Gostava tanto de você escrita por Daughter of Zeus
Notas iniciais do capítulo
:)
— Mia - chama a Irmã Dora, a compaixão exalando da sua voz. Ela sempre parecia capaz de chorar a qualquer minuto, mas seus olhos, sob a sobrancelha franzida, eram um poço de gentileza. A Irmã Dora dava o mais próximo de carinho materno que uma menina do Lar Santa Maria podia receber.
Era a primeira vez que meu nome era chamado no domingo. Domingos são dias de visita, e eu infelizmente nunca recebi nenhuma, com exceção à uma assistente social que apareceu por lá uma semana depois da minha chegada, querendo "checar" as coisas. Mulher nojenta, aquela. Com a falta de faces novas, você se apega às do passado.
— Sim, Irmã - Me levanto da poltrona puída onde leio meu livro e deixo que a Irmã Dora me conduza pela sala de recreação, até chegarmos ao pátio.
Algumas garotas estavam lá, com famílias que não as amavam o suficiente para tomar conta delas ou amigos que não tinham meios para isso. Elas tinham idades bastante diferentes. Karen, a mais nova, chegou aqui há alguns dias. Ela tem três meses e meio, e passeia no colo de uma Irmã pelas árvores mal podadas do jardim. Aparentemente, ela será como eu. Lendo, escrevendo e segurando o choro a cada tarde de domingo, rezando pra que ela acabasse logo e que pelo menos as meninas com quem convive lembrem-se de você, e deixem as pessoas que tem a cara de pau de visitá-las após terem-nas abandonado em um canto bem remoto da memória. Eles não merecem tanto afeto.
Não sei o que pensar sobre Vítor. Sei que até os dezoito ele não teve culpa; não deixaram que me visitasse de dentro do orfanato, ou vice-versa, mas ele saiu de lá há cerca de cinco anos.
Cinco anos de abandono. Onze anos de saudade. Que clichê. Talvez a idade te deixasse mais sentimental.
— Sente-se aqui, Mia, ele está chegando, você vai ver - Irmã Dora passa os dedos pelos meus cachos bagunçados, falando como se nem ela acreditasse muito no que dizia.
Sentei-me no banco de concreto do pátio à sombra das folhas de uma árvore. Haviam se passado dez minutos. Nada.
Karen está chorando. A Irmã Rita, que é quem está cuidando dela agora, é nova por aqui, e não parece estar se dando muito bem na tarefa de acalmar do bebê.
Corro até seu lado e peço para que me entregue Karen, o que faz de bom grado. Tenho uma certo experiência com crianças; com a chegada de tantos bebês por aqui, é quase impossível não ter.
Canto baixinho enquanto envolvo-a com um balançar suave, perto da pele café com leite se suas bochechas. Ela resmunga, mas se acalma em alguns segundos.
— Obrigada, querida - a Irmã aperta meu ombro, parecendo verdadeiramente magoada - Acho que ela não gosta muito de mim.
— Imagina. Ela só...
— Oras, não era para evitar coisas como estas que te mandaram para um lar feminino? - Uma voz interrompe, assustando-me. A bebê chora novamente pelo agito; ela é meio que chacoalhada quando viro-me procurando a origem do som.
— Não, não, não - Murmuro contra os cabelos lisos e pretos de Karen, tentando acalmá-la, mas logo a garota é quase que esquecida. Lá está um homem, não muito velho, com cabelos pretos em contraste com os olhos azuis. Devia ter uns vinte e poucos anos, e...
Espere. Cabelos pretos? Olhos azuis? Quando ele se aproxima, vejo a prova de minhas suspeitas: lá está a pequena cicatriz, na testa, próxima à raiz dos cabelos, saldo de uma batida na quina da antiga mesa da cozinha. Da nossa cozinha.
— Vítor - Meu tom é um tanto mais confiante do que o esperado.
— Oi, Amélia.
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