Gostava tanto de você escrita por Daughter of Zeus


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá! Pediram pra continuar, e bem, aqui estou :)



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— Oi, Amélia - Ele avançava cautelosamente, como se tivesse perdido o direito de uma aproximação mais calorosa ao decorrer dos anos. Entrego uma Karen bastante irritada para a Irmã Rita, que se retira após um sorriso compadecido.

Vítor estava a menos de meio metro de distância; se eu esticasse os dedos, o tocaria sem problemas. Mas não fiz isso. Aquele não parecia meu irmão. Não parecia o garoto que podava o cabelo das minhas bonecas, e depois, a me ver chorar, se arrependia e aparecia com comida, ou um livro infantil novo. São as ciosas que sempre me conquistam.

Aquele era um estranho, um estranho que poderia ter me tirado daquele lugar assim que fez dezoito anos, mas não o fez. Ele me deixara lá. Agora, quando tenho dezessete anos, e falta somente um para dar o fora dali, ele volta. E fica tão imóvel quanto eu, parado na minha frente. Seus olhos azuis, tão parecidos com os meus, me encaram fixamente, com as sobrancelhas unidas, o que fazia a pele em torno da cicatriz esbranquiçar-se um pouco.

— Mia - disse Vítor - Mia - Então, repentinamente, me puxa para seus braços, apoiando o queixo no topo da minha cabeça, como fazia na maioria das recordações que tinha da infância.

Meus olhos queimavam; as lágrimas escorriam sem pudor algum. Envolvi sua cintura com os braços, surpreendendo-me ao encontrar músculos ali. Ele tinha tempo para malhar, mas não para verificar se a irmã estava viva, ao menos. Se estava bem.

Dou um passo para trás, secando os olhos na manga da blusa. Ela é de um cinza mais claro que a saia, mas minhas lágrimas tornaram o punho tão escuro quanto a parte de baixo. Vítor olha para mim, parecendo confuso. Ele está chorando também. Quando ergue uma mão na minha direção, me afasto mais um pouco.

— Você me abandonou - Acusei, em um impulso. Havia prometido a mim mesma que não tocaria nesse assunto. Ensaiei o diálogo inteiro em minha cabeça, mas de nada adiantou. Poxa, veria meu irmão após onze anos, isso não bastava? Porém, no momento, o ressentimento era tão forte quanto a saudade ou alegria do reencontro.

— Eu não tive culpa, Mia, e você sabe disso. Eles nos separaram, não fui eu quem...

— Não estou falando sobre isso - ele abaixou a cabeça como se soubesse sim sobre o que eu estava falando - Você saiu de lá com dezoito, não é? Não o vi nem uma vez desde então.

— Bom, eu levei alguns meses para descobrir onde estava...

— Meses, Vítor! - Grito, e as poucas pessoas presentes me olham espantadas.

Todas as freiras me lançam um olhar de repreensão. Cubro a boca, arrependida. Meus dedos tremem.

— Se passaram cinco anos - continuo, em um tom de voz mais controlado - Antes, eu contava os dias para o seu aniversário. Achava que apareceria assim - estalei os dedos - como num passe de mágica. Achei que sentia minha falta tanto quanto eu senti a sua. Mas adivinha, Vítor, você não veio. Você não veio.

Me joguei em um dos bancos cinzentos e frios de concreto, com os braços cruzados e tentando segurar o choro feito uma menininha birrenta.

— Mia, me ouça - Vítor senta-se ao meu lado. Não sei por que estava tão irritada, achei que havia superado isso. Vê-lo tão bem, com músculos, bonito, me deixou possessa, pensando no estado em que me encontrava - Não adiantaria em nada tirá-la daqui, se não tivesse dinheiro para nos sustentar. Mal consegui viver nos primeiros anos, estudando e trabalhando para pagar a faculdade, vivendo de pão e água. Bem, muitas vezes só água.

— Faculdade? - Foi o que mais me chamou atenção em seu pequeno discurso - Você fez uma faculdade?

Ele soltou uma risadinha, e pareceu relaxar ao meu lado. Talvez ele ache que o choque me acalmara. Coitado.

— Eles me ajudaram a passar em um vestibular. Acreditaram em mim. E veja, Mia, me formei no ano passado.

— O que você fez? - Tentei manter o tom e a expressão de grosseria, mas a curiosidade (infelizmente) estava vencendo.

Sempre nos imaginei como sem futuro desde que papai morreu. Que pessoa vive em um orfanato e estuda em uma escola pública qualquer consegue fazer uma boa faculdade?

— Direito - Vítor responde.

Digeri a informação por alguns segundos. Direito. O sonho de papai era ter um filho advogado, eu me lembrava bem. Meus olhos se encheram de lágrimas mais uma vez.

— Você conseguiu - Falei, num fiapo de voz. Ainda estava puta da vida com ele, mas a emoção era maior. Ele representava todas as crianças órfãs no mundo. Ele era um exemplo.

— É. Eu consegui. Você vai conseguir também. O que quiser. Qualquer coisa.

— Não Vítor. Não. O seu foi um caso em um milhão. É difícil sair de um orfanato - cuspi a palavra como se fosse um palavrão - para uma faculdade. Como quer que eu faça isso? Que eu erga minhas mãos aos céus e implore por um milagre? - Olhei rapidamente ao redor, me certificando de que nenhuma freira ouviu a última parte.

— Você não vai sair de um orfanato. Vai sair de casa. Da nossa casa, Mia.


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Notas finais do capítulo

Meu muito obrigada para quem está acompanhando.



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