— Porque separá-las em potinhos? Não é mais fácil entregar só os pacotes? – indaga Larissa, confusa.

— Seria, mas Luke só gosta das jujubas de laranja, limão e uva. – sorrio – Então eu abro todos os pacotes e separo apenas esses sabores. – termino – Uma vez ele comeu uma jujuba de abacaxi e odiou tanto que cuspiu fora, mas ao invés de cair no lixo, ela caiu na cabeça da nossa professora.

— Mas as de abacaxi são as melhores. – ela ri – Então, eu pensei em dar alguma corrente ou relógio.

— Nem pense nisso! – repreendo. – Ele detesta esse tipo de coisa mais do que ele odeia jujuba de abacaxi.

— Meu Deus! – ela joga as mãos para o alto. – Será que tem alguma coisa que você não saiba sobre ele? Bia, você é a enciclopédia do menino.

— É, eu realmente sei tudo. – coço a cabeça – Quer dizer, eu conheço o cara há anos, ele faz parte da minha vida desde sempre.

Pode parecer estranho, mas Larissa me perguntar essas coisas sobre Luke me faz pensar em como eu sei sobre tudo isso. Conhecemos-nos desde os sete anos, porém, ele nunca chegou para mim e contou que amava jujubas, eu simplesmente observei. E eu nunca disse a ele que gosto de ballet clássico, Luke só sabe.

Mesmo não parecendo, eu tinha outras amigas, mas nenhuma nunca foi como Luke. Eu sei tudo sobre ele, e ele sabe tudo sobre mim. Parece até coisa do destino.

— Acho que terei que pensar em outras coisas para dar a ele. – ela diz, tirando-me de meus pensamentos. – Mas obrigada pela ajuda.

— Tudo bem. – digo. – Eu posso lhe fazer uma pergunta?

— Claro. – ela balança a cabeça.

— Você gosta mesmo dele? – pergunto sincera.

— Eu gosto. – responde firmemente – Acho que nunca gostei de alguém assim antes. – ela parecia estar sendo honesta com os seus sentimentos, mas porque aquilo estava me incomodando?

— Bom, se você machucar ele, com todo respeito, eu arrasto o seu rosto pelo asfalto. – digo seria.

— Não se preocupe isso não vai acontecer. – Larissa sorri novamente e se vira para ir em direção à cantina.

Observo-a caminhar para longe de mim, o que me deixava feliz, apesar de termos tido uma conversa civilizada, eu ainda não gostava dela. Larissa não era a menina certa para Luke. Não era o tipo de garota com quem ele seria feliz. Isso não estava certo.

***

Eu estava relativamente bonita para uma pessoa que estava sendo praticamente arrastada para o baile de inverno ou de inferno, a que vocês preferirem. E Se fosse a anos passados, agora eu estaria me encaminhando para sentar no meio fio de calça jeans e não com uma coisa cheia de panos.

Sem falar nos saltos. Aquilo estava matando os meus pés, como se cada centímetro dos meus dedos estivesse parando de “funcionar” a cada passo que eu dava.

— Você está bonita. – Keaton diz para mim quando chegamos em frente ao colégio.

— Obrigada. – forço um sorriso.

— Nunca pensei que veria isso – Luke se põe ao meu lado – eu saindo com Larissa e você indo ao um baile de inverno com Keaton.

— Sabe muito bem onde éramos para estar. – mostro a língua.

— Já falamos sobre isso. – ele franziu a testa. – Aproveita sua noite.

— Vou tentar. – digo.

Nós entramos no ginásio e eu logo avisto que teríamos que tirar fotos para guardar de recordação desse ano, já que era o ano da formatura. Repito vários insultos mentalmente para tentar me punir por ter aceitado vir, eu odiava tirar foto e muito provavelmente eu sairia com cara de tédio na foto. E convenhamos, não quero guardar de recordação que o meu primeiro e último baile foi com Keaton.

Nós adentramos o ginásio que estava todo decorado, nem parecendo à mesma coisa monótona de sempre. O tema desse ano era noite, então podiam se ver estrelas coladas no teto e uma meia-lua bem grande no centro do ginásio. Algumas mesas espalhadas pelo lugar e o palco bem à frente, com uma banda não muito interessante tocando. Larissa caminha até uma das mesas e coloca sua bolsa em uma delas. Eu sento, antes que eu alguém diga para que eu vá dançar. Keaton não parece muito incomodado com a minha decisão, já que se senta ao meu lado e deixa Larissa e Luke irem sozinhos para a pista.

— Está tudo bem, Bia? – ele pergunta.

— Eu não vou ficar com você. – sou direta.

— Eu sei que não. – ele sorri – Por isso que vai ser interessante.

Encaro seus olhos, que pareciam se divertir com minha irritação.

— Vou pegar algo para bebermos. – ele levanta e se afasta da mesa. Dou graças a Deus.

Observo as pessoas dançarem na pista como se não houvesse amanhã, Luke e Larissa não eram muito diferentes. Pulavam, gritavam e se jogavam no meio das pessoas. Luke estava bonito com aquela roupa social, finalmente usando uma de suas milhões de gravatas. E Larissa estava com um vestido lilás que destacava muito bem a sua comissão de frente. Não que ela estivesse feia, ela só não estava agradável a meus olhos.

— Aqui está. – Keaton volta com dois copos de ponche.

— Está batizado? – pergunto.

— Não. – levanto uma sobrancelha. – Tudo bem, talvez um pouco. – balanço a cabeça e tomo um gole, descobrindo que não estava tão ruim.

— Vamos dançar? – ele pega a minha mão.

— Não. – eu a puxo rapidamente.

— Porque você veio se não vai curtir? – Keaton senta na cadeira ao lado.

— Vim para cuidar de Luke. – digo.

— Acho que ele não precisa de cuidados. – aponta para frente.

Viro minha cabeça e vejo Larissa nos braços de Luke, que a girava no ar.

— Não quero arriscar. – bebo mais um gole, irritada.

***

A noite passou muito devagar, muito pior do que quando você está na última semana de aula antes das férias. Eu queria sair correndo dali, voltar pra casa e dormir. A felicidade das pessoas estava me dando nos nervos e eu estava prestes a matar alguém.

Olho para o relógio do celular e eram quase duas da manhã. O aniversário de Luke é hoje. Puxo da bolsa a sacola com as caixinhas de jujubas, ele iria adorar. Levanto-me para ir em direção a ele, mas antes de conseguir andar sou abordada por Keaton.

— Eu sei que você não quer dançar – diz –, mas essa é uma música lenta para ser dançada por casais, você não vai querer ficar de vela, não é?

— Não. – eu olho para a pista e vejo vários casais dançando juntos, inclusive Larissa e Luke. Suspiro – Tudo bem.

A música que tocava era bonita, mas não sabia identificar qual era. Keaton dançava bem, por outro lado, eu mal sabia e ele tentava me ensinar alguns passos de última hora, rindo quando eu os errava.

— Você dança mal. – ele ri.

— Você que é um mal professor. – dou a língua para ele.

— Será que podemos trocar os pares? – Luke toca meu ombro.

— Claro. – Keaton assente.

Volto a dançar, mas dessa vez com Luke. Encosto minha cabeça em seu peito e ele guia a dança, em movimentos de vagares para que eu acompanhasse, já que ele sabia que eu era péssima nisso.

— Você parece estar se dando bem com Keaton. – diz rindo.

— Ele é legal, apesar de ainda ser um babaca. – dou de ombros.

— Mas vocês se deram bem. – sorri diabolicamente.

— Nem começa com essa história de crush! – piso em seu pé

— Ah, vocês dois formariam um belo casal – ele retribui a minha pisada em seu pé – vai que numa dessas, você vira uma menina de histórias clichês e acaba mudando o garoto.

— Vai que numa dessa, eu te jogo da ponte. – sorrio cínica.

Luke faz uma careta, rindo logo em seguida. Nós continuamos dançando calmamente, e eu até podia escutar o som de seu coração batendo no peito. Era um sopro sereno, tranquilo e que de certa forma, me deixava alegre, sorrindo feito uma boba.

— Obrigado. – ele sussurra.

— Não entendi. – digo.

— Por ter vindo comigo hoje, – explica – essa noite está significando muito para mim e eu sei que você nem queria estar aqui.

— Realmente, eu preferia estar fazendo outras coisas. – digo rindo. – Mas eu precisava estar aqui com você.

— Obrigada de novo. – repete.

— Ainda não agradeça. – digo – Primeiro: feliz aniversário! – o abraço forte.

— Ficar velho é uma merda. – resmunga.

— Cala essa sua boca! – dou um tapa em seu braço. – Vem, vamos pegar seu presente. – pego sua mão direita, porém, antes que eu possa dar sequer um passo, alguém o segura pela mão esquerda. Era Larissa.

— Luke, feliz aniversário. – ela o abraça, desvencilhando a mão de Luke da minha. – Seu presente.

Ela entrega uma sacola a ele. Luke abre e tira dois potinhos com cores diferentes, os coloca de volta e retira mais outros dois, novamente com outras cores. O menino abre um dos potinhos e se depara com jujubas de limão, uva e laranja. Mas... Espera... Potinhos de jujubas? Não! Ela só podia estar de brincadeira!

— Meu Deus, Larissa! – ele da um grito. – Esse é o presente mais genial que eu já ganhei na vida! – ele a abraça, levantando-a do chão. – Eu amei!

— Que bom que gostou! – ela sorri.

Que vontade de matá-la!

— Mas como você sabia que eu gostava só desses sabores? – ele pergunta.

— Eu não sabia – se finge de inocente na minha frente. – são os meus preferidos, então eu pensei em tentar.

— Seus preferidos? São os meus preferidos!

Então Luke faz uma coisa que eu não pensei que faria: ele puxa Larissa pela cintura e a beija. Ela passa os braços ao redor do pescoço dele e Luke tenta não derrubar a sacola enquanto a abraçava.

Essa era a cena mais nojenta da minha vida.

Depois de alguns segundos, eles parecem se lembrar da minha mera existência e se separam.

— Desculpa, Bia. – ele se vira – Você disse que tinha algo para mim.

— Não, eu acabei de lembrar que deixei em casa – minto, dando um sorriso torto. – Eu vou sentar.

— Bia, está tudo bem? – ele chega mais perto, mas eu o afasto.

— Claro que sim. – saio da pista indo em direção à mesa.

Como eu pude ser tão idiota? Aquela menina tinha me enganado direitinho e eu nem tinha percebido.

Cretina.

Mas o que eu estava pensando também? Era óbvio que ele iria querer ganhar aquele presente dela e não de mim.

Sento-me à mesa irritada, pegando o pacote de presente e o jogando em baixo da mesma. Eu não conseguia olhar para as pessoas dançando sem focar naqueles dois. Luke continuava com a sacola na mão, feliz, e Larissa ao seu lado, tagarelando coisas na orelha do meu melhor amigo sem parar. Era para eu estar feliz, quer dizer, finalmente Luke tinha conseguindo uma chance com a crush!

Mas eu não estava.

Não conseguia ficar.

— O que é isso aqui? – Keaton pega o pacote em baixo da mesa.

— Jujubas. – digo – Pode ficar para você, se quiser.

— Não é para o loirinho? – levanta uma sobrancelha.

— Era para ele. – suspiro – Mas ele já tem bastantes jujubas.

Olho novamente para o casal na pista, eles estavam dançando novamente e Luke ainda com o presente na mão. No momento, não sei ao certo definir qual o sentimento que me consumia ao observá-los, eu só queria ter o poder de me desligar desse mundo imbecil, para não ter de ver essa cena.

— Você gosta dele. – Keaton me tira dos pensamentos.

— O quê? – arregalo os olhos.

— Você gosta dele. – repete.

— Não seja ridículo. – respondo ríspida – Eu não gosto dele, Luke é o meu melhor amigo.

— Você é totalmente apaixonada por ele. – Keaton abre o pacote de jujubas e come duas.

— E como você sabe, energúmeno? – cruzo os braços.

— Porque o jeito que você olha para ele – Keaton aponta para Luke – é o mesmo jeito que eu olho para Larissa. E eu sou apaixonado por ela.

— Você? Apaixonado? – rio alto – Impossível.

— Eu também pensava assim. – ele diz – E era por isso que eu nunca conseguia ter um crush em ninguém.

— Você só fala bobeira. – reviro os olhos, tirando meus sapatos de salto.

— Admita que você nunca teve um crush porque no fundo, os seus sentimentos pelo seu melhor amigo era mais do que amizade. – Keaton olhava profundamente em meus olhos. – Admita que você nunca se interessou por ninguém pelo fato de esse alguém sempre estar ao seu lado, e você só ter olhos para ele.

— I-isso não faz sentido. – levanto-me da cadeira, mas Keaton segura meu braço.

— Admita que quando você olha para esses dois, você sente algo queimando em seu peito. – Ele vira meu rosto delicadamente em direção a Luke e Larissa.

E naquele momento, quando eu voltei meus olhos pela milionésima vez no dia e bilionésima na semana em direção a Luke, só me veio uma frase na cabeça:

“A lei da gravidade não pode ser responsabilizada pelo fato de uma pessoa cair de amores por outra.” - Albert Einstein

Depois de tudo o que Keaton tinha me falado, eu queria que a lei da gravidade fosse a responsável pelo o que Luke sentia por Larissa. Eu queria que todas aquelas cenas que eu havia visto nos últimos dias, não passasse da gravidade. Mas eu sabia que não era.

E eu sabia também que, aquilo que eu sentia por Luke, que eu só pude perceber quando uma pessoa totalmente fora da minha roda de amizade me disse, era mais do que verdadeiro. Foi apenas nessa última olhada que a ficha caiu. Todo esse incomodo que eu estava sentindo em relação à Larissa, não era medo de perder a amizade, era medo de perder Luke para ela. Medo de não poder mais tê-lo perto de mim.

E agora, eu estava me lembrando da minha famosa teoria de que o amor era psicológico.

Ela havia ido por água a baixo.

O amor sempre foi psicológico para mim, pois, a minha paixão sempre esteve ao meu lado. Nunca rejeitou um pedido para sair comigo e nunca me deixou triste. Tomei cuidado ao conversar com meninos que eu corria o risco de me apaixonar, mas nunca deixei de me arriscar falando com Luke. E eu nunca fui assim porque não achei o cara certo ou nunca tive um crush porque ainda não era hora. Nunca tive um crush, porque no fundo, eu sabia que Luke sempre fora o meu. E que no final, eu criei aquela teoria para esconder de mim mesma que eu estava apaixonada pelo meu melhor amigo.

O meu crush sempre foi o meu melhor amigo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Está bom para alguém que ficou sem escrever durando um tempo?
Não se esqueçam, vocês podem mandar as suas histórias para nós!
xoxo



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