Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 65
Se não fosse amor - Cap. 22: O melhor e o pior jantar de todos.


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!!!!
Obrigada as lindas que comentaram no capítulo anterior!
Espero que gostem do capítulo meninas,
Beijo na bunda!!!



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POV Sophie Trammer

Antes de ir deitar consegui falar com Luke, que quase explodiu meu tímpano com seus berros por eu não ter atendido mais cedo quando ele ligou, pois assim que aterrissou ele viu as notícias sobre Richard e eu e quase teve um enfarte. O tranqüilizei, dizendo que as coisas agora estavam mais calmas, mas que dessa vez não iria mais ser tão passiva, isso estava saindo do controle e quem quer que estivesse inventando e fazendo tudo isso, iria pagar de alguma forma. Afinal, eu reconhecia meu erro, se tivesse insistido nessa história um pouco mais, logo no começo, talvez as coisas não tivessem chegado a esse ponto. Depois de conseguir convencê-lo de que estava tudo bem, fui para o quarto com Ethan, ele ligou a televisão, mas logo cai no sono de tão cansada que estava. Acordei com meu braço pendurado para fora da cama e sentindo alguma coisa úmida na minha mão, abri um olho e vi Baby a lambendo. Comecei a fazer carinho nele e percebi que a cama estava vazia, olhei para o relógio e eram quase 16hrs, não fazia idéia de onde Ethan estava e ainda estava sonolenta demais para ir atrás dele.

“Vem Baby.” Bati a mão na cama e ele pulou para cima dela, deitando ao meu lado. “Só Deus sabe onde seu padrasto está...” Comecei a fazer carinho nele e logo peguei no sono de novo.

Estava andando em uma casa que eu não sabia de quem era ou sequer reconhecia. Era linda. Tudo muito claro, várias janelas que deixavam a luz do sol entrar, um jardim nos fundos que parecia mais uma floresta particular de tão grande e verde. Eu não estava usando a minha bota, mas eu conseguia caminhar perfeitamente normal e nada doía... Na verdade, eu me sentia maravilhosa. Um pouco mais a frente, no jardim, havia uma mesa redonda, branca, com algumas cadeiras em volta e uma pequena menina desenhando tranquilamente. Eu reconheceria aqueles cachos à distância, era a mesma menina que aparecia nos meus sonhos como a minha Annie. Comecei a andar em sua direção, mas quanto mais andava, mais longe ela ficava. Fui caminhando cada vez mais rápido, até que quando percebi estava correndo, mas a distância entre ela e eu permanecia a mesma, mesmo ela sem se mover.

“Eu entendi.” Parei ofegante e gritei. “Você não vai conseguir me perdoar nunca. Não é?” Ela me olhou docemente por um breve momento e voltou a desenhar. “O que você quer que eu faça? Que eu me desculpe? Eu já me desculpei!” Continuei falando. “Quer que eu implore que você me perdoe? Tudo bem, Annie, eu imploro!” Me ajoelhei e comecei a chorar desesperadamente. Senti uma mão em meu cabelo e quando levantei o rosto, ela estava parada de frente para mim, me olhando.

“Quando vai aprender que isso não é sobre como você se sente em relação a mim, e sim, como você se sente em relação a você mesma?” Ela passou a mão em meu rosto.

“Eu não entendi...” Disse confusa e ela sorriu.

“Antes de querer o perdão de alguém, aprenda a se perdoar primeiro. Você carrega essa culpa há tanto tempo e me culpa, por achar que não te perdoei.” Ela beijou meu rosto e se virou andando para longe. “Enquanto não conseguir deixar o seu passado onde ele deve estar, nunca vai conseguir ter um futuro.” Ela começou a falar cada vez mais alto, conforme foi se afastando e por algum motivo, eu não me movi. “E eu sugiro que faça isso logo... Por que eu vejo um futuro lindo pra você mamãe!” E ela sumiu.

Levantei-me do chão, conseguindo finalmente me mexer e fiquei olhando para os lados com a esperança de vê-la de novo, mas isso não aconteceu. A mesa que ela estava sentada desenhando, agora estava próxima a mim, peguei a folha que ela tinha pintado e em cima estava escrito: Minha família. Nela tinham um homem e uma mulher, escrito ‘mamãe’ e ‘papai’, um cachorro e escrito em baixo ‘Baby’, uma pequena menina e escrito ao seu lado ‘Annie’ e próximo a ela, um bebê. Fiquei olhando confusa para aquela folha de papel... O que significava? Annie tinha uma nova família? Com novos pais? Mas no desenho tinha um cachorro chamado Baby e Baby era o meu cachorro... Isso quer dizer que só poderia ser eu no desenho como a mãe. Mas e o pai? Quem era? E o bebê? Isso não fazia sentido algum...

Abri os olhos e vi Baby, ainda deitado ao meu lado, mordendo uma pelúcia que fazia parte do seu arsenal de brinquedos e Ethan estava sentando na beira da cama, assistindo ao jornal. Sentei ainda confusa pelo sonho sem pé nem cabeça e Ethan olhou para trás, ao perceber que eu tinha acordado. Ele se esticou e beijou minha testa.

“Depois eu que durmo demais...” Ele disse com diversão, mas ficou sério. “Estava chorando enquanto dormia?” Ele franziu a testa. Passei a mão em minha bochecha e realmente estava molhada.

“Eu não sei... Eu... Tive um sonho muito esquisito...”

“Algo ruim?”

“Não... Foi muito bom.” Esbocei um sorriso e Ethan sorriu também e se arrastou na cama, deitando sua cabeça nas minhas pernas e Baby deitou a sua cabeça na barriga de Ethan. “Posso te perguntar uma coisa?”

“Claro, o que quiser.”

“Qual seria sua opinião se eu te dissesse que quero adotar uma criança?” Ethan ficou parado encarando o teto e depois sentou de frente para mim.

“Assim do nada?”

“Não Ethan... Não é do nada.” Me recostei na cama. “Eu já tinha pensado nisso uns tempos atrás, mas desisti pela burocracia... Por eu ser solteira é tudo mais complicado. Só que já faz tanto tempo, talvez estejam mais flexíveis quanto a isso...” Disse pensativa.

“É sério isso mesmo ou tá me zoando?” Ele disse chocado e eu me arrependi de ter tocado no assunto com ele assim, dessa forma, deveria ter sido mais sutil.

“Tô zoando, claro.” Disse rindo e sua expressão de alivio só me confirmou de que realmente não era hora dessa conversa com ele.

“Ufa... Por um momento achei que... Você sabe...” Ele sorriu nervoso. “É que é um filho né? Não é um cachorro... É muita responsabilidade.”

“Eu sei, imagina. E então...” Tentei desconversar. “Onde você tava? Acordei mais cedo e não te vi aqui no quarto.”

“Eu fui malhar um pouco, você apagou, o apartamento está muito vazio sem Luke e Ken... Precisava passar o tempo de alguma forma.”

“Ah, agora você sabe como eu me sinto quando você desmaia aqui o dia todo.” Disse com sarcasmo.

“Por isso mesmo você vai se levantar, trocar de roupa, ficar bem bonita e a gente vai jantar.” Ele se levantou me puxando pelos braços para que eu levantasse também.

“Não...” Choraminguei. “Aqui tá tão bom... Olha o Baby, tadinho, faz tempo que eu não dou atenção pra ele, não quero deixar ele sozinho.”

“A gente não vai morar no restaurante, Sophie. Só vamos passar umas 2hrs lá, no máximo.”

“2hrs é muita coisa.” Falei incrédula.

“Levanta de uma vez...” Ele se abaixou me pegando no colo e me levou, a força para o closet.

“Vai pagar caro por isso, Cross.” Resmunguei.

“Morrendo de medo de você, Trammer!” Ele disse voltando para o quarto e trouxe minha muleta para que eu conseguisse andar.

Tudo bem... Vou lá, me finjo de educada e simpática por 2hrs e volto pra casa. Ok, não é o fim do mundo. Levantei pegando uma calça jeans e uma camiseta branca, um casaco azul escuro, uma sapatilha e retoquei minha maquiagem. Saí do closet e sentei na cama colocando minha bota, Ethan saiu do banheiro só de toalha e eu já estava pronta, apenas esperando ele se vestir.

“Nossa que cara de animação.” Ele disse irônico.

“Assim tá melhor?” Sorri de forma forçada e ele riu.

“Acho que é melhor não sorrir.” Ele saiu do quarto e quando voltou estava de cueca e camisa, segurando os sapatos e uma calça.

“A moça ainda vai demorar muito pra se arrumar? Quanto mais rápido a gente for, mais rápido a gente volta.”

“Mas reclama viu... Meu Deus...” Ethan falou rindo vestindo a calça e depois sentou na cama colocando o sapato.

Saímos de casa, depois de uma despedida dramática com Baby, eu odiava deixar ele sozinho, por que com Luke e Ken em casa isso quase nunca acontecia, ele dormia muitas vezes no quarto deles e Luke sempre passeava com ele de manhã, então eu teria que me organizar pra continuar fazendo isso, por que não era justo deixar ele abandonado, afinal de contas, ele era meu e eu tinha que cuidar dele com ou sem a ajuda de Luke e Kenny. Ethan parou o carro em frente a um barzinho que eu conhecia bem, bem até demais. Talvez por que tenha passado por volta de seis meses visitando a obra que fizemos nele antes de re-abrir.

“É aqui que o pessoal está?” Perguntei guardando minhas coisas em minha bolsa.

“Sim... Por quê?”

“Só achei que você ia gostar de saber que eu sou dona daqui.” Dei de ombros e Ethan me olhou surpreso.

“Tem alguma coisa nessa cidade que você não seja dona, com exceção da minha humilde boate?” Ele disse com divertimento.

“Ainda tem... Mas eu disse ainda.” Pisquei para ele e desci do carro.

O manobrista nos cumprimentou e Ethan entregou as chaves do carro para ele estacionar, entramos e fiquei orgulhosa em saber que o lugar parecia que tinha sido recém formado, mesmo já tendo, pelo menos, um ano desde que o inauguramos. Tudo estava muito bem organizado, a decoração do jeito que eu queria, as pessoas rindo e se divertindo, uma música de bom gosto na altura certa, nem muito alta que doa os ouvidos, mas nem muito baixa que não dê para ouvir... Fiquei muito satisfeita com isso.

“É um lugar bem legal...” Ethan falou dando uma geral, olhando para os lados.

“Eu tenho bom gosto.” Sorri

Andamos mais um pouco, até que avistamos uma mesa com três pessoas acenando em nossa direção. Lá vamos nós...

“Boa noite, capitão!” A única mulher do grupo falou e os três bateram continência para o Ethan. É necessário isso mesmo? Por que é meio vergonhoso fazer isso em público...

“Boa noite, soldados!” Ethan engrossou a voz repetindo o gesto dos três e eu os olhei, completamente deslocada. É sério isso? Eles começaram a rir e eu entendi que isso devia ser alguma piada interna dos quatro que devia ser muito engraçada só para eles quatro, já que pra mim não teve graça nenhuma. “Sophie, esses são Sam...” Ele apontou para um rapaz loiro, de olhos claros, que se levantou apertando minha mão. “Brandon...” O outro rapaz, moreno, repetindo o cumprimento do outro. “E Alejandra.” A moça apertou minha mão também.

“Descendência latina?” Perguntei a ela.

“Meus avós por parte de pai são mexicanos.” Ela disse educadamente.

“Bueno!” Sorri tentando ser educada também.

“Hablas español?” Ela perguntou sorridente.

“Ciertamente!” Assenti.

“Então pode traduzir pra gente quando ela começar a falar umas coisas sem sentido que eu tenho certeza que são palavrões!” Brandon falou rindo.

“Ou talvez eu possa te ensinar uns palavrões em espanhol, é uma das línguas mais legais pra se xingar alguém.” Falei e eles riram.

“Gostei dela Ethan.” Brandon bateu no braço de Ethan e ele beijou meu rosto.

“Vamos sentando gente, sem cerimônia!” Sam disse cordialmente e todos nós sentamos. Tirei meu casaco, o colocando atrás da minha cadeira.

“Há quanto tempo vocês estão juntos?” Alejandra perguntou e eu olhei para Ethan, meio em pânico por que não sabia a resposta.

“Bem... Deixa eu ver...” Falei pensativa.

“Talvez uns... Não sei... 5 ou 6 meses?” Ethan me olhou confuso também.

“Eu realmente não faço idéia... Não eram 7?”

“Então são 5, 6 ou 7 meses.” Ethan respondeu para eles.

“Não sabem há quanto tempo estão juntos?” Sam disse rindo.

“Ah... Quem está contando, não é?” Dei de ombros e dei um beijo rápido em Ethan.

“Então, Sophie, já vi muitas notícias de você por ai. O Ethan pode tirar onda de estar namorando uma celebridade!” Brandon falou rindo.

“Celebridade é demais!” Disse sem graça. “Pessoa pública, no máximo.”

“Antes de eu servir, fazia um curso de economia e tive que fazer um trabalho sobre o seu avô.” Alejandra disse.

“Sério? Poxa, que legal!”

“Ouvi dizer que o Sr. Trammer tem um pulso muito firme, é verdade ou só exagero da impressa?” Ela perguntou.

“Imagina... Nos damos super bem!” Falei e Ethan sorriu debochando, o fuzilei com os olhos e ele se tocou.

“Sim, ele é super gente boa, um ótimo pai!” Ele disse tentando reverter o erro.

“Então você e o sogrão se dão bem heim?” Brandon perguntou para ele.

“Com certeza! Já saímos várias vezes, fizemos churrascos... É uma família muito unida!” Churrasco? Meu pai não come carne, Ethan...

“Engraçado... Eu li que ele é vegetariano.” Alejandra sorriu e Ethan me olhou pedindo socorro.

“O Ethan come a carne, meu pai só a salada.” Sorri nervosa. “Vamos pedir alguma coisa né amor?”

“Sim, claro! Vamos pedir!” Ethan concordou e chamou uma garçonete.

“Boa noite, o que vão querer?” A moça se aproximou sorrindo educadamente. Todos pediram seus drinks e alguns petiscos. “E a senhora?” Ela perguntou distraída terminando de anotar os pedidos.

“É senhorita.” Corrigi. “Eu não estou bebendo álcool, pode pedir para o Jullius fazer um suco de abacaxi com hortelã, mas com pouco açúcar e uma porção daqueles folheados recheados e o molho de creme cheasse, por favor?” Disse e a moça me olhou cerrando os olhos e finalmente, me reconhecido.

“Ai meu Deus, é Sophie Trammer!” Ela disse perplexa.

“Em carne e osso.” Sorri.

“Pode deixar, eu já trago o seu pedido e dos seus amigos, senhorita.”

“Eu agradeço.” Assenti.

“Já tinha vindo aqui?” Sam perguntou para mim.

“Só antes de abrir, depois não vim mais.” Disse e ele me olhou sem entender.

“Ela é dona daqui.” Ethan explicou.

“Isso quer dizer que as bebidas são de graça?” Brandon disse rindo e Alejandra o cutucou, o repreendendo.

“Claro que sim, hoje é tudo por conta da casa.” Concordei.

“Não precisa fazer isso.” Ethan sussurrou pra mim.

“Faço questão.” Sorri e ele beijou minha mão.

Surpreendentemente, a noite estava sendo muito agradável. Os amigos de Ethan não eram tão ruins como eu pensava, eles eram muito engraçados, aliás. Brandon era o mais sem noção do grupo, com certeza, mas tinha um dom pra contar histórias e eu ri muito com todos eles. Mais uma lição pra vida, nunca julgar as pessoas sem conhecê-las. Achei que a noite seria tediosa e maçante, mas muito pelo contrário, eu estava me divertindo horrores e me sentindo feliz, por ver Ethan feliz. Luke tinha razão, eu deveria aproveitar esses dias com Ethan pra nos aproximarmos mais, já que com a nossa rotina atual isso estava sendo impossível.

“Vocês estão na carreira errada...” Disse tentando parar de rir. “Deveriam estar fazendo algum filme de comédia, não têm porte algum para serem do exército.”

“A gente aprende essas coisas que não prestam com o seu namorado, culpe a ele!” Sam disse e Ethan jogou um amendoim nele.

“Estão causando uma impressão errada de mim para ela.” Ethan levantou as mãos. “Eu juro que sou um cara sério quando estou de farda!”

“Ah, isso é verdade! Aqueles coitados sofrem na mão do Ethan, você precisa ver Sophie. Um deles quase chorou uma vez!” Alejandra disse.

“Dá pena ás vezes! Acho que vão soltar fogos quando você for embora Ethan, vai ser o grito de liberdade deles!” Brandon disse gargalhando e eu comecei a rir também, exceto quando refleti sobre a última parte.

“Ir embora?” O olhei ainda sorrindo. “Vai sair da unidade?” Perguntei esperançosa de que a resposta fosse ‘sim’ e ele ficou sério.

“Nosso querido capitão recebeu um convite pra viajar pelo país, apenas compartilhando o seu conhecimento!” Alejandra falou e Ethan deu um gole em sua cerveja, o encarei incrédula.

“Desculpa... Ele não te contou?” Brandon perguntou um pouco sem graça.

“Contou sim, claro que contou.” Esbocei um sorriso. “Somos um casal que dialoga sabe? Que conversa sobre tudo, que se importa com a opinião do outro... Eu diria que casal mais unido que nós dois, não existe.”

Ethan passou o resto da noite sem conseguir olhar direito pra mim e eu me esforcei, me esforcei muito, pra tentar continuar sendo a pessoa divertida e bem humorada de desde que chegamos, por que eu tinha gostado dos amigos de Ethan e eles não mereciam que eu os tratasse mal, principalmente por causa dele. Depois de um tempo, me fiz de cansada e falei que já estava na nossa hora, Ethan não ousou ser louco de discordar de mim, nos despedimos deles três e agradeci pelo convite e pela noite maravilhosa. Brandon disse que pra uma riquinha mimada, até que eu era legal e eu ri dele. Andamos em silêncio para saída e continuamos assim por todo o caminho no carro, até chegar em casa. Quando entramos, Baby veio correndo, pulando em cima de mim, como o habitual e depois de lhe dar carinho fui para o quarto enquanto Ethan estava na cozinha. Entrei em meu closet, jogando meu casaco em uma das prateleiras e comecei a procurar por um pijama.

“Quer conversar?” Ethan estava parado na porta de braços cruzados.

“Agora você quer conversar?” Disse com ironia sem virar em sua direção.

“Eu só soube ontem Sophie...”

“Não é que você ‘só soube ontem’, você está sabendo desde ontem e não me disse nada!” O olhei incrédula. “Você vai embora Ethan! E quando eu ia saber? Quando você tivesse em um avião? Você disse que não ia esconder mais nada de mim.”

“E eu não escondi, acontece que esse foi o motivo por eu ter me atrasado para o casamento, eles me fizeram essa proposta e a minha intenção era te contar ontem mesmo, mas na festa não tivemos oportunidade e depois, você teve esse problema ai com o Richard, quando chegou em casa, hibernou o dia todo... Eu não tive chances!”

“Eles te fizeram uma proposta?” Perguntei.

“Sim.”

“Mas seus amigos já sabiam que você ia embora...” Falei pensativa. “Isso significa que você já aceitou, não é?”

“Eu aceitei, mas...”

“Mas o que Ethan?” Disse impaciente.

“Eu quero que você vá comigo.”

“Desculpa... O quê?” Falei confusa.

“Eu quero que você vá viajar comigo.”

“Mas e o meu trabalho?”

“Você pode trabalhar à distância. Não tem outros prédios de vocês em outras cidades?”

“Tem, mas aqui é matriz, eu não posso ir embora assim simplesmente, principalmente agora com tudo isso acontecendo!”

“É exatamente por isso que você deveria ir embora.” Ele se aproximou parando na minha frente. “Com tudo isso acontecendo, é melhor você se afastar. O que você acha?”

“O que eu acho?” Falei com sarcasmo. “Acho que você enlouqueceu.”

“Por isso não peço sua opinião...” Ele falou com desdém.

“Você não pede minha opinião para nada, por que você não liga pra minha opinião, ela não é importante!” Gritei. “Ethan... Você vai embora! Você aceitou isso e pior, quer me arrastar junto, sem nem se importar com o que eu quero, ou com o que eu não quero!”

“E o que você quer de mim Sophie?” Ele gritou também, me assustei e dei um passo para trás instintivamente.

“Quero que avise que você não vai viajar. Já foi demais eu tentar entender você com esse seu trabalho, ir embora está em um nível muito acima do que eu consigo suportar.”

“Eu não vou voltar atrás, eu quero ir.” O olhei chocada, ouvir aquilo tinha doído. “Eu estou sendo reconhecido pelo meu trabalho, eles gostam do que eu faço, ali é o meu lugar Sophie, por favor me entenda.”

“Eu não aceitei namorar com você pra ficar sozinha.” Disse entre os dentes. “Eu sabia que isso que acontecer, eu tinha certeza que ia acontecer.”

“Acontecer o quê?”

“Sabia que em algum momento você ia ter que escolher entre esse trabalho estúpido e eu.”

“Eu não tenho que escolher entre as duas coisas, eu quero ter os dois.”

“Você não pode ter os dois Ethan!”

“E por que não? Podemos nos ver ainda, vamos nos ver menos isso é fato, mas você pode viajar pra me encontrar e vice-versa.”

“Eu nunca achei que eu ia dizer isso de novo alguma vez na vida, mas...” Suspirei. “Eu quero uma família.” Sentei em um banco e ele me observou em silêncio. “Eu achei que depois de tudo o que eu fiz de errado, não merecia isso... Mas eu realmente acho que eu mereço tentar recomeçar. E eu quero o pacote completo Ethan. Um companheiro pra ficar do meu lado todos os dias na nossa casa, eu quero filhos, mais dois cachorros e um gato talvez... E principalmente, não quero ser abandonada de novo, por que dói e dói muito.” O olhei séria. “Você falou de casamento nos últimos dias, mas mal consegue passar mais de dois dias aqui antes de sair correndo pra se trancar naquela unidade, quando eu toquei no assunto ‘adoção’ achei que você ia ter um troço na hora!” Respirei fundo, derrotada. “Eu tô cansada de tentar te fazer querer ficar, quando você obviamente não quer.”

“Eu te amo. É a única coisa que consigo te dizer agora.”

“E eu não duvido do que sente por mim e não sabe como eu sou grata por ter tido você todo esse tempo na minha vida. Por que graças a você eu descobri que eu consigo, que eu posso me doar pra alguém de novo e que não tem nada de errado com isso.”

“Engraçado você dizer isso, por que me sinto da mesma forma.” Ele esboçou um sorriso. “Nunca tinha pensado em me relacionar com ninguém, até que eu te conheci e você me entendeu de uma forma que eu achei que ninguém nunca entenderia.”

“Por que para alguém te entender, você precisa se abrir primeiro. Eu sei o que é ser tão acostumado a ser sozinho e afastado de tudo e de todo mundo... A gente se acaba se acomodando.”

“Então... Estamos colocando um ponto final nisso?” Ethan perguntou e eu me levantei o abraçando. “Se eu te disser que eu fico, muda alguma coisa?”

“Muda tudo Ethan, mas nós dois sabemos que não é isso que você quer.” O soltei e coloquei as mãos em seu rosto. “Promete pra mim que vai se cuidar e que não vai se machucar.”

“Eu prometo.” Ele beijou minha testa. “Promete pra mim que vai ser muito feliz e que não vai sumir da minha vida.”

“Prometo.” Sorri. “Não posso sumir, literalmente... Somos quase cunhados, esqueceu?” Disse e ele riu.

“Verdade... Mas não vai ficar muito estranho me convidar para as reuniões em família?”

“Nós já somos uma família estranha, não precisa se preocupar.” Nós dois rimos e depois ficamos uns momentos em silêncio.

“Eu deveria ir para casa...” Ele disse.

“Deveria.” Assenti.

Fomos andando de mãos dadas até a porta da sala, a abri e ele saiu se virando para mim de novo. Ele se aproximou e nos beijamos. Muito pior que o nervosismo de um primeiro beijo, era a dor de um beijo de despedida.

“Ninguém nunca vai significar pra mim o que você significa.” Ele disse apoiando sua testa na minha. “Só queria que soubesse disso.”

“Obrigada por me dar amor na hora que eu mais precisei disso.” Falei. Ele beijou minha testa e saiu.

Ele foi embora. Simplesmente foi embora. E eu fiquei com uma terrível, enorme e agonizante dor no peito. Minha garganta doía, implorando que eu deixasse o choro sair pra me fazer sentir melhor, mas eu engoli em seco. Não vou chorar. Não vou chorar. Fiquei repetindo para mim, desejando que meu subconsciente entendesse que eu era quem mandava ali, eu que decidia se ia querer passar a noite chorando por ele ter escolhido ir embora. Eu não podia culpá-lo... Eu agiria da mesma forma. Desculpa se eu não fui capaz de te amar Ethan Cross... Deus sabe como eu tentei. Sentei no chão do quarto, derrotada e me sentindo totalmente sozinha pela primeira vez em muito tempo. Eu não tinha ninguém pra conversar, ninguém pra me acalentar, ninguém pra me dizer ‘Vai ficar tudo bem’, por mais que não fosse ficar tudo bem, era reconfortante ouvir aquilo. O mais irônico de tudo, é que já havia me afastado diversas vezes de homens que queriam algo a mais de mim, que queriam fazer as coisas do jeito certo sabe? Namorar, noivar, casar, ter filhos... O próprio Matthew sofreu com minha síndrome de pânico de relacionamentos. E quando eu finalmente decido que eu quero o ‘algo a mais’, eu fico sozinha, sentada no chão, com meu cachorro como única companhia e me sentindo um ser humano estúpido e derrotado.


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Notas finais do capítulo

SIM, CHOREI ENQUANTO ESCREVIA O CAPÍTULO. (Culpe a tpm)
E tentem não me matar, obrigada!