Sempre te amei. escrita por AnaClaudiia


Capítulo 87
Mar


Notas iniciais do capítulo

-1
Faltam 3
:o
Boa leitura.



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Por João Lucas (6 meses depois.)

O dia ta quente lá fora, mas aqui dentro tudo é frio, gelado, calmo, quase que mórbido... Meus filhos estão lá embaixo na sala, Eduarda está ao lado deles. Ela sabia que eu precisava pensar e me deu esse tempo.

De manhã, quando acordei e dei de cara com aquela notícia, senti como se uma parte de mim tivesse acabado. A Botticelli agora deve milhões de dólares, Paola deu um jeito de desviar muita grana pra si... Desgraçada!

Minha empresa está com muitas dividas e eu só fiquei sabendo disso pelos jornais, anos construindo uma coisa, pra no final terminar assim...

Eduarda ficou preocupada com a notícia, com medo de que isso afetasse a nossa relação. No fundo ela se sentiu culpada, viu a dor nos meus olhos, pensou que se estivéssemos lá isso nunca teria acontecido... E realmente, não teria! Mas a escolha foi minha, confiei em alguém que não merecia e então me dei mal. A vida é cheia dessas coisas.

Ultimamente muitas coisas tem dado errado, seria tão bom se tudo fosse fácil e simples... Mas não é!

Me levanto da cama em que estava deitado e vou até a janela. A abro e olho a rua: Ela está vazia, as pessoas estão trabalhando agora, mas eu fico aqui, parado...

Vejo a casa de Alzira, tão silenciosa... Ela deve estar lá dentro!

Achei que a morte seria um bom castigo pra ela, mas o destino é bem mais cruel do que pensei. Minha vizinha perdeu todos os movimentos do corpo, não fala, fica vegetando em cima de uma cama, mas seu cérebro ainda funciona, ela está consciente, o médico que disse... Vive presa, não só ao colchão, como também a todas suas lembranças, mágoas e angustias.

Tivemos compaixão por Alzira, não que merecesse, e contratamos alguém para cuidar dela, pagamos a enfermeira com o dinheiro do imóvel que nossa vizinha herdou de Maria.

Um dinheiro que ela nunca será capaz de usufruir...

Tiramos a denuncia contra ela, não movemos mais nem um graveto para coloca-la na cadeia, assim é melhor... Tê-la ao nosso lado, saber que está lá imóvel, talvez lamentando o dia que assassinou a avó dos meus filhos.

Eu acho que a morte seria fácil demais, nossa vizinha merece sofrer duas vezes, nesse mundo e também no outro... Dizem que aqui se faz e aqui se paga, no seu caso, a frase foi levada muito ao pé da letra.

Escuto a porta se abrindo e ao olhar para trás vejo Eduarda. Sua barriga está enorme, o bebe vai nascer a qualquer momento.

É um menino...

No momento em que soube não acreditei, tinha certeza absoluta que seria menina, que faria a homenagem a Maria... Mas não!

Meu pai ficou feliz com a notícia, disse que eu estava seguindo os mesmos passos dele, até no sexo e quantidade de filhos. Du que estava ao meu lado falou: "Aí de você se aparecer um bastardo, em?"

Como se isso fosse possível, trair ela seria como se eu traísse a mim mesmo, Eduarda faz parte de mim.
Du: Já passou a depre? - Ela fala, colocando as mãos em meus ombros.
JL: Não, ainda não... - Digo, me sentando na cama. - Meu pai sentia orgulho de mim, por tudo que eu construí, e agora...
Du: Não foi culpa sua, foi aquela Paola que deu o golpe na empresa... Como íamos imaginar isso? - Com dificuldade, ela se senta a meu lado. Eu me deito perto de sua barriga e fico escutando meu filho. - Não é só isso que está te deixando pra baixo, né?
JL: Não, é tudo que aconteceu! Será que não dá pra confiar em ninguém?
Du: Em algumas pessoas sim, só é difícil de achar, mas existe muita gente boa no mundo!
JL: As vezes eu fico pensando, os Medeiros de Mendonça e Albuquerque não tem muita sorte, né?! Já quiseram matar meu pai, a minha mãe é apaixonada pelo Comendador e ele nem aí pra ela, meu irmão foi traído e descobriu que o filho da Amanda não é dele...
Du: Quem diria! Isso me deixou chocada... Parece que ela foi morar lá com aquele Léo!
JL: O José Pedro largou da Danielle pra ficar com a minha prima, e agora está sozinho, sem ninguém, deprimido... O Comendador ta preocupado, parece que ele tá pirando um pouco!
Du: Pirando? Como assim? - Ela me faz cafuné.
JL: Ele fica o dia todo na empresa, só volta pra dormir, não fala com ninguém, briga com a minha mãe atoa... Graças a Deus saímos daquela casa a muito tempo atrás!

Amanhã terá a festa da Império, o desfile da nova coleção, meu pai quer todos presentes, já disse isso mil vezes, mas não tenho a miníma vontade de ir, ainda mais agora...

Não estou a fim de encarar os olhos de José Alfredo, que antes sentiam orgulho de mim, e que agora com certeza vão me repreender: Como você pode deixar sua empresa nas mãos dessa aí? O imagino perguntando, e a responta nem eu sei.

Nesses últimos meses me importei mais com minha família do que com a Botticelli e, isso não é uma coisa ruim... Só que eu não deveria ter a abandonado por completo!

Sinto meu filho chutando, então sorriu.
JL: Meu jogador de futebol... - Sussurro.

Eu queria uma bailarina, meus filhos também ficaram frustrados quando demos a notícia, mas acho que o destino quis assim, então será o melhor.
JL: As vezes dá a impressão de que a vida dos outros é mais fácil que a nossa...
Du: Lógico! Ninguém divulga os problemas...
JL: Mas na nossa história teve muitas coisas ruins, todas de uma vez!
Du: Talvez tudo tenha um propósito! - Ela fala, sorrindo. - O que aconteceu com a gente nos deixou marcas, boas e ruins, porém com todas elas nós aprendemos algo...
JL: Tipo o que?
Du: Que tudo que fazemos volta pra nós, que o ódio destrói, que as pessoas são volúveis e que dificilmente vamos as conhecer por completo... Mas mesmo assim a grande maioria tem uma parte boa dentro de si.
JL: Preferia descobrir todas essas coisas de outro jeito. - Ela ri.
Du: É, eu também! Mas levanta daí e vamos pra sala, nossos filhos já estão estranhando o seu sumiço, tu ficou aqui quase o dia todo...

Minha esposa se levanta, porém eu continuo deitado. Desde que soube do rombo da empresa, venho pensando em uma coisa.
JL: Du - Ela se vira e volta a me olhar. - Eu fiquei um tempo refletindo aqui, fazendo contas, e acho que tem um jeito de pagar as dívidas da empresa...
Du: Qual é a sua ideia?
JL: O dinheiro que a Maria nos deixou, ele dá pra pagar e sobra muito ainda...

Eduarda não diz nada por alguns segundos, parece pensar.
Du: Essa grana não é minha, nem sua, e sim dos nossos filhos!
JL: Qual é, eles são crianças... Nem sabem o que é dinheiro! E no final, é pra eles mesmo que construo tudo isso!
Du: Lucas, isso não é justo! - Du parece decidida. - Não vou deixar você pegar a grana deles!
JL: Você quer que eu deixe a Botticelli abrir falência? Desse jeito não vou conseguir nem andar na rua de tanta vergonha!
Du: Vergonha do que?
JL: De ser um otário, um idiota... - Grito. - Ao invés de um dos maiores empresários do ramo, vou virar uma piada!
Du: Por que você se importa tanto com a opinião alheia? Qual o problema da empresa fechar? Continuaremos ricos, nem tanto como antes, mas milionários ainda... Tu vai voltar a agir como antes? Se tornar ambicioso de novo? Você sabe o que acontece com pessoas assim...
JL: Não é pelo dinheiro Du, é porque eu gostava de sentir orgulho de mim, de saber que de irresponsável e ovelha negra da família virei um motivo de admiração! - Algumas lágrimas descem por meu rosto.
Du: Eu tenho muito orgulho de você! Tu venceu a ti mesmo, abandonou seus vícios, seus monstros e tudo isso em nome de uma família, de mim... Nossos filhos nunca estiveram tão felizes, você os ajudou na festa de aniversário , encheu balões, brincou com os dois o tempo todo, não os deixou pra atender ligações, nem assinar documentos... Isso nunca mais tinha acontecido!

Minha esposa se aproxima de mim e passa a mão por meu rosto, me acalmando.
Du: Te admiro muito! - Du sorri e eu também faço isso.
JL: Eu também te admiro... Demais!

É a mais pura verdade... Nós dois deveríamos sentir orgulho de nós mesmo. Quem iria pensar que chegaríamos até aqui? Quanta coisa conseguimos? Eu levava um vida tão errada, suja, obscura... Vivia na madrugada, nas festa, bebia, me drogava, brigava... Porém hoje, sou um homem de verdade, construí um lar, uma família pra chamar de minha. As vezes as coisas ficam ruim, mas no final sempre dá certo, pois é assim que tem que ser. Podem até tentar nos colocar pra baixo, mas ninguém derruba alguém que nasceu pra ser grande e, sinto que minha esposa e eu nascemos pra ficar no topo.
Du: Eu me sinto culpada pelo que aconteceu, você sabe... - Ela pega da minha mão. - Se quiser mesmo pagar essas dividas com o dinheiro das crianças, tu antes tem que falar com elas.
JL: Não... - Respondo. - Você já me fez mudar de ideia, aquilo lá é deles, não meu! Além do mas, eu nem pretendo voltar pra NY, acho melhor vender aquilo tudo e quitar as contas...
Du: Graças a Deus! - Ela olha pra cima. - Estava morrendo de medo de você querer se mudar!
JL: Nosso lugar é aqui, sempre foi... - Sorriu e aperto sua mão. - Vamos lá pra baixo, chega de mofar nesse quarto.

Descemos as escadas juntos e eu a ajudo nessa tarefa. Está ficando cada vez mais difícil, o bebe pode chegar a qualquer momento, a barriga de minha esposa já está bem pesada, nem queria que ela ficasse passando por esses degraus, acho que Du deveria descansar, repousar, mas quem a segura?

Chegamos na sala e, vemos nossos filhos e Carmem sentados no sofá. Minhas crianças cresceram nesses 6 meses, não só no tamanho como na idade, agora já tem 6 primaveras... As mais felizes da minha vida!

No aniversário deles, toda minha família apareceu, menos José Pedro, ele ficou trabalhando.

Meu pai deu dois pôneis para meus filhos de presente, no primeiro instante Du ficou assustada: "Onde a gente vai colocar dois mini cavalos?" Ela perguntou. O comendador riu e contou que iria os deixar na fazenda... Agora ele tem uma.
A: Ta tudo bem papai? - Alfredinho questiona, assim que me sento a seu lado.
JL: Sim, to ótimo... O pai só estava um pouco perdido, mas como sempre sua mãe me ajudou a me encontrar!

Ela é meu guia, meu GPS, meu mapa.

Me devolve a razão, me trás de volta a mim mesmo.

A seu lado os caminhos se formam, não fico perdido, nem me sinto vazio.

As vezes precisamos ficar só, livres para pensar, mas a sua companhia e palavras sempre são o melhor para mim, elas me guiam de forma certeira até a paz de espirito.

Eduarda me lembra um poema:

No mar sereno,

Sem remo,

Sem rumo,

Sem rumor,

Velas soltas ao sol,

As velas brancas do amor.

O meu mar antes era cheio de ressaca, as ondas eram fortes, destabilizavam a todos. Hoje é calmo, principalmente quando ela está a meu lado.

Eu não tinha forças pra remar sozinho, para sair do mundo em que estava, mas ela navegou comigo, usou suas mãos para me tirar de perto do mal que me rodeava.

Vivia sem rumo, vagava pelas noites, perdido, procurando algo que me preenchesse... Ela me mostrou um caminho a seguir.

Não existia ruídos ou sons que me acalmassem... Havia barulho a minha volta, pessoas dizendo várias coisas, mas nenhuma delas me fazia bem. Era o mesmo que silêncio, pois nunca me sentia confortado.

Minha esposa foi e é a minha vela! Me levou pra longe das coisas ruins. Ajudou meu barco a sair de águas profundas e escuras.

Seu amor fez meu mar sereno, navegável e estável.

Du que me carrega pra mansidão, que me tira das tempestades, que não deixa eu me perder novamente... Se não fosse ela, a essa hora eu estaria naufragado por aí, quem sabe com o corpo boiando sobre as ondas.


JL: Obrigada... - A olho com o meu melhor sorriso.

Nós estávamos sentados no sofá, assistindo Bob Esponja e ela nem esperava um agradecimento meu.

Fico esperando sua reação, e então escuto.
Du: Por que você está com essa cara de bocó?

Meus filhos me olham e começam a rir.

Eu poderia lhe dizer que meu rosto reflete o amor e agradecimento que sinto por ela ter me dado uma família, mas prefiro não deixa-la ainda mais convencida.

A campainha toca e vejo Ana passando atrás de nós para abri-la.

As vezes esse barulho me assusta, nem sempre temos visitas boas, ou notícias agradáveis...
JA: Boa tarde! - Meu pai diz, quase gritando.

Ao ouvirem sua voz, meus filhos correm ao encontro dele. O comendador se abaixa, com certa dificuldade , e lhes dá um abraço apertado.
JA: Já que os irresponsáveis dos pais de vocês nunca os levam pra me visitar, vim eu mesmo ao encontro dos dois!
JL: Ah pai, qual é? Tu sabe que não dá pra ficar indo lá toda hora...
JA: É, mas ir pra outro país e arriscar a vida vocês podem, né? - Quando ele descobriu, ficou irado. Só faltou nos bater.
M: Como assim vovô?
JA: Esqueça, coisa de adulto... E então, quando vocês vão ir lá visitar os "mini cavalos"? - Ele diz, imitando Eduarda.
Du: Melhor esperar um pouco, acho meio perigoso...
JA: Eduarda, os pôneis não tem nem 1 metro de altura!

Quem diria, Du virou uma mãe super protetora e cheia de cuidados! O tempo é um compositor de destinos muito surpreendente.
Du: Tá bom, qualquer dia desses eu deixo eles irem com o senhor... - Ela sorri.
JA: Que maravilha, vou aproveitar e mandar preparar um sarapatel pros dois, eles tem que começar a comer desde cedo, para aprenderem o que é bom!
A: O que é salapatel mamãe?
Du: É uma comida feita com as vísceras do porco...
M: Vísceras?
JL: É melhor você não saber o significado disso. - Digo a Marta.
JA: Martinha e Dinho, vocês podem subir um pouco? Gostaria de falar com os pais de vocês a sós.

Meus filhos me olham e parecem pensar: Você fez algo de errado? Acho que eles tiveram a impressão de que eu levarei uma bronca do meu pai.

Os dois sobem na companhia de Carmem e então o comendador vai se sentar no sofá.

Ele já deve ter lido o que aconteceu na empresa, esse deve ter sido o real motivo da sua vinda aqui.
JL: Tu não tinha que estar trabalhando? - Pergunto.
JA: Sim... - Ele olha seu anel. - Mas você também, não é? Mas preferiu tirar umas férias e se dedicar a algo mais importante. - Meu pai sorri e encara a barriga de Du. - Eu vim aqui hoje por dois motivos: Estava com saudades dos meus netos e precisava falar com você.
Du: Comendador, se for pra falar sobre a Botticelli, é melhor não... - Eduarda começa a dizer. - O Lucas já ficou mal por isso o suficiente, prefiro que você o poupe das suas palavras.
JL: É pai, sei que fracassei, mas prefiro não falar disso, já tenho consciência desse fato.
JA: Quem disse que tu fracassou? - Ele me olha. - Não vim para dar bronca, nem reclamar... To aqui para dizer que sinto muito orgulho de você! Tu João Lucas, é cabra macho, arretado igual eu! Construiu seu próprio império...
JL: E depois deixei ele acabar!
JA: Só porque ele não estava mais no seu comando. Aliais, é só pagar o rombo da empresa e tudo fica resolvido... Posso te dar essa grana!
JL: Sério? - Olho para Eduarda, ela parece surpresa. - Mas é bastante dinheiro, os meus irmãos concordam com isso?
JA: Num sei e nem quero saber. Tomei essa decisão agora e tá decidido!

Eu dou um abraço em meu pai e lhe agradeço.
JA: Só que tem uma coisa: Não quero você à frente da empresa!
JL: Hã? Como assim?
JA: Tu vai pagar as dividas, vende-la por um ótimo preço e o dinheiro você investe, sei lá...
JL: Mas por quê?
JA: Você é corajoso meu filho, me surpreendeu, se tornou um homem até melhor do que eu... Em todos os sentidos! É ótimo pai, muito mais presente que fui, um bom marido, chefe de família... - Ele sorri. - Estou te convocando a voltar a trabalhar na Império, já está na minha hora, vou me aposentar, quero curtir minha fazenda, meu netos... Você fica com a minha cadeira, vai ser o presidente da empresa!
JL: Oi? Mas eu...
JA: Oxê, eu nada! Amanhã na festa da coleção anuncio isso a todos, escreva um discurso de agradecimento. - Ele se levanta do sofá. - Vou lá com as crianças.

Meu pai sobe as escadas e eu continuo chocado por alguns instantes.

Ele acabou de decidir o meu futuro, a minha vida, e tudo isso sem me consultar... Mas no final, eu nem estou bravo, muito pelo contrário. Sempre quis ser reconhecido, ter meu talento pros negócios valorizado. Consegui isso!

Sinto as mãos de Du pesando sobre meu ombro e ao olha-la, minha esposa diz:
Du: Acho que temos um novo imperador...

E eu a minha Imperatriz.


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Notas finais do capítulo

Eu não lembro de quem é o poema, vi essa estrofe escrita atrás de um livro e nunca me esqueci dele. Me faz pensar, sei lá...
Espero que tenham gostado do capítulo!



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