Gostava tanto de você escrita por Daughter of Zeus


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos (poucos, mas lindos) comentários.



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Fitei-o sem esboçar nenhuma reação. Não podia acreditar no que estava ouvindo... era algum tipo de brincadeira, certamente. Uma piadinha de mau gosto. Se bem me lembro, Vítor adorava lançá-las para cima de todo mundo.

Porém, em seus olhos notava-se uma determinação resoluta. Parecia temer uma outro explosão minha, mas, mesmo assim, esticou o braço e pegou minha mão direita, que repousava no concreto gelado ao lado das minhas pernas.

— Eu voltei, Mia. Voltei por você - ele aperta meus dedos - Não pense que não senti sua falta, nem por um segundo consegui te esquecer. Seu choro quando te levaram... - ele passou um dedo pela minha bochecha, como se acariciando o fantasma das lágrimas que não estavam mais ali - nada disso deveria ter acontecido.

— Mas... - fungada - você nem mesmo veio me ver nesses cinco anos. Nem uma única vez, Vítor.

— Princesa, entenda, eu fiz isso por você.

— Como não dar sinal de vida poderia me ajudar?

— Você sentia minha falta, eu sei, tanto quanto senti a sua.

— Mas...? - Sempre tem um "mas".

— Mas deixá-la com saudades da lembrança de seu irmão mais velho é diferente de vê-la uma vez e ter de ir embora em seguida. Como disse, não podia levá-la na época. Mas agora eu estou aqui. Estou aqui para levá-la comigo, Mia.

— Não - É a minha resposta.

— Como é? - Vítor ergueu as sobrancelhas, confuso e surpreso.

— Não - repito - Eu não vou com você, Vítor.

Ele pisca, perplexo.

— O que? Por que?

— Queira ou não, tenho uma vida aqui. Você não esteve comigo quando precisei. Quando me senti sozinha. Nas vezes que fiquei doente. Você simplesmente não esteve. Ei! - exclamei, quando ele já estava abrindo a boca para contestar - Eu sei que não foi sua culpa. Mas você não esteve, e elas - apontei brandamente para as irmãs que passeavam por ali - sim. Só falta um ano para eu sair daqui sozinha. Vou trabalhar com uma coisa qualquer, e levar minha vidinha medíocre para a qual venho me preparando há anos. Agradeço pela visita - engoli as lágrimas que novamente queria escorrer - Pode ir embora agora - Aquelas palavras doeram mais que o esperado.

Vítor não esboçava nenhuma reação. Estava lá parado, piscando para mim com seus enormes olhos azuis. Dei de ombros, e, reunindo toda minha determinação, me levantei, ajeitando a roupa e tentando entrar naquele prédio frio com o máximo de dignidade possível, mas uma mão agarrou meu pulso.

— Espera. Estou te oferecendo uma oportunidade. Se não quer ir por mim, pense nos estudos. Eu guardei um dinheiro. Consigo pagar seu último ano em uma escola boa. Te ajudar nos vestibulares. Fazer uma faculdade.

É claro que naquele curto período de tempo eu já havia pensado naquilo tudo. E também em Vítor. Porcaria, ele era meu irmão! Podia ter me deixado pelo tempo que deixou (mesmo dando as desculpas esfarrapadas), mas continuava sendo o meu irmão mais velho.

— Eu abro mão de tudo isso - Digo, e meu coração se aperta, sabendo que simplesmente não era a decisão certa. Não era. Vítor estava me oferecendo um futuro. Eu recusaria a tudo aquilo mesmo?

— Mia... olha, pense. Só se dê um tempo, reflita sobre isso. Ok?

— Não adianta, eu não vou mud...

— Só pense - Ele me interrompeu, com um leve aperto em meu pulso. Não era pedir muito. Pensar sobre aquilo era algo que eu inevitavelmente faria. Certo?

Não falei nada no momento. Apenas puxei minha mão, e virei-lhe as costas.

— Até logo, Vítor - Estava implícito em minha resposta tudo o que ele precisava entender. Eu pensaria, sim. E também esperava vê-lo em breve.

Dessa vez ninguém interrompeu a minha volta ao prédio.

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— É verdade o que estão dizendo? - Pergunta Marina, sentando-se em minha cama, bem ao lado da sua, com as mãos torcendo-se no colo.

— O que estão dizendo? - Nem mesmo ergo os olhos de meu livro; já sei a resposta. E realmente não é algo que me agrade muito.

— Que você, sabe, que você vai... embora - Ela parecia triste, ou até ofendida, eu me arriscaria dizer. Nina é uma das pessoas que estou mais perto de chamar de amiga. Sua pele escura esta brilhante pelo calor que fazia ali; era o quarto mais quente, sem dúvidas. O único ventilador jazia, quebrado e esquecido, em um canto da parede descascada.

— Eu... acho que não.

— Acha?! Amélia, vou ser sincera - Ela fez uma pausa.

— Diga - Incentivei.

— Suma daqui.

— O quê?!

— Isso mesmo, sua idiota! - ela me olhava com uma indignação digna de fotografia. Não que eu tivesse uma câmera, ou algo assim, o que era uma pena. Naquele momento me seria bem útil - Seu irmão bonitão aparece querendo te levar pra longe, para uma casa, onde vai ter uma família e até mesmo um quarto só seu.

— Pode ser um apartamento, e eu poderia ter que dividir o quarto com ele...

— Shiu, sua imprestável - chiou, em sua sutileza característica - Voltando, depois de promessas de amor e felicidade eterna, você faz o que? Você diz não. Você tem merda na cabeça, menina?

Fitei seus olhos escuros, mas completamente legíveis. Eles pareciam gritar "imbecil, imbecil!". Estava sem reação, isso é verdade.

— Nina, eu... tenho minha vida aqui! As Irmãs! Você! Ele não está nem aí para mim, deve ser apenas consciência pesada, ou uma crise de amadurecimento, sei lá!

— Não importa o que é que o motiva, Mia! É a porcaria da sua vida! Do seu futuro! E você está jogando-o fora como se fosse lixo!

— Mas... e vocês? Todos, aqui? - Pergunto.

— Vou ser um pouquinho mais sincera - isso não poderia ser boa coisa, eu sabia - Se fosse eu, já estaria longe. Claro que ter amigos é importante, mas é uma oportunidade enorme e eu me permitiria totalmente nutrir esse egoísmo. Você pode encontrar outras amigas, e visitar a mim e às Irmãs sempre que quiser. Você pode. Poder é tipo a nova palavra da sua vida. Você pode tanta coisa, poderá, se for com seu irmão. Pense bem, Mia. Não desperdice tanta coisa pelo seu estúpido altruísmo.

— Dá pra calarem a boca? - gritou uma das outras quatro meninas com quem dividíamos o pequeno quarto - Tem gente tentando dormir, sabia?

— Então essa pessoa que enfie os dedos no ouvido e cante bem alto - Mandou Nina de volta, mas se levantou da minha cama, e deitou na sua própria. As luzes haviam sido apagadas - Não me decepcione, Amélia - Com isso virou-me as costas, deixando-me sozinha.

Bem, não absolutamente sozinha. Eu tinha meus pensamentos ruidosos para fazer-me companhia. Eles me inquietavam. Me tiravam o sono. E, acima de tudo, me preocupavam bastante.


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Notas finais do capítulo

Eu gosto de postar rápido porque sei como é chato você esperar dias, ou semanas, para matar sua curiosidade (tem umas fics que acompanho que ó). Beijos, até o próximo.



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