Fala Sério, Crush! escrita por Ferla, little Nyx


Capítulo 12
Wildest Dreams - Pequena Ferla


Notas iniciais do capítulo

Olá olá~
Quanto tempo, demorei hein?
Eu espero que gostem desse conto, eu tive um trabalhão pra fazer porque chegou num ponto em que as ideias pararam... Mas consegui terminar! Como o título diz, foi inspirado em Wildest Dreams (Taylor Swift)
Aproveitem a leitura!! :D



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He said "let's get out of this town
Drive out of the city, away from the crowd"
I thought "heaven can't help me now
Nothing lasts forever

Ela deveria ter dezesseis anos. Alguns diziam que já era quase dezessete. Há os que afirmam em quinze. É difícil saber exatamente. Quando ela conta a história muda a idade diversas vezes, depende do ouvinte. Acontece que os que querem ouvir são muitos.

Ela tem o costume de sempre contar essa história quando vê algum jovem a esperando fritar um salgado. Ou se é uma pessoa que pretende ficar no balcão por um tempo. É um bom entretenimento, apesar de ser triste como suas olheiras fundas.

Já deve ter uns quarenta anos, seu filho já deve estar perto dos vinte e três anos, graças a tantas orações e pedidos se tornara um bom trabalhador.

Contudo, o que leva uma jovem direcionada a terminar numa fritadeira pelo resto da vida? A resposta está, obviamente, apontada para um homem.

# # #

Por começo, sabe-se que a vida de Vanessa, nossa protagonista, sempre fora boa. Morava com a mãe e o padrasto, tinha boa moradia, boa comida e bom estudo. Nada que pudesse reclamar, afinal, além disso, tinha uma belíssima voz. Cantava em restaurantes e festas de casamento como trabalho inicial. Alguns diziam que sua voz lembrava um anjo, já outros falavam de seu tom afinado como o de um pássaro de verão. Seus cabelos eram de um tom em loiro escurecido e eram muito curtos, alguns que costumavam vê-la na época dizem que pintara algumas mechas aleatórias de um loiro bem claro por estilo próprio.

Meu objetivo não é atrasar muito, me limito a esses fatos simples sobre Vanessa, até porque sua vida era completamente normal. Nunca foi uma menina rebelde ou obediente demais, apenas vivia conforme suas crenças do certo e do errado, na realidade, costumava usar um tom frio com a maioria das pessoas que conversava por motivos desconhecidos, acreditavam que era algum tipo de lembrança da infância. Conforme foi envelhecendo, o tom frio se transformou numa voz triste mas bem afinada como sempre, já não tinha mais a disponibilidade para discutir com as pessoas ou ter que lidar com olhares feios. Passou a ser mais amada conforme foi envelhecendo, principalmente pelos clientes da pastelaria, mas se tornou vítima de pena.

Voltemos para a adolescência de Vanessa. Como dito, ela era uma ótima cantora e trabalhava em bares e casamentos. Com o tempo, passou a ter contrato fixo com alguns bares pela cidade, e um deles era daqueles clássicos onde o pessoal costuma ir com os amigos. No começo, a plateia de Vanessa eram seus próprios companheiros, mas com as semanas passou a ganhar a simpatia extrema dos frequentadores.

Certa noite, Vanessa pausou a apresentação para comer os bolinhos que sempre pedia - era uma menina de rotinas fixas – e, enquanto esperava sua comida, viu um homem, provavelmente de 21 ou 22 anos analisando sua mesa. Primeiramente, se sentiu muito incomodada, mas o indivíduo era muito atraente. Quando ele levantou para se dirigir ao bar, ela notou que ele era muito alto, tinha músculos definidos e cabelos medianos, mas estavam presos. Usava uma camiseta vermelha e tinha algumas tatuagens no braço direito.

Vanessa, que raramente estava atrás de relacionamentos, achou a aparência do indivíduo interessante. Mas é claro que não passaria de uma admiração visual, era isso que Vanessa tinha em sua cabeça.

# # #

Era uma noite de temperatura agradável, Vanessa estava fazendo seu show da sexta. Cantava como quem pensava em absolutamente nada, olhava para o violão como se fossem os únicos no ambiente, pelo simples fato de que Vanessa parecia sentir certa indiferença por tudo, nunca reclamava mas também nunca notava as partes boas da vida. Tudo para ela era neutro, como se as coisas estivessem ali por uma simples rotina que ela, admitia, até apreciava. Provavelmente umas das únicas coisas que realmente chamavam a atenção de Vanessa era a música.

Então, no intervalo entre uma música e outra, o homem de boa aparência que Vanessa vira na última semana foi até ela num ar apressado.

— Ei, senhorita, poderia tocar um pouco de Elvis?

Vanessa deu uma pausa na frase que recém começara e deu um sorriso simples. Então, sem responder, ela assentiu com a cabeça e passou algumas notas pela sua cabeça antes de tocar. Vanessa não notou, mas seu sorriso permanecera durante as últimas três músicas da noite, que, por sinal, eram Elvis.

Depois de finalizar, ela parou de tocar e bebeu o resto da água ao seu lado. Logo desligou o microfone e pegou a capa do violão. Então, ouviu alguém a chamando, era o mesmo homem de anteriormente.

— As músicas que você escolheu foram muito boas.

Ela o olhou por um segundo e terminou de guardar o violão.

— Nunca me pedem Elvis – ela respondeu sem algum tom definido.

— Ah... Foi mal por isso então... – ele riu.

— Não não! É difícil me pedirem... Eu gosto de tocar – Vanessa disse a última frase quase que num devaneio pessoal.

— Você gosta dele?! – o homem perguntou num tom surpreso.

— É óbvio!

Continuar o diálogo seria, no mínimo, maçante. Já é de imaginar que eles sentaram em uma mesa e conversaram por algumas horas. Vanessa raramente encontrava alguém com assuntos em comum, mas quando encontrava ela conseguia progredir bem em um diálogo.

Sobre aquela noite, prefiro colocar a própria fala de Vanessa, a qual ouvi numa manhã de terça-feira, enquanto esperava ela coar meu café.

“O nome dele era Henrique. Nós conversamos muito, o que para mim foi um espanto, era muito difícil encontrar um rapaz tão gentil com uma conversa parecida com a minha...” ela fez uma pausa para servir meu café. “O sorriso dele era muito bonito, lembro-me de depois de uma hora conversando eu já estava encantada. Eu não sei que tipo de charme ele tinha, porque as pessoas não conseguiam puxar a minha atenção, eu era avoada demais e muito fechada na música pra isso. Admito, minha mente era fechada demais e não me orgulho disso... Naquela mesma noite nós ficamos do lado de fora do bar. Eu raramente beijava caras daquele jeito, tão facilmente. Por isso eu nunca namorava, eu nem mesmo percebia quando alguém gostava de mim... Eu não sei como ainda era viva, nada me interessava além de música. Eu era chata. Mas com aquela simples conversa de algumas horas... Ah... O beijo dele era tão doce... Depois daquilo, nós passamos a ficar por quatro ou cinco finais de semana seguidos, até que começamos a sair juntos. Então, eu comecei a dormir na casa dele, cantar com ele e ouvir seus solos de guitarra... Foi mágico. Mas sabe... Nada é perfeito.”

Então, chegamos na parte principal. A parte que faz Vanessa se lamentar e suspirar.

Henrique, no início, parecia um homem sincero e gentil. Mas esse era o problema, ele só parecia. Era sempre muito cortês com Vanessa, não ousava bater nela ou tratá-la mal, mas, em compensação, ele era o tipo de sujeito com quem se meter é arriscado.

Henrique era traficante. Aparentemente, ele não usava a droga porque dizia que odiava se sentir incapaz de ficar acordado, mas ela dava um bom dinheiro. Vanessa, que nunca se metia em confusão, pensou em se afastar dele assim que ficou sabendo, mas ela já estava perdidamente louca por Henrique. Por várias vezes, ela chegava em seu apartamento durante a noite e ele estava com uma bolsa de gelo na cabeça, resmungando palavras como “vagabundo” ou “ele me paga”.

Contudo, Vanessa achou outro interesse na vida: ela queria que Henrique, que sempre estava ocupado com algo, a notasse cada vez mais. Ela ansiava pela atenção do primeiro homem por quem realmente se apaixonou. Ela sabia que aquilo faria mal a ela, mas já não tinha volta, sua mente e coração se enchiam de alegria quando ele estava por perto.

But this is gonna take me down"

He's so tall and handsome as hell

He's so bad but he does it so well

I can see the end as it begins

My one condition is

Say you'll remember me

Standing in a nice dress

Staring at the sunset, babe

Vanessa e Henrique já estavam juntos por cinco meses. E então, Henrique se meteu numa confusão feia por causa das drogas, ela nunca soube o quão grave essa intriga foi, mas o namorado ligou para ela muito tarde da noite, deveria ser importante.

— Vanessa – ele falou rapidamente. – Eu vou ter que sair da cidade, a confusão foi feia.

— O quê? Henrique?!

— Eu não tenho tempo pra explicar, logo eles chegam pra me pegar, vou sair do apartamento agora.

— Espere! – Vanessa, que estava deitada, levantou da cama num pulo de desespero. Ela não entendeu o que estava acontecendo. Seu amado sairia da cidade?! – Henrique, eu não...

— Quero que venha comigo! – ele a interrompeu.

— O que...? Meus pais não me autorizariam...

— Vanessa, se você for comigo deve ser agora!

Ela olhou no relógio: eram quase cinco horas da manhã.

— Fugir...? – ela perguntou.

— Perdão, Vanessa. Esse é o único jeito. Quero que venha comigo, mas não vou te obrigar. Passo na sua casa em meia hora, se quiser vir comigo, vou te esperar na árvore perto da esquina.

Então, ele desligou.

Vanessa diz que se culpa até hoje por não ter pensado três ou quatro vezes sobre isso, ou talvez nas consequências. Ela apenas se levantou e pegou suas coisas. Não pensou na dor de seus pais ou sua carreira que estava colocando em risco.

Ela saiu de seu quarto deixando uma carta e seu celular sobre a escrivaninha.

Não soube mais da mãe e do padrasto.

# # #

Passaram-se dois meses, Vanessa e Henrique moravam de favor na casa de um amigo do rapaz. A casa era grande o bastante para que eles ficassem confortáveis ali.

Vanessa tinha que admitir, depois de dois meses, ainda não se sentia culpada por estar com Henrique. Ela se sentia realizada por poder acordar todas as manhãs olhando para seu rosto. Quem precisava de música quando se tinha seu amado.

Um dia, enquanto preparava a refeição com Beatriz, a jovem esposa do amigo de Henrique, Vanessa soltava alguns risos de alegria.

— Você gosta muito dele, não é? – perguntou Beatriz com um sorriso ao colocar a última alface na salada que preparava cuidadosamente.

— Sim... Muito.

— Imagino... Vocês parecem mesmo felizes.

— Espero que possamos continuar assim por muito tempo.

— Você não se importa, Vanessa?

— Com o quê?

— Você parou seus estudos e sua carreira na música por causa dele... – respondeu Bia no tom gentil que sempre usava.

— Nem um pouco – Vanessa disse abrindo um sorriso. – Eu o amo muito.

# # #

Era uma manhã de terça-feira. Henrique e o amigo tinham saído de casa para resolver seus negócios do trabalho, enquanto isso Beatriz e Vanessa faziam sua caminhada de sempre.

— E então ela disse que eu deveria mudar o corte do meu cabelo! – reclamava Bia. — Ora, eu sei que meu cabelo não é repicado como os da moda, mas eu gosto dele natural desse jeito! Você não acha, Vanessa? – ao terminar a frase, Beatriz olhou para a amiga esperando a resposta. Vanessa estava com uma expressão de enjoo, e então se agachou ali mesmo, onde estava. – Vanessa?!

— Bia, estou me sentindo horrível... Vamos passar numa farmácia, por favor...

Não demorou muito para Beatriz lembrar que Vanessa estava se sentindo enjoada e comia pouco tinha alguns dias.

— Vanessa, e a sua menstruação...?

— Atrasada – murmurou a jovem.

— Ah não... Henrique ainda não usa camisinha?!

— Ele nunca gostou de usar...

— Ele sabia dos riscos! – Beatriz suspirou em reclamação. – Ele não tem responsabilidade. Venha, vamos comprar um teste.

Como já é de se esperar, Vanessa estava grávida.

Após a confirmação do teste, Vanessa ligou para Henrique.

— Oi, meu bem – ele disse ao atender.

— Henrique... Onde você está?

— Estou na cidade vizinha, vou acertar algumas coisas. Já com saudade? – ele riu.

— Ah... Conversamos quando voltar.

— Não se preocupe – ele disse. – Estou tomando um café agora. O que foi?

— Henrique... Acontece que... – Vanessa olhou para Beatriz, que fez um sinal de incentivo com a cabeça. – Estou grávida.

Fez-se um silêncio no telefone.

— Grávida...? – ele perguntou com cautela.

— Sim...

— Ah... Então... Não sei... – ele ficou quieto por mais um tempo.

— Henrique?

— Marque um médico, então. Falamos mais sobre isso quando eu voltar – respondeu Henrique, rapidamente.

Ele desligou.

Vanessa marcou o médico.

Passaram-se dois dias, o marido de Beatriz voltou, mas ele pareceu surpreso quando não viu Henrique em casa.

— Não estava com ele, nossos trabalhos eram separados, não conversamos desde que saímos de casa. Mas ele já deveria estar aqui – disse o rapaz, num tom preocupado.

Passou-se uma semana e Henrique ainda não tinha aparecido. Ele não atendia o celular.

Passaram-se dois meses e o celular de Henrique era dito como inexistente.

Passaram-se nove meses e tudo que Vanessa tinha era o colo de Beatriz para chorar.

— Vanessa... Eu ainda não acredito que ele te deixou... – ela dizia ao passar a mão pelos cabelos, já crescidos, de Vanessa.

— Eu não sei por que ele fez isso... É o nosso bebê... – Vanessa acariciava a barriga. – Eu só espero que ele lembre de mim...

— Ainda gosta dele, depois disso?

— É a única coisa que posso sentir. Como poderia amar nosso filho?

Beatriz pôde ver a amiga passando a mão pelo rosto diversas vezes. Os olhos de Vanessa andavam inchados nos últimos dias.

— Sabe, Bia, eu ainda espero que possa vê-lo entrando por aquela porta.

Say you'll see me again
Even if it's just in your wildest dreams
Wildest dreams, oh

Even if it's just in your wildest dreams
In your wildest dreams, oh


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Notas finais do capítulo

Eu e a Little Nyx queremos agradecer pelos comentários nos capítulos anteriores, estávamos notando há alguns dias o quão dedicados esses leitores e leitoras são! Vocês são incríveis!