Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 72
Se não fosse amor - Cap. 29: Good Bye New York.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite meninas!!!!
Boa leitura!



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POV Sophie Trammer

Matthew estava sentado no sofá e eu sentada em seu colo, com a cabeça encostada em seu peito enquanto ele alisava minhas costas, Baby estava deitado no sofá, ao nosso lado, apenas nos observando, como se entendesse que ele precisava ficar quieto naquele momento e eu tentava, aos poucos, normalizar a minha respiração. Toda aquela cena me fazia sentir uma criança... Não que alguma vez eu tenha sido acalentada no colo de alguém quando era criança, mas eu imaginava que devia ser daquela forma. Ouvi a porta da sala se abrir, mas não me movi, por que não conseguia. Era como se tudo pesasse toneladas em mim, então vi Luke me olhando sem entender nada e depois encarou Matthew.

“Ela não quer falar nada, nem tente...” Ele disse para Luke e beijou meus cabelos.

“Mas eu preciso saber o que aconteceu.” Luke falou exasperado. “Eu nunca vi você assim antes, quero dizer... Só quando aconteceu toda a história com a Annie. Você não quer falar mesmo? Nem comigo?” Apenas fiz que não com a cabeça e fechei os olhos, bocejando.

“Quer que eu te leve para o quarto?” Matthew perguntou para mim e eu assenti. Ele se levantou comigo no colo e me levou para o quarto, me deitando na cama.

Virei de lado e vi Baby deitado no chão, próximo a cama. Matthew ficou fazendo carinho em meus cabelos e eu não demorei muito para dormir. Eu nunca fui de ter muito sonhos, vez ou outra eu sonhava com algo que me marcava, mas no geral, sempre eram algumas cenas rápidas, sem nexo... Mas naquele momento, eu não sonhei nada. Só vi tudo em preto e nada mais, senti que isso era uma forma do meu subconsciente dizer: Ei! Sim, você está sozinha. E a idéia da solidão nunca me assustou tanto... Quando acordei, senti meus olhos doerem e pisquei algumas vezes, sentei na cama e a dor dos olhos não se comparava a dor de cabeça. Deram marteladas em mim enquanto eu dormia? Levantei, praticamente me arrastando e ouvi umas vozes vindo da sala, reconheci que eram Matthew, Brian, Luke e Kenny. Ia sair para conversar com eles, afinal eu devia uma explicação, mas me mantive parada, com a porta do quarto um pouco aberta, enquanto eu ouvia eles falarem.

“Eu só consigo pensar nesse motivo...” Luke falou. “O que mais iria fazer ela surtar daquela forma?”

“Mas quem contou?” Kenny disse.

“O porteiro só falou que ela estava conversando com uma mulher e depois saiu às pressas, visivelmente alterada.” Matthew falou calmamente.

Eles estão falando de mim! Senti Baby se aproximando de mim e eu o olhei suplicando que ele não fizesse nenhum barulho.

“Então essa mulher que deve ter contado... Mas quem era ela?” Ouvi Brian falar.

“Eu pedi as imagens das câmeras, daqui a pouco eles iram me mandar.” Matthew respondeu. “Não deveríamos ter mantido isso em segredo. Se foi isso mesmo que aconteceu, se foi o que ela descobriu, isso explica como ela estava alterada.”

“O problema é que não é fácil chegar para ela e simplesmente dizer: ‘Oi Sophie, sabe o seu pai? Então, ele não é seu pai.’” Luke disse com ironia e eu me afastei da porta incrédula.

Eles sabiam. Eles todos sabiam. E nenhum deles foi capaz de me contar. Não... Isso é impossível! Eles eram as únicas pessoas que eu tinha nessa vida e que eu confiava, eu não podia acreditar que eles tinham me traído dessa forma. Mas como eles sabem disso? Quem contou para eles? Questionei-me, mas agora isso não importava. O que importava era que, mais uma vez, esconderam a verdade de mim. Eles não haviam aprendido ainda o quanto as mentiras me machucavam, por que se eu soubesse disso antes, não estaria me sentindo tão péssima agora, como eu estava. Eu não tinha ninguém, eu não podia confiar em ninguém, eu não tinha mais família e por família eu não me refiro a Richard ou Beatriz, me refiro a eles quatro. Na minha concepção nós éramos uma família, eu os via assim. Até agora.

Eu estava perdida, não sabia o que fazer. Se fosse a Sophie Trammer, ela iria até a sala, questionaria, brigaria e ia se impor. Mas eu não era mais a Sophie Trammer, eu não me sentia mais uma Trammer... Eu não era mais uma Trammer e aliás, nunca tinha sido. A Sophie Marie apenas queria voltar para a cama e se esconder do resto do mundo. Como eu iria encarar a todos eles? Sabendo que eles tinham consciência de toda verdade, de que toda a minha vida foi uma mentira. Como eu ia conseguir olhá-los nos olhos, quando no momento eu me sentia tão inferior, tão sem valor, humilhada, tão... Tão... Tão nada.

Ouvi um barulho de chaves e me aproximei da porta novamente, para ouvir o que eles estavam falando.

“Eu só vou buscar a Mabel, fiquei de ir pegá-la, mas quando a deixar em casa eu volto para conversamos com a Sophie.” Brian falou.

“E eu tenho que voltar para o trabalho.” Kenny disse. “Só faltam uns dois ambientes para as fotos, assim que terminar eu venho direto para cá também.”

“Tudo bem, nos vemos mais tarde e eu ligo qualquer coisa.” Matthew falou e ouvi a porta da sala abrindo e fechando.

“Acho que vou comprar alguma coisa para ela comer... Uma sopinha, ou uma daquelas saladas que ela gosta.” Luke falou.

“Sim, é uma boa idéia... Ela nem almoçou, vai estar com fome quando acordar.”

“Eu vou lá, me liga se ela acordar.” Luke disse e depois de ouvir a porta abrir de novo, ficou-se o silêncio.

Eu tinha tido uma idéia louca. Eu sabia que era louca e desesperada, mas eu não queria pensar muito sobre isso, se não eu iria desistir e eu não queria pensar em desistir nisso. Se ainda restava um mínimo de coragem dentro de mim, era para isso que eu iria usar. Mas para por em prática, eu tinha que me livrar de todos e ainda restava um. Andei silenciosamente, voltando a sentar na cama e tirei o celular de dentro do bolso do meu casaco, mandei uma mensagem para Emily.

Ligue para o celular do Matthew agora, diga que precisa dele urgente na empresa, que ele tem que ir para aí agora e não importa o quanto ele tente relutar ou saber o que aconteceu, convença ele a ir, o faça demorar aí o máximo de tempo que você conseguir e não conte a ninguém sobre essa mensagem.

Apertei o botão enviar e deitei na cama, na mesma posição que eu estava antes. Ouvi o celular de Matthew tocar e depois de alguns minutos ele abriu a porta do meu quarto.

“Eu estou muito ocupado agora.” Ele falou baixinho, para supostamente não me acordar. “Droga...” Ele resmungou. “Eu estou indo.” Ele se aproximou de mim. “Sophie?” Matthew colocou a mão em meu braço e eu apenas gemi algo, para mostrar que eu estava ouvindo. “Teve um problema na empresa e eu preciso ir para lá agora, mas Luke daqui a pouco está voltando e eu não demoro também. Vai ficar bem sozinha?” Fiz que sim com a cabeça e fingi voltar a dormir, ele beijou meu rosto e se afastou. “Cuida dela até eu voltar garotão.” Ouvi ele dizer para Baby antes de sair do meu quarto.

Tudo bem, se vamos fazer isso mesmo, a hora é agora. Levantei rapidamente e assim que ouvi a porta da sala fechando, entrei correndo no meu closet e peguei uma pequena mala, colocando apenas o básico e peguei minha bolsa com meus documentos. Guardei também meu notebook, peguei meus cartões e todo o dinheiro em espécie que eu tinha guardado em casa e saí pela porta do quarto, Baby ficou parado me encarando.

“Eu te prometi que não ia mais te deixar sozinho.” Peguei a sua coleira que ficava em cima do balcão e coloquei nele. “A mamãe não quebra promessas. Vamos dar uma voltinha.” Saí com Baby e desci indo para a garagem e saindo de fininho, assim que cheguei na avenida avistei um táxi e fiz sinal para ele parar. Entrei com Baby e o motorista colocou minhas coisas no porta-malas e quando ele voltou e me olhou, me questionando para onde iríamos. “Aeroporto, por favor. O mais rápido que você puder ir.”

Alguns minutos depois, cheguei ao aeroporto e me dirigi para o balcão onde as passagens eram vendidas.

“Boa tarde, em que posso ajudar?” A atendente disse cordialmente. Parei por um momento, pensativa e a olhei um pouco constrangida.

“Você me acharia muito louca se eu te dissesse que não sei para onde eu quero ir?” Perguntei e atendente sorriu.

“A senhorita nem imagina a freqüência com que isso acontece aqui.” Ela sorriu também.

“E para onde as pessoas que não sabem para onde ir costumam ir?”

“Se me permite...” Ela apoiou os braços no balcão. “Eu sempre lhes aconselho a ir para algum lugar que lhes tragam boas recordações. Não precisam nem ser verdadeiras, pode ser algum lugar que você sequer tenha ido, mas que se imagina tendo boas memórias. Ou simplesmente vá para um lugar que você amou conhecer e não teve oportunidade de voltar mais.” Ela deu de ombros e olhei para Baby, sentado do meu lado, depois olhei para a atendente.

“Vamos para Londres.” Falei e ela assentiu.

“Econômica ou...”

“Deus... Não.” A interrompi. “Primeira classe, por favor.” Falei rindo e ela riu também.

“O próximo vôo saí em menos de 1hr.” Ela disse e me entregou a passagem. “Boa viagem para a senhorita e seu acompanhante.” Ela olhou para Baby.

“Obrigada.” Disse educadamente e após fazer o check-in e acomodar Baby, sentei na sala de espera e peguei meu notebook.

Abri uma página em branco em meu e-mail e comecei a digitar. Um pouco depois de terminar, avisaram para embarcar no vôo, levantei e peguei minha bolsa e dei uma última olhada para Nova Iorque, através da janela. Tchau Nova Iorque. Respirei fundo. Um dia a gente se vê de novo. Fiz o meu caminho e quando sentei no avião, peguei meu celular que já tinham várias ligações e mensagens, o desliguei e recostei-me na cadeira, resolvendo deixar tudo e todos os que me magoaram para trás.

POV Matthew Davis

Tinha acabado de desligar o telefone com Sophie, a avisei que ia almoçar com Luke e saí do escritório indo de caminho para o restaurante que tínhamos combinado. Quando cheguei, Luke já estava lá, nos demos um breve abraço como sempre e eu sentei.

“Eu liguei para a Sophie, perguntei se ela não queria vir...” Comecei a falar.

“Mas ela recusou, não recusou?” Ele me interrompeu e eu o olhei curioso.

“Sim, ela preferiu comer em casa. Teria algum problema se ela viesse?”

“Teria, por que preciso falar com você.” Ele parecia preocupado.

“O que foi?” Franzi a testa.

“Vamos pedir alguma coisa para beber primeiro, vou precisar e para comer, por que é provável que não consiga comer se falar antes.” Concordei ainda receoso, por que não sabia onde ele estaria querendo chegar.

Pedi uma garrafa de vinho branco e almoçamos, a comida quase não descia, não tinha idéia do que Luke queria falar comigo e honestamente, estava com medo de saber o que era por conta de todo esses suspense. Quando enfim terminamos, pedi que preparassem uma massa com o molho preferido de Sophie para que eu levasse e olhei para Luke, impacientemente, mas era notório o quanto ele estava nervoso.

“Eu sei de uma coisa, já faz algum tempo e não comentei com ninguém, mas eu preciso contar por que está me matando.” Ele falou e eu assenti, para que ele prosseguisse. “Naquele dia no hospital, quando Sophie precisou de sangue e o Richard não pôde doar, eu achei muito estranho. Eu pesquisei alguns casos e de fato, isso era muito improvável de acontecer. A Sophie tem o tipo sanguíneo AB negativo e Richard, O positivo...” Eu sabia onde ele estava querendo chegar, por que eu já desconfiava disso. “Uma pessoa com o sangue O positivo, nunca poderia ter um filho com o tipo AB negativo.” Apoiei a cabeça nas mãos e suspirei.

“Eu suspeitei na época.” Disse calmamente. “Por uma questão de lógica...” O olhei. “E por que foi perguntar ao Brian se ele sabia por que Amy e Richard não tiveram mais filhos.”

“Precisava ter alguma confirmação.” Ele esboçou um sorriso. “Por que não disse nada?”

“Acredito que pelo mesmo motivo que você não contou para a Sophie. Medo, receio...”

“Eu queria contar, só não sabia como fazer... Reconheço que errei, ela sempre foi forte em relação a tudo, talvez não fosse reagir tão ruim a isso.”

“Eu não sei...” Desviei o olhar dele por um momento, pensativo. “É fácil lidar com pessoas como você, como eu, que mostram o que sentem. É difícil saber o que esperar de quem parece não sentir nada.”

“Isso me deixa louco há anos.” Ele suspirou. “Não sei como ela vai reagir a isso, ela sempre teve um orgulho em falar ‘Sophie Trammer’, sabe? Ela nunca usou o sobrenome da mãe, sempre foi Trammer.”

“Eu me pergunto como ela e Richard podem não ser parentes... Vejo muitas semelhanças entre os dois.”

“Eu sei, é muito irônico.” Ele riu. “Sempre falei que ela devia ter sido advogada, não dá para questioná-la quando está com raiva.” Eu ri também.

“E eu não sei disso?” Ficamos em silêncio por uns momentos. “Você precisa conversar com ela.”

“Preciso, mas não sei como vou fazer isso.”

“Eu vou te ajudar, mas precisamos esclarecer isso de uma vez.” Disse e ele concordou.

Pagamos a conta e fomos para casa, entrei pela garagem e subi com Luke. Abri a porta, mas ainda estava trancada.

“Ué... Ela não está em casa?” Luke disse tirando as suas chaves do bolso e abrindo a porta.

“Quando falei com ela, antes de te encontrar, ela estava em um café e viria depois.” Disse e quando entramos, confirmamos que ela não estava em casa. “Vou ligar para ela.” Coloquei as sacolas em cima do balcão da cozinha.

Tentei ligar várias e várias vezes, Sophie não atendia. Resolvemos esperar um pouco, mas começamos a nos preocupar.

“Eu vou atrás dela.” Luke se levantou.

“Mas aonde?”

“Não sei... Vou procurar por ela nos lugares aqui perto que ela freqüenta.”

“Certo, eu vou ficar aqui caso ela apareça e insistir no celular.”

“Tudo bem, você me avisa se ela chegar e eu te aviso se achar ela.” Assenti e ele saiu.

Esperei, esperei e esperei. Nada de Sophie. O celular apenas chamava e ia para a caixa de mensagens onde eu já tinha deixando umas 10 mensagens pelo menos. Tive a idéia de ir até a portaria para saber se ela ao menos tinha vindo em casa e saído depois.

“Oi, boa tarde!” Falei para o porteiro.

“Sr. Davis.” Ele me cumprimentou. “Posso ajudar?”

“Pode. Você viu a Sophie hoje?”

“Vi senhor, ela chegou com uma senhora, elas conversaram um pouco... Essa senhora saiu e a Srta. Trammer saiu pouco depois.”

“Ela não falou para onde ia, nem deixou nenhum recado? Nada?”

“Não, ela apenas entrou em um táxi e saiu. E senhor, se me permite, ela não parecia bem.”

“Como assim não parecia bem?”

“Ela parecia bastante nervosa.”

“Essa mulher, essa que veio com ela, você já a viu por aqui? Sabe quem é? Como ela era?”

“Não senhor, nunca a tinha visto... Ela era quase do tamanho da Srta. Trammer, tinha os cabelos curtos e escuros. Aparentava ter uns 40 anos, por aí.” A descrição não batia com ninguém que eu conhecia.

“Tudo bem... Obrigado.” Esbocei um sorriso o agradecendo e subi de volta para o apartamento.

Depois de quase 1hr, ouvi o meu celular tocar e o peguei desesperado, mas era Luke.

“Cadê? Ela voltou para casa?” Ele perguntou tão aflito quanto eu.

“Não. E você também não teve nem sinal dela, não é?”

“Nada Matt. Ela simplesmente resolveu desaparecer!” Luke falou e quando abri a boca para dizer algo, a porta se abriu e Sophie entrou em casa.

“Graças a Deus!” Falei aliviado.

...

Sophie estava dormindo depois de quase 1hr chorando em silêncio, sem dizer uma palavra, ela apenas chorava e chorava. Eu não sabia o que fazer e a única coisa que ela havia pedido era que eu a abraçasse. Assim o fiz. Eu nunca tinha a visto assim... Tão frágil, precisando tanto de carinho, de colo, de atenção... De amor.

Kenny chegou em casa um tempo depois, ele estava fotografando uma campanha e enquanto arrumavam os cenários para as últimas fotos, ele pensou em ir em casa ver Luke e encontrou nós dois, em estado de desespero sem saber o que fazer com Sophie. Liguei para Brian e pedi que ele viesse também, Luke e eu contamos o que tinha acontecido.

“Mas o que pode ter acontecido com ela?” Brian falou, Luke me olhou pensativo.

“Preciso falar uma coisa para vocês.” Ele disse e contou para Brian e Kenny sobre Richard e Sophie não serem pai e filha e eu não estava entendendo por que ele tinha entrado nesse assunto.

“Meu Deus.” Kenny falou incrédulo.

“Eu não posso dizer que estou surpreso...” Brian disse. “Richard sempre a tratou diferente, até por mim ele tinha mais carinho que por ela. Agora tudo faz sentido.”

“Eu não sei o motivo de você tocar nesse assunto agora Luke.” O olhei confuso e entendi o seu raciocínio. “Acha que ela pode ter descoberto?”

“Eu só consigo pensar nesse motivo...” Luke falou. “O que mais iria fazer ela surtar daquela forma?”

O pensamento de Luke tinha sentido, cogitamos a idéia de que a tal mulher que estava com a Sophie de alguma forma sabia e contou para ela sobre. Mas só iríamos poder ter certeza quando ela acordasse e resolvesse nos contar o que aconteceu. Kenny e Brian tiveram que sair, mas logo voltariam e Luke foi comprar algo para Sophie comer, quando achei que teria alguns minutos de paz, o celular tocou, era Emily.

“Sr. Davis, desculpe incomodar...” Ela disse cordialmente.

“Imagine Emily, eu que peço desculpas. Saí para almoçar e não voltei mais. Está tudo bem?”

“Não, não senhor. Estamos tendo uns problemas aqui e preciso que venha o mais rápido possível.”

“Problemas? Mas o que aconteceu?” Franzi a testa.

“É difícil explicar por telefone senhor, é melhor que venha pessoalmente.”

“É tão sério assim?”

“Sim senhor.”

“Emily...” Respirei fundo. “É complicado eu ir para aí...” Andei até o quarto de Sophie e abri um pouco a porta, ela ainda estava dormindo. “Eu estou muito ocupado agora.”

“Eu tenho certeza senhor, mas por favor, não estaria ligando e pedindo que viesse se não fosse importante.”

“Droga...” Resmunguei. Ela estava certa, se estava insistindo tanto é por que tinha acontecido algo realmente sério. “Eu estou indo.”

“Certo, obrigada senhor.” Desliguei o celular e me aproximei de Sophie. “Sophie?” Coloquei a mão em seu braço e ela gemeu algo, então estava me ouvindo. “Teve um problema na empresa e eu preciso ir para lá agora, mas Luke daqui a pouco está voltando e eu não demoro também. Vai ficar bem sozinha?” Ela fez que sim com a cabeça e voltou a dormir, com sorte ela ainda estaria dormindo quando eu voltasse. Beijei seu rosto e vi Baby, sentado próximo a cama e fiz carinho nele. “Cuida dela até eu voltar garotão.” Falei e saí.

Dei uma organizada em tudo e depois peguei minhas chaves e saí para a garagem. Dirigi até a empresa, demorando mais do que eu gostaria... Mas em Nova Iorque, depois de determinada hora, é impossível se locomover, tudo parava. Quando enfim cheguei e estacionei o carro, subi ao encontro de Emily que estava ao telefone e pediu que eu aguardasse só um minuto. Fui para minha sala e dei uma conferida em tudo para ver o que tinha de errado, mas para minha surpresa, estava tudo aparentemente tranqüilo como sempre. Abri os e-mails e novamente, nada demais, apenas os de rotina. Voltei a mesa de Emily e ela ainda estava no telefone.

“O que aconteceu? Não vi nada de anormal.” Falei para ela.

“Só mais um minutinho senhor.” Ela disse afastando um pouco o telefone e voltou sua atenção a quem estava do outro lado da linha. Aguardei não só um minuto, mas vários e já estava perdendo a paciência.

“Eu preciso resolver o que tem pra ser resolvido agora Emily.” Falei tentando controlar a voz, mas estava ficando impaciente. Ela me olhou sem graça e eu peguei o telefone da sua mão o desligando. “O que aconteceu de tão sério que não pode esperar até amanhã para eu resolver, mas pode esperar até você terminar de falar ao telefone?”

“É que... Senhor... Eu...” Ela começou a gaguejar, aparentando estar tensa.

“Diga de uma vez Emily, deixei Sophie dormindo em casa sozinha e já que não tem nada aqui eu vou voltar.”

“Senhor, foi ela quem pediu que ligasse para o senhor e o fizesse vir para cá.” Ela falou constrangida.

“O quê?” Gritei. “Por que ela pediria isso?”

“Eu não sei senhor, apenas cumpro ordens.” Emily falou e eu saí correndo, bufando dali.

Nem sei como cheguei tão rápido a garagem e dirigi, aliás, praticamente voei para casa. Quando cheguei, Luke estava saindo do quarto de Sophie com uma cara nada boa.

“O que houve?” Falei e corri para dentro do quarto. Estava vazio. “Cadê ela?”

“Eu acabei de chegar! Você não devia estar aqui com ela?” Ele perguntou exasperado.

“Você não imagina o que ela fez...” Contei para Luke o que Emily tinha dito para mim.

“Ela não fez isso.” Ele entrou novamente no quarto, indo para o closet. “Os documentos... Tudo... Ela levou. Nem Baby está aqui!”

“Você acha que...”

“Eu tenho certeza.” Ele me interrompeu. “Ela foi embora.” Ele disse incrédulo.

Tentamos ligar para ela, óbvio que ela não atendeu. Ligamos para Brian e Kenny, que disseram estar voltando para o apartamento imediatamente. Falei com Black e ele disse que poderia tentar rastrear o celular dela, depois de um tempo e quando já estavam todos em casa, ele retornou dizendo que a última localização dela, foi no aeroporto e que não tinha conseguido mais algum sinal, isso significava que ela já tinha ido, para onde quer que ela tenha ido. Peguei meu celular e abri, sem querer, o e-mail, mas vi que tinha um não lido de Sophie, que ela tinha enviado há poucos minutos atrás.

Primeiro, peço que leia isso para todos, que com certeza devem estar aí com você.

Senti um nó em minha garganta, mas continuei e agora lendo para todos.

E antes de qualquer coisa, peço desculpas. Desculpem-me por ter sido covarde e por não poder encarar os meus problemas. Saí praticamente fugida, mas foi preciso, vocês não aceitariam se eu os contasse sobre o que eu queria fazer.

Sei que estão se perguntando sobre o que aconteceu comigo e a verdade é que vocês estavam certos, eu descobri que Richard não é meu pai. Como eu sei que vocês achavam que esse era o motivo do meu ataque de choro melo-dramático? Eu os ouvi conversando. E os ouvi quando todos disseram que já sabiam. Vocês podem imaginar como eu estou agora, não é? Na verdade, sinto que podia matar qualquer um de vocês que aparecesse na minha frente nesse minuto.

A mulher que veio falar comigo mais cedo, era a minha mãe. Beatriz Scott Evans. Sim, Matthew, era a mesma Beatriz que quis acabar comigo, mas segundo ela, era apenas um plano de vingança contra Richard. Resumidamente, ela traiu Richard com vários homens, tantos homens que ela sequer sabe quem é o meu pai de verdade. O meu avô, aliás, o Sr. Ryan Trammer, a ofereceu dinheiro para ir embora e me deixar com eles e ela assim o fez. Uma mãe formidável...

Eu não estou indo embora para todo o sempre, sei que Luke está pensando isso, por que é mais dramático do que eu. Eu só quero um tempo. Um tempo para me recuperar de tudo isso, do choque de saber que eu não sou quem eu sempre achei que eu fosse e para me recuperar do fato de que as pessoas mais importantes da minha vida, esconderam isso de mim.

Baby está comigo, se vocês puderam notar a falta dele. Ele vai me fazer companhia e vamos cuidar um do outro. E Matthew, sei que Black tem meios de me encontrar em qualquer lugar do mundo, mas eu peço, por favor, não venha atrás de mim. Dê a mim o espaço e o tempo que eu estou pedindo, isso tudo foi demais para mim. Imaginem que eu apenas saí de férias e que em breve eu retornarei com boas histórias para contar e uma pessoa renovada, ou assim pelos menos eu espero estar quando voltar.

Se cuidem e tentem não me odiar por isso, principalmente você Matt.

Beijos,

Sophie Marie.

“Então é isso? Ela simplesmente resolveu ir embora?” Brian falou perplexo.

“Parece que sim.” Sequei discretamente uma lágrima que havia caído de meus olhos.

“Isso tudo é minha culpa... Ela ouviu uma parte da conversa e achou que todos vocês já sabiam da verdade e escondeu dela.” Luke sentou no sofá chorando e Kenny segurou sua mão.

“Ela não pode fazer isso...” Brian disse inconformado.

“Ela pode Brian.” Disse. “Ela fez.”

“Olha, correndo o risco de ser fuzilado aqui agora... Mas eu a entendo.” Ken falou e nós três o encaramos. “Gente, se coloquem no lugar dela. Só eu ouvi o que ela escreveu aí? Ela descobriu que a mãe está viva e é uma vadia e que o pai, que não é pai dela, é um infeliz sem coração. Tenham um pouco de piedade dela.”

“Eu sei que é difícil Kenny, eu nem consigo imaginar estar no lugar dela.” Brian se apoiou na parede. “Mas não quero que ela vá embora.”

“Nenhum de nós queria.” Disse. “Mas é a Sophie. E sempre vai ser a Sophie em primeiro lugar para ela.” Levantei e guardei o celular no bolso.

“Aonde você vai?” Luke perguntou.

“Aonde você acha que eu vou?” O olhei sério. “Para casa.” Saí batendo a porta e fui embora.

Cheguei em casa e me joguei no sofá. Ela foi embora. Ela sequer teve a decência de olhar na minha cara e dizer que ia embora. Sim, Sophie, você foi uma covarde, se é isso que quer saber. Tirei o paletó e fui para o quarto, olhei para a cômoda onde tinham os dois ingressos para o ballet que eu tinha planejado levá-la, os peguei com raiva e tinha a intenção de rasgá-los ao meio, mas fui mais covarde que ela e não consegui, por que uma parte de mim – uma parte bem burra – ainda tinha esperanças de que ela iria voltar a tempo de ir comigo. Mas eu não me conformava... Como ela podia ter feito isso comigo? Com a gente? E tudo o que passamos? Eu estive do seu lado nos melhores e nos piores momentos, era eu que estava lá e isso não contava? Aparentemente não. Calma, Matthew... Deitei na cama. Ela quer um tempo, dê esse tempo... Coloque-se no lugar dela. Ok, eu posso fazer isso. Ela disse que não tinha ido embora para sempre, que precisava de férias, férias geralmente duram um mês. Eu posso suportar um mês, posso agüentar isso por ela... Não posso?

Tomei um banho e coloquei uma calça de moletom, deitei na cama e liguei a televisão, numa tentativa de me desligar de tudo que tivesse a ver com Sophie Trammer. Passei pelos canais rapidamente e parei quando vi Dirty Dancing. Não pensar em Sophie vai ser mais difícil do que parece... Desliguei a televisão e peguei o celular, mandei uma mensagem perguntando onde ela estava, esperando que ela respondesse. Ela não respondeu.

Por que será que eu estava com a impressão de que esse um mês iria parecer demorar um ano para passar?


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Notas finais do capítulo

Gentchi... Sôsô arregou! Tadinho do Matt :( Quem mais quer ir consolar ele???? hahaha



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