Se o Amor é uma Ilusão, Deixe-me Ser Iludida escrita por snow Steps


Capítulo 17
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Aos novos leitores, sejam bem-vindos. Há muitos anônimos entre nós, hahahahha, mas sintam-se à vontade para comentar, favoritar e quem sabe, por obséquio remoto e distante, recomendar. Novamente super agradecida às minhas queridas que sempre comentam, seja tarde ou de imediato, vocês de fato não fazem ideia de como me deixam feliz por se lembrar de mim.
E do mais, enjoy!



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Estamos caminhando com os pés descalços pela planície de areia, que aqui e acolá nos surpreende com uma lata de cerveja vazia ou um pacote de biscoito O Globo. A agitação da cidade parece algo distante e intocável, feito um quadro pintado aos nossos olhos, que se unem entre sorrisos tímidos e conversas descontraídas.

_ Eu não acredito que você tem vergonha do seu nome. – Ele diz, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça.

_ Se você pensar bem, não é uma vergonha tão irracional assim. É Eleonora Silva e Santos, o que isso te lembra? - Ele franze a testa, pensativo, até chegar a nenhuma conclusão. – Lembra Sílvio Santos, é óbvio!

_ Eu não sei quem ele é. – Admite Marco, e eu bato na testa pela minha burrice.

_ É claro, às vezes eu esqueço que você é italiano. Além do mais, me conte como era viver lá, com certeza é uma história bem mais interessante do que minha vida mixuruca – Peço, ajeitando-me por baixo do seu casaco de couro.

_ E por que seria? – Ele contrapõe, soltando um risinho sarcástico. Marco vasculha o bolso e saca uma caixa branca pequena, a qual abre e tira de dentro um cigarro.

Observo incredulamente ele segurar o filtro entre os dentes incisivos, acendendo uma chama com o isqueiro e a protegendo com as mãos em concha, queimando a ponta do cigarro que exala uma fumaça das cinzas incandescentes.

_ Você fuma? – Indago sem disfarçar o espanto na voz.

_ Só de vez em quando. Calma lá, não sou um viciado com uma mancha preta no pulmão maior que a África. Por que essa cara? – Ele questiona, liberando o ar esfumaçado da boca igual a um motoqueiro dos anos oitenta.

Rapidamente quebro meu semblante de choque, tentando articular outro que demonstre minha naturalidade quanto àquele hábito. Não é que eu tenha preconceito em relação aos fumantes, mas é que minha mãe passou a vida inteira me dizendo que não deveria me envolver com um cara desse tipo, porque, segundo ela, fumantes geralmente são “pra virada”, e caras “pra virada” geralmente são inconsequentes, e caras “inconsequentes” geralmente não gostam de preservativos e eu acabaria grávida aos 18 anos.

Eu sei. Mirabolante.

_ Por nada. Só que você nem me ofereceu um, quanta falta de educação. – Brinco, soltando uma risada nervosa.

_ E você quer um? – Ele oferece, sacando um segundo cigarro do maço e o girando entre os dedos.

_ Não. – Respondo subitamente, com uma arfada de preocupação.

_ Viu, por isso não ofereci. – Ele conclui, guardando o maço no bolso novamente.

_ E por acaso pareço o tipo de garota que não fuma? Quer dizer, é tão nítido assim?

_ Nora, nós jovens somos facilmente rotulados. Veja só: você me imagina como um gostosão ricaço que leva a vida dos sonhos, e eu te imagino como a garota criada por pais super protetores que deve chorar às escondidas quando tira uma nota abaixo de 9. E na verdade, não somos semelhantes a estes rótulos em coisa alguma. Nossas vidas possuem detalhes, milhares deles, que todos os superficiais daquela faculdade desconhecem, e acabam fazendo um breve resumo da nossa aparência e nos encaixa no estereótipo mais parecido. Até aí tudo bem. O problema é que ninguém mais nos dias de hoje está preocupado em conhecer nossos detalhes. As diferenças que faz você ser você – Marco pega a minha mão e me gira como numa dança, aconchegando-me entre seu braço e seu peito. – E eu... ser eu. – Ele dá a última tragada e joga a bica do cigarro no mar furioso, que engole o reflexo da noite nas suas ondas que avançam e retrocedem sobre a margem castigada.

_ E o que faz você ser você? – Pergunto num tom quase inaudível, com seu rosto tão próximo do meu que consigo sentir a expiração quente aquecer minha face. Marco coloca uma mecha de cabelo minha atrás da orelha, e eu me permito colocar as mãos sobre seu peitoral. É agora, Nora, é agora.

_ Minhas diferenças, que não são vistas com bons olhos. – Ele confessa, mordendo o lábio inferior.

Dane-se. Chega essa boquinha perfeita mais para cá.

_ Alguém me disse que não existem peças erradas, apenas peças que foram guardadas na caixa errada. E caso as outras peças não aceitem as suas diferenças, eu as aceito, Marco – Afirmo, encurtando cada vez mais o ínfimo espaço entre nossos lábios, chegando a encostar a ponta dos nossos narizes gelados. Já posso sentir o gosto do seu hálito, a textura da sua língua e...

_ Não aceita, Nora – Ele corta, separando-se de mim abruptamente, deixando-me paralisada no ar feito uma estátua de babaca do ano. Marco caminha com passos tortuosos até a margem úmida, mergulhando os pés sujos de areia na água fria.

Por um momento, desejei mais do que tudo que Marco fosse exatamente igual aos boatos: um tremendo cafajeste que me levaria para a cama sem escrúpulos. Mas não. Aqui está ele, tendo um ataque melindroso misturado a crise existencial.

Assisto o italiano sentar num banco de areia, não se importando com os grãos que tomam conta das palmas de sua mão e de sua roupa. Soltando um arquejo de fracasso, vou até ele e permaneço em pé ao seu lado, porque tipo, não dá para sentar na areia de minissaia.

_ Desculpa, Nora. Não é nada pessoal. – Ele justifica, sem desgrudar os olhos da linha enegrecida do horizonte.

_ Como assim não é nada pessoal? Obviamente é algo pessoal! Quer dizer, se eu fosse uma Isabella, uma Natasha da vida muito provavelmente já estaríamos numa agarração descontrolada aqui, mas você não me vê com os mesmos olhos, essa é a verdade. Você ainda me vê pelo rótulo, como a garotinha inocente e nerd que não faz o seu tipo. E eu... eu sou tão idiota que... – Coloco a mão em punho sobre a boca, engolindo o choro eminente que transborda pelas pálpebras. – Que ainda estou aqui ouvindo todas as suas mentiras, acreditando que você é diferente do babaca que todos falam que é, acreditando que no fundo você é tão igual a mim...

As lágrimas incontidas descem pelas minhas bochechas vermelhas, e eu tento inutilmente enxuga-las com os nós dos dedos. Marco meneia com a cabeça e levanta num salto, ficando de frente para mim.

_ É um beijo que você quer? Então é um beijo que você irá conseguir – E, tão repentinamente, ele se inclina para mim e tasca um beijo sem língua na minha boca, e a única coisa que consigo sentir são meus dentes batendo nos lábios dele, e o único pensamento que passa na minha cabeça é se tem coriza escorrendo do meu nariz.

Em poucos segundos nosso primeiro beijo tão esperado, sonhado e planejado por mim acaba, totalmente diferente de todas as hipóteses que já cogitei. Sim, aquele beijo foi o mais forçado e sem sal do currículo de beijos de Marco Lorenzo Vittorelli.

_ Está satisfeita com o seu beijo? Achou bom? – Marco intimida, com a raiva sobressaindo em suas palavras. – Valeu a pena chorar por isso?

Eu ainda pondero sobre a resposta, e após umas fungadas generosas, faço que não com a cabeça.

_ Viu? Que droga, Nora. Eu não queria fazer isso, mas foi só para te mostrar que talvez eu a trate diferente daquelas piranhas porque eu espero algo mais de você. É por isso que estamos aqui, sozinhos!

Ele massageia as têmporas, enquanto eu me mantenho estática de tão atordoada. Marco percebe o meu estado de abismada e desarma os ombros, dizendo:

_ A gente precisa de uma boa bebida. Vamos.


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