Cap. 12

Começou a chover logo depois que mr.Darcy, e mr. e mrs. Bingley partiram para Netherfield. Mrs.Bingley estranhou a quietude por parte de seu marido, o qual sempre gostava de conversar com Darcy, e que agora parecia um homem mudo. Com mr.Darcy a situação era parecida, este estava mais distraído com a paisagem e as gotas de chuva caindo pelo ambiente do que conversar com mr.Bingley sobre algum assunto. Normalmente mr.Bingley estaria entusiasmado e animado por ter Darcy como companhia, mas naquele momento, ambos pareciam total desconhecidos.

Desceram da carruagem poucos minutos depois, já que a casa dos Bennet não se localizava tão longe de Netherfield. Mrs.Bingley, ainda muito atenta ao comportamento estranho de mr.Bingley e de mr.Darcy, apenas avisou o marido que iria descansar, alegando cansaço e indisposição depois de um passeio e um dia tão longo, e despediu-se ligeiramente de mr.Darcy, ainda constrangida pelo silêncio que se instalara desde a carruagem.

Mr.Bingley, com a saída da esposa, pareceu ficar ainda mais apreensivo e inquieto do que antes, e apenas se dirigiu a sala com mr.Darcy logo atrás. Ambos sentaram-se um de frente ao outro, como sempre, porém Darcy ficou assustado ao constatar a expressão preocupante de Bingley. Jurava a si mesmo que nunca vira o amigo tão preocupado e tenso como estava naquele momento, que chegou até mesmo a perturbá-lo. Bingley era um homem descontraído e sempre bem humorado, uma companhia adorável e que as vezes, tinha uma alma de criança e de adulto também, por ser educado, e por saber entreter as pessoas da melhor forma possível. Já Darcy, não se saía tão bem nesse quesito.

– Bingley, imagino que deva ser algo importante para você estar tão aflito dessa maneira, mas por favor, mate minha curiosidade, o que aconteceu? – perguntou mr.Darcy, prestando total atenção no que viria a ouvir.

– Eu imagino que você saiba o assunto, Darcy, eu não me preocuparia por qualquer coisa. – afirmou Bingley, lançando um olhar de cumplicidade a Darcy, que automaticamente lembrou-se de tudo que aquele dia tinha lhe oferecido: felicidade, desejo e inicialmente, um profundo desagrado. O assunto era mr.Lewis, aquele homem enfadonho que ultimamente, vivia perturbando a vida de Darcy, e só ele sabia como tinha vontade de nunca mais ouvir o nome daquele sujeitinho problemático ou melhor, quebra-lo em mil pedaços para nunca mais vê-lo por perto. Só não fazia isso por ser digno, uma pessoa importante e por ter uma relação de amizade com Bingley. Mas se nada disso tivesse importância, ele apenas iria dar adeus aos velhos costumes.

– Sim, imagino que seja sobre o insuportável mr.Lewis. – disse mr.Darcy , levantando-se, numa frustrada tentativa de encerrar o assunto, a qual não foi bem sucedida por mr.Bingley impedi-lo antes que saísse da sala.

– Darcy, eu preciso lhe contar uma coisa, um segredo, mas terá de me prometer de nunca, nunca contar a ninguém. – disse mr.Bingley, com certo medo na voz.

– Certamente, nunca contarei. – prometeu Darcy, sendo tomado pela curiosidade novamente e sentando-se bruscamente no sofá.

– Eu não sei como começar Darcy, é algo muito complicado que sempre existiu na minha família, pelo menos em um lado dela. – disse Bingley, exibindo um sorriso vacilante. – Você sabe que Lewis é meu parente apenas por parte do meu pai. O velho senhor Lewis era primo de meu pai, que logo cedo mudou para a França com a família. Os Lewis nunca foram pessoas dignas, tanto que no inicio, existia uma certa renegação entre os Bingley e os Lewis. Ninguém nunca soube como o patriarca Lewis conseguiu subir de nível tão rapidamente, alguns dizem que ele foi beneficiado pelo casamento com a adorada irmã da rainha francesa, que o aproximou da corte real e lhe rendeu mais investimentos, mas isso não é verdade. Meu pai me contou toda a verdade antes que falecesse. Mr.Lewis conseguiu por meio de vários contrabandeios de joias e especiarias, e que até hoje a família Lewis utiliza para seus mais diversos negócios ao redor do mundo. Conseguem até mesmo enganar utilizando objetos falsificados.

Mr.Darcy ficava cada vez mais aturdido ao ouvir cada palavra sobre os Lewis. E pensar que ele mesmo já havia negociado com eles várias vezes e nunca tido o trabalho de verificar mais a fundo cada peça que comprava. Poderia ter comprado algo falso e gasto uma fortunas sem saber.

– Eles são muito ágeis, a maioria das peças não são verdadeiras, somente um homem realmente especialista poderia notar. Com certeza devem ter te vendido algo verdadeiro porque sabem que você é rico e poderia desconfiar de algo. Mas eles enganaram meu pai e foi desta maneira que ele descobriu a farsa. O velho mr.Lewis nunca foi honesto, nem mesmo quando se casou e teve seus quatro filhos. Ele mentiu e mente a vida toda. O pior é que os filhos sabem de todo esse esquema. – criticou Bingley, com um olhar decepcionado.

Depois de dizer tudo isso, um silencio instalou-se pela sala, com mr.Darcy abismado e profundamente abalado e confuso com o que ouviu. Sempre pensou que só um deles tinha vindo com defeito, mas a família toda eram criminosa.

– Bingley, estou sem palavras para descrever o que estou pensando nesse exato momento. Estou surpreso, mas ainda confuso. Qual o motivo de me contar isso? E se você acusa assim os Lewis tão friamente e com total certeza, porque mantém amizade com mr.Lewis se sabe da culpa dele nesse esquema todo?

– Porque Lewis é inocente. Ele esta apenas esperando uma oportunidade. – disse Bingley, ainda com uma expressão preocupada.

– Como assim? – perguntou mr.Darcy.

– Darcy, saiba que não compactuo com nada está bem? Meu primo pretende dar um golpe logo depois que o pai dele falecer. Ele quer assumir o négocio dos Lewis. – afirmou Bingley, deixando Darcy indignado com o que escutava.

– E você sabe disso Bingley? Ele também não é assim de todo honesto e inocente como diz. – afirmou mr.Darcy, sentindo nojo de toda essa história.

– É algo bem mais profundo que isso Darcy. A família sempre renegou meu primo, e foi por esse motivo que meu pai acolhia Lewis, por ele ser a única salvação daquela família interesseira e manipuladora. Meu primo vende joias, mas todas verdadeiras, ele vive viajando em busca de outras, mais exuberantes. O pai dele pensa que ele é um vagabundo que vive por aí se divertindo com mulheres e bebidas, mas ele esta juntando dinheiro das vendas há cerca de 4 anos para recuperar a joalheria e torna-la algo digno. Ele parece ser um homem ruim, mas tem um coração bondoso.

– Isso é muito chocante Bingley. Entendo tudo isso e os motivos de mr.Lewis para tal feito, mas não concordo com quase todas as atitudes dele. Ele, para mim, será o mesmo homem desagradável e desonesto que conheci.

– Não estou tentando mudar seu ponto de vista sobre ele, estou o alertando de algo, Darcy. Sobre a família Lewis, afaste-se deles e dos seus negócios e guarde esse segredo por favor. Não quero que o nome dos Bingley vá para a lama com eles. E peço que não deixe miss Elizabeth sozinha em Derbyshire e que se case o mais depressa possível.

– Acha que, por mr.Lewis ter se aproximado de Elizabeth, eles vão vir persegui-la? – perguntou Darcy.

– Não, Darcy, não é disso que tenho medo. Ela nem mesmo deve saber e nunca saberá. É que desconfio que mr.Lewis esteja se afeiçoando a Elizabeth pelo modo como ele falou esta tarde, e acho que essa é uma únicas semelhanças que ele e o pai podem ter afinal, na forma de amar.