Garota Camaleão escrita por Aurora


Capítulo 9
Dor


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem.



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Alison,

Estávamos deitadas em sua cama quando você me contou o quanto não gostava de festas, uma surpresa para mim já que você sempre ia nelas. Mas essa era a questão, a garota tão feliz e poderosa que todos viam na verdade estava se desmanchando, suas diversões eram falsas, e a droga era apenas um modo de aguentar tudo isso, as festas só eram uma maneira de se mostrar existente. Essa era apenas uma de suas pequenas mentiras, uma de suas pequenas doses do estrago. Você ainda pediu desculpas para mim, desculpas por ter me arrastado para as festas, não se desculpe mais querida, esqueça a culpa, tire esse peso incomodo das costas e sorria, não se acanhe, todos temos fraquezas.

Mas as festas eram sinônimos de confusão, e você era sinônimo de confusão, só eram confusões diferentes, mas que juntas se embolavam mais ainda. Se lembra daquela? Bom, a única coisa de que me lembro foi do desespero daquele garoto quando o primeiro soco foi atingido em sua face. Não me recordo do motivo, talvez uma garota, mas nada justificava a crueldade. Ele caiu no chão com o nariz pingando sangue e eu quis ajudar, quis interferir mas você disse que não podia, não podíamos porque eles bateriam em nós também e aí não valeria de nada três pessoas machucadas, meu pingo de bondade foi sugado por sua frieza, Alison, eu queria poder esquecer desse dia ou da certeza das suas palavras mas não consigo.

Acho que uma parte boa de mim ainda está aqui, uma parte consciente minha ainda existe, a garota que eu era antes ainda está presente com um pouco da sua inocência, o resto é apenas saudade e amargura, porque eu me transformei nisso quando conheci você, me balancei em seus pensamentos e me construí, mudei com você, por você, um pouco por mim, conheci todas as suas partes, as partes do mundo e criei as minhas. Fui uma menina dependente e fraca e agora me perco em eternos devaneios. Toda essa mudança me lavou por dentro e me fez sentir feliz pela primeira vez, mas agora que a tristeza me pegou tudo parece escuro demais para eu poder ter alguma lembrança feliz além do amor que tive e tenho por você.

Se quer saber o nome do garoto é Lucas, eu o encontrei ontem no parque. Fiquei em dúvida se te contava isso ou não mas lembrei que você não me julgaria pois nem está lendo isso, as vezes é difícil lembrar de que o único destino dessas cartas são a caixa de maquiagem que ninguém mexe. Lucas me reconheceu como a menina que se preocupou e perguntou se eu queria conversar, e eu queria, Alison. Eu queria qualquer coisa que me fizesse sentir menos idiota ou morta, queria algo que me permitisse viver em outros pensamentos que não fossem você. Mas eu falhei assim que ele me perguntou como eu estava, e eu disse que mal, disse isso porque queria ser sincera, sincera como era com você e como sou comigo(com algumas exceções), e quando ele me perguntou o porque eu me vi desabafando tudo o que estava sentindo sobre você e sua ida, e perdi uma das poucas oportunidades de viver algo fora de ti, meu amor, veja só, eu sou você, mesmo que você esteja longe eu te mantenho perto, da maneira mais suja, triste e decadente possível, mas você está sempre aqui, comigo.

E eu não entendi o por que de ele ter me beijado quando eu terminei de falar, e não foi um beijo desesperado, foi leve e teve um gosto de ajuda e reconforto. Acho que ele queria me fazer sentir bem, me fazer sentir algo além de você. Mas ele falhou, porque eu o afastei, eu gostava dele, desde o momento em que o vi apanhando, sim, e gostei dele por me ouvir e por tentar me fazer sentir bem com um beijo, mas eu não achava justo o beija-lo sendo que eu já não pertencia mais a mim mesma, eu não gostava de ideia de misturar o meu caos com o dele e deixar nele o gosto da tristeza, e não tinha vontade também porque eu queria a sua boca no lugar da dele, eu queria que você me beijasse como uma maneira de me fazer bem ou de nos aproximar, eu queria te contar tudo enquanto ganhava um carinho na cabeça, eu afastei Lucas com os seus cabelos loiros na mente. Mas eu não fui embora, eu aceitei o pedido de desculpas dele e o abracei, e aí sim eu fui, saí correndo e sentindo as lágrimas descer uma por uma no meu rosto e depois perceber que estava tomada por todo aquele choro, corri até a debaixo daquela nossa arvore, maldita arvore que me lembrava de você e seu sorriso, malditas flores amarelas e malditas lágrimas, malditas sejam as lembranças e maldito seja esse aperto no peito, maldito seja o sufoco e os socos que dei em mim mesma, malditas sejam minhas pernas que não aguentaram o peso da dor e me fizeram cair, maldita seja você que causou o caos e maldita seja eu por ter permitido tudo isso, e maldito seja essa merda de amor que me faz sentir essa saudade toda e maldito seja esse mundo inteiro por não ter nada para me fazer ser um pouco menos triste. E maldita seja essa carta que me faz chorar agora, maldita seja a vida!

E depois de tanta dor eu ainda sinto amor por você, maldição!

Com saudades, dúvidas, confusão, leveza, mais saudades, felicidade, amor, descobertas e dor,

Lúcia.


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Notas finais do capítulo

Não era pra sair tão doloroso mas eu me empolgo com a tristeza. Se puderem e quiserem, comentem :3