Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 66
Se não fosse amor - Cap. 23: Superando um término.


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!!!!!
Boa leitura meninas e fico muito feliz por não ter recebido ameaças de morte pelo capítulo anterior! hahaha
Beijos,
Suy.



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POV Matthew Davis

Brian, Emily e eu estávamos no hall conversando para passar o tempo, acontece que toda a rede de internet não estava funcionando aquela manhã e tínhamos que ficar esperando os técnicos consertarem tudo e já que hoje em dia, tudo se resolve online, o prédio todo praticamente parou.

“Tem a degustação dos pratos e dos drinks hoje, por volta das 13hrs.” Emily nos disse.

“Adoro degustação!” Brian falou de forma animada. “A festa da empresa é em 10 dias, dá pra acreditar? Passou muito rápido...” Ele disse e nós concordamos.

“Verdade, mas não vejo a hora que chegue o dia dessa festa e que acabe logo também, menos uma coisa pra se preocupar!” Falei.

“Faz tanto tempo que a Srta. Trammer está organizando isso, que acho que ela também não vê a hora que acabe.” Emily disse.

Ouvimos o barulho do elevador, quando as portas abriram, Sophie saiu de dentro dele, usando um vestido cinza, de óculos escuros e uma cara de péssimo humor, sendo acompanhada por ninguém menos que Baby. Olhei para Brian com a testa franzida, sem entender absolutamente nada.

“Por que trouxe o cachorro?” Brian perguntou para ela, Emily e eu trocamos olhares por que sabíamos que nesse estado de mau humor dela, qualquer pergunta era perigosa de se fazer.

“O prédio é meu, se eu quiser entrar aqui com um elefante, não é da sua conta.” Ela respondeu grosseiramente e soltou a coleira de Baby, que pulou em cima de Brian e depois de mim, demonstrando mais animação que a sua doce e amável dona.

“Alguém parece que acordou com o pé esquerdo hoje...” Brian debochou dela e ela apenas bufou, se aproximando de Emily.

“Tem algum motivo em especial pra todo mundo estar sentado sem fazer nada lá embaixo ou só eu que perdi o moral aqui dentro mesmo?” Sophie falou com ironia.

“Estamos sem internet senhorita.” Emily respondeu com a mesma calma de sempre, a esse ponto de convivência com Sophie, ela já tinha se acostumado com o ótimo humor matinal dela.

“Estamos sem internet!” Ela repetiu sarcástica, olhando para Brian e para mim.

“Os técnicos já estão verificando isso Sophie.” Falei enquanto fazia carinho em Baby, que parecia maior do que quando o vi pela última vez. Sophie tirou o celular do bolso com raiva e discou algum número.

“Não me manda ficar calma! Eu tô calma!” Ela gritou assim que atenderam e se afastou um pouco, indo até a janela.

“Cara... O que ela tem hoje?” Brian sussurrou para nós.

“Está mais atacada que o normal...” Falei.

“Um de nós deveria ir falar com ela.” Emily disse. Nos entreolhamos e honestamente, nós não estávamos nenhum pouco afim de tentar ser terapeuta da Sophie.

“Você é mulher...” Apontei para Emily. “Vai entender melhor e você...” Apontei para Brian. “É o irmão, então um dos dois deveria ir.”

“Ah não, não vem jogar pra cima de mim!” Brian disse. “Já levei a minha patada de hoje, se ela for grossa comigo de novo, eu vou chorar heim!”

“Eu posso ser demitida se disser alguma coisa de errado, um de vocês dois que têm que ir.” Emily falou.

“Que nada Emily, ela pode estar meio doida hoje, mas demitir? Já é demais...” Disse.

“Olha só, eu vou matar um hoje ai!” Sophie gritou batendo na janela e nós desviamos o olhar pra ela, tomando um belo de um susto. “A culpa não é minha se você só trabalha com gente incompetente! Eu tô me lixando se o problema é na cidade toda, eu quero meu prédio com internet em meia hora!”

“Eu retiro o que eu disse...” Falei me abaixando, ficando na mesma altura de Baby. “A mamãe hoje surtou foi?”

“Será que ela esqueceu de tomar o tarja preta dela?” Brian disse e nós começamos a rir.

“Eu perdi a piada.” Sophie estava parada, próximo a nós e disse com os braços cruzados. “Vem Baby.” Ela o chamou e ele a seguiu até sua sala. “E lembra o que a gente conversou, se fizer barulho vai ficar de castigo!” Ela disse impacientemente e entrou fechando a porta da sua sala.

“É... Alguém precisa falar com ela.” Falei, Emily e Brian concordaram.

“Tá, mas qual dos três vai para a forca?” Brian perguntou.

“Eu sugiro que a gente resolva isso de uma forma madura e igualitária.” Emily disse.

“Pedra, papel e tesoura?” Falei e os dois concordaram.

“Melhor de três.” Brian disse e ao fim da brincadeira, adivinha quem tinha se ferrado?! “Eu só queria te dizer que foi muito bom te conhecer cara e que eu vou no seu velório com certeza!” Brian disse dramaticamente.

“Que a força esteja com você!” Emily disse se fingindo de séria também.

“Eu ainda acho que vocês me roubaram!” Resmunguei andando em direção a sala de Sophie, fiz o sinal da cruz antes de entrar e abri a porta.

Baby estava no chão, brincando com uma de suas pelúcias e Sophie estava deitada de bruços no sofá. Bem, lá vamos nós! Fechei a porta atrás de mim e sentei no chão ao seu lado.

“Sophie, aconteceu alguma coisa?” Perguntei receoso que ela puxasse uma faca e arrancasse minha cabeça.

“Nossa, mas tá tão na cara assim que aconteceu alguma coisa?” Ela disse irônica.

“Seus níveis de ironia e sarcasmos hoje estão mais elevados que o normal.” Falei e ela respirou fundo, virando o rosto em minha direção. Ela estava sem os óculos escuros, então pude notar como ela estava com uma aparência cansada, abatida... E eu comecei a me preocupar de verdade. “O que houve?”

“Eu e o Ethan... Nós dois... Quer dizer... Só ele... Ai ele foi... E eu fiquei... Entendeu?” Ela respondeu se enrolando com as palavras, mas acho que eu tinha conseguido entender. Minhas preces foram ouvidas? É isso mesmo?

“Sophie... Vocês terminaram?” Perguntei e ela voltou a enfiar seu rosto no sofá e fez que sim com a cabeça. “Que pena...” Disse sem conseguir conter meu riso, ela olhou para mim chocada.

“Você tá sorrindo?” Sophie falou. “Podia ao menos fingir que está sentindo muito?”

“Não... Não dá, desculpa.” Falei ainda rindo.

“Matthew, eu tô péssima, não consegui dormir, tive uma noite de cão e o dia tá uma bosta e você tá feliz por que eu terminei meu namoro?! O quão péssimo amigo você é?” Ela sentou me encarando.

“Bom, você colocando dessa forma, realmente soa horrível.” Sentei ao seu lado. “Mas como isso aconteceu?”

“Ele vai embora...” Ela suspirou. “Recebeu um convite pra viajar pelo país a trabalho e simplesmente aceitou, sem nem me falar nada.” Ela me olhou perplexa. “Dá pra acreditar?” Sophie se levantou indo para sua cadeira. “Mas eu já sabia que seria desse jeito, nem sei por que fiquei tão mal.”

“Por que você gosta dele. É por isso que ficou mal.” Andei sentando de frente para ela, do outro lado da mesa.

“Não é só isso, quero dizer, óbvio que não estou saltitante por que ele resolveu me trocar por um monte de macho no exército.” Ela se recostou em sua cadeira. “Eu sonhei com a minha filha ontem... Isso sempre me deixa muito emotiva, sabe?”

“Foi bom ou foi ruim?”

“Foi bom.” Ela sorriu. “Mas não quero muito falar sobre isso, é algo bem pessoal.”

“Claro, eu entendo...” Assenti. “Mas e aí, como está com tudo isso?”

“É só olhar minha cara pra saber como eu estou com tudo isso!” É, eu pedi por essa resposta delicada. “Por um lado eu tô feliz que ele esteja fazendo algo que gosta, mas por outro... Convivemos por tanto tempo, como vou me acostumar a ficar sem ele?”

“Justamente com o tempo.” Sorri pra ela. “Vai ficar mais fácil, você sabe que fica. Ele no fundo é um cara legal.”

“Ele é...”

“E você agora vai me pedir pra te deixar um pouco sozinha.”

“Leu meus pensamentos.” Ela concordou. “Desculpa eu só não sou boa em conversar sobre essas coisas.”

“Acho que já falou até demais.” Levantei e fui até ela. “E quando cansar de ficar sozinha com seus pensamentos, sabe onde me achar.” Falei e ela sorriu ficando em pé e me abraçou.

“Obrigada e desculpa se eu estou um pouco chata hoje...” Ela me soltou e disse sem graça.

“Ah, o que é isso! Brian só está deitado no chão em posição fetal depois dos seus gritos e Emily se tremendo, mas tirando isso... Está tudo normal.” Falei com diversão e ela começou a rir.

“Engraçado como a gente consegue ser dramático ás vezes...” Ela se apoiou em sua mesa e fiquei de frente para ela. “Ontem a noite, logo depois que Ethan foi embora, eu fiquei tão mal e triste que achei que nunca mais ia conseguir rir de novo.”

“Você vai rir sempre que algo tiver graça o suficiente pra te fazer rir.” Beijei seu rosto. “Quer que eu fique com o Baby?”

“Não, pode deixar ele aqui... Só espero que não destrua nada ou coma alguma coisa.”

“Ele nunca vai parar de crescer? Parece maior desde a última vez que o vi e só tem uns dias.”

“Talvez você tenha se enganado e comprou um cavalo ao invés de um cachorro...” Começamos a rir e fui andando em direção a porta. “Sophie...” Disse quando abri a porta e ela se virou em minha direção. “Não precisa se preocupar, isso não é o fim de nada, é apenas o começo.” Pisquei pra ela e saí.

“Ainda está vivo, isso é bom...” Brian falou vindo em minha direção. “E está sorrindo, o que é estranho...” Ele cerrou os olhos. “O que rolou?”

“Rolou que sua irmã está oficialmente solteira.” Disse e Brian parou perplexo.

“Já posso te chamar de cunhado então?” Ele falou batendo em minhas costas.

“É, vamos com calma... Ela tá chateada ainda, se eu partir pra cima agora ela vai recuar. Mas eu diria que pode começar a se acostumar a me ter como seu cunhado sim...”

“Aê meu amigo!” Brian pulou se apoiando em meus ombros, comemorando.

Eu mal podia acreditar na oportunidade que estava tendo... Finalmente, depois de tanto tempo, parecia que as coisas iam começar a se ajeitar e dessa vez eu não iria perdê-la, não mais.

POV Sophie Trammer

“Você não tá legal... O que aconteceu?” Luke disse após apenas dois minutos de ligação, era terrível quando alguém já te conhecia tão bem a ponto de você não conseguir esconder nada.

“Não aconteceu nada, está tudo tranqüilo. Só cheia com os trabalhos aqui mesmo.” Desconversei por que não sabia se Kenny estava por perto e não queria que Luke comentasse com ele agora.

“Sophie, diz logo o que aconteceu, a mim você não engana e não me faça ficar preocupado.”

“Argh...” Resmunguei. “Ken está ai com você?”

“Não, ele foi correr. Por quê? Foi alguma coisa com o Ethan não é?”

“Foi...”

“Ai meu Deus! Vocês terminaram!”

“Nossa, mas tá tão óbvio assim?” Falei chocada.

“Vocês não eram o casal mais feliz do mundo quando viajei, já estava esperando por isso.”

“Estava esperando ou torcendo por isso?”

“Um pouco dos dois... Sabe que se eu tivesse escolhido, você não estaria com ele.”

“Eu sei Luke, mas nem pense que eu vou me jogar em cima do Matthew agora. Ainda me resta um pouco de dignidade e eu realmente estou me sentindo uma merda.”

“Meu amor... O que eu posso fazer por você? Pra melhorar seu humor pelo menos.”

“Nada Lu, eu sei que vai passar... É que ainda tinha esperança de que essa semana juntos fosse nos ajudar, mas saiu tudo do jeito que eu não esperava.”

Contei para Luke como tudo tinha acontecido, que tínhamos ido jantar e que nesse jantar, por terceiros, soube que ele estava indo viajar. Falei sobre a conversa que tivemos e que na verdade, tinha sido tudo muito amigável, apenas concordamos que queríamos coisas diferentes no momento e não queríamos privar o outro de conseguir o que queria.

“E agora? O que você vai fazer?” Luke perguntou e eu conhecia aquele tom de preocupação.

“Acho que...” Olhei para o lado e vi Baby destruir com mordidas e arranhões o braço do meu sofá. “Acho que matar um cachorro!” Gritei. “Baby! Para com isso agora!” Levantei e Baby parou de morder o sofá. “Que coisa feia, mordendo o sofá da mamãe, vai ficar de castigo e nem adianta fazer essa carinha de bom rapaz!”

“Olha, quem escuta, jura que você tá brigando com um ser humano.” Luke falou rindo e eu comecei a rir também, sentando no sofá. “E levou ele para ai por que?”

“Fiquei com dó de deixar sozinho em casa... Só não posso esquecer esse instinto de destruir tudo que ele tem.”

“Liga a câmera do celular, deixa eu ver ele.”

“Tá bom, espera.” Desbloqueei o celular e cliquei ativando a câmera, quando o rosto de Luke apareceu eu o coloquei na frente de Baby que começou a pular de um lado para o outro e latindo. “É o tio Luke, Baby!” Falei rindo da reação dele.

“Quem é meu meninão? Quem é?” Luke disse e Baby começou a pular só em duas patinhas, de alegria. Virei a câmera para mim e Baby saltou no sofá, ficando ao meu lado. “Já faz um mês que estou fora? Por que eu já tô morrendo de saudade!”

“A gente também está, né Baby?” Falei sorrindo.

“Você está sorrindo, mas está com uns olhinhos tão tristes, Sophie...” Luke disse sério. “Queria estar ai com vocês!”

“Eu também queria que você estivesse aqui, mas um de nós dois tinha que ter sorte no amor!” Comecei a fazer carinho em Baby, que deitou a cabeça em meu colo.

“Próxima semana eu estou aí, não precisam se desesperar!” Ele falou brincando. Como ele e Ken já tinham alguns trabalhos agendados, não podiam passar muito tempo fora, por isso a viagem super rápida, mas já estávamos pensando na nossa viagem para o meio do ano, umas férias forçadas, eu diria.

“Eu vou tentar não me desesperar!” Sorri. “Eu preciso ir, tem a degustação das comidas para a festa. Mas Lu, não conta nada pro Kenny sobre a viagem do Ethan, deixa que ele mesmo conta, está bem?”

“Sim, claro, é melhor ele saber pelo próprio Ethan mesmo... E você se cuida tá? E cuida bem desse bebezão ai do seu lado.”

“A gente vai se virar sem você, vamos tentar sobreviver. Manda um beijo pro tio Luke, Baby.” Abaixei o celular na altura que estava a cabeça de Baby e ele começou a lamber a tela. “Eca!”

“Ele lambeu a tela?” Luke falou gargalhando. “Foi você que disse pra ele me mandar beijo!”

“Esse cachorro tá inteligente demais pro meu gosto...” Falei pegando com nojo no celular todo babado e me despedi de Luke.

A internet já tinha voltado e todos já tinham voltado a se ocupar. Estava quase na hora do almoço, mas hoje Brian, Matt e eu iríamos aproveitar e provar o cardápio que seria oferecido na festa, convidei Emily, mas ela já tinha marcado com o namorado de almoçarem juntos. Levei Baby até Black, por que como ele já tinha ido almoçar, ficaria de olho no meu pequeno arteiro até eu voltar. Matthew foi dirigindo e Brian no banco do passageiro, enquanto eu estava, literalmente, deitada no banco detrás, por que os reflexos de não ter dormido bem, estavam aparecendo agora. Meu humor tinha melhorado um pouco, principalmente por que era impossível ficar de mau humor quando os dois patetas estavam por perto e quando eles estavam tentando acertar o caminho até o Buffet.

“Vocês conseguem ter um senso de direção pior que o meu!” Berrei.

“Não tem GPS nesse carro?” Brian falou para Matthew.

“Eu estou justamente fazendo o caminho do GPS!” Matthew disse.

“Eu quis dizer um GPS de vergonha, esse seu é meio burro...” Brian falou mexendo nele.

“Não culpa meu GPS, culpe essa moça ali atrás por escolher um Buffet tão longe!”

“Não é minha culpa se é o melhor Buffet de toda a cidade!” Me defendi. “Você só está sendo chato assim por que está com fome.”

“Não, eu estou sendo chato por que não sei onde estamos!” Matt falou me olhando pelo retrovisor.

“Isso é ridículo... Tem uma mulher ali, para do lado que eu vou pedir informação.” Brian falou abaixando o vidro do carro e Matthew parou. “Com licença, poderia nos dar uma ajuda?” Ele disse e a moça se aproximou da janela, sorridente. “A gente está procurando por esse endereço...” Ele mostrou o cartão do Buffet e ela deu uma breve instrução de como chegar ao local, pelo menos estávamos perto.

“Você vai dar uma festa ou o quê?” Ela perguntou para ele, sorrindo de uma forma um tanto quanto maliciosa e eu fiquei apenas aguardando Brian pegar o número dela para marcarem de sair depois. Eu avisei Mabel... Porém, para minha surpresa, isso não aconteceu.

“Sim, nosso noivado!” Brian falou colocando a mão na perna de Matthew, que o olhou perplexo e chocado.

“Vocês dois estão... Você sabe... Juntos?” Ela disse desapontada.

“O que eu posso dizer? Estou completamente apaixonado!” Matthew disse segurando na mão de Brian e eu cobri minha boca com as duas mãos para não gargalhar.

“Ah... Claro... Bem, é só dobrar ali na frente como eu disse, vocês estão à uns 10min de distância.” A moça se afastou um pouco do carro.

“Obrigado querida!” Brian disse afinando a voz. “E amei o look, tá super fashion!” Ele levantou o vidro da janela e Matthew saiu com o carro.

“Ai. Meu. Deus.” Sentei ficando entre os dois bancos da frente. “Ai! Meu! Deus!” Disse de novo rindo.

“O que foi? Nunca viu um casal apaixonado antes?” Matt disse se fingindo de sério.

“Vocês dois são mais gays que o Luke e o Kenny juntos, eu juro!”

“Olha queridinha...” Brian olhou para mim. “A senhorita está sendo muito preconceituosa, a sociedade já aceita o nosso relacionamento.”

“Vocês são o tipo de amigos mais estranho que eu já vi na vida.” Recostei-me no canto e então me passou algo na cabeça. “Brian...”

“Diga!” Ele falou e eu me aproximei dele de novo.

“Não quis sair com aquela moça por causa da Mabel?” Ele me olhou meio sem graça depois voltou a olhar para frente.

“Claro que não, ela só não fazia meu tipo...” Ele deu de ombros.

“Não fazia seu tipo?” Matthew o olhou com diversão. “Te conheço a vida toda praticamente Brian, sendo mulher, já é seu tipo.”

“Cara eu não sou essa putinha assim fácil!” Brian disse de forma dramática. “Eu tenho meus princípios!”

“Para de enrolar!” Bati em sua cabeça. “O negócio com a Mabel já está em um ponto mais sério então?”

“Como assim ‘ponto mais sério’? O que isso quer dizer?”

“Você sabe o que eu quero dizer Brian!”

“Só saímos uma vez Sophie e não, não transamos ainda se é o que está enchendo o saco pra saber!” Ele falou impaciente.

“Boa menina a Mabel...” Disse pensativa. “Moças de respeito não vão pra cama no primeiro encontro.” Falei e Matthew limpou a garganta, me olhando pelo retrovisor e eu entendi o recado. Eu tinha ido pra cama com no primeiro encontro. “Foi diferente! Você tava me enrolando a muito tempo e sempre saíamos juntos, então tecnicamente aquele foi, pelo menos, o centésimo encontro.”

“Eu não estou ouvindo vocês dois falando da vida sexual de vocês aqui, na minha frente.” Brian falou tampando os ouvidos.

“Desculpa cara, não sabia que você ainda pensava que sua irmã é virgem.” Matt disse.

“Eu queria ser virgem... Na verdade acho que vou me abster de sexo pro resto da minha vida.” Falei e Matthew freou de uma vez, em cima do sinal vermelho.

“Sem decisões precipitadas, ok?” Ele se virou me encarando e eu ri da sua cara de desespero.

“Alguém me mata, por favor.” Brian cobriu o rosto. “Não mereço ouvir essas coisas, eu não mereço!” Brian gritou, Matthew e eu começamos a rir dele.

Apenas alguns poucos minutos depois, finalmente chegamos ao Buffet. O chefe veio nos receber e depois de explicar o conceito dele para a festa, os pratos começaram a ser servidos em pequenas porções cada. Tudo estava muito gostoso, as entradas e os pratos principais tinham tudo o que eu havia pedido para ele, elegância, simplicidade e sabor marcante, tudo o que eu gostava em uma comida. As sobremesas então... Sem comentários. Seriam oferecidas quatro tipos diferentes, entre eles um mousse de chocolate que eu tive que repetir, por que término de relacionamento, com pressão pré-evento e TPM, mereciam uma dose extra de chocolate. Depois fomos até o bar, onde um barman fez para nós os drinks que seriam servidos, Brian ficou responsável por experimentar os que tinham álcool, já que Matthew estava dirigindo e meus remédios não permitiam grandes doses de álcool no meu sangue, então nós dois provamos os que não eram alcoólicos, dentre eles, um drink feito especialmente para a nossa festa, uma exclusividade.

Quando terminamos tudo, acertamos o orçamento final e voltamos para o prédio. Baby ficou comigo o resto da tarde e eu estava bem, nem feliz, nem triste... Apenas normal. Mas com o passar das horas, conforme foi escurecendo e eu lembrava que ia ter que ir pra casa, passar mais uma noite sozinha... Era um sentimento horrível. Ethan não tinha mandado mensagem ou ligado o dia todo, eu sabia que assim era melhor, manter uma certa distância ia ajudar a esquecer ou tentar esquecer mais rápido, mas mesmo assim, fazia falta. Meus pensamentos foram interrompidos quando a porta da minha sala abriu de uma vez, me fazendo pular um pouco na cadeira com o susto.

“Eu tava indo embora e vi que sua luz estava acesa...” Matthew entrou deixando a porta aberta. “Não deveria estar em casa já? Ou indo, pelo menos?” Olhei para ele com pesar.

“Não quero ir pra casa, Matt.” Suspirei. “Não quero passar mais uma noite em claro e sozinha.”

“Eu posso ir com você, te faço companhia.” Ele se aproximou, parando de frente a mim.

“Sem querer ofender, mas não tem nem 24hrs que eu terminei meu namoro de 5,6 ou 7 meses. Não vou deixar você ficar em casa sozinho comigo.”

“Acho que a esse ponto, você já sabe que eu nunca, jamais, encostaria um dedo sequer em você se você não permitisse isso.” Eu desviei o olhar e concordei, eu sabia que ele não faltaria o respeito comigo de jeito algum. “Mas eu entendo o seu ponto de vista...” Ele passou a mão nos cabelos e depois na barba mal feita. “Tem algo que eu possa fazer?”

“Não...” Encostei a testa na mesa. “Eu vou ficar aqui mais um pouco, adiantar algumas coisas... Depois o motorista vai me deixar em casa, não precisa se preocupar.”

“Tudo bem.” Ele se aproximou e beijou meus cabelos. “A gente se vê amanhã.”

“Até amanhã!” Falei antes dele sair, fechando a porta.

Fiquei brincando de jogar uma bolinha para Baby e ele saia correndo pra ir buscar e trazia de volta, até que uma hora, ele mesmo cansou da brincadeira e veio choramingando pro meu colo.

“O que foi?” Falei o fazendo carinho. “Vai ser só nós dois por um bom tempo, é melhor começar a se acostumar.” Ele pulou de volta pro chão, quase me fazendo cair da cadeira e se deitou no meu sofá. Até o coitado do Baby já está com sono, é melhor ir logo pra casa.

Ouvi um barulho na maçaneta da porta e olhei receosa.

“Achei que se abrisse a porta devagar, você não ia se assustar.” Matthew colocou só o rosto pra dentro da sala e eu ri.

“Ou você poderia bater na porta, é uma maneira muito mais eficiente de não me assustar.”

“Enfim...” Ele sorriu. “Pensei que ia te ajudar beber alguma coisa.” Ele entrou na sala carregando uma sacola.

“Beber? Tem certeza?” Falei confusa. “Sabe melhor que ninguém que eu não posso beber...”

“Sim, não pode beber nada que contenha álcool.” Ele tirou dois copos de dentro da sacola. “Por isso eu fui ao McDonald’s no fim da avenida e trouxe milkshakes.” Ele os pôs em cima da mesa e eu o olhei rindo.

“Milkshakes?”

“Convenhamos que é muito mais gostoso que vodka ou whisky...” Ele falou e eu assenti ainda rindo. “Temos napolitano e flocos.”

“Nunca experimentei o napolitano...” Disse pensativa.

“Vai experimentar, já já. Levanta, a gente vai sair.”

“Sair Matthew? Pra tomar milkshake?” Fiquei em pé.

“Não é bem sair... Mas vem, vai entender.” Ele estendeu a mão para mim e eu a peguei.

“E o Baby?”

“Ele pode vir junto, ele vai adorar, aliás.” Ele pegou os milkshakes e saímos os três em direção aos elevadores.

Quando entramos, ao invés de descer, como eu achei que iríamos, nós estávamos subindo e continuamos subindo até chegar ao último andar do prédio. As portas abriram e saímos do elevador.

“Quer fazer o favor de explicar o porquê de estarmos aqui?” Disse para Matthew enquanto o seguia.

“Aqui está o por quê.” Ele parou de frente para uma porta.

“E o que tem aí?” Falei e ele a abriu, revelando uma escada. “Sem querer cortar seu barato, mas daqui que eu consiga subir todas essas escadas, o dia já amanheceu.” Sorri ironicamente e ele ficou pensativo por um momento e virou de costas pra mim.

“Sobe.”

“O quê? Nas suas costas?” Falei incrédula. “Não mesmo...”

“Deixa de besteira, vem logo.”

“Eu te odeio. Sabia disso?”

“Não, você não me odeia. Agora, por favor, suba logo antes que eu te pegue no colo a força, o que vai ser pior.” Ele disse e eu bufei. Me apoiei em seus ombros e subi em suas costas envolvendo minhas pernas em seu corpo. “O lado bom é que eu acho que você já recuperou o peso que perdeu depois do acidente...”

“Sério Matt? Vai me chamar de gorda? Não tem amor pela sua vida?” Disse tentando não rir.

“Não chamei de gorda, não distorça minhas palavras.” Ele começou a rir e fomos subindo pela escada, com Baby na nossa frente.

Finalmente chegamos ao fim, parando em frente a outra porta. Matthew a abriu e ela era a entrada para o terraço do prédio. Soltei-me dele com cuidado, completamente hipnotizada pela vista. O céu estava completamente limpo e era possível ver as estrelas dali, Baby corria de um lado para o outro e o seu pelo balançava com o vento e ele tentava o morder.

“Estrelas? Em Nova Iorque?” Olhei sorrindo para Matthew, que estava sorrindo também.

“Eu sei... Foi a mesma reação que tive quando vim aqui a primeira vez.” Ele colocou os copos em cima de uma das duas espreguiçadeiras que tinham ali.

“Eu nunca tinha vindo aqui assim, de noite...” Falei olhando para o céu, admirando a vista.

“Brian e eu ficamos aqui ás vezes quando a vida lá embaixo está muito chata.” Ele pôs as mãos nos bolsos e se aproximou de mim.

“Por isso as espreguiçadeiras?” Disse rindo e ele assentiu. Envolvi meu corpo com meus braços, por causa da brisa fria. Matthew tirou seu paletó e colocou por cima de mim. “Obrigada.” Sentei em uma das espreguiçadeiras, esticando minhas pernas e fechei os olhos apenas sentindo o vento no rosto. “Isso é relaxante, devo admitir... A vida lá embaixo está muito chata mesmo, aqui em cima está muito melhor.”

“Adoro ver todas essas luzes... Faz a gente perceber o quão pequenos somos diante disso tudo.” Ele sentou do meu lado e me entregou um dos copos, pegando outro para ele.

“Sabe que...” Dei um gole em meu milkshake. “Ethan me convidou para ir viajar com ele, mas não tive coragem de aceitar.”

“E porque?”

“Não consigo me imaginar morando em outro lugar que não seja aqui.” Falei mordendo o canudo. “Acho que é a única cidade do mundo que não importa onde eu esteja, sempre vou me sentir em casa.”

“Sei como é... Nova Iorque me fisgou também.” Ele sorriu tomando sua bebida.

“Já pensou em voltar a morar na Califórnia?” Perguntei e ele franziu a testa, pensando um pouco.

“Não... Não é mais meu lugar faz tempo.” Ele deu de ombros.

“Você nunca mais me falou da Lindsay... Nunca mais a vi por aqui também...”

“Ela voltou para casa. Finalmente.” Ele suspirou aliviado.

“Mas ela conseguiu se recuperar do choque de perder o bebê ou ainda está me culpando?”

“Ela vai te odiar pra sempre, se é isso que você quer saber.” Ele falou com diversão. “Mas vai conseguir superar, ela ainda pode ter uma família com outra pessoa... Vai ser melhor ter alguém que a ame com ela, ai vai ser uma boa hora para ter um filho.” Olhei para frente, continuando a beber e Baby, aparentemente cansou de ficar correndo e se deitou no chão ao meu lado e comecei a sorrir, instintivamente pelos pensamentos que estava tendo. “O que foi?” Matthew perguntou curioso.

“Nada...” O olhei ainda sorrindo. “Eu só estava me lembrando do sonho que tive com a Annie.”

“Hum... Parece que foi bom mesmo, baseado nesse seu sorriso.” Ele disse e eu ri mais abertamente.

“Eu não ia contar isso pra ninguém, não agora pelo menos...” Virei um pouco, ficando de frente para ele. “Não sei se por medo de ser julgada ou por medo de não dar certo e depois e eu me decepcionar e decepcionar todo mundo.”

“Vai matar alguém? Não me conta, se eu não souber, não sou cúmplice!” Ele falou se fingindo de sério e eu bati na sua perna.

“Não, é sério.”

“Está bem, o que está planejando nessa sua mente maléfica?”

“Acho que quero adotar uma criança.” Falei e ele arregalou os olhos em surpresa. “Antes de falar algo, deixa eu me explicar.” Sorri meio sem graça. “No sonho que eu tive, eu não lembro com todos os detalhes, mas a Annie me dizia algo sobre deixar meu passado pra trás sabe? E parar de me culpar por tudo aquilo que aconteceu... Aprender a me perdoar.” Desviei o olhar dele. “E eu lembro que ela tinha feito um desenho, tinha um casal e ela tinha escrito ‘mamãe’ e ‘papai’ neles e tinha o Baby também...” Sorri. “E duas crianças. Uma era ela e o outro, um bebê.” Suspirei e o olhei. “Eu sei que em tese sonhos não significam nada, é só o nosso subconsciente trabalhando enquanto a gente está dormindo, mas... E se justamente o meu subconsciente tiver tentando me dizer que eu posso tentar de novo? Sei que um filho biológico é praticamente impossível, mas isso não me impede que eu tente esse negócio de maternidade de novo, não é? Ou eu estou pensando e agindo feito uma louca?” Ele esboçou um sorriso e segurou minha mão.

“Eu só não entendo por que levou tanto tempo pra pensar assim.” O olhei sem entender. “Acho que vai ser uma mãe maravilhosa e não importa se é um filho biológico ou não. Vai estar se dando uma segunda chance e dando a uma criança a chance de sentir amada e acolhida por alguém.”

“Então... Você acha que eu devo mesmo fazer essa loucura?” Sorri.

“Tenho certeza de que deve fazer essa loucura.” Ele beijou minha mão.

“Eu vou deixar esse lance da festa passar e aí, vou procurar um assistente social pra começar a luta. Não vai ser fácil, com certeza...”

“É mais complicado por você ser solteira, mas não é impossível. Eu posso pesquisar uns casos de pais e mães solteiros que conseguiram adotar e posso ir com você quando for falar com o assistente social... Tentar te orientar de alguma forma.”

“Faria isso?”

“Claro que sim!” Ele soltou minha mão e fez carinho em Baby. “O que acha garotão? Vai ser bom um irmãozinho ou uma irmãzinha pra te fazer companhia!” Fiquei o observando e não percebi que estava sorrindo para ele. “Que foi?” Matt me olhou e eu desviei o olhar dele.

“Nada... Ér...” Tirei o seu paletó, o entregando. “Acho que já está na hora de ir pra casa.”

“Já superou a aversão a ficar sozinha, então?” Ele riu.

“Isso é tudo culpa de vocês!”

“Nossa culpa?” Ele repetiu com desdém.

“Sim, eu estava mais do que acostumada a ficar sozinha em casa, ai todos vocês invadiram meu apartamento durante meses e todo mundo resolveu ir embora agora de uma vez, ou seja... Culpa de vocês.” Fiquei de pé terminando meu milkshake. Matthew tirou o celular do bolso e depois o guardou de volta.

“É, está na hora de ir para casa. Vamos.” Ele sorriu e descemos, com ele me carregando de novo.

“Vou cancelar os serviços do motorista, vou te obrigar a ir me buscar em casa todo dia e vir me carregando para cá.” Falei rindo.

“Minhas costas não vão aguentar, eu já sou um homem de idade, tenha dó!” Ele disse rindo também.

Chegamos ao andar do escritório e eu peguei minhas coisas, ia mandar uma mensagem pro motorista, mas Matthew insistiu que eu não ia precisar dele, então deduzi que ele me daria uma carona. Quando descemos, para minha surpresa, Brian e Megan estavam esperando na recepção.

“O que estão fazendo aqui? Achei que já tinha ido pra casa Brian!” Falei surpresa.

“E eu tinha, mas meu amigo aqui me avisou, tem um tempinho, que tinha uma moça se sentindo sozinha, então fui buscar Meg pra nossa festinha do pijama.” Olhei para Matthew, chocada.

“Você fez isso mesmo?”

“Disse que é nossa culpa que se sinta sozinha agora, nada mais justo que a gente te faça companhia.” Ele deu de ombros e Meg veio me abraçar.

“Tenho vários planos pra hoje!” Meg falou animada.

“Você não tem aula amanhã?” Perguntei para ela.

“Estou de férias!” Ela disse batendo palmas.

Fomos todos para meu apartamento, vimos filmes, jantamos, jogamos Just Dance, Megan e eu contra os rapazes e zoamos deles, por mesmo eu estar com a perna imobilizada, tínhamos conseguido ganhar dos dois. Depois de conversar, comer, brincar e rir muito, estávamos todos exaustos e decidimos que era hora de ir dormir. O bom de ter feito tudo isso e ter tido um dia cheio, é que isso ajudava a não pensar em Ethan e como eu estava realmente cansada, principalmente por não ter dormido bem na noite anterior, consegui dormir praticamente assim que deitei na cama, conseguindo me sentir relaxada por completo.


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