Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 78
Se não fosse amor - Cap. 35: Desistindo de desistir.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!!!
POV da Sophie, já estava com saudades dela haha
Espero que gostem!
Beijão :*



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POV Sophie Trammer

Matthew estava dormindo na minha cama em meu apartamento e eu estava olhando ele dormir. Eu sei, eu sei... É infantil, coisa de adolescente, mas o que eu podia fazer? Não conseguia parar de sorrir enquanto o via tão tranquilo e sereno ao meu lado. Que loucura tinham sido os últimos meses... Eu só queria voltar para casa, só pensava em rever todos eles e principalmente Matt. Tudo tinha sido muito solitário, até Baby se sentia sozinho, ao ponto de eu precisar arranjar companhia para ele, na esperança de que ele ficasse um pouco mais animado, pelo menos. E tinha funcionado. Cristal era a cachorrinha mais fofa desse mundo, parecia um floquinho de neve quando veio morar comigo. Ela não era mais filhote, mas ainda não tinha atingido o tamanho total que ela podia como estava agora, ela era apenas um pouco menor que Baby e eu acha lindo eles dois juntos.

Viver com um cachorro de grande porte em um apartamento, era difícil. Com dois, era o próprio inferno. Eu não podia cometer essa maldade de deixar eles dois trancados daquela forma em casa, mesmo o apartamento tendo um bom espaço, ainda não era suficiente para eles. Eles queriam correr, brincar... E qualquer movimento não calculado, eles quebravam alguma coisa minha. Foi quando decidi procurar uma casa. Eu não tinha nada muito certo sobre o que iria querer. Apenas algo que tivesse bastante espaço, talvez uma sala grande e eu não colocaria móveis, deixaria para Baby e Cristal aproveitarem. Vi duas casas. Apenas duas. Uma ficava um pouco longe do prédio da Trammer’s e consequentemente, longe do meu condomínio e de Luke. Era uma boa casa no fim das contas. Não era pequena, mas a localização não me deixou animada, afinal eu queria voltar logo para Nova Iorque para aproveitar o tempo com meus amigos e morando longe deles, complicava um pouco.

“Essa é a mais próxima do meu condomínio?” Perguntei para Beck, a corretora que estava me ajudando nessa busca.

“Na sua faixa de preço, sim.” Ela respondeu e eu continuei olhando ao redor da casa. “É uma bela casa e está com uma ótima oferta, um pouco menos de 5 milhões.”

“Eu sei, mas... Não é essa.” A olhei. “Não tem nada mais próximo de onde moro?”

“Eu tenho uma que ainda não colocamos nos anúncios para vender, os antigos donos entraram em contato conosco tem poucos dias, eles não moram na cidade e a casa estava sempre vazia, acharam melhor vender.”

“Fica mais perto do meu apartamento?”

“Sim, mas o preço é um pouco mais do que estava nos nossos planos iniciais.” Ela falou receosa e eu sorri colocando os óculos escuros de volta.

“Como se isso fosse problema...” Falei saindo da casa e voltamos para o carro.

Ao chegar ao condomínio, já fiquei maravilhada. Era um espaço enorme, muitas árvores, uma brisa incrível. As casas então, uma mais linda que a outra. Paramos em frente a nossa pretendente a nova casa e quando entrei, fiquei sem palavras. Demos uma olhada em tudo, rapidamente e paramos no jardim. E que jardim...

“Pelo sorriso em seu rosto, posso deduzir então que terminamos a busca?” Beck perguntou.

“Ainda não.” A olhei. “Preciso pedir a opinião de pessoas muito importantes primeiro...”

“Seus familiares?”

“Meus cachorros.” Falei e ela me olhou confusa. “Vou trazer eles dois para cá e se eles gostarem, eu assino o contrato amanhã mesmo.”

“Então os seus cachorros que irão decidir se você vai se mudar para essa casa?” Beck disse com diversão.

“É por causa deles que eu estou me mudando, nada mais junto.” Dei de ombros e caminhei para a saída da casa.

Eu tinha ido lá com Baby e Cristal e eles tinham amado, fazia tempo que eu não os via assim tão animados, então eu não tinha mais dúvidas... Ali ia ser meu novo lar. Matthew também tinha aprovado o imóvel, o que me fez ficar mais contente ainda e eu tinha muito o que agradecer a aquele jardim, já que foi algo mágico nele que fez com que Matt abaixasse os muros ao redor dele e me deixasse aproximar dele de vez. Ele me disse enquanto admirávamos, sentados no chão, de mãos dadas, que era difícil tentar deixar que eu entrasse em sua vida de novo, por que ele nunca sabia se eu ia querer ir embora outra vez e me doeu não poder dizer que eu jamais, em hipótese alguma, ia querer ter passado tanto tempo longe e que eu não ia mais querer ir embora, mas existiam coisas fora do meu alcance, coisas que eu não podia controlar. Eu só pude me desculpar e pedir que esquecêssemos todos esses dramas pelo menos por aquele momento. Agora eu estava aqui com ele, ao meu lado, no meu futuro ex apartamento, depois de fazer amor várias vezes ao longo da noite. Era estranho falar ‘fazer amor’, mas nada iria conseguir descrever aquele momento melhor.

Enquanto continuava o olhando dormir e tentando ao máximo me controlar para não pular em cima dele e beijar cada centímetro do seu corpo, mesmo eu ainda achando que ele estava parecendo um mendigo com aquele cabelo e a barba, senti meu nariz escorrendo e quando passei a mão, vi sangue. Ah não, não, de novo não... Levantei rapidamente indo para o banheiro e tranquei a porta, olhei-me no espelho e se aquela fosse a primeira vez que aquilo acontecia, eu poderia até estar assustada, mas não era. Abaixei a tampa do vaso sanitário e sentei com a cabeça levantada, como haviam me instruído no hospital meses atrás e fiquei esperando o sangue parar.

“Sophie?” Ouvi a voz de Matthew. Merda, merda, merda...

“O que foi?” Perguntei.

“Está tudo bem?” Sua voz estava mais próximo da porta do banheiro agora.

“Sim, tudo bem. Porque?”

“Eu acho que tem sangue no lençol. O que aconteceu? Se machucou?”

“Não... Eu... Ér...” Gaguejei tentando pensar em uma desculpa. “Eu sou mulher Matthew, vou sangrar uma vez por mês e é completamente normal. Tire os lençóis da cama, eu já vou trocá-los.”

“Estamos no começo do mês.” Ele disse como se isso devesse significar algo.

“E o que é que tem?”

“Seu ciclo vem no fim do mês, não no começo.” Ele falou e eu olhei incrédula para a porta.

“É realmente muito esquisito que você saiba quando eu menstruo... Sério.” Falei e ele tentou abrir a porta.

“Mania dos infernos essa de ficar trancando essa porta. Abre logo, quero saber o que houve.”

“Não houve nada, eu não posso ter 5min de paz no banheiro? Meu Deus!” Bufei.

“Não quando eu sei que você está sangrando por algum motivo que eu não tenho ideia do que seja!” Ele gritou.

“Só me dá uns minutos, está tudo bem...” Falei tentando o acalmar, mas ele não disse nada, tudo ficou silencioso. Ok, talvez ele tenha decidido respeitar o meu pedido.

Ouvi um barulho de chaves e ele começou a tentar destrancar a porta.

“O que está fazendo?” Falei e abaixei a cabeça perplexa, o que fez meu nariz voltar a sangrar e eu comecei a limpar o estrago com papel higiênico, em uma tentativa de amenizar o impacto de Matthew a me ver daquele jeito, mas pela cara de pânico que ele fez quando abriu a porta e me viu naquela situação, acho que não tinha funcionado.

“Pelo amor de Deus!” Ele disse chocado se abaixando ao meu lado. “Como isso aconteceu?”

“É normal...” Falei calmamente e ele se esticou pegando uma toalha e a molhando um pouco na pia e passando em meu rosto.

“Não, não é normal. Definitivamente não é normal!”

“Deve ter sido algum vaso que estourou, fica calmo.” Disse. “Olha, se quer ajudar, pegue um pouco de gelo, vai ajudar a coagular o sangue.” Ele saiu correndo e voltou com uma compressa de gelo e eu coloquei em cima do meu nariz, ainda com a cabeça levantada. Matthew apenas ficou me encarando, com os braços cruzados e calado. “O que foi?” Perguntei.

“Desmaios, vômitos, sangramentos...” Ele disse e eu revirei os olhos.

“Eu expliquei o motivo de cada um ter acontecido, é só uma terrível coincidência que tenham acontecido assim, uma atrás da outra.”

“Não acredito em uma palavra sequer que saí da sua boca.” Ele falou sério e se abaixou de novo. “Eu só vou perguntar uma vez e é melhor que você me dê a resposta certa.” Ele disse entre os dentes. “Está acontecendo ou aconteceu algo que eu deva saber?” Abri a boca para responder, mas algo me impedia de falar. Medo, receio, covardia... Talvez um pouco dos três.

“Eu já disse o que aconteceu.” Falei e ele suspirou derrotado. Ele sabia que eu não estava falando a verdade.

“Ok... Vão ser assim as coisas entre nós então?” Ele se levantou.

“Matt, não faça perguntas difíceis...” Falei com pesar e ele começou a andar para fora do banheiro. “Aonde você vai?”

“Pra casa.” Ele disse secamente.

“Mas... E nós? Nós dois estávamos...” Falei e ele me olhou com raiva.

“Não vou ficar aqui parado vendo você se matar por que se recusa a dizer o que está acontecendo.” Ele bateu a porta e saiu.

Apenas alguns poucos minutos depois, o sangramento parou e quando levantei e me olhei no espelho, estava com algumas manchas de sangue nas mãos e com os olhos vermelhos por causa das lágrimas que caiam agora.

Matthew não me ligou o resto do dia e também não ligou no dia seguinte. Quando Luke o ligou convidando para jantar com todos nós, ele inventou uma desculpa qualquer e não apareceu. Quando fui questionada sobre o porquê dele estar parecendo nos evitar, apenas me fingi de desentendida. Eu me sentia cansada o tempo todo, enjoada, as dores de cabeça estavam mais fortes do que nunca e eu percebi que não dava para adiar mais, precisava ir ao médico.

Saí cedo de casa e fui para o hospital que o meu antigo médico, que cuidou de mim quando eu estava fora, me recomendou. Ele me disse para procurar por Ian Hayden, um especialista no meu problema e assim o fiz. Dr. Hayden era um homem grisalho, com os seus 40 e poucos anos, um pouco maior que eu e foi muito gentil comigo, principalmente quando disse de quem vinha indicada. Após conversamos e muito sobre as minhas possibilidades, senti-me mais desanimada do que nunca.

“Não costumava acontecer com tanta frequência, isso me preocupa. Achei que teria mais tempo, mas...” Me calei derrotada.

“Infelizmente a esse ponto, não saberíamos dizer o que é reação aos remédios e o que são sintomas mesmo. Esse é o problema de tratamentos experimentais, não sabemos qual vai ser a reação a ele.”

“E o que eu faço agora?” Perguntei.

“Suspenda os medicamentos, por pelo menos 15 dias. Vamos acompanhar e ver se o que você está sentindo é reação aos medicamentos ou não.”

Conversei com ele por mais alguns minutos, esclarecendo minhas dúvidas sobre como iria ficar sem a medicação, se isso não ia piorar mais ainda a minha situação e era tudo muito desanimador. Só bastou sair do consultório de Dr. Hayden para cair em lágrimas de novo, não via como isso poderia acabar de uma forma que não fosse desastrosa e não sabia como esse dia poderia ficar pior.

“Sophie?” Ouvi alguém me chamando e quando virei, Eleanor estava vindo em minha direção sorrindo, mas o seu sorriso sumiu quando percebeu que eu estava chorando. “Está tudo bem?” Ela perguntou preocupada.

“Sim...” Limpei a garganta. “Nada demais. Mas você? Aqui?”

“Eu trabalho nesse hospital.” Ela esboçou um sorriso e eu assenti. “Podemos conversar?”

“Sabe o que é? Eu estou muito ocupada hoje, com muitas coisas para resolver...” Falei tentando me livrar dela o mais rápido possível.

“Vai ser rápido, eu prometo.” Ela disse e eu não tinha o que fazer, apenas concordei. “Vamos tomar um café.” Ela sorriu e eu a segui até o restaurante do hospital.

Sentamos de frente uma para a outra e eu não sabia se estava conseguindo disfarçar o quão desconfortável eu estava naquela situação.

“Bom, eu acredito que você esteja curiosa para saber o que eu quero falar com você.” Eleanor falou.

“Eu diria que mais receosa do que curiosa.” Disse e ela riu.

“Matthew me contou sobre vocês dois quando nos conhecemos.”

“E vejo que isso não é uma questão para você...” Disse surpresa.

“De forma alguma.” Ela sorriu. “Eu sou divorciada, tenho PhD em relacionamentos complicados.”

“Bom pra você.” Tentei sorrir também. “Mas se você já sabe de tudo, por que quis conversar comigo?”

“Ele deve ter contado sobre mim, eu acredito.”

“Sim, ele falou sobre você.”

“A gente se conheceu de uma forma muito inusitada, mas nos demos bem desde o começo... Ele é um ótimo companheiro.”

“Eu sei bem...” Falei com ironia e ela ficou sem graça.

“Claro, imagino que você saiba de todas as qualidades dele. Mas, como eu disse, sou divorciada e nos últimos meses do meu casamento, meu ex marido praticamente ignorava a minha existência, eu não tinha com quem falar, me sentia abandonada. Quando Matt e eu nos conhecemos...” Ela sorriu e eu percebi o carinho que ela tinha ao falar dele. “Ele me ouvia sabe? Se importava com o que eu falava e eu achei isso incrível.” Ela parou por um momento. “Eu nunca exigi nada dele, nem ele muito menos exigiu algo de mim. Nós estávamos nos sentido sozinhos, ele estava sentindo sua falta e eu estava tentando superar a falta do meu ex marido na minha vida, mas nunca imaginamos que poderíamos ter um futuro juntos.”

“Onde está querendo chegar?” Perguntei confusa.

“Eu imagino que com você aqui de novo, queira se resolver com ele e eu só queria te dizer que não vou atrapalhar vocês dois, muito pelo contrário. Eu acho que mais como um companheiro, eu vou sentir falta dele como o amigo que ele se tornou para mim, da sua companhia. Mas ele merece ser feliz e eu sei que a felicidade dele é com você.” Uau...

“Você parece ser uma pessoa boa, Eleanor.” Disse sinceramente. Era bom ver que Matthew tinha aperfeiçoado o gosto para mulheres.

“Eu gosto de acreditar que eu sou.” Ela sorriu.

“Eu não sei se eu posso confiar em você ou não, por que eu não te conheço, não sei muito sobre você. Mas eu só preciso que você saiba de uma coisa.” A olhei séria. “Eu o amo. Muito. De uma forma que não achei que era possível, o amo mais do que a mim, na maioria das vezes e eu sei que ele sente o mesmo por mim.” Eleanor esboçou um sorriso e assentiu.

“Eu entendo e...”

“Eu ainda não acabei.” A interrompi. “Eu não quero que você desista dele.”

“O quê?” Ela falou incrédula. “Mas você disse...”

“Eu sei. Eu disse que eu o amo, mas Eleanor, não posso ser egoísta. Ele merece mais.”

“Ele merece alguém que o ama, como você ama.”

“O Matthew sempre foi o tipo que cara que sonhou em construir uma família um dia. Eu não vou poder fazer isso.”

“Mas por quê?” Ela riu confusa. “Você é jovem, tem uma vida pela frente e muito a viver ainda!” Meus olhos encheram de lágrimas, mas eu engoli o choro.

“Porque não posso fazer ele feliz.” Desviei o olhar dela. “Mas você pode. Vocês podem se conhecer melhor, tentar algo juntos...”

“Desculpe Sophie, mas nada disso está fazendo sentido para mim. Quer que eu fique com o cara por quem você se diz apaixonada? Não posso fazer isso, não é justo com vocês e muito menos comigo. Sempre soube dos sentimentos dele por você, como vou ficar com alguém que eu sei que ama outra pessoa?”

“Ele começou a se envolver com você quando eu estava fora, não foi? Não é você que precisa se afastar, sou eu que preciso.”

“O que está acontecendo com você? Porque está desistindo assim dele?”

“Eu já disse. O amo, mas não posso fazer ele feliz.” Suspirei. “Faça um favor a mim, eu sei que não me deve nada, mas eu peço, eu imploro a você. Saia com ele, o chame para viajar, passar uns dias fora com você. Vá hoje se puder, não perca tempo, ele está chateado comigo, vai ser ainda mais fácil.” Levantei e Eleanor continuou me olhando perplexa. “Por favor, faça isso. E desculpe, eu preciso ir.” Falei pegando minha bolsa e acenei indo embora.

Entrei no carro e desabei a chorar. Não era justo isso tudo estar acontecendo comigo, principalmente depois de tudo que eu já havia passado... Era como se eu nunca fosse conseguir ter a paz de viver minha vida. Os últimos meses foram uma tortura, eu sentia medo todos os dias. Medo do que podia acontecer, de não conseguir sequer voltar para casa. Mas meus planos tinham ido por água abaixo. Achei que iria conseguir ficar pelo menos um ano bem, mas até Brian, que não morava comigo, tinha me dito para ir ao médico por que eu não aparentava estar bem.

Saí dirigindo sem saber muito para onde queria ir, eu devia ir para casa, mas Luke e Kenny provavelmente estariam lá ainda fazendo companhia para Baby e Cristal e eu não queria explicar porque estava chorando. Rodei um pouco pela cidade e parei em frente a uma livraria que eu costumava ir quando era criança, com meu avô. Estacionei e desci, tive muitas lembranças boas daquela época, era tudo tão mais simples quando eu era criança e não entendia ainda o que acontecia ao meu redor. O local não tinha mudado muito com o passar dos anos, estava maior e mais decorado, mas no geral ele estava bem parecido como era antigamente, havia umas mesas um pouco mais ao fundo, para as crianças brincarem de colorir e estava cheio. Passeei um pouco pelas prateleiras e parei na sessão que eu mais gostava de ler quando era criança, os clássicos de ballet. Sorri involuntariamente, por todas as recordações que eu tive, peguei o meu preferido e comecei a folhear as páginas e quando levantei o olhar, vi uma pessoa na frente me encarando, tão em choque quanto eu estava.

“Connor?” Falei e ele sorriu se aproximando de mim.

“Quanto tempo!” Ele me abraçou rapidamente.

“É... Bastante tempo.”

“Como você está?”

“Estou bem, Connor. E você?”

“Ótimo.” Ele sorriu. “O que estava lendo?” Ele se aproximou um pouco mais tentando ver qual livro eu segurava.

“Nada que você vá gostar.” Disse rindo fechando o livro e ele riu também.

“Pode ser algo que eu já tinha lido...”

“Eu duvido muito.”

“Porque não tenta?” Ele falou e eu suspirei derrotada.

“O lago dos cisnes.” Ele tentou conter o riso. “Já leu?”

“Nunca.” Ele admitiu ainda rindo.

“Foi o primeiro ballet que dancei...” Falei pensativa observando a capa dele. Era o ballet que eu ia ver com Matthew antes de ir embora, também...

“Claro! Eu lembro. Você me convidou!”

“E você não foi...” Sorri com sarcasmo e ele ficou sem graça.

“E se conta, me arrependo de não ter ido, deve ter sido incrível. Do que fala essa história mesmo?”

“Apenas mais uma trágica história de amor...” Dei de ombros e ele se encostou na parede.

“Por favor, conte.” Ele sorriu e eu revirei os olhos.

“Fala sobre uma menina que é transformada em um cisne por um terrível feiticeiro e a única coisa que pode quebrar esse tal feitiço, é o amor verdadeiro.” Disse e Connor me ouvia com atenção. “Mas o problema é que o príncipe dela acaba se apaixonando pela garota errada...”

“Mas e o que acontece então?”

“Ela se mata.” Disse e ele sorriu surpreso.

“Ok, bem trágico mesmo...”

“Acho que a morte não é a tragédia da coisa toda, é o fato de você se tornar tão dependente de alguém a ponto de sua vida ficar nas mãos de outra pessoa. Você deveria ter que confiar só em você mesmo.”

“Mas não é isso que se trata o amor? Ser dependente a ponto de não se imaginar vivendo sem a outra pessoa?”

“Eu não sei, isso não soa muito com amor...” Esbocei um riso. “Mas, o que eu quero falando sobre o amor, não é? Ele sempre costuma sair correndo de mim...” Connor abriu a boca para responder, mas foi interrompido por uma garotinha que veio correndo e agarrou sua perna.

“Papai, papai!” Ela falou rindo e ele se abaixou ficando na sua altura. “Olha, eu fiz para você!” A menininha o entregou uma folha com vários desenhos e ele sorriu.

“A minha pequena artista!” Ele beijou seu rosto. “Já fez um para a mamãe? Ela vai gostar de ganhar um também.” A menininha assentiu sorrindo e o beijou, voltando correndo para onde estava.

“Acho que faz muito tempo que não nos vemos mesmo... Já deu tempo ter uma filha desse tamanho?” Falei confusa e ele riu.

“Eu conheci a mãe da Mel tem mais de um ano, o pai dela faleceu quando ela era um bebê. Vamos nos casar próximo ano.”

“Nossa Connor... Que bom para você, fico feliz, de verdade.”

“Obrigado.” Ele assentiu.

“E sua noiva está aqui?” Disse receosa, não ia gostar de ver meu noivo conversando com uma estranha.

“Não, está no dentista.” Ele riu. “Fica aqui perto, viemos aqui para passar o tempo, a Mel adora esse lugar.”

“Confesso que estava estranhando mesmo te ver em uma livraria...” Disse com diversão.

“Não posso ser um homem culto agora?” Ele disse se fingindo de ofendido.

“Acho um pouco difícil... Certos hábitos nunca mudam.”

“Tudo bem, você tem razão.” Ele levantou as mãos em forma de rendição e eu olhei para a mesa onde Mel estava sentada, concentrada, desenhando.

“Ela é linda.” Disse enquanto a observava e ele ficou ao meu lado, a olhando também.

“É a alegria da minha vida. Nos demos bem desde o começo... Kaith, a minha noiva, estava receosa sobre como ela iria reagir a mim, mas entre Mel e eu, foi amor à primeira vista.” Ele falou e ficou sério. “Acha que ela seria assim?” Ele me perguntou e eu franzi a testa, voltando a olhar para ele. “Annie.” Ele terminou o raciocínio. “Acha que ela ia gostar de desenhar também?”

“Na verdade, já sonhei com ela desenhando para mim...” Disse um pouco sem graça e ele sorriu.

“Como ela era, no seu sonho? Quando sonhei com ela, parecia uma miniatura de você.”

“Ela era muito bonita... Muito alegre.” Falei sorrindo.

“Eu visitei o túmulo tem umas semanas...” Ele disse um pouco receoso. “Mas sempre que vou, só tem as flores que eu mesmo levo.”

“Nunca tive coragem de ir até lá...” Disse séria. “Não sei, acho que não vai me trazer lembranças boas.”

“Você deveria tentar. Também achava isso, mas gosto de pensar que ela fica feliz quando eu a visito. Você sabe, onde quer que ela esteja e se é que ela está em algum lugar.” Ele falou e eu apenas assenti em silêncio.

“Bem, eu já vou indo... Mas foi bom te ver Connor e foi bom saber que está feliz.” Falei e nos abraçamos de novo, dessa vez mais demorado do que antes. Ele beijou minha testa e eu sorri saindo.

“Sophie!” Ele me chamou e eu virei o rosto em sua direção. “Aquilo que falou, sobre o amor... Sei que minha opinião pode não valer muito, mas não é ele que foge de você.” O olhei confusa. “Você que sempre fugiu dele. Talvez seja hora de parar de tentar fugir.” Ele piscou para mim e foi para onde Mel estava, me deixando pensativa.

Eu? Fugindo do amor? Impossível... Se bem que... Eu estava fazendo isso. Estava exatamente fugindo, não só do amor, mas dos problemas. Sempre gostei de achar que eu era forte, mas o que eu estava fazendo esses últimos meses, anos, eram apenas atos de covardia. Eu sequer tinha tido a decência de visitar o túmulo da minha filha, não procurei Richard para conversar, paguei a mulher que se dizia minha mãe para ficar longe de mim, afastei Matthew, inúmeras vezes e desisti da minha felicidade por medo de encarar os desafios que a vida tinha colocado na minha frente. Isso não era ser corajosa e não era ser forte, definitivamente.

Entrei em meu carro de novo e mandei uma mensagem para Luke, dizendo que já estava voltando para casa e que podia deixar Baby e Cristal sozinhos, já que chegaria em alguns minutos e o convidei para jantar comigo, só nós dois. Eleanor deveria conversar com Matthew e provavelmente até viajariam hoje... Dei o amor da minha vida de bandeja para outra mulher. Mas tinha acabado de perceber não podia mais ficar adiando as coisas, ia ter uma conversa honesta com Luke. Se eu tinha que contar algo, era para ele primeiro e só torcia para que ele reagisse bem a notícias ruins.


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