Cap. 6

Mr.Lewis estava satisfeito ao ver a reação de Elizabeth. Observou-a dos pés a cabeça e notou que ela não estava tão bonita como na noite anterior. Usava roupas simples e tons sóbrios, não chamativos, mas sua pele branca e seus olhos brilhantes continuavam intactos. Depois da irmã mais velha ter se casado, não seria difícil ela arranjar um marido se não estivesse noiva de mr.Darcy, pensou ele. Apenas exibiu um sorriso, mas só conseguiu de Elizabeth um olhar furioso e de pura rejeição. Naquele momento, se lembrou de mr.Darcy, e percebeu que ela até se parecia um pouco com ele em certos aspectos.

Quando conheceu mr.Darcy, mr.Lewis negociou com ele vários objetos de grande valor, mas um dia ao sair a passeio junto a mr.Bingley e mr.Darcy, observou atentamente a atitude dele com seus conhecidos e com os mais humildes. Para com seus conhecidos, ele era uma companhia gentil e agradável, conversava sobre vários assuntos e sempre era muito atencioso. Mas quando encontravam um mercador de classe baixa ou outras pessoas que vinham somente para cumprimenta-los, Darcy se colocava quieto, irritante e mal-educado, sem prestar atenção em nada do que estes diziam, como se os mais inferiores fossem uma companhia dispensável e desagradável, e notou que ele só aceitava por estar junto de mr.Bingley, que conversava animadamente e sem algum problema. Mas isso causava-lhe um profundo espanto. “Se mr.Darcy era tão orgulhoso e hostil quando se tratava de conversar com pessoas mais humildes e pobres, porque então ele teria escolhido uma mulher inferior e tão pouco prendada, como era de se esperar que ele rejeitasse?”

– Elizabeth, como você esta? – perguntou mr.Lewis, entrando na casa sem ao menos ser convidado e notando a surpresa e choque passando rapidamente pelo rosto de Elizabeth, que ficou extremamente surpresa ao vê-lo em sua porta.

– Mr.Lewis...pensei que tivesse voltado para a França. – disse Elizabeth lentamente, como se estivesse processando a visita dele tentando se dirigir a ele de forma calma e controlada .

– Sim, mas minha viagem foi adiada devido a um mal tempo e decidi ficar mais alguns dias em Hertfordshire. - disse mr.Lewis, observando cuidadosamente a casa dos Bennet.

– Pensei que depois daquela noite o senhor teria ido embora como o previsto, afinal o que o senhor quer por aqui? – perguntou Elizabeth, confusa e dirigindo a ele um olhar de desagrado, como se sua presença fosse a pior que ela poderia desejar naquele dia.

– Você quer mesmo saber? – perguntou mr.Lewis, se aproximando suavemente e sussurrando perto de seu ouvido. – Pura diversão.

Elizabeth o empurrou bruscamente, mas só conseguiu que mr.Lewis se afastasse alguns centímetros,mas ele ainda exibia um sorriso de satisfação como se ela o agradasse com suas rejeições.

– Lizzy, quem está aí? – disse mrs.Bennet, surgindo na sala em companhia de Kitty, mas ao avistar mr.Lewis, arranjou seu melhor sorriso e pareceu repentinamente alegre e hospitaleira. Já Kitty sorria e ria como se estivesse tentando agrada-lo com sua aparência e seu sorriso, porém suas tentativas não pareciam estar dando certo, porque quando mr.Lewis as avistou Elizabeth notou um tom de descontentamento por parte deste ao interromper a conversa.

– Me desculpe, mas quem é o senhor? – disse mrs.Bennet, ainda sorridente e olhando mr.Lewis, avaliando suas roupas, e aumentando ainda mais o sorriso ao constatar que ele deveria ser bastante rico, e ao olhar bem para seu rosto, ela mesmo ficou desconcertada ao observar a beleza do rapaz.

– Meu nome é Pierre Lewis, sou francês e a senhora provavelmente deve conhecer o nome da minha família. – disse mr.Lewis, mudando a postura e se tornando bastante amigável e receptível. Mrs.Bennet parecia reagir euforicamente e de instante o levou a sala para que se sentasse, sendo acompanhada a cada minuto por Kitty que não tirava os olhos do rapaz e não parava de sorrir.

– E o que nos deve a honra dessa visita, mr.Lewis? – disse mrs.Bennet, se sentando no sofá próximo de mr.Lewis, e Kitty se sentando bem ao lado deste.

Mr.Lewis estava desconfortável com tamanha atenção e definitivamente não gostava que a irmã de Elizabeth se sentasse tão perto dele. Concluiu também que a mãe de Elizabeth era uma mulher exagerada demais em sua alegria e que seu passatempo predileto era arranjar bons casamentos as filhas e paparicar cada homem rico que aparecesse em sua casa, o que o deixou irritado, mas quanto as filhas, pelo que pode ver, ao serem criadas dessa maneira, se tornaram exatamente iguais a mãe, mas as filhas mais velhas naturalmente eram as que pareciam se salvar nessa família, tão bem educadas e agradáveis.

– Sinceramente eu vim apenas fazer uma visita a uma amiga. – disse mr.Lewis se afastando de Kitty e olhando fixamente a Elizabeth, que mantinha postura fria e rígida como se estivesse furiosa com algo e não prestava atenção a conversa, olhando para o chão, torcendo para que mr.Lewis saísse logo de sua casa.

– Uma amiga? – perguntou mrs.Bennet, olhando estranhamente para mr.Lewis, confusa com o que havia dito, e procurando com os olhos alguém pela sala.

– Sim, Lizzy foi uma companhia muito agradável na festa. Sua filha, se me permite dizer, é muito bonita e condescendente. Não esqueci de sua doçura e não me contive, tinha que vê-la antes de partir. – riu mr.Lewis, que foi acompanhado por mrs.Bennet e Kitty, rindo só para acompanha-lo, mas completamente confusas com o que mr.Lewis dizia. Mrs.Bennet lançou um olhar confuso e repreensivo a Elizabeth, e esta parecia chocada e furiosa com tamanho desrespeito e descaramento, principalmente ao chama-la pelo seu apelido. Ninguém a chamava de Lizzy fora de sua família, e certamente a mãe e a irmã deveriam estar pensando mal de suas supostas atitudes.

– Mr. Lewis, fico feliz que tenha tido boas impressões de minha Lizzy, mas o senhor deve saber que ela é comprometida com mr.Darcy, deve conhece-lo. – disse mrs.Bennet, desconcertada, como se tivesse dando uma grande notícia para que não ferisse o coração de mr.Lewis , que fingiu uma frustação rápida depois de mrs.Bennet ter dito aquilo, mas pareceu alegre logo depois, mudando sua postura repentinamente.

– É uma pena, mas eu não tenho nenhum sentimento por Lizzy, mrs.Bennet, só nos conhecemos há poucos dias, portanto somos somente amigos. – sorriu mr.Lewis, de maneira inocente e descontraída, fazendo mrs.Bennet voltar a seu sorriso alegre e sua postura anterior, mas ainda mais exagerada e eufórica do que antes.

– Se é assim, quero que conheça minhas filhas Kitty, e a Mary. – disse mrs.Bennet, mas ao não encontrar Mary sentada ao seu lado, berrou chamando a filha, o que deixou mrs.Lewis alarmado e um tanto incomodado com as maneiras vulgares de mrs.Bennet.

Elizabeth, ainda se sentindo profundamente indignada e furiosa com tudo que havia acontecido, aproveitou a deixa para ir dar uma caminhada, e nem olhou para trás na esperança de que aquela fosse a última vez que visse aquele senhor a sua frente e tampouco se importava se estivesse sendo brusca e mal-educada, ela queria que mr.lewis fosse logo embora e que aquele dia horrível passasse depressa. Ao se afastar de sua casa, caminhou lentamente como se estivesse recuperando o ar e a compostura. Dessa maneira tentou de todas as formas esquecer aquilo que havia acontecido. Pensou em várias formas de estabilizar sua mente, mas ao pensar em mr.Darcy, tudo pareceu se tranquilizar. Pensou em quando conheceu mr.Darcy e quando conversava com ele antigamente, só tinha intenção de feri-lo, mas por travessuras do destino, acabou se apaixonando por ele e estava noiva, prestes a se tornar a mrs.Darcy. Não sabia por qual razão mr.Lewis se aproximava e a provocava tanto, mas com toda a certeza nunca viria a sentir nada, só raiva e indiferença pelos galanteios constantes. Mr.Darcy nunca foi assim com ela, ele era um homem bom e para agradar fazia algo mínimo a seu ver, mas que na realidade era algo realmente grande e gentil. Mr.Darcy era generoso e ela o amava com todo o seu coração. Ele cuidava dela de todas as maneiras possíveis e ela sabia que esse tempo afastado só contribuiu para aumentar ainda mais o amor que sentia, tal que a falta e a necessidade de vê-lo e conversar com ele aumentava a cada dia, tornando-se agoniante. Pensou em seu cabelo castanho e seu olhar, seus belos olhos azuis, e como suas sobrancelhas arqueavam, no formato que eles faziam mostrando a postura de indiferença e orgulho que as vezes se mostrava, e quando poucas vezes elas deixavam de ser tão curvadas. Mas o sorriso, esse sim, ela sentia falta. Poucas vezes havia visto mr.Darcy sorrir verdadeiramente, mas quando ele estava sozinho com ela, ele sorria diversas vezes como se realmente gostasse daquele tempo a sós. De fato, deveria ser difícil agradar mr.Darcy, sendo que ele mesmo se mostrava bastante fechado quando conversava com os outros, com exceção de seus amigos e parentes. Mas nesses últimos tempos, ou melhor desde que mr.Darcy havia se mostrado tão afeiçoado a ela, ele se mostrava muito mais gentil e agradável, o que deixou Elizabeth extremamente feliz e orgulhosa ao ver que mr.Darcy havia mudado ao se apaixonar por ela.

Mr.Darcy era um homem misterioso por vezes, era difícil adivinhar o que ele pensava, mas não impossível decifrá-lo. Quando pensava que ele a desprezava, ele a estava amando. E quando pensava que era um homem arrogante e orgulhoso, que rejeitava qualquer relação com os menos afortunados, ele mudava a sua postura para agrada-la e ao salvar sua família de uma desonra, a qual nem tinha o dever de fazer, conquistou o seu coração com uma atitude tão gentil e generosa. Já ela, nunca havia feito nada para merecer seu amor, somente o destratava e feria com suas duras palavras. As vezes, se pegava perguntando por que ele havia gostado tanto dela? Talvez por ela ter sido diferente das demais que se aproximavam com intenção de ser sua esposa e faziam de tudo para agradá-lo , ela nunca havia feito nada disso. Sempre, ao conversar com ele, era impertinente e falava algo, julgando-o de maneira totalmente errada, mas mesmo assim ele respondia de forma educada e sem rodeios, se permanecendo impenetrável para mais perguntas, o que a deixava um tanto perturbada, mas Elizabeth concluiu que aquela barreira poderia ser para não dizer maus julgamentos e interpretações erradas de suas atitude e não ferir seu orgulho e sua estima. Observou o lago, e se agachou para se deleitar em seus pensamentos de mr.Darcy e em sua personalidade tão curiosa e espantosa. Talvez todas essas conclusões estivessem erradas e no final, Elizabeth não soubesse de nada em relação ao amor de mr.Darcy, mas queria debater isso quando se encontrassem maios tarde. Sorriu ao molhar as mãos com a agua, e seus pensamentos estavam além de Longbourn, estavam todos concentrados em mr.Darcy.

– Vejo que você adora caminhadas, não é mesmo? – disse mr.Lewis, olhando para Elizabeth delicadamente, como se estivesse apreciando vê-la tão calma e serena, e pelo que pode adivinhar, deveria ser mr.Darcy que ocupava seus pensamentos, já que sorria e devaneava tanto, como se estivesse nas nuvens e em seus mais felizes sonhos.

Elizabeth não parecia surpresa com mr.Lewis, sabendo que sua mãe não conseguiria prendê-lo de tanto elogio as irmãs, e olhou friamente para este, evidenciando que não gostava de sua presença, mas decidiu que o melhor era enfrentar logo mr.Lewis para expulsá-lo de sua vida de uma vez.

– Mr.Lewis, sejamos sinceros, o que o senhor quer comigo? Vindo fazer uma visita tão caridosa a minha família e me importunando com seus flertes a todo momento e que passam do limite compreensível? – disse Elizabeth, lançando um olhar direto e objetivo, e ironizando sua visita como se desprezasse todas aquelas atitudes medíocres e impensadas que aquele senhor vinha fazendo.

– Eu já disse a você, eu só quero uma diversão, e devo lhe confessar, Lizzy, você é divertida. Suas reações a meus galanteios são bastante diferentes e bruscas, e me deixam excitado. – disse mr.Lewis, aproximando o rosto de Elizabeth ao toca-los delicadamente pelo queixo.

Elizabeth se afastou repentinamente, e se pôs a alguns metros de distância impedindo qualquer toque e aproximação.

–O senhor não pode apenas ir embora de uma vez e me deixar em paz? – perguntou Elizabeth, ainda insatisfeita com o rumo que aquela conversa ia tomando.

– Elizabeth, eu analisei sua família. Você é certamente muito superior a sua mãe e suas irmãs, mas o azar foi ter nascido em uma família com tão poucos modos e ignorante pelo que me parece. Mr.Darcy, pelo que conheço, é um homem arrogante e que nunca se casaria com uma mulher de tão baixa classe e pouco prendada. Então, porque? – disse ele, mostrando a dúvida e espanto ao dizer todas aquelas palavras.

– Porque, o que? – perguntou Elizabeth, não entendendo as intenções e conclusões que mr.Lewis estava tendo.

– Por que mr.Darcy, um homem tão rico e orgulhoso, se casaria com uma mulher inferior, e porque esta, aguentaria ele, se ele é tão desagradável? – perguntou mr.Lewis.

Elizabeth ao ouvir isso, ficou quieta por uns segundos, e lançou diversos olhares divertidos a mr.Lewis, mas depois de alguns minutos, explodiu em uma gargalhada, como se mr.Lewis estivesse zombando dela ao dizer tudo aquilo, e mr.Lewis, pela primeira vez a olhava espantado.

– O senhor é um tolo, mr.Lewis. – afirmou Elizabeth, em um intervalo depois de tantas risadas.

Mr.Lewis pareceu chocado e indignado ao notar que ela estava zombando de suas palavras. Era a primeira vez que alguém lhe dirigia com tanta falta de respeito e que não dava a menor importância para alguém como ele, o que o irritou.

– Porque esta zombando de mim? – perguntou mr.Lewis, ainda irritado como ela havia se dirigido a ele.

– Porque é a verdade. O senhor nunca vai entender o porque disso, é um tolo. Eu amo mr.Darcy, e o senhor se engana se pensa que ele é um homem desagradável e arrogante, ele é um homem bom e generoso. Acredite-me eu também pensava assim de mr.Darcy, afinal todos dessa cidade pensavam isso dele, mas eu o conheci de verdade. Ele salvou minha família, e sempre quis o meu bem. O senhor nunca vai entender isso porque é um tolo, não se importa com os demais, e como você mesmo disse, só esta aqui por pura diversão a si próprio. – depois de um intervalo, e de vários risos irônicos, Elizabeth continuou. - O senhor nunca se apaixonou de verdade e não sabe o que eu sinto, e certamente nunca entenderá porque é algo tão forte que não poderia compreender nem a metade. Você pode até ser bonito e gracioso, poderá até encontrar uma mulher que caia em seus braços e até mesmo se case, mas certamente nunca prestará devida atenção a ela e provavelmente ela mesmo será indiferente depois de alguns anos. Mesmo que eu lhe respondesse essa pergunta e repetisse mil vezes, você não conseguiria compreender porque nunca sentiu isso. Até mesmo eu não compreendo as vezes.

Depois de dizer tudo isso, Elizabeth parecia estupefata, mas satisfeita ao ver a reação de mr.Lewis, que ainda estava surpreso e sem reação, não sabendo o que dizer ou responder. Mas depois de longos minutos, ele se recompôs e finalmente disse algo.

– Você tem razão. Depois de dizer tudo isso, eu não sei o que responder a você.– disse mr.Lewis, se virando e caminhando para ir embora, mas se deteve antes de ir, e olhou uma última vez para Elizabeth, mas não como a olhava há alguns instantes atrás, ele exibiu um sorriso de diversão, o sorriso de mr.Lewis.

– Nos veremos em breve, Elizabeth. Se você pensa que esse é o fim, eu lhe asseguro que ainda voltarei para atormentá-la. Não desisto de uma boa brincadeira tão facilmente. – disse mr.Lewis, saindo correndo e montando em seu cavalo, ainda sorrindo ao sair de Longbourn, disposto a continuar aquela conversa em breve.