Se o Amor é uma Ilusão, Deixe-me Ser Iludida escrita por snow Steps


Capítulo 16
Capítulo 15




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Sigo Marco até a saída da boate, ainda segurando firmemente a sua mão. Ele não diz nada, apenas anda com passos rigorosos sem olhar para trás. Saímos da casa de luzes epilépticas e paramos na beira da avenida pouco movimentada na madrugada. E esta foi a primeira noitada de Eleonora Silva e Santos: não durou nem uma hora, não bebi nenhum drink, não dancei uma música e terminei a noite com o deuso mais gato da boate.

Eu sei, sou incrível.

Marco anda de um lado para o outro da calçada, pensativo. Ele está tão diferente em relação aos outros dias: quieto, sério e distraído. Por um instante concluo que ele não sabe o que está fazendo, quando repentinamente faz sinal para um táxi que estaciona a nossa frente. Ele abre a porta indicando um gesto para que eu entre, e em seguida senta ao meu lado.

_ Para onde? – Resmunga o motorista, sonolento.

_ Para a praia de Copacabana, por favor. – Responde Marco, de prontidão.

Enrugo a testa, brincando com os nós dos dedos. Praia? Às uma da manhã? Em Copacabana? Eu não entro naquela água nem para vê-lo pelado.

Tá, talvez sim.

Nós nos entreolhamos e ele me abre um sorriso acolhedor, e através dele sei que será uma noite perfeita. Cara, sim, estou num táxi com Marco Lorenzo Vittorelli. Eis que a Operação Dionísio alcança seu ápice extremo e provavelmente o único.

_ O que faremos por lá? – Indago mansamente.

Ele encara o teto, o motorista, a pista escura da janela. Com um sorriso travesso e irresistível, Marco responde inocentemente:

_ Eu não sei.

Dou de ombros, soltando uma gargalhada, e ele me acompanha.

_ Como não sabe?

_ Eu só quero ir para bem longe de todas aquelas pessoas. E eu gosto de praias à noite, então...

_ Marco, já lhe passou pela cabeça que estamos no Rio de Janeiro? Uma das metrópoles mais violentas do mundo?

_ Tsi. Tá comigo tá com Deus.

Caio em risos novamente.

_ Onde está aquele italiano que nem sabia o que era “zoar”?

_ Ah, enterrado em algum lugar do passado. Sabe, é interessante como estamos em constante mudança. Nunca mais seremos o que fomos ontem, e jamais saberemos o que seremos amanhã. – Ele reflete, passando a mão pelos cabelos dourados e rebeldes.

_ Pode crer. Sinceramente... – Eu hesito, com as bochechas enrubescendo por vergonha. – Deixa pra lá.

_ O que?

_ Nada, Marco.

_ O que? – Ele insiste, dessa vez mais veemente.

_ Bobagens.

_ Você não me conhece.

_ Acredito que não. Por que?

_ Porque se me conhecesse saberia que pode me falar qualquer coisa. Jamais julgarei ninguém.

_ Jamais mesmo?

_ Jamais.

_ Como pode ter tanta certeza? – Desafio, curiosa.

_ Porque eu conheço a dor de ser julgado. – Ele faz uma pausa prolongada, carregada de amargura. – Eu sei o que falam de mim, Nora. As coisas horríveis. A imagem grotesca que você deve ter criado de mim, e tantas outras pessoas.

Eu o fito nos olhos entre os solavancos do táxi, o espaço curto entre nós permitindo ver a contração das suas pupilas através da escuridão do túnel que atravessamos.

_ Por que tenho a sensação de que você é tão diferente do que as pessoas dizem?

Ele morde o lábio inferior, pensativo. Tão sexy. Eu quero tanto tocar naqueles lábios, sentir o seu gosto, sua textura, seu desejo...

_ Porque talvez ninguém me conheça de verdade. – Ele palpita, soltando uma risada áspera. – Mas eu ainda não esqueci o que você tinha para dizer. Sinceramente...?

Meus lábios se comprimem num tracejo encabulado, e resolvo revelar o meu verdadeiro sentimento neste instante.

_ Sinceramente, a antiga Nora jamais imaginaria que um dia pudesse estar ao seu lado. Desfrutando desta conversa. E... conhecendo você. De verdade.

Nós dois sorrimos no escuro, em silêncio. É neste momento que o mocinho beija a mocinha, ao menos nos filmes. Mas ele não avança. Não se inclina. Permanece com seu sorriso amistoso, e um relance de decepção me percorre. Por que Marco age diferente comigo? Se eu fosse uma Natasha ou uma Isabella, provavelmente já estaríamos sem roupas naquele banco traseiro. Bem, ao menos existe uma vantagem em ser eu: ele preferiu a minha companhia invés delas no seu aniversário.

_ Por que você quer ficar longe daquelas pessoas? – Questiono.

_ Estou cansado, Nora. – Ele responde, sem mais delongas.

_ Cansado de quê, exatamente? De ser o gostosão da Maria de Mattias? Cheio da grana? Com vários amigos e mulheres lindas se jogando aos seus pés? Fala sério.

_ Você acha isso mesmo de mim? – Ele interroga, rindo bastante.

_ Mas é... claro? – Nós continuamos a cair em risos.

_ Pode ser que eu esteja cansado de ser tudo isso. Eu gosto das garotas e do pessoal da faculdade. Mas eles não me entendem. É difícil de explicar.

_ Não, não é. Eu sei do que está falando.

_ Viu? É por isso que estamos juntos esta noite.

_ O.k. Marco, mas você tinha 365 dias do ano para escolher uma noite de reflexão e escolhe justamente no seu aniversário, deixando todo mundo para trás quando poderia ser a melhor noite de todas.

_ Quem disse que eu preciso de várias pessoas para esta ser a melhor noite de todas? Uma já pode ser o suficiente.

Nós descemos do táxi e Marco paga o motorista com uma nota de cem, não pedindo o troco. Observo a paisagem ao redor com os meus pés tocando o calçadão preto e branco, e uma onda de ansiedade misturada ao medo me invade. A praia está praticamente deserta, exceto por alguns grupos de prováveis maconheiros espalhados pela faixa de areia. Do outro lado da avenida, os bares e night clubs explodem de gente, com o som do burburinho agitado sendo carregado pelo vento gelado saturado de maresia. Ao longe, a orla da praia se estende em incontáveis luzes de diversas intensidades, formando um conjunto de pontos luminosos que lembram estrelas.

_ E agora, Lorenzito? – Brinco, esboçando um sorriso gozado. Cruzo os braços em volta do meu corpo para me esquentar, e a brisa fria corta entre minhas pernas desnudas e bate na calcinha. Ai, saia maldita.

_ Toma aqui – Ele tira seu casaco de couro e põe por cima dos meus ombros, o qual fica gigante em mim. – Agora... eu quero conhecer você. Me conte quem é Eleonora.


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Notas finais do capítulo

Um nota de curiosidade: meu namorado me pediu em namoro na praia de Copacabana, às duas da manhã. Não, isso não vai acontecer na fic. Sim, nós eramos insanos.
Espero que estejam gostando! Beeijinhos!



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