Garota Camaleão escrita por Aurora


Capítulo 11
Tentativas


Notas iniciais do capítulo

Olá!



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Alison,

Tenho escorrido demais nesses últimos dias, o cabelo escorria da cabeça como sempre foi, as lágrimas escorriam dos olhos com uma facilidade indesejável, e o sangue escorria das coxas me fazendo carregar uma culpa que eu preferiria não ter. E tudo isso escorria enquanto eu me desmanchava na cama e cada vez em que algo sai uma parte de mim também escorre, escorre e vai descendo até se formar uma poça pegajosa e grudenta de todo o meu fracasso. A poça é minha parte perdida, a outra está com você, querida.

Decidi parar de escorrer no terceiro furo que dei com Lucas, o deixando esperando na rua de trás da minha casa. Eu levantei da cama e tomei como objetivo limpar essa poça pegajosa antes que ela me pegue e faça cair de verdade. Foi por isso que eu decidi lavar o rosto, prender o cabelo e jogar fora o pedaço de vidro quebrado, eu queria jogar fora a culpa também, mas isso significaria que eu mesma me desfaria de mim, porque eu sou a culpada.

Foi por isso que quando cheguei na rua de trás da minha casa e Lucas me perguntou se eu queria comer algo eu disse que sim. Porque eu tinha fome, fome guardada de todos os dias que eu quase não comi, fome não só de comida mas de atenção. Foi por vontade de matar a fome de atenção que eu aceitei o abraço de Lucas, matei junto a fome de carinho.

E quando eu sorri foi de verdade, porque Lucas é uma pessoa boa, boa demais até, boa por não perguntar o motivo da ausência e falta de resposta anterior, boa por aceitar todo esse meu drama, uma pessoa boa por me dar coisas para escutar e por conseguir ouvir. E quando eu sorri pude sentir meus lábios rachando, porque meu sorriso a muito estava enferrujado, na verdade, o meu sorriso, Alison, só estaria completo com você aqui. E eu sorri com gosto de milk-shake de morango com batata-frita e bala ardida no final, sorriso verdadeiro mas não completo.

Seria demais eu pedir para te esquecer, superar você ou o que quer que seja, tudo que mais quero é você de volta, Alison, as coisas parecem sem graças sem você aqui, eu não posso ficar melhor depois de ter experimentado o melhor, mas eu não tenho esse mesmo poder sugador que você tem, veja só eu nem consegui te fazer ficar, eu não tenho a mínima idéia de onde está você, o que está fazendo ou se no mínimo gosta de mim, eu já começo a me perguntar se você existe, eu precisarei sair gritando aos quaro cantos o seu nome? Eu tenho chances até mesmo de nem saber seu nome real, foi tudo uma mentira, Alison? Eu só sei desviar meu caminho para você, tanto nas explicações, tanto nos pensamentos, tanto em sua chegada, tanto em minha vida, tanto com Lucas, tanto em tudo, estou obcecada por você, por nós, as chances perdidas e as memórias dos sorrisos verdadeiros que já parecem apenas um borrão.

Você só me fez afundar, mas quando me dava a mão nos flutuávamos, mas agora que se soltou eu só sei cair, cair em alta e destruidora velocidade. Eu nunca poderei limpar aquela poça de baixo da minha cama, mesmo que eu esfregue aquilo nunca vai sair, tudo passa mas as coisas passadas deixam marcas, marcas que nos fazem lembrar e imaginar, e sofrer, eu nunca vou parar de escorrer, nunca vai parar de doer. Eu preciso de você, Alison, talvez por toda a minha vida ou até pelo menos curar essa dor chata que vive querendo me martelar. Eu virei dependente de você, sua amante, viciada numa idéia que está bem longe de mim. Minha garota camaleão, meu amor, meu bebê, minha droga, minha confusão, meu vício, minha Alison, meu tudo, eu preciso de você, preciso te sentir, te ouvir, te tocar, te amar, preciso de você em qualquer forma, de qualquer cor, qualquer sorriso, do jeito que você for, quero que me ame. Quero coisas demais para apenas uma garota desmanchada, eu nem sou metade mais, uma metade está com você e a outra escorreu. Talvez quem não exista seja eu.

Quando eu e Lucas voltávamos para a rua de trás da minha casa eu vi um gato, ele tinha cor branca e olhas verdinhos, se esfregou em minha perna e me ganhou no primeiro momento, sem pensar muito eu puxei ele pros meus braços imaginando que se talvez eu não pudesse cuidar de mim, eu ainda poderia cuidar dele. Meu gato agora se chama Pietro e é muito amado, tem uma casinha mas prefere minha cama, o que eu entendo já que também prefiro, espero que ele não esteja escorrendo como eu. Pietro é o único ser vivo que posso chamar de meu, porque eu me doei para você e você nunca foi minha, e presumo que nunca mais será.

Com saudades, dúvidas, confusão, leveza, mais saudades, felicidades, amor, descobertas, dor, desespero e tentativas,

Lúcia.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham percebido as pequenas tentativas de Lúcia, beijos.