Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 80
Se não fosse amor - Cap. 37: A difícil verdade.




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POV Sophie Trammer

Acordei e pisquei algumas vezes, tentando me adaptar a luz do sol que estava invadido o meu quarto. Matthew estava com o braço em volta do meu corpo e eu sorri lembrando da noite incrível que tivemos. Tentei tirar seu braço para poder levantar sem acordá-lo, ele gemeu algo e virou para o outro lado, sentei na cama, com muito esforço, tudo estava doendo, eu não ia conseguir ficar de pé, sentia minhas pernas fracas. Abri a gaveta que ficava ao lado da cama e peguei o vidro de remédio que eu costumava tomar quando acordava, mas parei quando lembrei do que meu médico disse. Eu tinha que parar de tomar eles para saber se o que eu estava sentindo eram sintomas ou reações aos medicamentos. Fechei o vidro, o guardando de volta na gaveta e com muito esforço coloquei a blusa de Matthew que estava no chão ao meu lado e a abotoei, tentando não gemer de dor.

“Bom dia...” Matthew falou me abraçando e eu me esquivei um pouco. “O que foi?” Engoli o nó na garganta e virei um pouco o rosto para ele sorrindo.

“Eu estou morrendo de dor nas costas, acho que dormi de mau jeito.” Falei e ele sentou atrás de mim, me deixando entre suas pernas.

“Pra sua sorte eu sei fazer massagens muito bem.” Ele colocou meu cabelo de lado e beijou meu pescoço, começando a massagear meus ombros e foi descendo pela coluna.

Fechei os olhos e comecei a sentir meus músculos relaxando, a dor ainda estava ali, mas estava um pouco mais suportável. Matthew me deitou na cama cuidado e ficou ao meu lado, fazendo carinho em meu cabelo enquanto eu passava a mão em sua barba.

“Você vai querer continuar com seu apartamento?” Perguntei.

“Não... Embora não ache que consiga uma boa oferta por ele agora, mas pretendo vender.”

“A gente tem que escolher os móveis novos da casa, eu não comprei muitas coisas.”

“Passei meses indo em lojas de decoração, sou mestre nesse assunto já.” Ele riu.

“Luke te obrigou?” Perguntei rindo também e ele assentiu. “A gente podia ir hoje comprar as coisas para o nosso quarto, pelo menos.”

“Por mim, tudo bem.” Ele beijou meu rosto. ”Vou fazer nosso café.”

“Eu te ajudo...” Sentei, mas parei ainda me sentindo dolorida.

“Melhor você ficar.” Ele sorriu e eu concordei voltando a deitar.

Liguei a televisão e fiquei assistindo ao jornal e Matthew entrou uns minutos depois com uma bandeja com café para duas pessoas, torradas, geleia e bolo. Comemos juntos e depois fomos tomar banho, nos vestimos e saímos em direção ao apartamento de Matthew para ele pegar uma roupa limpa e levar algumas para o meu apartamento.

“Acha que vai ter algo daqui que você vai querer ficar?” Perguntei sentando na cama enquanto ele se terminava de se trocar.

“Deixa eu ver...” Ele disse pensativo. “Acho que não tenho muito apego por nada daqui... Talvez podíamos aproveitar a televisão da sala e essa aqui do quarto e só.”

“Sim, essa sua televisão do quarto é enorme.” Levantei a olhando e apoiei-me na cômoda. “Eu gosto dessa cômoda também...”

“É?” Ele perguntou distraído, terminando de abotoar a calça e colocando uma blusa.

“Tem bastante espaço interno...” Olhei rapidamente pelas gavetas. “A gente pode aproveitar ela, com certeza.” Abri outra gaveta a fechando rapidamente, mas a abri de novo quando notei o que tinha dentro. Peguei os dois ingressos que ele tinha comprado para assistirmos ao ballet juntos. “Guardou isso esse tempo todo?” Os peguei e mostrei para ele, que ficou um pouco sem graça.

“Parece que sim.” Ele esboçou um sorriso e se aproximou de mim, pegando os ingressos de volta. “Um dia a gente vai assistir.” Ele me beijou rapidamente e guardou os ingressos de volta na gaveta, a fechando. “Então...” Ele deu uma voltinha rindo. “Está bom?”

“Tá lindo, pra variar.” Coloquei meus braços ao redor do seu pescoço e o beijei.

“Desse jeito a gente não vai sair de casa hoje...” Ele disse rindo entre o beijo.

“A gente saí em meia hora.” Ri também e deitamos em sua cama.

...

Estávamos em uma loja de móveis planejados e enquanto Matthew estava olhando alguns modelos de cama, eu estava vendo os sofás. A vendedora me mostrou alguns com tecidos e tamanhos diferentes.

“Eu gostei desse tom de azul...” Falei me aproximando de um sofá.

“É muito bonito mesmo e esse modelo é um sofá cama.” Ela puxou a almofadas que faziam o sofá se abrir. “E é muito confortável.” Ela disse e eu sentei nele.

“Nossa, muito confortável mesmo.” Sorri. “Só achei um pouco estreito... Temos muitos amigos, seria bom se ele fosse um pouco maior.”

“Claro, podemos fazer do tamanho que a senhorita preferir. Temos algumas poltronas também que são maravilhosas.”

“Ótimo, podemos vê-las?” Levantei e a vendedora assentiu.

Andamos mais um pouco chegando à área em que estavam as poltronas e ouvi um telefone tocando.

“Desculpe, eu vou atender rapidinho.” A vendedora falou sem graça e eu sorri.

“Imagina, sem problemas. Vou ficar dando uma geral aqui em tudo.” Ela assentiu e saiu, indo para uma mesa que estava próxima a nós e atendeu ao telefone.

Fiquei andando entre os móveis, parando mais tempo em uns que eu tinha gostado mais e quando passei a mão em um tecido de uma das poltronas, senti minha mão tremendo. Coloquei as duas mãos de frente para mim e realmente estavam tremendo involuntariamente.

“Sophie?” Ouvi a voz de Matthew me chamando, coloquei as mãos nos bolsos do meu casaco e virei em sua direção sorrindo. “Escolheu alguma coisa?” Ele se aproximou de mim, me beijando rapidamente.

“Sim, o sofá já está decidido. E você?”

“Gostei bastante de uma cama que vi, o colchão é fenomenal, quase dormi nele.” Ele riu. “Vem ver.” Ele pegou em meu braço, puxando levemente, para segurar minha mão.

“Ah, não precisa amor. Se você gostou, tá decidido.” Esbocei um sorriso e ele me olhou surpreso.

“Quem é você e o que fez com a minha Sophie?” Ele disse com diversão e eu revirei os olhos.

“Não se anime, só deixei você escolher a cama, o resto eu que decido.” O empurrei e a vendedora veio até nós.

Conversamos sobre tamanhos, cores e tecido que iríamos querer para o sofá e a cama, mas estava difícil me concentrar enquanto minhas mãos insistiam em continuar tremendo. Tentei ficar calma e controlei minha respiração, aos poucos a tremedeira foi passando, para o meu alivio. Terminamos de resolver o que estava pendente, Luke me ligou nos convidando para ir almoçar com eles e avisou que todos estariam lá.

Quando chegamos, houve aquela recepção dramática e exagerada. Afinal, desde que eu tinha voltado, era a primeira vez que Matthew e eu estávamos oficialmente juntos e eles não iam deixar de nos zoar, é óbvio. Fiquei um pouco receosa sobre Kenny, já que lembrava da reação dele um tempo atrás quando falei que tinha voltado com Matt, mas ele reagiu super bem. No fim das contas, ele entendeu que eu tinha direito de seguir minha vida com quem eu quisesse e Ethan estava seguindo a dele muito bem também.

Ethan e eu tínhamos nos encontrado um tempo antes de eu voltar, um dia antes do seu aniversário. Mantínhamos algum contato, nada demais e quando ele disse que estaria indo para Paris e eu disse que estava exatamente na mesma cidade que ele iria estar, tínhamos que nos encontrar e comemorar o seu aniversário. Eu não tinha pensado na possibilidade de acontecer alguma coisa entre nós dois, só estava feliz em poder ver um rosto conhecido depois de tanto tempo.

O esperei em um restaurante, em uma mesa ao ar livre e pedi uma água enquanto lia o cardápio distraidamente.

“Olha só você...” Olhei para cima e vi Ethan parado sorrindo. Levantei da cadeira e o abracei forte.

“Como é bom te ver!” Disse e ele me deu um beijo no rosto, segurou minha mão e me fez dar uma volta.

“E você não cansa de ser linda.” Ele disse rindo e me abraçou de novo.

Sentamos, pedimos nosso jantar e começamos a conversar sobre tudo. Na verdade ele que falava mais, eu preferia saber como ele estava do que falar sobre mim. E ele estava incrível. Falava com tanta paixão do trabalho que estava fazendo, o reconhecimento que vinha recebendo que eu fiquei animada apenas de ouvi-lo falar.

“E tem sido essa loucura desde então... Viajando direto, formando novas turmas e trabalhando muito.” Ele tomou um gole do seu drink enquanto eu ouvia atentamente.

“Nossa Ethan... Você tá fazendo tantas coisas, tá conhecendo o mundo trabalhando com o que gosta.” Sorri.

“Sim, foi um ano maravilhoso. Mas e você?” Ele disse um pouco sério. “Eu espero que você não fique brava, mas Kenny me contou o que houve entre você, o Richard e sua mãe. Mas apenas por que eu perguntei como você estava e você tinha ido embora, eu insisti em saber o motivo e ele não tinha como esconder.”

“Não... Tudo bem. Pode parecer loucura, mas isso não é mais uma questão para mim.” Esbocei um sorriso e ele cerrou os olhos.

“Você está tão diferente Sophie...” Ele segurou minha mão. “Está tudo bem?”

“Sim, tudo bem.” Assenti.

“Se está tudo bem mesmo, por que não voltou para casa ainda?”

“Você sabe porque, acabou de dizer que Kenny te contou o que houve Ethan.”

“E você acabou de dizer que isso não é mais uma questão.” Ele franziu. “Você parece tão triste, desde que te olhei notei isso, estava esperando que você se sentisse mais a vontade para a gente conversar.”

“Ah, só cansada. Eu andei muito hoje, não foi nada demais.” Dei de ombros.

“Eu te conheço Sophie, tem algo errado. E pode tentar esconder isso de Luke, Kenny e Matthew, por que está longe, mas não vai mentir na minha cara, não é?” Matthew? Ele sabe sobre Matthew?

“Eu não estou mentindo...”

“Mas está escondendo algo.” Ele me interrompeu e chamou o garçom, pedindo a conta. Fiquei calada e quando ele pagou a conta, se levantou e estendeu a mão para mim. “Vamos dar uma volta.”

“Melhor eu voltar para o hotel...”

“Vai ser meu aniversário em poucas horas, você me deve isso.” Ele riu e eu revirei os olhos, segurando sua mão e levantando.

Saímos andando pela cidade, meio sem rumo certo para ir. Apenas conversando sobre outras coisas que tinham acontecido nas nossas vidas nesse tempo em que ficamos sem nos ver. Para minha surpresa, ele perguntou sobre Matthew e o pior é que ele realmente parecia interessado e não bravo por eu ter ficado com ele depois que terminamos.

“Eu sempre soube que você ia acabar ficando com ele.” Ele disse rindo enquanto sentamos em um banco, de frente para a torre Eiffel.

“Na verdade eu não estou com ele. Ele está lá em Nova Iorque e eu aqui.”

“Posso perguntar uma coisa?”

“O que quiser Ethan...”

“Você chegou a sentir algo por mim quando estávamos juntos, ou sempre foi o Matthew e eu não tinha chances mesmo?” Ele perguntou e eu parei pensativa.

“Eu não acho que deixei de ter sentimentos pelo Matthew, mesmo quando eu e você estávamos juntos. Mas eu tinha sentimentos por você e eram verdadeiros, não vivemos uma mentira.” Falei e ele concordou sorrindo.

“Então, por tudo aquilo que nós dois vivemos, eu acho que mereço uma resposta sincera.”

“Mas a minha resposta foi sincera.” Disse confusa.

“Não estou me referindo a essa última pergunta...” O olhei confusa. “Está tudo bem?” Desviei o olhar dele impaciente. “Todos estão sentindo sua falta lá, você está sentindo falta de lá, eu tenho certeza. Porque não volta para casa? O que está acontecendo Sophie?” Fiquei um pouco calada e o olhei derrotada. Não adianta tentar desviar do assunto ou inventar algo.

Contei para Ethan tudo o que estava acontecendo, tudo o que eu tinha descoberto e consequentemente, o motivo de não ter voltado para casa. Ele, de primeiro, não quis acreditar, mas percebeu que eu estava falando sério. Parecia um pouco surreal mesmo, a gente nunca acha que essas coisas podem acontecer com alguém próximo, mas na vida real, acontece sim.

“Eu... Eu nem sei o que dizer...” Ele passou a mão nos cabelos, chorando e me fazendo chorar também. “O que você vai fazer agora?” Ele me olhou.

“Não sei se vou conseguir encarar todos eles. Como vou poder dar essa noticia?”

“Sophie...” Ele segurou minha mão. “Aquelas pessoas te amam, se importam com você, da mesma maneira que eu. Você longe só vai tornar tudo mais complicado.” O relógio de Ethan fez um barulho, avisando que era meia-noite.

“Feliz aniversário.” Falei desanimada e um pouco sem graça por ter jogado todo o meu drama em cima dele, exatamente minutos antes do seu aniversário. “E desculpe pelo presente...”

“Já ganhei melhores, realmente.” Ele disse olhando para frente, mas ainda segurando minha mão.

“Se você soubesse que esse é seu último aniversário, como gostaria de comemorar ele?” Perguntei ainda chorando, eu sequer sabia se conseguiria chegar ao meu aniversário. Ele apenas sorriu e voltou a olhar para mim.

“Passaria com as pessoas que eu amo.” Ele disse.

“Acha que eu devo voltar para casa?”

“Tenho certeza que deve. Precisa aproveitar o máximo de tempo que você tiver, precisa viver, ficar perto de quem gosta de você e deixar eles saberem que você os ama também. Sei que a ideia de se isolar parece tentadora, mas é assim que gostaria de terminar? Sozinha?” Ele franziu a testa. “Você não está sozinha, só insiste em acreditar que está.” Suspirei e voltei a olhar para a torre. O pior é que ele tinha razão... Eu iria me arrepender de não poder ter visto todos eles de novo, de abraçá-los, de deixá-los saber que eles eram importantes para mim também.

“Tudo bem... Eu vou voltar.” Falei e o olhei. “Mas eu só te peço uma coisa...”

“Sim, o que quiser, qualquer coisa que eu puder fazer.” Ele sentou se virando de frente para mim.

“Não conte nada a ninguém, por enquanto, pelo menos.” Ele me olhou confuso. “É algo que eu mesma preciso fazer, quando achar que é o momento certo.”

“Eu entendo.” Ele assentiu. “Não vou falar nada, não se preocupe com isso, precisa fazer as coisas no seu tempo.” Concordei e ele me abraçou voltando a chorar.

“Você não sabe como eu estou feliz de ter você aqui Ethan.” Disse soluçando. “Têm sido dias tão difíceis.” Ele me abraçou mais forte e ficamos assim pelos próximos minutos.

Quando nos afastamos um pouco, ele pôs sua testa na minha e me beijou. Mas não era como antigamente, definitivamente não era... Era muito diferente, eu só não sabia o motivo. Era o mesmo Ethan e eu era a mesma Sophie. Porque não funcionava mais? Nossos lábios se separaram e nós dois estávamos nos olhando meio confusos.

“Isso foi...” Ele me olhou receoso.

“Estranho.” Disse e ele esboçou um sorriso.

“Parecia que eu estava beijando uma irmã. É normal?” Eu comecei a rir, secando as minhas lágrimas.

“É porque acho que nós dois, como namorados, somos ótimos amigos.” Ele começou a rir também e colocou seu braço ao redor de mim, olhando para frente.

“É... Somos bons amigos.” Ele disse.

“Eu concordo.”

Mais alguns momentos se passaram, ainda tinha movimento de pessoas passeando pela cidade, na maioria casais de mãos dadas, que se olhavam de uma maneira muito romântica e apaixonada.

“Sabe...” Ethan disse e me olhou. “Mesmo não conseguindo nos imaginar mais como um casal, só queria que soubesse que eu te amo. De uma forma diferente que te amava antes, mas de alguma maneira, é mais forte.” Eu sorri e o olhei.

“Eu amo você também Ethan. E amo cada lembrança maravilhosa de tudo que vivemos.” Falei e ele beijou meu rosto.

Passamos o resto da noite juntos, passeando por Paris, mas apenas como amigos. Ethan parecia sempre aparecer na minha vida justo quando eu mais precisava. E acho que isso era uma das coisas que eu mais amava nele.

...

Nosso almoço seguia tranquilamente, após as varias piadinhas, finalmente sentamos para comer.

“E vamos fazer um grande jantar de comemoração, quando nos mudarmos para a casa nova.” Disse animada e Matthew me olhava tão animado quanto.

“Espera... Você disse nós?” Luke cerrou os olhos e eu sorri, segurando a mão de Matthew.

“Nós decidimos morar juntos.” Ele falou e todos bateram palmas, gritando em comemoração.

“Fico muito feliz por vocês Sophie.” Mabel disse sorridente.

“Muito obrigada.” Agradeci. “E vocês dois, não é?” Cruzei os braços, olhando para ela e Brian. “Apenas amizade colorida... Sei...” Ri com ironia.

“Ela não resistiu ao meu charme.” Brian falou vitorioso e Mabel bateu em seu braço.

“Se não me engano, alguém me implorou para que eu aceitasse o pedido de namoro...” Ele fez uma careta para ela e nós começamos a rir.

“Ah Brian, você podia dar a tal noticia tão importante que estava falando mais cedo.” Kenny disse, Brian e Mabel se entreolharam sorrindo.

“Que grande novidade?” Perguntei e Mabel mostrou sua mão, onde tinha um lindo anel.

“É sério?” Matthew perguntou surpreso.

“Muito sério, meu amigo.” Brian falou.

“Vamos nos casar!” Mabel disse e todos nós levantamos para abraçar o casal.

“Se você ousar não me por como madrinha, vai sofrer consequências muito cruéis meu rapaz.” Disse para Brian que gargalhou.

“É óbvio que você vai ser madrinha, afinal, se não fosse você eu nunca teria conhecido a Mabel.” Ele se beijaram e começamos a gritar, os zoando.

“Eu espero ser chamado como padrinho futuramente também...” Ele piscou para mim.

“Querido, eu sempre sou a madrinha, nunca a noiva.” Falei rindo.

“Isso pode mudar...” Matthew disse e eu o encarei com diversão. “Joguei no ar, apenas.” Ele começou a rir.

Casamento... Matthew pensa em casamento... Eu fiquei surpresa por não achar uma ideia assim tão ruim, na verdade eu tinha gostado da ideia. Sra. Davis... Isso soava bem, na minha opinião. Já que eu não era uma Trammer, nem fazia questão de ser uma Evans, poderia ser uma Davis.

Ficamos conversando até de tarde, estava sentada no colo de Matthew, que estava na poltrona da sala.

“O Ethan vai vir aqui próximo mês, finalmente conseguiu férias.” Kenny falou.

“Que ótimo Ken. Vamos combinar algo, todos nós.” Disse e me toquei de que isso talvez não era uma boa ideia. “Quero dizer...” Olhei sem graça para Matt e ele esboçou um sorriso.

“Por mim, tudo bem.” Ele falou e eu sorri ainda sem graça.

“Não rolou nenhum flashback na última vez que se viram?” Brian perguntou debochando e Mabel o empurrou, o olhando feio. Matthew o fuzilou com os olhos, mas Luke e Kenny pareciam estar se divertindo com a cena. Típico de Brian, comentários inapropriados...

“Não Brian.” O olhei sorrindo com ironia. “Até por que, meu coração já era do seu amigo aqui fazia tempo.”

“Isso que é resposta amor! Bate aqui!” Ele levantou a mão e eu bati nela rindo, mostrando a língua para Brian.

“Tá, mas dá ao menos pra levantar um pouco essa mão Matthew? Não tá confortável ver você apalpar a bunda da minha irmã.” Brian recriminou Matthew, que apertou minha bunda com força e Brian fez uma cara de nojo. “Na boa... To ficando enjoado...” O olhei com a sobrancelha levantada e beijei Matthew, de uma forma um tanto quanto dramática e com mais língua do que costumávamos usar, com toda certeza. “Eca!” Brian gritou.

“Deixa os dois em paz, até parece que você não pega na minha bunda!” Ouvi a voz de Mabel e parei de beijar Matthew.

“Brian pegando na bunda da Mabel?!” Falei para Matthew e ele franziu a testa.

“Eca!” Falamos os dois ao mesmo tempo e começamos a rir.

Luke estava contando sobre um grande trabalho que ele iria fazer e todos nós ouvíamos atentamente, mas comecei a me sentir um pouco zonza e enjoada.

“Eu vou ao banheiro.” Sussurrei para Matthew, para não interromper Luke e ele assentiu.

Levantei e fui o mais rápido que consegui. Liguei a torneira e passei um pouco de água no rosto e no pescoço, mas o enjoo não passava e eu senti que ia vomitar. Abaixei-me no vaso sanitário, levantando a tampa e vomitei, mas não era como das outras vezes. Quando abri os olhos, fiquei perplexa, tinha vomitado sangue e isso nunca tinha acontecido. Olhei-me no espelho assustada e limpei a boca, tentando me recompor. Depois de alguns minutos e de deixar o banheiro intacto, voltei para a sala, sentando no braço da poltrona e tentando disfarçar o meu estado de pânico atual. Já faziam 24hrs que eu não estava tomando os medicamentos, não podiam ser reações a ele, só significava uma coisa, eu estava piorando.

“Tudo bem?” Matthew pôs a mão em minha cintura.

“Sim, eu estava no telefone com a corretora, por isso a demora.” Esbocei um sorriso. “Podemos ir para casa? Eu estou um caco de cansada.”

“Claro, como quiser.” Ele beijou meu braço e fomos nos despedir de todos.

Chegamos em casa e eu troquei de roupa, colocando uma calça de moletom e camiseta. Matthew colocou mais ração para Baby e Cristal e eu fui para o quarto. Precisava dar um jeito de ir ao hospital falar com meu médico. Eu não era nenhuma especialista no assunto, mas 24hrs deveria ser um tempo suficiente para a medicação sair do meu organismo e se eu estava certa, precisava fazer todos os exames de novo para saber em que estado eu me encontrava agora.

“Está tão calada...” Matthew falou e dei um pulo assustada, não percebi ele entrando no quarto.

“É que tem tanta coisa para fazer ainda sobre a casa, eu fico só repassando na minha cabeça o que falta.” Sorri e ele sentou ao meu lado.

“Vai ser uma bela casa.” Ele beijou minha testa e sentou de frente para mim.

“Vai sim.” Segurei sua mão. “Nosso lar.” Disse e ele sorriu, vindo me beijar.

Aproximei-me mais dele, sentando em seu colo, uma perna de cada lado do seu corpo enquanto ele passava as mãos nas minhas costas e pernas, sem nunca parar de me beijar e quando o fez, desceu pelo meu pescoço e eu mordi sua orelha. Levantei meu olhar e me vi pelo reflexo do espelho da cômoda que ficava em minha frente, mas minha visão começou a ficar embaçada e eu pisquei algumas vezes tentando recuperá-la, sem obter muito sucesso. Senti uma pontada forte em minha cabeça e cravei as unhas no ombro de Matthew. Tudo ficou escuro depois disso.

POV Matthew Davis

“Sophie?” Falei percebendo que tinha algo errado, mas ela não respondeu, continuou imóvel. “Sophie?” Virei seu rosto em minha direção, mas seus olhos estavam fechados. “Merda!”

A deitei com cuidado na cama e saí correndo atrás do meu celular, que havia deixado na sala. Liguei para Black, por que ele tinha nos ajudado quando ela havia desmaiado no outro dia na empresa e assim que ele atendeu, comecei a falar exasperado. Black pediu que eu tivesse calma e verificasse a pulsação dela, sentei ao seu lado e fiz tudo como ele estava me instruindo, parecia normal, era como se ela estivesse dormindo. Black então falou para pegar o álcool e fazer como ele fez da outra vez. Saí em busca de álcool e quando enfim achei, voltei para o quarto e peguei um pouco de algodão, passando próximo ao seu nariz e levantando sua cabeça. Coloquei o celular no viva-voz e o pus em cima de minha perna enquanto continuava falando com Black. Alguns poucos momentos depois, Sophie começou a reagir e eu senti uma onda de alivio passar por mim.

“Ela está acordando!” Disse para Black.

“Ótimo, mas a deixe deitada ainda por um tempo, ela pode estar tonta ainda.” Ele falou calmamente, com uma tranquilidade que eu invejava. “E Matthew...” Ele parou por um minuto. “Ela precisa ir ao hospital, não é normal esses desmaios.” Tirei o celular do viva-voz e ela olhava para mim agora confusa.

“Eu sei, vou cuidar disso Black e muito obrigado por tudo.”

“Disponha Matthew, qualquer coisa, me ligue, por favor.” Ele disse.

“Eu ligo, obrigado mais uma vez.” Falei e desliguei o telefone. “Como está se sentindo?” Perguntei para ela.

“Como se tivesse com a pior ressaca do mundo.” Ela sussurrou colocando as mãos na cabeça.

“Eu não quis insistir nesse assunto por agora, esperava que você tomasse a atitude de ter a decência de me contar o que está acontecendo. Acho que agora é uma boa oportunidade.” Disse e ela desviou o olhar de mim, em silêncio. “Ia contar para Luke aquela noite, não é?” Ela continuou calada e o sangue me subiu. “Droga Sophie!” Gritei ficando de pé e ela me olhou assustada. “Deveríamos ser um casal, não deveríamos? O que aconteceu com ‘Meus problemas são seus’? Por que não consegue ser honesta comigo?” Falei com raiva. Ela abriu a boca para tentar argumentar, mas desistiu. “Você está escolhendo passar por isso sozinha, eu não escolhi isso!”

“Matthew, é... É complicado.” Ela falou.

“Sim, é muito complicado querer ajudar quem não quer ser ajudada.”

“Você não pode me ajudar, essa é a questão!”

“A questão aqui Sophie, é se você algum dia vai ter a capacidade de confiar nas pessoas. Eu não vou mais te pedir nada, se você não quer me contar o que está acontecendo, porque raios passou tanto tempo longe e porque vive passando mal, eu não posso fazer nada, você não me dá escolhas.” Saí batendo a porta do quarto e sentei no chão tentando me acalmar. Peguei meu celular de novo e liguei para Marissa.

“Olha quem resolveu aparecer!” Ela atendeu animada. “Sua sobrinha está muito magoada com o tio ausente dela e por acaso, a mãe dela também.”

“Desculpe Marissa, os últimos dias estão loucos.” Falei desanimado.

“O que aconteceu Matt?” Ela perguntou preocupada.

“Eu estou surtando Marissa e não sei com quem mais poderia falar sobre isso se não com você. Tem um tempo para conversar agora?”

“Pra você é claro que tenho, me conte tudo.”

Comecei contando sobre a volta de Sophie e de como estávamos tentando nos entender agora, mas que isso estava sendo impossível devido ao hábito que ela havia criado de esconder coisas. Falei como ela vinha passando mal há alguns dias e que não contava o que estava acontecendo, mas que eu sabia que era algo sério e queria tentar ajudar de alguma forma, mas ela não permitia isso.

“Nossa Matt...” Ela suspirou.

“Pois é... Nossa.”

“Ela está com medo, sabe disso não é?” Apenas fiquei calado. “Ela deve estar precisando de você mais do que nunca agora.”

“Ela está me afastando Marissa.”

“E é isso que algumas pessoas fazem quando precisam de ajuda. Ela não deveria ter que lidar com isso agora, deveria estar se preocupando sobre o que está acontecendo de verdade com ela. Não deve ser nada fácil para ela, se fosse, ela já teria aberto o jogo com vocês.”

“Mas então o que eu faço? Finjo que está tudo bem?”

“Apenas a deixe saber que você está lá para ela, independente de qualquer coisa.”

“Eu quero estar com ela, mas é difícil para mim também não saber o que está acontecendo.”

“Ela vai se abrir, não se preocupe quanto a isso. Eu sei que ela gosta de você e você, obviamente, está caído de amores por ela. Mas pelo que você me fala, ela é naturalmente uma pessoa fechada, infelizmente as pessoas não são sempre tão sinceras e honesta como gostaríamos.”

“É, ela nunca foi muito de desabafar... E isso me irrita profundamente. Não tenho ideia do que se passa nessa cabeça dura dela.”

“Mas mesmo assim, você ainda insiste nela, então pare de ser cabeça dura também e vá dar algum apoio para ela.”

Marissa tinha razão. Mesmo que eu ficasse com muita raiva por toda essa situação, era claro que ela estava precisando de apoio. Terminei de conversar com Marissa e aquilo tinha me acalmado, ela tinha esse dom. Não daria para imaginar ela seguindo outra carreira que não psicologia, ela sempre era a mediadora dos conflitos que tínhamos em casa.

Voltei para dentro do quarto, Sophie ainda estava deitada, de bruços e a vi soluçando. Deitei ao seu lado, colocando o braço ao redor de sua cintura e fiquei a ouvindo chorar, me sentindo a pessoa mais hipotente do mundo por não poder fazer nada.

Eu não sabia quanto tempo tinha passado quando ela acalmou sua respiração. Levantei-me da cama e fui para o outro lado, me abaixando de frente para ela e passei a mão em seus cabelos. Seus olhos estavam vermelhos e inchados de chorar e eu beijei sua testa.

“Vem, vamos tomar um banho.” A peguei no colo e entrei no banheiro, a sentando na pia enquanto liguei a torneira enchendo a banheira de água.

A desci de lá e tirei sua roupa, depois tirei a minha e segurei sua mão. Entrei primeiro, sentando com as costas apoiadas na beira da banheira. Ela entrou depois, com minha ajuda e sentou de costas para mim, apoiando suas costas em meu corpo envolvi meus braços nela, apoiando meu queixo em seu ombro.

“Acho que consegui aprender a conviver com essa sua barba de mendigo.” Ela falou e eu sorri.

“Não é tão ruim depois que você se acostuma.” Ficamos em silêncio mais um pouco.

“Eu quero que você chame o Luke.”

“Para quê?”

“Quero conversar com vocês dois.” Respirei aliviado e beijei seu ombro.

Quando saímos do banho, ela estava sentada de roupão na cama, penteando os cabelos e eu me vesti. Liguei para Luke e pedi que ele viesse até o apartamento sozinho e expliquei resumidamente que Sophie não estava muito bem de saúde e precisava conversar com nós dois. Ele ficou preocupado, perguntando a todo tempo o que estava acontecendo, mas eu expliquei que nem eu sabia direito o que era, mas pedi que ele viesse logo.

“Luke está vindo.” Voltei para o quarto e ela continuou penteando o cabelo, cabisbaixa.

“Eu só vou me trocar, pode esperar na sala?” Eu assenti e saí fechando a porta, parecia que ela queria alguma privacidade.

Fiquei brincando com Baby e Cristal, jogando os brinquedos deles para que fossem buscar, em uma tentativa de não enfartar até Luke chegar e Sophie vir falar conosco. Luke entrou me olhando receoso e sentou ao meu lado, em silêncio. Estávamos inquietos e Sophie parecia que não ia aparecer nunca. Quando ia levantar para ir atrás dela, ouvi a porta abrindo e quando olhei para trás, ela veio andando em nossa direção. De shorts, camisa e cabelos soltos, ainda molhados. Ela carregava dois envelopes na mão, um era um pouco maior que o outro e sentou na poltrona de frente para nós.

“O que está havendo Sophie?” Luke perguntou exasperado e ela o entregou o envelope menor. Ele abriu e começou a ler rapidamente, com uma expressão de confusão. “O que é isso?” Ele olhou para ela incrédulo e eu peguei o papel de sua mão.

“Um testamento?” A olhei sem entender nada.

No documento estava discriminado que as ações da empresa ficariam para mim e que Luke e Brian deveriam receber um determinado valor todo mês. A presidência ficaria para mim e a vice-presidência para Brian e que deveria continuar assim até quando nós dois quiséssemos. O condomínio que ela morava, estava no nome de Luke agora e a casa, a nossa casa, perante a lei, seria somente minha.

“Porque uma pessoa com 30 anos de idade faria um testamento?” Luke perguntou e eu olhei para Sophie, esperando sua resposta.

“Uma pessoa que não tem mais muito tempo de vida.” Ela entregou para mim o outro envelope, onde tinha uma radiografia. “É um tumor. Está me matando aos poucos.”

Luke e eu nos entreolhamos chocados. Não, isso não pode ser verdade...


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