Destino escrita por sayuri1468


Capítulo 2
A Promessa




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Durante aquele verão, sempre que me era possível, eu escapava do ar preso e abafado do castelo, para ir até o esconderijo das fadas, onde me encontrava com Jack. Nossos encontros se tornaram mais regulares, graças, assumo, à intervenção do meu pai. Um dia, minha mãe já cansada das minhas escapadas, ameaçou trancar as portas do castelo, mas meu pai ponderou a meu favor.

– É verão! – ele falou, como se minha mãe não fosse capaz de perceber o óbvio – Deixe a menina brincar e correr, no inverno você dá essas lições a ela!

Não que ele tivesse falado algo que eu mesma já não houvesse dito, mas aparentemente, foi preciso que ele repetisse o que eu vinha falando há dias, para que minha mãe levasse em conta a situação. E apesar de saber que a opinião de um rei valia muito mais do que a de uma menina de dez anos, eu me senti totalmente ignorada.

Ao menos isso aumentou meus dias com Jack. E era maravilhoso.

Assim que chegava ao nosso mágico esconderijo, brincávamos e conversávamos o dia todo. Eu não havia notado como eu sentia falta de ter um amigo assim. Jack não brincava comigo porque era forçado a fazê-lo, ou fingia gostar de mim porque eu era a princesa. Ele não tinha essa obrigação. Nós brincávamos pela simples razão de gostarmos de estar um com o outro.

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que ele me levou para um voo. Foi a sensação mais libertadora que eu já senti. O vento rasgando meu rosto e meu corpo perdendo todo o peso, como se fosse uma pluma. Só consegui reproduzir a sensação montada em um cavalo, a toda velocidade que ele podia aguentar, e nunca foi a mesma coisa.

O verão passou depressa, e as folhas verdes e a brisa quente, deram lugar ao ar gelado e ao cenário amarelado do outono. Como minha mãe prometera as aulas durante o inverno, minhas saídas ainda não eram proibidas, e tão pouco notadas. O estocamento de comida e a limpeza do castelo, ocupavam todo o tempo da minha mãe, fora o mal estar que ela vinha sentindo constantemente, que a forçavam a ficar na cama. Lembro-me de ter ficado genuinamente preocupada com seu estado, e já que ninguém do castelo me colocava a par de nada, conversei com Jack a respeito.

– Ela vomita o dia todo! E quase não consegue andar! – falava enquanto patinávamos no pequeno lago, que ele mantinha congelado – E está cada vez mais inchada! Parece que vai explodir!

Os sintomas eram óbvios, mas não para uma criança de dez anos. Voltei para Jack com uma expressão dura, de quem estava segurando um choro, pois foi o único pensamento que entrou na minha cabeça, ao rever mentalmente o estado de minha mãe, e lhe perguntei séria:

– Acha que ela vai morrer?

Jack riu e veio até mim, colocando sua mão sob meus punhos cerrados. Seu riso fez com que a vontade de chorar fosse embora, pois se ele ria, não podia ser tão grave como eu estava pensando.

– Princesa, sua mãe não vai morrer! Mas talvez você vá! – ele falou com sua voz despreocupada e zombeteira. – Ou talvez seja você quem mate!

– Eu?! - exclamei. Aquela colocação não fazia o menor sentido.

– O que você acha de ter um irmãozinho?!

Jack estava certo, quatro meses depois desse relato, eu ganhei não só um irmãozinho, mas sim três! A parte boa era que minha mãe não morreu e sua atenção à minha educação foi negligenciada, em nome dos recém-nascidos. A parte ruim, é que Jack também poderia estar certo sobre eu matar alguém, por que aguentar três choros ecoando pelo castelo, todas as noites, era demais pra mim.

Meus irmãos nasceram em pleno inverno, e por conta do frio e da nevasca, eu não podia ir ao encontro de Jack, o que não impedia que ele viesse ao meu encontro. Várias vezes,quando eu via seu rosto surgindo na minha janela, ia correndo para abri-la, e passávamos a tarde juntos, como nos últimos meses. Era divertido fazer guerra de bolas de neve no aconchego do meu quarto. Uma vez, quase fomos pegos pela minha babá, Mauddie, mas, curiosamente, ela não foi capaz de ver Jack, viu apenas um monte de neve esparramada pelo meu quarto, então consegui contornar a situação dizendo que a janela se abrira durante a nevasca.

Quando perguntei a Jack qual seria o motivo de Mauddie não conseguir vê-lo, ele me disse que apenas pessoas que acreditavam nele poderiam enxerga-lo. Contra argumentei que não sabia da existência dele, antes de conhecê-lo, inclusive, achava que ele era uma fada.

– Mas acredita em magia! – rebateu – Isso já é suficiente!

Sorri, e então, narrei a Jack um encontro que tive com as luzes magicas, quando era bem mais nova.

Durante meu aniversário de cinco anos, meus pais decidiram que comemoraríamos com um piquenique, e meu pai, havia me presenteado com um arco e um aljava com flechas na ocasião. Contei a ele que atirei minha primeira flecha, e obviamente, errei, fazendo com que a flecha se perdesse na floresta. E quando fui procura-la, as luzes mágicas apareceram para mim, indicando o caminho que eu deveria tomar. Não contei a parte do urso que devorou a perna do meu pai, mas finalizei dizendo, que foi por conta dessas luzes que encontrei a relva que escondia o caminho, até o nosso esconderijo de fadas, e que por conta disso, sempre vou acreditar em magia.

–Acredita agora, por que é criança! A tendência é acabar esquecendo!

Sua voz não havia sido ríspida, mas algo nela mostrou um certo pesar, e não sei por que, senti vontade de rebater.

– Não vou, não!

Ele sorriu, como se estivesse dizendo que não iria travar uma discussão sobre isso.

– Está tudo bem, princesa! Todos esquecem, e quando esquecem, deixam de ver!

Senti meu rosto ficar quente, e sabia que ele deveria estar tão vermelho quanto meus cabelos. Jack era meu amigo, meu melhor amigo, e eu sabia que não tinha possibilidade de esquecê-lo. E, segundo a própria teoria dele, se eu não esquecê-lo, vou continuar a vê-lo.

– Venha me ver todos os dias, e dai você vai ver que nunca vou te esquecer!

Minha voz saiu tão firme, que Jack me analisou por uns instantes antes de sorrir e brincar com minha raiva.

– Nem quando tiver...deixa eu ver...onze anos?!

– Não! – respondi prontamente.

– E doze? – perguntou de novo, enquanto andava pelo ar.

Algo na voz dele, começou a fazer minha raiva dissipar e um sorriso involuntário apareceu.

– Também não! – tentei responder com a mesma firmeza, mas percebi que o tom da minha voz denunciava meu riso contido.

– E...quinze?! Seria loucura, se com quinze anos você ainda pudesse me ver!

– Pois eu vou te ver! E com quinze anos, eu vou ter que me casar, dai, eu caso com você!

Tenho certeza que, naquela época, ao ouvir essas palavras, Jack pensou em se tratar apenas da conversa tola de uma criança. E de fato, era. Eu nunca imaginaria, que ele viria cobrar aquilo depois.


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