Marinwaal: besties forever escrita por Miss Vanderwaal


Capítulo 8
Deveres de uma melhor amiga


Notas iniciais do capítulo

Escrevi esse capítulo com um olho em minha lágrima :'(

Enfim, embora seja um dos mais emotivos que já escrevi (se não o mais), adorei escrevê-lo :D



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A casa de Mona ficava na zona sul de Rosewood, e era a que ficava mais longe da minha, se a distância fosse comparada às das casas das outras garotas. Se bem que distância nunca foi um problema para aquela cidadezinha, afinal, em mais ou menos quinze minutos de carro, era possível percorre-la de cabo a rabo.

Sabia que a mãe dela estaria em casa a esta hora da manhã e era provavelmente por isso que eu ainda continuava nervosa.

Leona Vanderwaal trabalhava na pequena e charmosa filial da Saks do shopping King James, mas havia tirado alguns dias de licença devido a tudo que estava acontecendo com a filha no momento.

Ela atendeu no primeiro toque da campainha. Usava um vestido florido e alegre, embora sua expressão ao esboçar um sorriso me vendo ali fosse a mais triste e penosa que eu já havia visto.

– Hanna! – ela me abraçou – Que surpresa!

– Oi, sra. Vanderwaal – eu disse, timidamente – Posso falar com você?

Ela me deu passagem e eu adentrei a casa lentamente. Eu já a havia chamado pelo primeiro nome – Leona – muitas e muitas vezes, mas naquele momento apenas não pareceu apropriado.

A primeira coisa que eu sempre notava ao entrar ali era uma foto – no centro de uma estante ao lado das escadas que davam para o segundo andar – de Leona ao lado do marido. Ele estava com Mona no colo, ainda recém nascida, envolvida em um enxoval branco.

Era difícil pensar nele como “Sr. Vanderwaal”, talvez porque ele fosse alguns anos mais novo que Leona e tivesse cabelos curtos e enroladinhos naquela foto. Ele me passava a imagem de um bom pai. Doce, compreensivo. Mas infelizmente eu nunca pude conhecê-lo. James Vanderwaal era membro da Marinha dos Estados Unidos e morrera em alto mar, durante uma tempestade, quando Mona ainda tinha menos de um ano de idade.

Me lembrava de ter ficado tão chocada quando Mona me contou sobre o acontecido, na primeira vez em que fora a casa dela, que disse, sem nem pensar, que meu pai havia morrido também. Ao dizer isso, me senti unindo o útil ao agradável, afinal, eu odiava meu pai por ter traído minha mãe e nos deixado para ir morar em Annapolis com a Barbie nauseante que era minha meia-irmã, Kate. Ele merecia morrer, ou pelo menos, morrer para mim.

Enquanto sentava no sofá da sala de estar de Leona, refletia a respeito de meu pai nunca ter se dado ao trabalho de sair de Annapolis e ir às homenagens de Dia dos Pais de Rosewood Day, a escola de ensino fundamental. Portanto, Mona não o conhecia e eu nunca pensara em lhe contar a verdade. Mas, de repente, minha consciência começou a pesar por causa disso.

– Então, o que posso te oferecer? – a voz simpática de Leona tirou-me de meus devaneios – Chá? Café?

Eu acariciava meus próprios joelhos com as mãos, como se estivesse com frio.

– Nada, obrigada – tentei sorrir.

– Ora, deixe disso. Sei que você não é de fazer cerimônias. Vocês duas costumavam fazer piqueniques lá em cima.

Leona falou a última frase como se Mona e eu nos conhecêssemos desde o jardim-de-infância. Não pude conter um sorriso.

– Café está ótimo – ia ser minha quarta xícara em menos de duas horas mas quem estava contando?

Assim que Leona se afastou para ir até a cozinha, meus olhos cairam em outro porta-retrato. Este estava uma prateleira abaixo do anterior, e exibia um homem de meia-idade deitado na grama e erguendo Mona – que na época deveria ter de três para quatro anos – para o alto com os braços. O homem – o qual eu conhecia – era Ned Vanderwaal, irmão mais velho de Leona e, portanto, tio de Mona.

Até onde eu sabia, Ned morava com as duas desde que a família viera morar em Rosewood e esteve envolvido na criação de Mona desde o início. Talvez fosse por isso que Mona costumava se referir aos dois como “meus pais”, mesmo que o “autêntico” Sr. Vanderwaal não estivesse mais entre eles. E eu também pensava assim.

Eu nunca havia prestado atenção àquela foto antes. Era de fato digna de um quadro ampliado. Mona usava um vestidinho preto com listras verticais brancas, um colar tipo havaiano de flores púrpura no pescoço e uma flor de mesma cor nos cabelos escuros. Mostrava quase todos os dentinhos de leite em um sorriso largo e as mãozinhas tocavam o rosto de Ned.

Havia outro porta-retrato ao lado deste e, por mais que a foto fosse recente, eu lembrava de tê-la visto ali antes. Mona estava abraçada a mãe e as duas sorriam abertamente. Mona usava um tomara-que-caia laranja, também em estilo havaiano, e os cabelos compridos, que pareciam estar quimicamente alisados, estavam perfeitamente alinhados. Tudo nela ali exibia maturidade e autoconfiança, desde a postura até o brilho nos olhos que eu conseguia perceber de longe. Ela realmente estava linda. E admitir isso me fez lembrar por que estava ali.

Me endireitei no sofá ao ver Leona se aproximar com uma bandeja com café e biscoitinhos amanteigados em mãos. Ela colocou a bandeja na mesinha de centro e juntou as mãos sobre o colo.

– Então? – suspirou, querendo parecer despreocupada – Sobre o que quer conversar?

Pelo jeito como ela falava, parecia estar me recebendo para o chá das cinco e eu definitivamente não me sentia bem sabendo que ia ser uma estraga-prazeres.

Peguei a xícara de café mais próxima e deixei que ela esquentasse meus dedos.

– Eu... não sei direito – comecei, vacilante.

– É sobre Mona, não é? – Leona adivinhou, numa voz mais contida.

Assenti, tomando um gole do café.

– Você soube? – ela me perguntou.

– Sim – respondi, assumindo que ela falava sobre a possibilidade de transferência – Mas antes de entrarmos nesse assunto... – coloquei a xícara de volta da bandeja – posso perguntar uma coisa?

Ela me lançou um sorriso leve que dizia “é claro”.

– Você sabe o real motivo de Mona ter sido internada?

Leona estremeceu. Seu semblante agora exibia medo e confusão.

– Naquela noite – começou ela – os médicos usaram um monte de palavras complicadas para dizer que alguns parafusinhos no cérebro dela haviam se soltado devido a queda do penhasco.

Não pude deixar de sorrir ao ouvi-la dizer “parafusinhos”.

– Mas eu não quero acreditar nisso – continuou – Ela sempre foi tão esperta, sabe? Mais do que isso. Ela sempre foi inteligente. Eu sei que ela é mais forte que isso tudo.

– Tenho certeza de que ela é – me aproximei de Leona e passei o braço esquerdo em torno de seus ombros. A pobre mulher estava a ponto de desmoronar.

– Se ao menos soubessem quem fez isso com ela... – Leona soluçava – Quem... a levou para aquele lugar. E colocassem esse monstro atrás das grades.

– Vão colocar – eu disse, prontamente, sem conseguir tirar da cabeça que não havia exatamente um culpado para isso. Isto é, se havia de fato um, esse alguém era Alison e ela já estava pagando por seus crimes a sete palmos abaixo da terra – Mais cedo ou mais tarde, eu prometo.

Leona tentou se recompor, passando os dedos pelos olhos.

– Nas poucas vezes em que consegui falar com ela, ela me disse que não se lembrava de absolutamente nada. Melhor assim, eu acho. Pior seria se ela fosse ficar para sempre com as imagens de um pesadelo na mente – forçou um sorriso e finalmente me fitou – Mas você me pergunta como se já soubesse a resposta.

Olhei para minhas unhas por um longo tempo, tentando acalmar meus batimentos.

– Você conheceu Alison, não é? – perguntei cautelosamente, sentindo a incerteza em minha voz.

– Querida, eu acho que não há uma alma viva nesta cidade que não saiba quem foi Alison.

Dei um meio sorriso.

– Não, eu quero dizer fora dos telejornais.

– Bem, eu cruzava com ela algumas vezes pelas ruas. Ela sempre tinha um sorriso aberto no rosto. Parecia ser uma menina especial. Mona falava dela muitas vezes.

Arqueei uma sobrancelha, surpresa.

– Falava?

– Sim. Sobre como ela era bonita e popular e sobre como “ninguém tinha chance com ela”.

Senti meu coração apertar. Tudo isso começara porque Mona queria ser amiga de Alison e Alison a repelia como se estivesse dentro de um campo magnético.

– Mais alguma coisa?

– Não que eu me lembre. Por quê? – Leona tinha um sorriso curioso no rosto.

Suspirei.

– Bem, antes de eu me aproximar de Mona, nós, Emily, Aria, Spencer e eu, éramos muito próximas de Alison.

Leona assentiu docemente, como se já soubesse.

– Só que, por muito tempo – continuei, sentindo outra vez o remorso tomar conta de mim – , Alison... implicava com Mona – escolhi a dedo o verbo “implicar” – e eu deixei que isso acontecesse diante de meu olhos. Até o dia em que... tomei o lado de Mona e comecei a cortar relações com Alison gradualmente.

Finalmente olhei para Leona. Ela parecia abalada mas ainda sim forçou um sorriso.

– Acho que adolescentes têm suas desavenças, não é? – disse ela, um tanto incerta. Um silêncio se fez e ela prosseguiu – Mas não entendo o que isso tem a ver com a internação de Mona.

Suspirei outra vez, escolhendo a dedo as palavras para contar-lhe a verdade sem expor o escândalo de –A.

– Bem, sim, mas... Ali foi cruel. E... eu tenho razões para acreditar que Mona tinha muita raiva de Ali por causa disso, o que ela escondeu de mim por muito tempo. Nós brigamos, Mona e eu, devido a isso algumas vezes. Na verdade – a imagem de Mona naquele moletom preto, com o capuz deixando apenas o seu rosto furioso e amedrontado de fora me veio à mente – , estávamos meio que brigadas na noite do baile de máscaras.

“Estávamos meio que brigadas” foi, talvez, o maior dos eufemismos que já usara ou usaria na vida.

– Agora – continuei - , não estou dizendo que essa seja a razão pela qual Mona foi internada mas talvez tenha sido uma razão a mais para ela “se perder” no meio disso tudo.

Respirei fundo, o silêncio de Leona me perturbava.

– Não sei se estou me fazendo entender – eu disse, suavemente – Mas sinto que tenho uma dívida com Mona. Uma dívida grande, impagável talvez. Ela fez de mim sua melhor amiga e eu, por um longo tempo, não a apoiei. Duvidei das razões dela.

Soltei a última frase depressa, tendo quase certeza de que, se fosse apenas uma telespectadora ali, não teria entendido. Mas não me preocupei em explicar. Leona ainda permanecia em silêncio e olhava para as mãos em seu colo. Não sabia nem se ela ainda estava me ouvindo. Parecia conter bravamente as lágrimas, assim como eu.

– Mas agora acho que é seguro dizer que eu entendo o quão brava ela estava – concluí.

Leona finalmente levantou a cabeça. Parecia um tanto confusa, tentava lembrar da imagem da filha.

– Ela não parecia brava.

Baixei os olhos.

– Ela era boa em esconder certas coisas – soltei a última indireta ressentida que ainda parecia restar dentro de mim, porém em seguida percebi que havia soado rude demais – Talvez ela estivesse envergonhada demais para contar para alguém sobre isso; talvez não quisesse que você se preocupasse com ela.

Leona sorriu nostalgicamente.

– Isso sim parece típico dela.

Respirei fundo outra vez, de repente sabendo exatamente o que eu deveria ter falado desde o começo. Tentei sorrir da forma mais confiante possível.

– Mona é muito importante para mim. Eu arrisco dizer que somos tão próximas que chegamos a ser quase a mesma pessoa. Passamos pelos mesmos problemas. Isso porque Alison fazia comigo, desde o sexto ano, que foi quando nos conhecemos, exatamente o que ela fazia com Mona, só que de um jeito mais doce, para eu não perceber que eram realmente ofensas. Mas ela me pejorava. Fazia piadas sobre meu peso e sobre minha consequente bulimia. E eu chorava durante noites seguidas dizendo a mim mesma que Ali estava certa. Que ela estava certa e que eu não era boa o suficiente – fiz uma pausa, meu coração batia forte – Eu tinha tudo para ser consumida pela depressão... e foi quando Mona apareceu em minha vida, colocando um ponto final em tudo isso. Por mais que ela sofresse como eu, ela tinha uma coragem invejável. E fez com que nós não desaparecêssemos. Eu nunca me senti tão querida perto de alguém! – minha expressão se suavizou e eu sorri – Parecia que com ela eu poderia ser eu mesma. Quando saíamos para almoçar eu podia comer quantas batatas fritas eu quisesse e Mona não me olhava com um olhar reprovador. Ela me entendia! Dizia que eu era linda e incrível do jeito que eu era e eu dizia o mesmo – engoli em seco – Imagino que se mais pessoas tivessem dito a ela o quanto ela era linda e incrível nada disso teria acontecido.

Parei, meus punhos cerrados junto ao acento do sofá. Me sentia um tanto ofegante. Os olhos de Leona brilhavam de lágrimas.

– Eu sei perfeitamente que poderia ser eu, lá, enrolada em uma camisa de força no Radley. E eu tenho absoluta certeza que de Mona estaria em minha sala de estar, tendo esta exata conversa com minha mãe, neste exato momento, pedindo-a para que ela não me mandasse embora.

Me sentia zonza e com um nó na garganta, mas concluí:

– Então, eu imploro: por favor, não a mandem para Saratoga. Ela não irá conhecer ninguém em Saratoga – dei um sorriso inocente – Ela vai se sentir... eu vou me sentir perdida sem ela.

Baixei a cabeça e a primeira lágrima desceu, quente. Leona se aproximou e levantou meu rosto com uma mão.

– Sabe, Mona adorava ler – disse ela, docemente, como se fosse começar a me contar uma história para dormir – E estudar também. Eu sempre tive muito orgulho do quão inteligente ela era. Mas, por um tempo, eu pensei que os livros eram tudo o que ela tinha. Até você aparecer. Você, sem dúvida nenhuma, foi a melhor coisa que já aconteceu a ela.

Leona me abraçou. Eu correspondi, não tendo certeza se merecia aquela última frase.

– Eu vou dar um jeito em tudo, querida, prometo – garantiu ela – E sei que você tem mais poder de curá-la do que qualquer hospital chique.


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