Printemps escrita por Hanna Martins


Capítulo 2
Prímula


Notas iniciais do capítulo

Fiquei mega feliz com os comentários que recebi no último capítulo. Amei cada um deles sério! Vocês nem fazem ideia de como eles me deixaram extremamente animada para seguir em frente com esta fic. E agora vamos ao capítulo!



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Hoje a caçada foi até boa, apanhei três esquilos e dois coelhos. Pode não parecer muito, mas para mim já é alguma coisa. Vou dar os esquilos para Peeta e ficar com os coelhos, decido assim que piso na vila dos vitoriosos. O único lugar que não foi destruído em todo o Distrito 12.

Não vou para a minha casa. Me dirijo primeiro a casa de Peeta. Ela é idêntica a minha, exceto pelo cheiro de pão recém-feito que paira no ar. Ele deve estar na cozinha. Darei a ele os esquilos e depois irei para minha casa imediatamente, resolvo, assim que coloco os pés na casa.

Encontro Peeta concentrado, enquanto decora um bolo. Ver ele concentrado deste jeito me lembra do antigo Peeta. Suas habilidosas mãos com precisão e delicadeza vão dando forma ao glacê, pequeninas flores surgem. As flores são brancas, belas e delicadas. Só ele poderia fazer algo assim.

Estou tão concentrada em suas mãos, que me sobressalto ao vê-las parar. Olho para Peeta que me fita.

― Eu... ― começo a falar depois do pequeno susto. ― Trouxe alguns esquilos para você... ― indico minha bolsa de caça.

― Obrigado. Quer um pedaço de bolo? Acabei de fazer ― aponta para o bolo.

― Não, ele está tão bonito que quase tenho medo de comê-lo...

Ele arqueia uma das sobrancelhas.

― Pode levá-lo se quiser. Confeitei outros bolos... É o que tenho feito grande parte do tempo, fazer pães, bolos, biscoitos... Isso me mantém ocupado.

Entendo o que ele quer dizer, eu também estou procurando uma maneira de me manter ocupada.

― Obrigada, sempre quis ter um desses...

Prim adorava ver na vitrine da padaria os bolos confeitados. Nós nunca compramos um, mas vê-los era bom, principalmente em um lugar em que coisas belas eram raras.

― Me mandaram uma caixa com folhas de papel de pergaminho ontem...

― Papel? ― Peeta começa a confeitar outro bolo.

― Sabe, você me disse que eu deveria pensar sobre algo que eu queria... Eu não quero esquecer.

Ele para de confeitar o bolo e me olha.

― Resolvi fazer um livro de memórias... ― digo, desviando meus olhos dele. ― Queria saber se você pode me ajudar com ele.

Volto a olhar para ele com certa cautela.

Peeta não me responde de imediato. Parece ponderar sobre o assunto.

― Acredito que seja uma ótima ideia, vou te ajudar sim ― responde finalmente.

Devo dizer que sinto certo alivio ao ouvir sua resposta. Sem Peeta fazer este livro ficaria bem mais difícil.

― Você sabe como fará o livro?

― Será um pouco parecido com o livro de plantas da minha família. Pensei em colocar alguma imagem da pessoa sobre a qual quero falar e depois escrever sobre ela.

Ele balança a cabeça concordando.

― Eu não tenho muitas fotografias... pensei que você poderia desenhar algo no lugar de uma foto...

― E quem a primeira pessoa sobre a qual você irá falar no livro?

Eu ainda não havia pensando nisso. No entanto, a resposta vem automaticamente aos meus lábios.

― Prim.

Peeta assente, acho que ele sabia até mesmo antes de mim que seria ela a primeira pessoa sobre a qual quero registrar no livro.

― Podemos começar hoje ― sugere.

― É uma boa ideia. Se temos que começar algo precisamos fazer o mais rápido possível.

Pego os esquilos em minha bolsa de caça. Eles já estão limpos. Os dou para Peeta. Em troca ele me entrega o bolo.

― Vejo você mais tarde ― se despede de mim.

Volto para minha casa. Greasy Sae deixou algo para eu comer. Como toda a comida e vou para meu quarto. Pego a caixa com os papeis. Há também uma bonita encadernação de couro para colocar as páginas na medida em que elas forem preenchidas.

Levo a caixa para a sala. Retiro uma folha e a coloco na mesinha de centro da sala.

O que devo escrever aqui? A folha em branco me interroga, me desafia. Eu quero colocar no papel o que Prim era. Mas palavras não são suficientes para descrever seu sorriso, sua doçura, sua bondade, seu amor por tudo o que era vivo. Isso me frustra.

A folha em branco fica me encarando, me interrogando. E eu simplesmente não sei o que colocar lá.

― O que você quer de mim? ― indago.

Minha frustação só aumenta. Parece até que perdi a capacidade de escrever. Nada me vem à mente. E o branco do papel começa a me irritar a cada minuto, a cada segundo.

Não sei por quanto tempo fico assim. Acredito que já se passaram horas.

Fecho meus olhos, enquanto abraço meus joelhos, apoio meu queixo neles.

Prim, será que um dia poderei aceitar que você se foi para sempre?

― Katniss ― a voz de Peeta me chama.

Apenas abro os olhos e continuo na mesma posição.

Seus olhos azuis me interrogam. No entanto, nem uma pergunta sai de seus lábios. Ele vem até mim e se senta no chão ao meu lado. Permanecemos em silêncio por algum tempo. A presença dele de algum modo é reconfortante.

― Não sei por onde começar... ― admito, depois de um tempo, olhando para a folha em branco.

Ele apanha a folha e a analisa por um algum tempo. Coloca novamente a folha sobre a mesinha e pega um lápis. Uma suave linha surge no papel e depois outra e mais outra. Aos poucos um desenho vai ganhando forma.

É Prim. Prim como nenhuma foto poderia capturar. Lá está ela com toda a sua doçura, bondade, amor e seu sorriso. Lady lambe a sua bochecha.

As mãos de Peeta largam o lápis.

― Esta foi a primeira história que você me contou sobre Prim. Também foi um dos primeiros momentos que você me falou sobre seus sentimentos, quando a garota durona deixou que eu visse seu lado mais terno. Mesmo que ela quisesse que eu acreditasse que tudo fora feito por seu lado racional e não por seu lado sentimental...

Olho para Peeta.

― Você sempre quer esconder das pessoas seu lado sentimental. Verdadeiro ou falso?

― Verdadeiro...

Não preciso dar uma explicação a isso.

Peeta assente e me entrega a folha.

― Já sabe o que irá escrever aqui?

Apenas assinto com a cabeça e começo a escrever na folha. Escrevo sem parar, de um só fôlego. Assim que termino entrego para ele.

― Prim, assim como a flor que deu origem ao seu nome, florescia na completa tristeza da noite. Prim era forte, mas forte de que eu jamais serei. Prim era sábia, nem que vivesse mil anos teria sua sabedoria. Prim possuía o sorriso mais encantador de todos que já conheci. Não sei se algum dia irei encontrar alguém como Prim. Ela é única. Jamais me esquecerei dela e não quero esquecer. Prim fez minha vida valer a pena, quando acreditava que já não valia mais. Sua passagem por este planeta foi curto, mas as raízes que ela deixou são eternas. Por Prim tentarei viver, mesmo que respirar seja para mim uma das tarefas mais difíceis, porque sei que ela desejaria isso. Sua morte não foi em vão ― ele lê tudo em voz alta.

Peeta coloca delicadamente o papel sobre a mesinha.

― O que você escreveu aqui é verdadeiro? Você tentará viver por Prim?

Assinto com a cabeça, porque não tenho condições de falar qualquer palavra. Sinto um enorme bolo se formando em minha garganta. Sinto as lágrimas chegando.

Buttercup surge sem que eu saiba de onde veio. Ele desliza para meu colo. Agora sim, não posso impedir que as lágrimas caiam. Ele mia. E minhas lágrimas banham seu pelo.

Então, sinto os braços de Peeta me envolverem. É a primeira vez em meses que tenho um contato com alguém. É a primeira vez em meses que sinto o calor do corpo dele.

Seus braços são fortes, como sempre foram. Seu corpo é quente como sempre foi. Pela primeira vez em muitos meses me sinto segura. Deixo que minha cabeça se apoie em seu peito. Enquanto minhas lágrimas banham sua camisa.

Não sei por quanto tempo choro, não sei por quanto tempo fico nos braços de Peeta. Fico em seus braços até depois do choro ter parado há muito tempo. Permaneço imóvel, apenas escutando as batidas de seu coração. Um som muito familiar para mim. Minhas pálpebras ficam pesadas, até que torna-se impossível mantê-las abertas. Adormeço nos braços dele.

Acordo com o miado de Buttercup ao meu lado. Já é de manhã. A primeira coisa que meus olhos localizam é uma prímula do lado vazio de minha cama, em cima do travesseiro. Apanho a prímula. Há um bilhete também. Sei que é de Peeta:

Esta é a primeira flor que as prímulas noturnas deram.”

Olho para a prímula e a acaricio com muita delicadeza.

― Obrigada, Peeta ― sussurro.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Katniss e Peeta estão se reaproximando aos poucos. Sempre acreditei que a relação deles fosse um tanto lenta, que eles iriam demorar um pouco para iniciar o romance e que ele não surgiria assim de uma hora para a outra, mas aos pouquinhos.