Garota Camaleão escrita por Aurora


Capítulo 12
Muitas saudades


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas pela demora, juro que eu queria escrever e postar o mais rápido possível, mas bem, eu voltei. Espero de todo o coração que gostem e prometo que a história tem pontos interessantes no futuro.



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Alison,

Pra mim, a saudade é um dos piores sentimentos desse mundo. Eu realmente queria ter uma saudade poética, queria ter uma saudade bonita, guardar lembranças na mais pura inocência, sentir um afago bom no coração junto com as memórias, mas tudo o que eu tenho quando me lembro de você é um enorme sufoco, uma dor grande e uma vontade enorme de ter você por perto. A saudade é sentimento arrastador, ela arrasta junto um misto de pensamentos, sentimentos, lembranças, nos deixa flutuar em meio as mais pequenas coisas, a saudade é profunda demais. A saudade faz o tempo correr mais devagar, faz os pensamentos virem com mais frequência, faz mudar as opiniões, faz amar mais, amar menos, faz tudo. Ah Alison, por que as saudades? Me diga você o motivo delas, já que é a causa principal de todo esse aperto de saudades que sinto em meu peito. Por que é tão impossível esquecer ou simplesmente parar só por um minuto de lembrar? Por que é tão consumidor? Por que eu temo tanto isso tudo? Por que não consigo ficar bem mesmo nos dias mais felizes? Ah, eu sinto tantas saudades, é tanto querer e não poder, é tanto aperto no peito que eu nem sei mais o significado dessa palavra, acho que me perdi nesse mar de devaneios, acho que virei um devaneio em pessoa.

Acho que estou amortecendo. Deixando cada vez mais de ser eu, mesmo com as tentativas, mesmo eu querendo mudar, mesmo eu querendo fazer alguma coisa. Por que, Alison? Ah, são tantas perguntas, sem nenhuma resposta, acho que estou próxima do fundo. O problema é eu sempre achar tanta coisa, sempre cheia de incertezas, e pensamentos, e momentos que nem sequer são existentes, eu sou cheia de coisas pequenas demais, e essas coisas pequenas me consumiram, expulsaram a sanidade, me expulsaram de mim sem dar esperança de volta. Eu queria ser minha própria fonte de esperança, queria poder sorrir abertamente para mim mesma, queria. Mas só você tem esse poder, só você pode dominar tudo, mandar em tudo, ser tudo, como você consegue, Alison? Como consegue essa incrível façanha de sempre estar tão certa, ou de sempre resolver, ou de sempre sorrir, ou de sempre conquistar qualquer alma meio viva por perto?

Eu queria que você conhecesse Pietro, esse gatinho se daria bem com você pois ele tem esse mesmo poder de fazer qualquer que chegue por perto se derreter de amores. Lucas gosta muito dele, me ajuda a cuidar e coisa e tal, até comprou uma bolinha para ele. Lucas gosta de ajudar, ele ajuda as pessoas em sua volta mas não ajuda muito a si mesmo, é cruel demais consigo mesmo, mesmo sendo uma pessoa muito boa. Até minha mãe confessou gostar desse gatinho, ela que nunca fora fã de animais, disse que Pietro é uma bolinha de pelos muito agitada. Isso me fez pensar que nunca te perguntei se você gostava de gatos, parece meio estranho eu ter convivido tanto com você e ainda ter essas mínimas dúvidas, me faz querer ter aproveitado mais esse tempo, esse tempo onde eu ainda podia e tinha você como companhia. Eu tenho perguntas tão significativas e outras tão pobres, ambas que tenho duvidado se algum dia serei capaz de fazer.

Eu sou tão pequena em comparação com você, e você é tão pequena em comparação com esse grande mundo, esse grande mundo, Alison, onde você está solta por aí. Pode estar do outro lado do mundo, pode nem estar nesse mundo ou simplesmente estar na rua de trás da minha casa. Ah, a rua de trás da minha casa, essa rua esquecida e cheia de construções erradas, essa rua perturbante, essa rua que ninguém mais se lembra, o que tem de errado com essa rua eu não sei, mas ela me faz perceber o que tem de errado em mim. Talvez seja só uma rua sincera demais, por isso é quase não habitada, ninguém gosta de sinceridade em massa, porque a sinceridade pesa demais, é difícil carregar o fardo da própria vida, das próprias respostas, da própria culpa, é difícil encarar tudo na forma mais nua possível, é por isso que nos escondemos tanto, de baixo de tanta roupa, de baixo de tanta pele, é por isso que fazem as paredes, é por isso que limitam os lugares, é por isso que cobram a entrada, é por isso que sorrimos. Para esconder, mascarar a verdade e deixar a sinceridade jogada num canto, a sinceridade desse lugar está naquela rua, na rua de trás da minha casa. Rua por onde corri quando não tinha mais ideia do que fazer, rua que tanto observei procurando os detalhes, rua em que demos as mãos diante ao maior caos, rua que por algumas vezes deixei Lucas me esperando, rua de qual eu sinto pena, rua que não merece o peso de tanta culpa, tantas verdades e tanta melancolia. Acho que você se esconderia naquela rua, mesmo que a sinceridade fosse um lugar desconhecido, você é aventureira, acho que está escondida na própria rua, acho que você é uma rua, Alison. Rua onde eu quero passear, refugiar e cuidar, rua que foi tanto enfeitada para esconder os males que nem se parece mais com a verdadeira rua. Rua das verdades e mentiras, lugar onde elas se encontram, você é uma rua exótica, enquanto eu sou uma sem graça onde os normais se abrigam. Você é uma rua grande e bonita, confusa também, mas isso não muda a beleza, você é uma rua que muda demais, mas sempre é bonita. Bonita pra mim, porque mesmo que os outros olhos enxerguem maldade eu só enxergo beleza, os meus olhos tem uma camada de amor quando olham para você, os meus olhos estão com saudades, assim como eu. Saudades de você, dessa rua de confusões e de mudanças, quero te olhar mais do que tudo agora, quero saciar essa sede de seu rosto, da sua beleza. Beleza presente em todas as partes, querida, você é o poema mais belo do mundo, e eu sinto saudades.

Com saudades, dúvidas, confusão, leveza, mais saudades, felicidade, amor, descobertas, dor, desespero, tentativas e muitas saudades,

Lúcia.


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Notas finais do capítulo

Deixo aqui uma das coisas mais verdadeiras que já ouvi: '' É possível amar muito alguém, mas o tamanho do seu amor por uma pessoa nunca vai ser páreo para o tamanho da saudade que você vai sentir dela. ''