Just Listen escrita por Lenora


Capítulo 17
Capítulo 15 - Traição


Notas iniciais do capítulo

Olá, olá!
É, eu sei, mil perdões pela demora, sei que é imperdoável o que eu fiz, mas esse fim de ano foi um pouco complicado. Último ano do ensino médio, trabalho, vestibular, bloqueio criativo etc.
Peço infinitas desculpas, eu simplesmente não conseguia escrever. Tanto que metade desse capítula já estava pronta há semanas, mas não consegui continuá-lo.
Enfim, peço que me perdoem e que continuem a acompanhar. Sei que não tenho o direito de pedir comentários, mas espero sinceramente que deem a opinião de vocês.
Um bom natal e um próspero ano novo
Boa Leitura!



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Capítulo 15 - Traição

Sakura: Vou precisar do meu notebook.

A garota se ergueu e subiu as escadas em passos apressados, passou pela porta de madeira, adentrando o cômodo escuro. Por estar fazendo trabalhos da escola mais cedo, o notebook se encontrava onde o tinha deixado, em cima da cama. Agarrou o equipamento e refez o caminho até a sala.

Sakura: Me passa seu facebook.

A garota o encarou pasma.

Sakura: Surdos usam o facebook?

Sasuke revirou os olhos.

Sasuke: Sou surdo não cego!!!

Sakura: Cegos não usam o facebook?

Sasuke a encarou sério. A garota ergueu as palmas em rendição.

Sakura: Vou perguntar pra Ino depois.

Ligou o computador e visualizou o novo pedido de amizade.

Sakura: Olá, Sasuke Uchiha

Sakura: Te conheço há meses e ainda não tinha você como amigo.

Passou os olhos verdes pela lista de amizade do garoto, a maior parte das pessoas eram do time de polo, pelo que pôde reconhecer, porém ao virar a página, se surpreendeu pela quantidade de garotas que ali exibiam o rosto. Loiras, ruivas, morenas, negras e até garotas de cabelos coloridos, pôde reconhecer também um par de olhos azuis acompanhados de cabelos loiros extremamente familiares.

Sakura: Você adicionou a Ino e não me adicionou!!

Sasuke: Vi isso agora. Quase não uso essas coisas.

Sakura: Sério mesmo que você gosta de programação de computadores? Está se saindo pior do que eu imaginava.

Sasuke: E essa lista interminável de livros, nerd?

Sasuke: E você está desviando do assunto, não pense que não percebi.

Sakura subiu o olhar, vendo-o mirar a tela do telefone, esperando sua resposta.

Sakura: Não estou desviando, apenas não sei por onde começar.

A garota mordicou o canto dos lábios, enquanto batia levemente os dedos nas teclas. Sasuke via a mensagem que ela estava digitando, porém logo ela apagava tudo e o aviso sumia, para depois começar de novo. Isso aconteceu pelo menos três vezes, por suas contas.

Sakura: Nós nunca fomos uma dessas famílias de comerciais, mas ficávamos bastante juntos, até meu pai ser chamado para um evento em outro país, já que ele é um ótimo professor de biologia e trabalhava em uma das melhores universidades do país.

Sakura: Enfim, por causa do trabalho, ele foi chamado para dar uma palestra em um importante evento em outro país. E é claro que ele ficou contente pela chance que recebeu e aceitou sem pensar duas vezes. Todos nós ficamos felizes, mesmo que ele tivesse que ficar três meses fora e perdesse o aniversário de oito anos de Sasori.

Sakura respirou fundo, tentando afastar aquelas lágrimas que lhe inundavam os olhos. Pensar no passado ainda trazia um gosto amargo a boca.

Sakura: No começo ele ligava todos os dias, passávamos horas no telefone, já que ele fazia questão de falar com todo mundo, mas de repente as ligações ocorriam só três vezes por semana e eram cada vez mais curtas. Em uma das ligações ele disse que haviam oferecido um emprego definitivo e então foi combinado que aguardaríamos até o fim do ano, pra dar tempo da minha mãe fechar a empresa de decoração dela e eu me formar, para que só então ele viesse e nos levasse dessa vez. Mas não foi bem assim. Quando o natal chegou, minha mãe nos levou para casa da minha avó e eu e Sasori ficamos esperando meu pai aparecer, mas quando finalmente deu meia-noite, a única coisa que recebemos de surpresa foi uma pilha de presentes.

Ela ergueu os olhos verdes para ele rapidamente e logo voltou para o teclado.

Sakura: Quantidade de presentes o suficiente para confirmar que algo não estava certo.

Sakura: E as ligações que já eram poucas passaram a ser raras, e quando aconteciam, minha mãe se trancava no quarto e eles discutiam até ela começar a chorar. Quando isso acontecia, minha mãe ficava ruim por dias, lembro de todas as vezes que ela se trancava no quarto, tentando abafar o choro. Ela dormia do lado em que Kizashi deitava na cama, abraçada no travesseiro dele.

Sakura: Ver sua mãe chorar e não poder fazer nada é uma das coisas mais horríveis que existem.

Sakura: Até que um dia minha mãe nos colocou no carro afirmando que ia nos levar no shopping, mas no meio do caminho o telefone tocou e quando Sasori atendeu, ela gritou com ele para que lhe passasse o telefone e quando ele não fez, tentando falar com o pai, minha mãe arrancou o celular da mão dele.

Sakura: Não sei muito bem o que aconteceu, mas Sasori começou a chorar quando ela lhe tomou o telefone. Kizashi disse alguma coisa que a desconcentrou e ela acabou batendo o carro.

Sasuke olhou a tela de seu celular sem saber o que esperar o que viria a seguir, mas só de olhar as lágrimas deslizarem pelo rosto alvo e o convite de casamento no colo da menina, sabia que não teria um final feliz.

Sakura: Minha mãe bateu o carro do lado oposto do motorista, acertando Sasori bem em cheio. A situação só piorou a partir daí. Kizashi voltou para se divorciar da minha mãe e ver Sasori e eu, mas meus pais não conseguiam ficar dois minutos sem gritarem um com o outro. Meu pai tinha arrumado outra mulher.

Sakura: E nós não íamos mais nos mudar para fora do país. Pelo menos não todos juntos.

Sakura: Você sabe o que é ter que ouvir que seu pai não vai mais voltar? E ainda pior, explicar isso para uma criança que estava assustada e em uma cadeira de rodas, pensando que seu pai não gostava mais dele e por isso estava indo embora?

A garota agora já não mais se segurava. Lembrar do que o pai causara a Sasori era algo que ela nunca poderia perdoar.

Sakura: E o pior de tudo é receber esse convite idiota de Kizashi, porque ele quer que eu sorria e aplauda enquanto ele se abraça com essa mulher que causou tudo isso. Que ele deseja que eu delete da minha cabeça que ele nos abandonou quando mais precisávamos. Quando Sasori mais precisava.

A garota então soltou o computador, envergonhada por ter vomitado aquilo tudo em cima de Sasuke. Nem mesmo para Tenten e Hinata ela havia contado aquilo tudo, porém sentiu-se mais leve e, por mais expositiva que tivesse sido, liberar aquilo de si parecia ter sido o mais correto. Sasuke, por outro lado, ainda encarava a tela do celular. Sabia que ela apenas havia contado aquilo porque ele próprio começou contando detalhes de sua vida a ela, quando disse que seu pai havia o trancado no armário.

Sasuke: É por isso que você tem medo de andar de carro?

Sakura riu sem humor, seca.

Sakura: Sofri dois acidentes com carros. No primeiro eu sai apenas com alguns hematomas, mas meu irmão bateu a cabeça e teve que usar cadeira de rodas por muito tempo. No segundo, minha amiga fica surda e EU bati a cabeça, ficando impossibilitada de usar as mãos por dias e com a cabeça bagunçada. Não quero saber qual é a próxima.

Sasuke esticou o braço, a tocando através dos dedos finos, acariciando levemente a pele alva.

Sasuke: Seu irmão ficou bem?

A Haruno balançou a cabeça em negativa. As lágrimas que com tanto esforço ela segurava, escorriam pelo rosto.

Sakura: Ele ficou bem ruim. Como bateu a cabeça, não consegue raciocinar como um garoto da sua idade. Na verdade, ele tem a mentalidade de uma criança pequena, mas isso nem é a pior parte.

Sakura: Ele machucou a perna e teve que fazer algumas cirurgias, mas a ferida infeccionou e agora ele tem uma superbactéria que pode fazer com que ele perca a perna, na melhor das hipóteses, a qualquer momento, como uma droga de bomba-relógio.

Ela então fechou a tela do computador, encerrando o assunto. Lembrou-se da conversa que teve mais cedo com o irmão e ele contou o quanto sentia a falta dela e o que fariam da próxima vez que ela fosse visita-lo. Quando pediu para falar com a avó, a mulher afirmou que o menino estava bem e que os médicos estavam otimistas quanto a situação de Sasori, porém Mebuki só se afundava em tristezas a cada vez que via o filho, se culpando pela situação.

Sakura sabia que a mãe se culpava pela situação dos filhos. Por ter machucado o filho e, por ter dado mais atenção para o menino, negligenciado sua menina, que acabou desenvolvendo graves problemas por conta de toda a situação.

Mas Sakura também sabia que fora covarde por ter fugido da mãe e do irmão, independente de tudo, mas aquilo tudo a fazia tão mal, que talvez Sasori a perdoasse mais tarde.

Ela não o havia abandonado como o pai o fizera, isso não. Jamais.

“Sakura não ser irmã mais velha ruim”. Sinalizou Sasuke após levantar o rosto dela sutilmente.

— Sabe que eu não faço a mínima ideia do que acabou de dizer, não sabe? — Sussurrou de volta. Sasuke encostou sua testa com a dela e, com a ponta dos dedos, limpou a trilha deixada pelas lágrimas libertas. Ao sentir o toque cálido em seu rosto, a Haruno fechou os olhos, recostando-se nas mãos masculinas, permitindo-se imaginar que, por um momento, alguém se importava com ela.

Sasuke a observou por alguns instantes antes de também fechar os olhos, pensando no que ela acabara de lhe segredar. Aquilo não era justo, porém explicava, de certa forma, o receio que ela tinha de se aproximar das outras pessoas. Ela fora traída por uma das pessoas que mais confiava, afinal.

Quando sentiu a respiração quente dele bater nas maçãs de seu rosto, Sakura pôde perceber a pequena distância em que se encontravam um do outro. Levou a ponta dos dedos a bochecha do rapaz – podia sentir a pele formigar pela vontade de matar a pouca distância que os separavam – e o afastou de si, fazendo com que ele abrisse os olhos.

— Não nos torne iguais ao meu pai — disse e, sem esperar para ver se ele compreendera, levantou-se, juntando suas coisas para depois subir as escadas rapidamente.

Sasuke permaneceu no mesmo lugar, na mesma posição de antes, encarando a sala a sua frente, sem ver nada realmente.

Ele compreendera.

Não sabia se ela havia feito de propósito ou sem querer, mas uma folha havia permanecido no chão, fora da pasta que a garota levara consigo. O Uchiha desembrulhou o papel já um pouco amarelado. Era uma carta.

— Amarelo — respondeu Kiba — Quero que você me descreva a cor amarela.

A garota se pôs a pensar. Estavam a caminho da biblioteca quando Kiba empacou no meio do caminho dizendo que queria fazer algo diferente. O garoto colocou na cabeça que gostaria de conhecer as cores, coisa que a loira nunca pensara em fazer. Como afinal se descreve uma cor?

— Amarelo é amarelo, ora.

— Não, Ino — ele balançou a cabeça —Não posso ver, esqueceu? Vai ter que fazer melhor que isso.

Ela suspirou e pensou um pouco. Parou para observar ao redor, procurando algo que a pudesse ajudar a descrever a maldita cor amarela.

— Bem, amarelo é a cor do sol, pelo menos é o que dizem — deu de ombros — É só uma cor, o que tem de especial?

— Sol, hein? — Ele virou o rosto em sua direção, lhe sorrindo abertamente — Então amarelo é quente.

— Sim, eu diria que sim — a loira não conseguia entender o motivo da empolgação dele.

— Continue, você é boa nisso — ele a instigou a continuar.

— O que mais você quer saber? — perguntou. Kiba virou-se para frente, como se buscasse enxergar algo para que ela descrevesse.

— Verde.

— Verde é a cor da grama, e também daquele casaco horrível do Lee — ao receber um leve empurrão do garoto ao lado, ela defendeu-se — Acredite, você concordaria comigo se pudesse ver — Ino não teve certeza, mas apostaria sua bolsa nova que viu Kiba revirar os olhos — Ta, ta, deixa eu tentar de novo. Grama me lembra quando meus pais me levavam para fazer piquenique no parque, quando nos sentávamos na toalha xadrez e sentíamos uma brisa refrescante no fim da tarde.

Ele assentiu e ficou quieto por alguns segundos, com os cotovelos apoiados nos joelhos e os dedos entrelaçados sob o queixo.

— Marrom — disse ele após um tempo. Ino se recostou no banco, sentindo a madeira por detrás das costas.

— Marrom me lembra os fortes troncos das árvores.

— Força — repetiu ele.

— Sim, mas ao mesmo tempo pode ser delicado como o sabor de chocolate ao derreter na boca — Kiba não respondeu em voz alta, apenas balançou a cabeça em concordância.

— Azul.

— Azul é tranquilidade, como o céu em um dia de verão. Para que tudo isso? — perguntou ela.

— Como você é? — perguntou ele ignorando sua pergunta. Ino se surpreendeu pela pergunta.

— O que é que você quer saber? — Perguntou estranhamente tímida. Não sabia o porquê, mas aquele garoto a deixava como Hinata com suas súbitas perguntas estranhas.

— Seu cabelo, seus olhos, coisas desse tipo — deu de ombros.

— Eu sou loira, o que quer dizer que tenho os cabelos amarelos — ela jurou que os olhos do rapaz se reviraram - Meus olhos são azuis, iguais aos de meu pai, Inoichi. Na verdade, eu sou bastante parecida com ele, mas...

— Verão — sussurrou ele. Ino parou seu discurso e chegou mais perto para ouvi-lo.

— O que? — Ele virou o rosto em sua direção em uma expressão de dúvida — O que você disse?

— Laranja, quero que você me descreva o laranja.

Ino então suspirou e começou mais uma vez, descrevendo o que ele pedia, tentando ao máximo ligar as cores à outras coisas que ela julgava ser mais fácil de ele associar e, pela expressão de contentamento, Kiba estava compreendendo.

— Obrigado — ele sorriu verdadeiramente — Acho que agora consigo imaginar melhor as histórias que você lê para mim.

— Cansou das cores? — Perguntou Ino. Ele assentiu e lhe passou o livro que estava na mochila.

— Quero que você leia para mim agora — Ino aceitou o livro de contos novamente e procurou a página em que tinha encerrado a leitura na última vez.

— Terceira história: O jardim da mulher que sabia fazer feitiços — começou a ler as frases.

Ino sabia que, por ser cego, era natural os olhos de Kiba parecessem opacos, porém, quando estava lendo, Ino tinha certeza que, mesmo sem poder enxergar a realidade a sua volta, Kiba enxergava o mundo através das histórias absorvidas pelos ouvidos. Ela percebia isso, pois, a cada virar de página, os olhos dele se tornavam cada vez mais brilhantes, como a mais bonita constelação particular.

Ino não havia percebido que seus lábios permaneceram congelados por ter parado para observá-lo, quando ele subiu os olhos minimamente, a loira podia jurar que ele a estava a encarando.

— O que foi? — Ela apenas balançou a cabeça rapidamente e retomou a leitura, ignorando o ritmo acelerado de seu coração que parecia escalar sua garganta rumo à boca.

Kiba não conseguiu perceber a reação da loira, pois estava ocupado no momento. Agora ele enxergava. Através da voz da garota ele conseguia ver e não se importava por não conseguir assimilar o mundo a sua volta, ele o fazia através da imaginação e, é claro, Ino.

Lembrou-se do quão tinha se sentido incerto quando Kakashi havia informado que ele passaria a tarde com uma garota, mas acabou por se surpreender quando se deparou com Ino. Ela, diferente de muitos (incluindo sua própria mãe), o tratava como se fosse normal. E só de pensar nisso, podia ouvi-la dizer:

— Deixe-me te contar uma novidade, você é normal, idiota.

E isso só fez com que seu sorriso crescesse ainda mais.

— No que é que está pensando? — Perguntou Ino ao subir as esferas azuladas das páginas do livro para o garoto sorridente — Não sei se gosto dessa sua expressão — ele apenas balançou a cabeça.

— Apenas continue.

Ino era como seu verão em meio a um mundo afogado no inverno por muito tempo.

— Ele disse o que? — Hinata perguntou, pôde ouvi-lo suspirar.

— Exatamente o que eu acabei dizer. Vai ter uma confraternização da empresa e nós vamos precisar estar presentes. Hiashi vai anunciar os planos para o próximo ano ou algo assim.

— Eu realmente não gosto dessas festas, sabe se ao menos posso levar alguém?

— Você sempre faz, por que está pedindo agora? — Era verdade. Neji e Tenten se conheceram em uma dessas festas de seu pai, pois ela havia levado a amiga, uma vez que esses eventos que seu pai dava em prol da empresa era uma chateação para ela — Mas não acho que seja uma boa ideia trazer Tenten.

— Ela é surda, Neji, não leprosa — respondeu ríspida.

— Eu sei bem como ela é e você sabe que isso não tem nada a ver, mas não acho bom pra ela fica perto das pessoas que virão. Droga, até eu ficaria longe se pudesse.

— Mas você pode — ela quase conseguia vê-lo passar os dedos pelos cabelos longos em sinal de nervoso — Sabe que não é obrigado a fazer as vontades do meu pai.

— Você não entende.

— Não se culpe pelo que seu pai fez, você não tem culpa nenhuma!

— Você sabe que eu devo muito para o seu pai, ele não precisava me acolher como fez, principalmente porque meu pai foi quem levou a sua mãe embora.

— Não fique se remoendo por isso. Sabe que Hiashi vai se aproveitar dessa culpa infundada que você sente.

— Você tem andado muito com Tenten, garota, está falando igual a ela.

— Eu realmente espero que sim — suspirou enquanto ajeitava o cabelo — vamos fazer uma apresentação amanhã, você vem?

— Não, provavelmente não — Hinata pôde perceber a cautela presente na voz do primo, confirmando suas suspeitas de que algo estava errado. Quando Tenten entrou no mesmo cômodo, juntamente com sua mãe, Neji respondeu quase instantaneamente — Tenho que ir.

— Tudo bem, falo com você depois.

— Hinata? Poderia me fazer um favor?

— Sim?

— Não diga a ela que estava falando comigo — A garota não precisava perguntar para saber de quem ele falava, a questão era o por quê.

— O que está acontecendo, Neji? Tenten disse que você anda a evitando e se for por causa do....

— Não — ele a interrompeu prontamente — não é por isso. E só que agora as coisas estão um pouco complicadas. Depois eu te explico melhor, só ..., faça o que te pedi, sim?

— Tudo bem, só me prometa que não fará mal a ela, tudo bem? — Ela o ouviu soltar o fôlego de uma só vez.

— É o que eu estou tentando fazer.

Antes de encerrar a ligação, Tenten foi para o seu lado, falando bem perto do aparelho para que o primo a ouvisse.

— É ele, não é? — Antes que Hinata pudesse inventar alguma desculpa, a garota continuou — Quer saber, não importa. Neji, se está fugindo porque aconteceu alguma coisa que não quer me contar, o problema é todo seu. Eu só espero que se você estiver me traindo, espero, sinceramente, que o sexo esteja sendo muito bom, porque essa será a última vez que terá algum tipo de relação sexual — e com isso, subiu para seu quarto, batendo a porta atrás de si. Após alguns minutos de um constrangedor silêncio, Hinata voltou a falar.

— As coisas estão bem ruins, não estão?

— Você não faz ideia do quanto. Te ligo depois — e encerrou a ligação.

Após guardar o telefone, Hinata seguiu os passos que Tenten fizera há pouco. Ao abrir a porta do quarto, encontrou a menina em pé, andando de uma extremidade a outra com o celular em mãos.

— O que foi que aconteceu? — perguntou ao se deslocar para a frente dela, para que a menina visse suas mãos.

— Está tudo de cabeça pra baixo, Hinata! — respondeu frustrada — Minha mãe está trabalhando feito condenada porque encontrou uma cirurgia que pode me fazer voltar ao normal, Neji está estranho e me evitando, minhas notas estão horríveis e meu cabelo está cheio de nós! — desabafou, jogando-se na cama — Mas que droga, estou parecendo até a com a Ino em uma de suas crises existenciais! — Hinata a acompanhou e riu baixinho.

— Acho que todos temos uma Ino dentro de nós, se você quer saber — olhou para a morena que encarava o teto — Neji só está tendo que passar por algumas coisas complicadas, não se preocupe, logo ele estará de volta.

Tenten deitou-se no colo de Hinata, que passou a lhe acariciar os cabelos, tranquilizando-a.

— Meu pai anda me mandando mensagens — comentou após algum tempo.

— E o que ele diz? — perguntou interessada.

— Na maior parte das vezes ele diz que está arrependido, que não estava sendo ele mesmo e que a culpa era toda da bebida, o mesmo blá-blá-blá de sempre — suspirou encarando o teto mais uma vez, enquanto verbalizava e sinalizava ao mesmo tempo, como sugerira Iruka, para que se acostumasse.

— Não é errado sentir a falta de seu pai, Tenten.

— Ele fez muito mal pra mim e pra minha mãe, você sabe.

— Deveria dar uma chance a ele, as pessoas podem mudar, você sabe — a outra assentiu.

— Você a perdoaria se a tivesse encontrado? Sua mãe, quero dizer — ao perceber que tinha toda a atenção de Tenten, Hinata apoiou o peso do tronco nos braços que estavam atrás das costas.

— Sim, acho que sim. Não acho justo condenar as pessoas pelo resto da vida pelos seus erros. Carregar mágoa e ódio não vão fazer as coisas melhorarem.

Tenten a compreendera e se pôs a refletir. Deveria dar mais uma chance aquele que se dizia seu pai? Aquele que batera em si e na sua mãe incontáveis vezes? Certamente que não pensava como Hinata. No caso dela era mais fácil, a mãe havia morrido, não dando alternativas para a garota, porém, em sua situação, tinha a chance de perdoar. Mas o que faria?

Hinata não gostaria de apressar sua amiga, mas de tempos em tempos conferia o relógio. O avançar dos ponteiros despertavam borboletas em seu estômago que se atiçavam cada vez mais com o passar do tempo. Em uma de suas conferidas nas horas, Tenten levantou-se de seu colo.

— Tudo bem, sei que você tem que ia a algum lugar — ficou de pé e puxou a amiga pela mão — Alguém aqui deve se divertir.

— Não me importo de ficar com você, sabe disso — deu de ombros. A outra se encaminhou para fora do quarto, porém antes jogou algo em Hinata.

— Vou fingir que acredito que você prefere ficar aqui comigo enquanto me afogo em um pote de sorvete a sair com o Naruto para um encontro super romântico — Quando estava quase fora de vista, voltou só com a cabeça pra poder ver a menina novamente — Não esqueçam a camisinha.

Hinata sentiu as bochechas formigarem e jogou uma almofada na outra que se desviou do ataque enquanto se deliciava com a expressão que a Hyuuga ostentava.

— Eu, oficialmente, desisto! — se jogou de costas na cama em que se encontrava. Já eram altas horas da noite, e ela não conseguira um resultado muito satisfatório. Agradeceu aos céus por Sasuke ser insone e não deixá-la sozinha.

“Não ser ruim. Sakura dever acreditar em Sasuke”. Sinalizou ele de seu lugar, com as costas apoiadas na cabeceira.

— Estou cansada de você me iludir com seus elogios vazios — ela voltou-se para ele, encostando sua bochecha no edredom que cheirava a lavanda — Você precisa me ensinar a xingar com as mãos, tudo o que eu sei é mostrar o dedo do meio e acho que isso já se tornou cansativo para as pessoas lá da escola.

Sasuke arqueou uma sobrancelha. Havia compreendido em parte o que a garota lhe dissera, sabia que ela queria se distrair da tarefa à qual fora incubida pelas amigas.

— Estou a ponto de te pedir de joelhos, estou dizendo a verdade — ergueu a palma como ela e o irmão foram ensinados a jurar no acampamento de escoteiros há dois verões atrás.

Estava em seu quarto, terminando de fazer o dever de casa quando ela alegou que estava sem ideias e que precisava de ajuda e, por não ter o fazer a não ser atualizar as series que assista, concordou. E lá estavam eles, fazendo qualquer tipo de coisa menos àquela da qual ela precisava.

“Sasuke fazer acordo com Sakura” Ela levantou-se, reconhecendo os gestos dele. “ Sasuke ajudar Sakura escrever. Sakura fazer dever de biologia”. Ele lhe passou a lista de exercícios que o professor passara para entregar na próxima semana.

— Você vai ter que me ensinar a dizer “mercenário” na língua de sinais — Ela lhe tomou a folha de supetão — Eu já volto.

Foi até o quarto, retirando da bolsa seu notebook e o carregou de volta a cama, sentando-se na ponta. Pegando a dica, o garoto fez o mesmo, pegando seu computador da mesa de estudos, para logo retornar para a cama.

Sasuke: Já tem alguma coisa?

Sakura: Mais ou menos. Estive revisando alguns rascunhos, mas não encontrei nada que valesse a pena perder tempo.

Sakura: Mas achei uns rabiscos que fiz durante alguma aula de física.

Ele revirou os olhos. Sakura era extremamente inteligente, quase tanto quanto ele, porém se esforçava somente naquilo que a interessava, o que excluía totalmente física, matemática e qualquer outra coisa que envolvesse números.

Sakura: Letras e números simplesmente não se misturam, os professores deveriam entender isso e separá-los imediatamente.

Isso ele discordava. Sasuke adorava passar o tempo quebrando a cabeça com exercícios complicados de matemática ou física, o que a garota reprovava veemente. As duas, aliás, porém ao ver que Sakura digitava novamente, qualquer pensamento que pudesse ter sobre Karin evaporou de sua mente.

Algo que estava acontecendo com bastante frequência. Ele só se perguntava se era porque seu tempo com a rosada estava aumentado gradativamente enquanto o que acontecia com a sua namorada era o oposto.

Sakura: Estive conversando com Hinata e a necessidade de mudar o assunto de minhas músicas acabou por se tornar pessoal, então preciso de uma opinião de fora.

Sasuke: Não pode ser pior do que Naruto tentando escrever poesia na oitava série. Manda.

Sakura: Ok, você vai precisar me contar sobre isso mais tarde.

Sakura: Mas antes, quero que faça um juramento solene de que não vai rir, não importa o que ler. Caso faça isso, é capaz que meu bloqueio dure até daqui a três vidas.

Ele levantou os olhos para ela que aguardava a sua resposta. Sasuke levantou o indicador e fez um ‘x’ sobre o coração, evidenciando a sua promessa.

Sasuke: Satisfeita?

Sakura: Ok, devo ter um arquivo aqui com ela, só um minuto.

Demorou dois minutos inteiros para que ela encontrasse a porcaria do arquivo. Sabia que se encontrava desesperada para conseguir as letras para recorrer a Sasuke, mas ela realmente estava ficando sem tempo e alternativas.

Sakura: Aqui.

High dive into frozen waves

(Mergulho do alto nas ondas congeladas)

Where the past comes back to life

(Onde o passado volta à vida)

Fight fear for the selfish pain

(Luto contra o medo da dor egoísta)

And it's worth it every time

(E vale a pena toda vez)

Hold still right before we crash

(Segure firme antes de nós batermos)

Cause we both know how this ends

(Porque nós dois sabemos como isso termina)

Our clock ticks 'till it breaks your glass

(Nosso relógio bate até quebrar seu vidro)

And I drown in you again

(E me afogo em você de novo)

Cause you are the piece of me

(Porque você é o pedaço de mim)

I wish I didn't need

(Que eu gostaria de não precisar)

Chasing relentlessly

(Perseguindo implacavelmente)

If our love is tragedy, why are you my remedy?

(Se o nosso amor é uma tragédia, por que você é meu remédio?)

Sakura ficou mordendo a junta do dedo aguardando as gemas negras terminarem de correr sobre a tela.

Isso demorou uma vida.

Uma.

Maldita.

Vida.

O quão devagar os surdos liam? Sabia que eles tinham uma linguagem diferente e, por isso, tinham dificuldade em escrever e ler como uma pessoa comum, mas mesmo assim, Sasuke era um gênio independente de seus ouvidos, não era?

Sasuke: Não sei. Acho que está bom.

Sakura: É, era realmente dessa ajuda que eu estava precisando.

Ele sentia o revirar de olhos dela através de suas palavras. Deu de ombros.

Sasuke: A combinação de palavras é boa, mas não tenho muito como opinar a respeito da sonoridade.

Ele a observou morder o canto dos lábios, algo que fazia com bastante frequência.

Sakura: Tem razão, foi apenas uma ideia estúpida, deixa pra lá.

Sasuke: Apenas cante pra mim, através da sua boca eu posso ter uma ideia.

Ela levantou o olhar, se deparando com a sobrancelha arqueada dele.

Sakura: Não sei se estou preparada psicologicamente para isso. Não consigo assim, se uma preparação.

Sasuke: Espero que não esteja com receio de eu achar sua voz horrível.

Sasuke: Eu NÃO posso te ouvir.

Sakura: Ta, eu sei. Cale a boca.

A garota então tomou uma respiração profunda, soltando lentamente o ar e, de olhos fechados, pôs-se a cantar lentamente, num ritmo improvisado, porém parou ao sentir uma movimentação no colchão. Abriu os olhos.

Sasuke: Se importa se eu tentar uma coisa?

Ela deu de ombros e acenou suavemente com a cabeça. Sasuke se aproximou, apoiando-se em seus joelhos, inclinou-se para frente em sua direção e apoiou uma de suas mãos em seu ombro, a esquerda (sua mão dominante), testando a reação da garota, ao ver que ela não se afastara, avançou com a outra mão, repetindo o percurso.

Sakura tinha plena consciência dos dez dedos em seus ombros. Suavemente, o Uchiha migrou suas digitais, subindo através da pele, causando arrepios por onde passavam, até chegar ao pescoço, onde espalmou ambas as mãos. Ela percebeu que ele não a olhou nos olhos nem uma vez.

Acenando com a cabeça, Sasuke emitiu um sinal para que ela recomeçasse. Sentindo-se impossibilitada para tal ato, ela respirou fundo novamente e rezou para que seu coração diminuísse um pouco o seu ritmo, pois ele com certeza sentiria caso não o fizesse.

Desceu as pálpebras mais uma vez – já que não havia chance de fazer aquilo com os olhos abertos, como se a letra já não fosse expositiva o bastante – e recomeçou, mas logo ele se afastou subitamente, a obrigando abrir os olhos.

Ele negou com a cabeça algumas vezes e subiu os olhos para seu rosto, encarando seus olhos em uma pergunta muda que ela não captara. Testando a menina, se aproximou e as mãos retornaram para seus ombros, porém não para subirem para a base da garganta, mas para incliná-la em direção ao colchão e, quando a deitou, tombou o próprio corpo ao seu lado.

Se acalme. Se acalme. Se acalme. Se acalme. Se acalme. Se acalme.

Ele pode sentir a vibração através do colchão de algum jeito.

Isso era tudo que ela conseguia pensar no momento.

Sasuke se aproximou lentamente dela, fazendo com que o coração já disparado se comportasse como se tivesse acabado de disputar uma maratona, mas Sakura percebeu a presença da hesitação nos gestos dele, quase como se não tivesse certeza de que a garota o aceitaria.

Mas ela o faria. Com toda a certeza ela o faria. Independente do que ele pedisse.

Sempre vagaroso, Sasuke ergueu seus olhos até os dela, pedindo confiança e ela assentiu para seja lá o que ele tivesse em mente. Ele então olhou de sua barriga, coberta com uma camiseta estúpida de algum personagem de desenho animado qualquer a seu pescoço, procurando alguma parte específica de seu corpo para seu experimento.

Suas mãos foram para baixo, procurando o celular que antes estavam em suas mãos e ela esticou o próprio braço, capturando o seu, que estava próximo a sua cabeça.

Sasuke: Confia em mim?

Sakura: Não preciso dizer o motivo de ter dificuldade de confiar nas pessoas, preciso?

Sasuke: Eu realmente preciso que confie em mim agora, quero tentar uma coisa.

Sakura: Que seria?

Sasuke: Quero ouvir você.

Respirou fundo uma última vez e acenou para ele, que novamente se abaixou, olhando como se estivesse pedindo calma, mas conseguindo exatamente o efeito oposto. Ele então abaixa a cabeça em seu peito, deitando sobre si, porém ainda mantém a mão o apoiando na cama.

Ela tem a consciência de que agora ele sentia seu coração descontrolado. Não havia como negar. E esse fato só fez com que suas bochechas esquentassem e formigassem, assim como todo seu corpo, ainda mais.

Sasuke então ergueu um dedo, girando-o sem sentido horário e ela reconheceu seu pedido, porém como ele achava que ela conseguiria cantar dessa forma? Do jeito com que estavam, Sakura podia senti-lo todo em si.

Ela sabia que era impossível para ele não perceber o quão envergonhada ela se encontrava. Tomou mais algumas respirações profundas para se controlar e cantarolou baixinho inicialmente, torcendo para que a voz não falhasse, já que ele sentiria isso.

High dive into frozen waves

(Mergulho do alto nas ondas congeladas)

Where the past comes back to life

(Onde o passado volta à vida)

Fight fear for the selfish pain

(Luto contra o medo da dor egoísta)

And it's worth it every time

(E vale a pena toda vez)

Hold still right before we crash

(Segure firme antes de nós batermos)

Cause we both know how this ends

(Porque nós dois sabemos como isso termina)

Our clock ticks 'till it breaks your glass

(Nosso relógio bate até quebrar seu vidro)

And I drown in you again

(E me afogo em você de novo)

Cause you are the piece of me

(Porque você é o pedaço de mim)

I wish I didn't need

(Que eu gostaria de não precisar)

Chasing relentlessly

(Perseguindo implacavelmente)

If our love is tragedy, why are you my remedy?

(Se o nosso amor é uma tragédia, por que você é meu remédio?)

Quando terminou, nenhum dos dois se moveu. Ela não se atreveria. Sakura apenas abriu os olhos, encarando o teto e assistindo através de sua visão periférica os fios cor de ébano da cabeça que subiam e desciam de acordo com a sua respiração.

Sakura sentiu Sasuke respirar fundo algumas vezes, como se tivesse prendido a respiração por um longo tempo, para depois rolar para o lado, fazendo com que ele saísse de seu campo de visão.

Droga. Droga. Droga. Droga. Droga.

Estava tão afogada pela culpa, que sentiu os olhos banharem-se de lágrimas.

Por que tão injusto?

Ao virar a cabeça e encostar a bochecha no tecido embaixo de si, percebeu-o a observando. Aqueles malditos olhos os quais ela não conseguia decifrar o que transmitiam na maior parte das vezes.

Ela gostaria tanto, tanto, tanto que eles estivessem próximos como neste momento, não só fisicamente, que chegava a doer.

Tão, tão próximos, porém ao mesmo tempo tão... separados.

Foi impossível não pensar em acabar com o pouco espaço que falta e, como se estivessem em total sintonia – ou como se ele lhe confirmasse suas suspeitas de que era capaz de ler mentes – o olhar dele recaiu para seus lábios, onde ficam travados.

Famintos. Gulosos.

Ela percebeu quando ele entreabriu os seus, desejosos, enquanto tomava diversas respirações profundas. Então ele estava alterado também, não era somente ela afinal de contas. Sabia que isso não deveria deixa-la feliz, mas deixou, e como deixou.

Ela não soube dizer o momento certo, mas quando despertou daquela situação, os lábios de Sasuke já estavam sobre os dela, tocando-os levemente. Porém, tão rápido quanto chegou perto, afastou-se.

Ficou sem reação durante alguns segundos até perceber que era o seu celular que vibrava.

O nome de Karin era exibido na tela.

Karin: Precisamos conversar urgente.


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Notas finais do capítulo

Olá, olá!
É, eu sei, mil perdões pela demora, sei que é imperdoável o que eu fiz, mas esse fim de ano foi um pouco complicado. Último ano do ensino médio, trabalho, vestibular, bloqueio criativo etc.
Peço infinitas desculpas, eu simplesmente não conseguia escrever. Tanto que metade desse capítula já estava pronta há semanas, mas não consegui continuá-lo.
Enfim, peço que me perdoem e que continuem a acompanhar. Sei que não tenho o direito de pedir comentários, mas espero sinceramente que deem a opinião de vocês.
Um bom natal e um próspero ano novo
Boa Leitura!