Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 71
Se não fosse amor - Cap. 28: Beatriz Scott.


Notas iniciais do capítulo

Boa noiteeeeee!
Queria agradecer muitíssimo a GABRIELA GALDINO, pela recomendação fofíssima! Ameiiiiii *-* Dedico o capítulo à você!
E não tenho o que falar sobre esse capítulo, apenas leiam e se emocionem comigo.
Beijos!



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POV Sophie Trammer

“Beatriz...” Repeti seu nome. “Isso não me diz muita coisa. Você parece saber quem eu sou, mas eu não sei quem você é.”

“Eu esperei muito tempo para te conhecer, Sophie Evans.”

“É Trammer. Não uso esse sobrenome.” A corrigi calmamente.

“E por que não?”

“O motivo não vem ao caso, senhora.”

“Apenas uma curiosidade minha...” Ela sorriu.

“Era o sobrenome da minha mãe, mas não cheguei a conhecê-la.” Dei de ombros. “Você veio até mim... O que quer comigo?”

“Quero conversar.”

“Conversar?” Falei e ela assentiu. “E temos que fazer isso aqui, no meio da rua?”

“Podemos ir para um café ou...”

“Não.” A interrompi. “Moro em um condomínio aqui perto, vamos até lá.” Disse e fomos caminhando. Estava tensa por que não sabia nada sobre essa mulher, mas no meu condomínio, rodeado de seguranças, era o melhor local para falar com ela.

Chegamos ao condomínio e o portão se abriu para mim, entramos e eu acenei em silencio para um dos seguranças, como um pedido que ficasse de olho em mim, ele entendeu o que eu queria dizer e quando cheguei a portaria, ele entrou discretamente e nós fomos para uma sala que ficava ao lado, com cadeiras, uma mesa... Uma espécie de sala de espera. Sentei e ela sentou ao meu lado, em outra cadeira.

“Então...” Falei. “Pode começar.”

“Bem, pelo que vi... Rick não falou sobre mim.”

“Quem é Rick?” Perguntei confusa.

“Desculpe, o Richard. Força do hábito o chamar assim.” Ela riu.

“É... Ele me disse que vocês namoraram há um tempo.”

“Foi só isso que ele disse? Que namoramos?” Ela disse com ironia.

“Pelo que eu soube... E vocês se conheceram antes ou depois dele se envolver com a minha mãe?”

“O que ele te disse sobre a sua mãe?” Ela cerrou os olhos.

“Não muito. Só sei que ela resolveu ir embora quando eu era um bebê e faleceu uns anos depois.”

“Ela não resolveu ir embora, ela foi obrigada a fazer isso.” Beatriz falou séria e eu não estava entendendo nada.

“Espera aí...” Levantei. “Como você sabe disso? Quem é você? Por que parece que você sabe muitas coisas sobre a minha vida e eu só sei que você se chama Beatriz. É só Beatriz, não tem nenhum sobrenome?”

“Eu tenho um sobrenome.” Ela se levantou também. “Evans.” Ri ironicamente.

“Evans é o meu sobrenome. Se vai mentir sobre quem é, tenha ao menos um pouco mais de criatividade.” Beatriz abriu sua bolsa e tirou de dentro o documento de identidade, me entregando. “Beatriz Scott Evans.” Li e a olhei incrédula. “É parente da minha mãe?” Disse e ela riu.

“Eu sou a sua mãe Sophie.”

“Não.” Devolvi o seu documento. “A minha mãe está morta.”

“É, foi isso o que te disseram... Mas eu não estou morta, ou eu pareço morta?”

“Eu tenho cara de idiota? Acha que eu vou acreditar em qualquer uma que aparece aqui dizendo que é minha mãe? Você tem provas pelo menos?”

“Eu sabia que você não iria acreditar em mim...” Ela guardou sua identidade na bolsa e tirou de dentro dela uma foto. “Veja você mesma.”

A peguei de sua mão e tinha Richard, um Richard que eu nunca tinha visto, mais jovem e estava sorrindo e sorrindo de verdade enquanto segurava um bebê e olhava para a mulher ao seu lado, que era completamente idêntica a mim. Olhei para Beatriz e comecei a notar as nossas semelhanças, eram os mesmo olhos, o mesmo cabelo... Era como se eu pudesse ver como eu seria futuramente. Lhe entreguei a foto e percebi minhas mãos trêmulas.

“Você...” Disse chocada sentindo o nó na minha garganta.

“Eu sou a sua mãe.” Ela pôs a mão em meu rosto e me puxou me abraçando, eu apenas coloquei uma mão nas suas costas ainda em completo estado de choque por ter descoberto que havia acabado de descobrir.

“Mas... Como? Por que você me abandonou?” Afastei-me dela.

“Eu não te abandonei, me obrigaram a ir embora.”

“Quem te obrigou?”

“Ora quem...” Ela falou irônica. “Ryan e Richard. O pai de Richard me pagou para ficar longe de você.”

“E porque ele faria isso? O que você fez pra que ele tomasse uma atitude tão drástica?”

“Como assim o que eu fiz” Ela me olhou incrédula. “Eles me obrigaram a deixar a minha filha e eu que sou a vilã?”

“Perdoe-me, mas alguma coisa você fez.” Sorri. “Meu avô era um homem bom e só de olhar para o Richard nessa foto dá pra saber que ele amava você...”

“Não diga bobagens!” Ela gritou me interrompendo. “Ele nunca me amou, se amasse não teria feito o que fez comigo!”

“Você não está contando a história por completo Beatriz e eu não posso confiar em uma pessoa que sumiu por tantos anos e volta só agora resolvendo que quer ser a minha mãe.”

“É justamente por isso que você tem que confiar!” Ela segurou minha mão, mas eu a soltei.

“Era você quem estava fazendo todas aquelas coisas contra mim? Foi você quem inventou histórias e mandou destruir lojas minhas?”

“Eu tive os meus motivos...”

“Motivos? Nenhum motivo justifica o que você fez!” Gritei e depois respirei fundo. “Eu só vou perguntar uma vez...” Cerrei os dentes. “Foi você quem causou o meu acidente de carro?” Ela desviou o olhar de mim, só confirmando a sua culpa. “Responde Beatriz! Por que se você não responder eu chamo os meus seguranças e acredite, se eu mandar, eles atiram primeiro pra perguntar quem é você depois.” Ela me olhou assustada.

“Foi realmente um acidente... Eu só queria conversar com você, mas você não parava então achei que se batesse no seu carro eu teria essa oportunidade, mas o carro derrapou e eu só consegui pensar em salvar a minha pele.”

“E você se salvou.” Ri com sarcasmo. “Mas em compensação, eu quase morri. Quase perdi a perna e tenho que andar pra cima e pra baixo com essa bota maldita, por que não tenho mais a capacidade de andar sozinha!” Gritei.

“Olha... Você tem que deixar isso de lado, eu tenho planos maiores para você, para nós duas.” Ela disse se aproximando. “Eu preciso de você e você precisa de mim.”

“Eu posso saber para quê você precisa de mim?!” Cruzei os braços.

“Os Trammer são uma doença Sophie! Tudo o que eu fiz foi com um único propósito, acabar com aquela empresa imunda, que é o alicerce deles. E eu conto com a sua ajuda pra conseguir isso.”

“Por que eu te ajudaria com isso?”

“Eu li as notícias e não engoli toda aquela baboseira. Eu sei que foi o Richard que te demitiu, você não pediu pra se afastar para que pudesse cuidar da sua saúde.”

“Richard e eu temos nossos problemas, mas eu jamais iria fazer algo para prejudicar aquela empresa.”

“Você não me ouviu? Precisamos uma da outra!” Ela segurou meu braço e eu me soltei.

“Eu não preciso de você!” Disse entre os dentes. “Eu precisei e muito de uma mãe, mas ela nunca esteve lá para mim. Eu não me importo quais foram os motivos, mas eu jamais deixaria um filho meu, mesmo que me obrigassem, então me desculpe se esse encontro não foi como você esperava, mas eu não vou chorar no seu colo e te chamar de mãe, principalmente sabendo das suas intenções.”

“Eles fizeram uma lavagem cerebral em você, não é possível!”

“Eles cuidaram de mim a vida toda!” Gritei.

“Eu já disse que os Trammer são uma doença!” Ela gritou de volta.

“Os Trammer são a minha família! E eu sou uma Trammer, então eu sou uma doença também.” Disse firmemente.

“Você é uma idiota...” Ela resmungou.

“Sou mesmo.” Concordei. “Achei por um momento que você tinha vindo me procurar por que sentiu falta, por que queria saber de mim... Obviamente se isso fosse verdade, não teria esperado tantos anos para aparecer. Só queria me usar para esse seu planinho ridículo de vingança.” Falei com desdém. “Eu não sei os motivos que levaram meu avô a tomar as atitudes que ele tomou com você, mas eu tenho certeza de que se ele fez isso é por que sabia que eu estaria muito melhor sem você do que com você. E quanto ao meu pai, bem...” Ri irônica. “Ele nunca teve bom gosto para mulheres, posso ver que o dedo podre vem desde mais jovem.”

“Você acha que é alguma coisa Sophie? Se hoje você é alguém é graças a mim, se não fosse eu você seria um nada, uma qualquer. Se bem que, me decepcionei ao conhecê-la, não é como eu esperava. Achei que encontraria uma mulher de fibra, que fosse capaz de qualquer coisa para defender a sua família.”

“É justamente o que eu estou fazendo. Defendendo a minha família.”

“Como você pode negar ao próprio sangue para defender eles?” Ela disse exasperada.

“Eu não estou negando o meu sangue. Eu sou filha do Richard, o sangue dos Trammer corre em mim mais do que dos Evans, os quais eu nunca ouvi falar ou tive contato com nenhum!”

“O sangue dos Trammer corre em você?” Ela repetiu confusa. “Desde quando? A não ser que... Espera...” Ela riu. “Ele não te contou?”

“Quem não me contou o quê?” Disse impaciente.

“É claro!” Ela gargalhou. “Por isso os defende tão cegamente!”

“Do que você está falando?”

“Querida...” Ela disse em um falso tom doce e colocou a mão em meu ombro. “Richard é estéril.” Eu comecei a gargalhar dramaticamente.

“Essa foi muito boa Beatriz!” Bati palmas. “Ele não é estéril, querida.” Enfatizei a última palavra. “Eu sou a prova viva disso.” Sorri.

“Acontece que esse foi o motivo de terem me afastado de você. Richard descobriu que era estéril quando você tinha alguns meses de vida ainda e não me perdoou.”

“Você está mentindo!” Gritei. “Para de mentir! Ele é o meu pai!”

“Ele não é seu pai e é melhor você aceitar isso de uma vez.”

“Digamos que eu acredite...” Segurei seu braço com força. “Quem é meu pai então?”

“Bom... Você sabe como as coisas eram antigamente...”

“Não, eu não sei.” A interrompi e ela riu.

“Eu não faço idéia de quem é.” Ela falou cinicamente.

“Saia daqui. Agora.”

“A verdade dói, não dói? E quem você pensa que é para me expulsar de algum lugar?”

“Que verdade? Da sua boca só saem mentiras!” A soltei. “Eu sou Sophie Trammer!” Bati no peito. “Você é um ser inútil!”

“Eu sou a sua mãe!”

“Nunca! Você nunca foi a minha mãe. Você fez o favor de me colocar no mundo e foi somente isso.” Apontei o dedo em seu rosto, mas ela não recuou.

“E o que acha que vai acontecer agora? Que eu vou sair correndo com o rabinho entre as pernas igual um cachorro assustado? Você não me conhece Sophie, não sabe do que eu sou capaz e principalmente agora sabendo até onde você mora!”

“Eu não te conheço mesmo, não sei nada sobre você, mas sei que tipo de pessoa você é.” Afastei-me dela, a olhando com nojo. “Aceitou o dinheiro que lhe ofereceram para ficar longe de mim, mas deve ter acabado, se não, não estaria aqui agora.”

“Você é mais esperta do que aparenta...” Ela riu.

“Vamos lá Beatriz.” Sentei e cruzei as pernas. “Qual o seu preço?”

“O meu preço?” Ela sentou também.

“Todo mundo tem um preço, não precisa fazer cerimônia. Quero números.”

“O meu preço é bem alto querida.”

“Números, Beatriz.” Disse impaciente.

“Dois.” Ela deu ombros.

“Dois? Dois mil?” Disse incrédula.

“Dois milhões.” Ela sorriu triunfante.

“Claro...” Ri com desdém. Peguei um pedaço de papel e uma caneta e entreguei para ela. “O número da conta a qual devo depositar, por favor.”

“Você é muito generosa Sophie.” Ela os pegou de minha mão e começou a escrever.

“Sou prática.” Levantei e ela me entregou o pedaço de papel. “Você impôs o seu preço e eu vou impor o meu.”

“Acho que não ficou claro, mas eu não tenho dinheiro.”

“Ah, isso eu entendi.” Sorri. “Esse valor vai estar na sua conta até o fim do dia e quando isso acontecer, eu quero você longe de Nova Iorque. Você não vai mais colocar os pés aqui, vai fingir que essa fase da sua vida em que eu e a minha família estivemos, não existiu. Vai esquecer essa idéia patética de destruir a minha empresa e vai recomeçar sua medíocre vida em qualquer outro lugar bem longe daqui. E não tente me enganar, eu tenho formas de saber se você cumpriu a sua parte no nosso acordo ou não e se caso isso acontecer, acredite, vai ser bem pior pra você.”

“Você fala como uma legítima Trammer...” Ela me olhou séria. “A mesma petulância e arrogância, a forma de se achar donos do mundo e que conseguem comprar tudo o que querem.”

“Essa foi a única coisa verdadeira que você disse para mim até agora. Não sei se reparou, mas eu acabei de comprar a sua dignidade. O que restava dela, pelo menos.” Dei um passo para o lado, deixando a passagem livre para ela. “Devo chamar o segurança, ou você encontra a saída sozinha?”

“Não vai nem dar um abraço na sua mãe?” Ela falou com sarcasmo e eu apenas a encarei em silêncio. “Ok... Mas se um dia sentir minha falta.” Ela tirou um cartão do bolso, com o seu telefone e me entregou. Peguei de sua mão e rasguei em vários pedaços e ela observou tudo rindo. “Adeus Sophie.” Ela começou a andar para longe.

“Adeus Beatriz.” Sussurrei e sentei na cadeira novamente, por que não conseguia sentir a força nas pernas. Apoiei a cabeça nas mãos respirando fundo e engolindo o nó da garganta até que ele ficasse mais suportável.

“Está tudo bem senhorita?” Olhei para o lado e o segurança estava parado, com a mesma postura de sempre.

“Não. Consiga um táxi para mim.” Falei e ele me olhou com a testa franzida. “Agora.” Disse firmemente e ele assentiu saindo.

Tirei uma foto do papel com o número da conta de Beatriz e enviei para Emily com a mensagem:

2 milhões nessa conta até o fim do dia e rastreei a movimentação dela para mim.

Emily respondeu concordando e eu levantei, andando rapidamente para a saída. Um táxi já estava parado na porta e o segurança segurando a porta aberta para mim, agradeci a ele e entrei dando o endereço para onde queria ir. Um lugar que jamais imaginei voltar e que com certeza não queria voltar. Um lugar que me trazia algumas poucas recordações boas, mas também traziam péssimas lembranças. Um lugar que eu sabia que não era mais bem-vinda. A minha ex-casa, que agora era apenas a mansão de Richard. O táxi parou e eu tirei uma nota de 50 do bolso.

“Fique com o troco.” Falei e saí do carro.

Os portões se abriram para mim, Richard nunca tinha me impedido de voltar em casa, acho que ele pensava que isso era desnecessário, quando saí falei para ele que não iria mais voltar e nunca mais tinha voltado desde aquele dia. Até hoje.

“Senhorita?!” Lourdes, a governanta falou com surpresa quando me viu entrando pela porta da frente.

“Onde ele está?” Perguntei para ela.

“Alguém pode me explicar o que ela está fazendo aqui...” Ouvi a voz de Amy do alto da escada.

“Não é da sua conta, vadia de meia idade.” Falei e voltei minha atenção para Lourdes. “Ele está no escritório, não é? Ainda é no mesmo lugar?” Lourdes apenas assentiu e eu fiz meu caminho pelo corredor, parando apenas por que Amy me impediu de passar.

“Richard está muito ocupado, você não vai encher ele.”

“Eu vou encher minha mão na sua cara se você não sair da minha frente!” Gritei e a empurrei para o lado e voltando a ir em direção ao escritório de Richard.

Entrei na sala de uma vez e tranquei a porta por dentro, Richard estava no telefone e me olhou perplexo, mas continuou sua ligação.

“Parece que é o melhor a ser feito, realmente.” Ele falou tranquilamente ao telefone.

“Eu preciso falar com você.” Disse.

“Eu imagino, mas a crise econômica não nos afetou como você pôde conferir...” Richard continuou me ignorando e eu fui até a tomada do telefone e a puxei. “Está ficando doida?” Ele me olhou me fuzilando.

“Eu disse que eu preciso falar com você.”

“E eu quero falar com você por acaso?” Ele disse indiferente. “Você entra na minha casa e invade o meu escritório, interrompendo uma ligação de extrema importância para mim e...”

“Por que não teve mais filhos?” Perguntei sem deixar ele terminar de falar.

“É só olhar para você.” Ele me olhou de cima a baixo. “Nunca ouviu falar que errar a primeira vez é humano e a segunda é burrice?” Ele se abaixou ligando o telefone na tomada.

“Eu estou falando sério!”

“Eu também estou...”

“Chega Richard!” Gritei. “Eu mereço saber a verdade e se você não é capaz nem desse pequeno gesto por mim, permita que eu te ajude.” Ele se levantou me encarando. “Não teve mais filhos por que é estéril. Não é?” Ele ficou calado por um momento, apenas me olhando perplexo.

“De onde tirou um absurdo desses? Se eu sou estéril, como é possível você estar aí, sua idiota!”

“Para de mentir!” Falei impaciente. “A sua amiga Beatriz me procurou e me contou tudo.” Richard arregalou os olhos. “Eu não sabia se devia chamá-la de Beatriz ou de mamãe.”

“Isso é impossível.” Ele disse exasperado. “Eu mesmo cuidei para que ela fosse embora há dias atrás.”

“Pois bem, só que ela não foi. Ela me procurou para conversar e me contou tudo.”

“Tudo o quê?”

“Sobre como o meu avô, quero dizer...” Engoli em seco. “O Ryan Trammer e você pagaram a ela para que ela fosse embora e me abandonasse.” Richard desviou o olhar de mim. “E eu todo esse tempo achei que tinha alguma coisa de errado comigo pra você me odiar tanto... E a verdade é que eu apenas não sou a sua filha. E segundo a própria Beatriz, ela nem sabe quem é o meu pai.” Senti meus olhos lacrimejando, mas lutei com todas as forças para não deixá-las cair. “Eu não sei por que você e o seu pai fizeram isso comigo. Por que não me deixaram ir com ela? Deviam ter se livrado de mim de uma vez!” Gritei.

“Toda história tem dois lados Sophie. Quer toda a verdade? Ok, eu vou contar tudo o que você quer saber.” Ele suspirou e sentou em sua cadeira, acenando com a mão para que eu sentasse também e assim o fiz. “Eu conheci Beatriz quando tinha 17 anos e ela 15, foi a primeira e a única mulher que eu amei em toda a minha vida, mas meus pais não gostavam dela e eu não conseguia entender o motivo. Ela era tão cheia de vida, tão determinada e teimosa... Mas um teimosa que chamava a atenção, era uma época em que as mulheres costumavam abaixar a cabeça e concordar caladas sobre tudo, mas ela não, ela era desafiadora... Além de ser linda. Eu lembro da primeira vez que eu a vi e fiquei completamente enfeitiçado por aqueles olhos verdes lindos.” Ele olhou para mim. “Os mesmos olhos verdes que você tem.” Desviei o olhar dele. “O fato dos meus pais não aprovarem, fez com que fugíssemos de casa para ir morar juntos. Ela morava com uma tia, os pais já haviam falecido então nada nos impedia. Até que ela acabou engravidando de você... Eu a acompanhei em todas as consultas, eu senti você chutando dentro dela e quando você chorou pela primeira vez, quando nasceu, era eu quem estava lá e fui eu quem acalentou você por todas as noites desde então. Levei você para os meus pais, achei que eles se sensibilizariam por saber que agora eu tinha um bebê e eu estava certo. Meu pai te amou desde o primeiro momento em que te viu e com minha mãe não foi diferente. Você era linda Sophie, não tinha uma pessoa que viesse te ver que não caísse de amores quando você sorria.” Ele parou e sorriu. “Eu tinha a vida perfeita. Uma mulher linda que eu amava, uma filha linda que eu amava... Até que...” Ele voltou a ficar sério. “Eu fiquei doente, não foi nada demais, mas em um desses exames eu descobri que não podia ter filhos, mas não contei para ninguém. Eu engoli dia após dias a dor e a raiva de saber que Beatriz tinha estado com outro homem que não fosse eu. Um dia, quando ela saiu para uma das suas caminhadas de manhã, eu a segui e a vi com outro cara. No outro dia eu fiz o mesmo e a vi com um outro cara, diferente do dia anterior... Então eu descobri que ela era uma viciada em drogas e que aquela era a forma de ela pagar pelo o que usava. Eu não sei quando ela começou a ser usuária, mas quando estava grávida de você ela já tinha esse hábito e eu não sei como, por algum milagre, você nasceu perfeita.” Cobri meu rosto com as mãos me obrigando a não chorar na frente dele. “Eu não agüentei a pressão e contei para o meu pai. Eu não tinha com quem conversar e não sabia o que fazer... Nós discutimos, é claro que discutimos.” Ele riu amargamente. “Ele falou: ‘Eu te disse que essa mulherzinha não servia para carregar nosso nome!’ e ele realmente me avisou, mas quem consegue pensar com a razão quando se está apaixonado, não é mesmo?” Ele respirou fundo por um momento e continuou. “A partir daquele instante, todo amor que eu sentia por ela e por você, se tornou em ódio e mágoa. Eu não queria ficar com você, não tinha a mínima intenção de te criar, meu pai me forçou a isso. Ele dizia que era uma forma de castigar Beatriz por tudo que ela havia feito, mas na verdade ele apenas não ia conseguir abrir mão de você. Quando saiu aquela nota na imprensa, sobre o desvio de dinheiro, semanas atrás, eu não me toquei na hora, mas depois lembrei...” O encarei. “O desvio aconteceu, mas anos atrás. Na época não tínhamos tanto dinheiro assim, vivíamos bem, mas não tínhamos tanto luxo. Alguns investidores tinham depositado uma boa quantia na conta da empresa e foi com esse dinheiro que o meu pai te comprou da Beatriz.”

“É isso que eu fui? Uma mercadoria comprada?” Disse com a voz fraca.

“Para o meu pai, não. Ele amou você todos os dias, até falecer. Para mim, você foi exatamente isso. Apenas mais uma aquisição e uma maneira de mostrar para Beatriz quem é que mandava. O único motivo por continuar te criando, foi por que em seu leito de morte, meu pai me fez jurar que eu não iria deixá-la desamparada.” Ele falou me olhando com a mesma indiferença de sempre e eu levantei. “Você é igual a ela Sophie. Tive essa certeza quando ficou grávida. A maneira como agiu, as decisões que tomou... Só me fez ter mais raiva de você, por que me lembrava dela e cada vez que eu olho para você, eu a vejo, vocês são idênticas.”

“Eu não sou igual a ela.” Cerrei os dentes. “Eu teria dado a minha vida pela minha filha e eu pedi por isso, jamais iria abandoná-la.”

“Você a abandonou.” Ele riu. “Em cada garrafa de vodka que bebia e cada droga que usava enquanto estava grávida. Você a abandonou.”

“Eu pedi para você...”

“Sim.” Ele me interrompeu. “Pediu que escolhesse ela e eu não fiz isso. Sabe por quê?” Ele se levantou. “O médico disse que ela teria seqüelas o resto da vida e que teria sorte se agüentasse sobreviver por um mês, pelo menos. Eu te disse que a morte seria fácil demais para você... Beatriz abandonou a própria filha por uns trocados e você matou a sua.”

“Você é um ser desprezível Richard. Amargo, incapaz de sentir amor por alguém que não seja você mesmo.”

“E você acha que é melhor do que eu?” Ele perguntou irônico. “Olha para você, perdendo o seu tempo e desperdiçando o tempo do pobre Davis. Você não ama aquele rapaz, está com ele por que te convém.”

“E como você pode ter tanta certeza disso?” Apoiei as mãos em sua mesa.

“Por que podemos não ter o mesmo sangue, mas somos muito semelhantes em um ponto. Você e eu somos podres por dentro, nós dois somos desprezíveis.”

“Eu não sou igual a você.” Afastei-me da sua mesa andando para a porta.

“Posso lhe perguntar o que fez sobre a Beatriz?” Ele perguntou e eu o olhei por cima do ombro.

“É a mais nova milionária no mundo.”

“Então pagou para ela ir embora...” Ele falou rindo. “A história se repete.”

“Não.” O encarei. “Eu comprei a minha paz, a minha liberdade... Beatriz disse que os Trammer são uma doença.”

“Vindo dela, é um elogio...” Ele disse indiferente e eu destranquei a porta a abrindo.

“Você é uma doença Richard. Eu não sou.” Saí batendo a porta e ignorando os gritos de Amy comigo e os olhares curiosos dos empregados.

Andei para fora do condomínio onde ficava a casa de Richard e depois de muito caminhar, percebi que não sabia mais onde estava. Tentei ficar calma e procurei por algum táxi, quando enfim encontrei um, entrei no carro e dei o endereço do meu condomínio. Estava tão desligada que sequer sabia quanto tinha dado para o taxista, apenas joguei algumas cédulas e como ele não questionou, deduzi que era suficiente. Entrei no elevador e quando as portas se abriram, eu finalmente estava em casa. Abri a porta e vi Matthew, de costas, falando ao celular e se virou para mim, quando ouviu o barulho da porta.

“Graças a Deus!” Ele falou aliviado. “Sim Luke, ela chegou. Pode deixar, até já.” Ele jogou o celular no balcão da cozinha. “Onde você estava? Eu e Luke estamos feito loucos atrás de você! Não atende o celular, não dá sinal de vida... Quer me matar do coração?” Eu não consegui responder nada, apenas andei até ele em silêncio e o abracei, com toda força que ainda me restava. “Hei... O que houve?” Ele falou me abraçando de volta e eu permaneci calada. “Sophie...” Ele se afastou um pouco e colocou as mãos em meu rosto. “Fala comigo! O que aconteceu? Você se machucou?” Fiz que não com a cabeça. “Então me fala, tá sentindo alguma coisa?” Assenti. “O que você tá sentindo? Me diz, por favor. Deixa eu te ajudar.” Ele falou preocupado eu o olhei e só consegui sussurrar.

“Não consigo respirar.”

“O que?” Ele franziu a testa. “Você quer chorar?”

“Não...” Disse e ele alisou meu rosto.

“Você precisa chorar. Eu não sei o que aconteceu, mas o que quer que tenha sido, vai te matar por dentro se você não se abrir.” Ele disse calmamente. “Você pode chorar se quiser, tendo um motivo ou sem ele.” Matthew beijou minha testa. “Eu estou aqui meu amor, não precisa ter medo de nada, eu estou aqui com você.” Foi quando eu senti a primeira lágrima cair e foi o suficiente para que todas as outras lágrimas, aquelas guardadas dentro de mim por anos, jorrassem pelos os meus olhos. Matt me olhou em confusão, eu sabia que ele queria me ajudar só não sabia como.

“Me abraça, por favor. Só me abraça.” Falei em meios a soluços desesperados de um choro que demorou 15 anos para sair de dentro mim.

Eu não sabia que era possível chorar tanto, na verdade me questionei mentalmente se era possível alguém morrer de tanto chorar. A resposta é: não. Ninguém morre de chorar, mas morrer por guardar e engolir em seco o choro... Isso eu acho que era possível. Mas uma hora nosso corpo simplesmente cansa, uma hora apenas não dá mais. Não importa o quanto você ainda sinta que tem lágrimas para serem derramadas, parece que elas podem secar e o pior acontece, a exaustão muscular, a dor nos olhos, na cabeça, no corpo... No coração. Sim, por que eu tinha um coração, eu não era podre por dentro como o Richard me julgava ser. Ou eu era? Eu era capaz de amar, não era? Eu tinha que acreditar que sim, que eu era melhor que Richard, que Beatriz, que Ryan. Ryan... Era estranho pensar nele como ‘O Ryan Trammer’, desde sempre ele tinha sido apenas o ‘vovô’, o mesmo avô que me comprou como se compra um bichinho de estimação no pet shop, ou um pacote de macarrão em um mercantil... O mesmo avô que me deu amor, proteção, que me ensinou sobre a vida e que me aceitava e me tratava como neta legitima, mesmo sabendo que eu não era. E quem eu era? Nem minha própria mãe sabia responder a isso. Eu não tinha uma mãe, eu não tinha um pai e eu tinha nada agora. Exceto Luke e Matthew. As únicas pessoas que eu conseguia confiar, as únicas pessoas que me restaram. Me pergunto se Amy sabia disso, se Brian sabia disso... Se mais alguém no mundo sabia que Sophie Marie Evans Trammer, era apenas Sophie Marie. E não ‘A Sophie Trammer’, somente uma Sophie Marie. Mais uma em um milhão, em um bilhão... Mais uma que não faria diferença, que seria apenas estatística. Era assim que a minha história acabava?


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Notas finais do capítulo

Mais alguém chorou??? :(