Cap. 10

O trajeto parecia mais longo do que o normal. Elizabeth já até deduzira o destino pelo caminho, reconhecendo aquela rocha com um formato estranho, aquelas árvores um pouco baixas, e as colinas verdes vazias, com um gramado liso, mas com uma certa beleza reconhecível. Porém não era um cenário tão feliz e entusiasmante sem a admiração de outra pessoa. Mr.Darcy. Ele tinha estado quieto, pensativo e bastante distante. Olhava também para a paisagem, como se fosse uma resposta de suas angustias, com uma certa concentração. Tentou conversar com ele, mas ele parecia mais inclinado a debater seus próprios pensamentos com si mesmo, deixando-a constrangida. Não sabia se perguntar ou tentar iniciar um conversa seria desconfortável a ele. Temia que esse passeio fosse algo desinteressante, e que ela e mr.Darcy não sentissem tanta afinidade como antes, e que sentissem uma obrigação em permanecer juntos.

Antes que pudesse perceber, a carruagem estava parada e mr.Darcy já havia saído, com a mão estendida em sua direção. Porém ele não a encarava, com o rosto analisando o lugar ao redor. Elizabeth desceu, com ajuda de mr.Darcy e observou o lago com que vinha com frequência. Antigamente era um lugar turístico, em que muitos vinham para dar um passeio, e conversar, mas se tornou abandonado logo depois. Não sabia por quê, mas ainda era bastante agradável e bonito de se passar um dia. A grama ainda exibia um verde forte, reluzindo pela luz do sol. As arvores eram grossas, e altas, e havia algumas mesinhas e bancos, um pouco úmidos pela chuva da noite passada. As aguas do lago demonstravam seu azul brilhante, dando um ar fresco e relaxante aquele belo local. Rodou seus olhos pelo lago, mas algo lhe chamou a atenção.

Era pano de mesa, estendido no chão, relativamente grande, com um banquete. Frutas, pães, sucos e sanduiches pareciam deliciosos e tinha até alimentos que ela mesmo nunca havia provado. Sentou-se, com mr.Darcy sentando-se em seguida. Ele também parecia encantado, mas ainda estava frio e distante. Não sabia o porquê, mas queria que ele contasse o que lhe angustiava de uma vez, já que isso também estava começando a angustiar ela própria.

– Mr.Darcy, você esta bem? – perguntou Elizabeth, numa tentativa repentina de reconforta-lo.

Ele parecia distraído, demorando segundos para responder. Mas esse tempo foi perfeito para contemplá-lo. Seus cabelos estavam um pouco fora do lugar, talvez pelo vento, mas mr.Darcy tinha uma beleza refinada de que sentia falta. Seus olhos azuis eram expressivos, até quando parecia meditar em algo ou se perder em seus próprios pensamentos. Eles pareciam com a água do lago, tinham a mesma cor e era impossível descreve-los de forma tão completa. Seus cabelos pareciam claros por causa do brilho do sol que o rodeava, e eram sedosos. A barba tinha crescido, e ele estava diferente de quando havia saído. E sua boca, tinha vontade de toca-la, e não sabia por quê.
– Você me ama? – perguntou mr. Darcy, um pouco vergonhoso de perguntar isso e deixando Elizabeth surpresa. Ele a olhava nos olhos agora, com a testa franzida, demonstrando impaciência.

– Eu te amo. – disse Elizabeth, sendo o mais verdadeira e sincera do que nunca. – Nunca amei ninguém assim, e nem mesmo sabia se os casamentos continham um amor verdadeiro. Mas agora eu sei que ele tem, pelo menos o nosso. – riu Elizabeth. – Eu senti sua falta nesse tempo, Fitzwilliam. Hertfordshire perdeu totalmente seu encanto quando você partiu e agora você esta aqui. Consigo ver a felicidade dessa campina com mais nitidez agora, porque você esta comigo.

Mr.Darcy a analisou, com um sorriso no rosto, voltando a ser aquele mr.Darcy que poucos conheciam. E aquele sorriso, duvidava que seus amigos mais íntimos tivessem o visto sorrir dessa maneira quando conversavam. O sorriso o deixava mais bonito. Preferia ele sorridente do que sério, se bem que sua seriedade muitas vezes a atraia de uma forma que nunca sentiu por nenhum homem.

– Eu também te amo, Lizzy. Mas não sabe o quanto tive vontade de pegar mr.Lewis pela camisa, e joga-lo da janela nessa tarde. – suspirou mr.Darcy, fazendo Elizabeth rir.

– Eu também tenho, em quase todas as vezes que o encontro. – confidenciou Elizabeth, fazendo mr.Darcy rir também, mas voltar a ser sério, depois de um pensamento lhe voltar a mente.

– Não gostei de vê-lo tão perto de você, e lhe confesso que um ciúmes me tomou totalmente. Nunca senti ciúmes de nenhuma mulher, e nunca imaginei que fosse tão perturbador. Mas ele te olhava de uma forma tão concentrada e atraída que quis expulsa-lo de nossas vidas. Mas o que mais me preocupa é que sinta alguma coisa por ele. E se sentir, não nego que ficarei infeliz e tremendamente inseguro, então eu desejo saber de uma vez por todas, para não me desapontar quando nos casarmos e ver que a infelicidade nos rodeia. Sente alguma coisa por mr.Lewis, Lizzy?

– Sinto. – disse Elizabeth a ele, e mr.Darcy logo perdeu a luz em seu rosto. – A única coisa que sinto é raiva, porém vem se tornado ódio nesses últimos dias. – sorriu ela, deixando mr.Darcy aliviado.

– Eu soube de Bingley que ele tem estado em Hertfordshire desde o casamento, e que o planejado era partir no dia seguinte por um compromisso de trabalho, mas prolongou sua estada até agora. Bingley disse que não sabia o por quê, mas agora eu vejo, é por você que ele esta aqui, Lizzy. – disse mr.Darcy, um pouco abalado, e atento as reações de sua futura esposa.

– Tolice, se ele quis ficar só foi para me perturbar ou para flertar com mulheres na cidade. – ponderou Elizabeth, desinteressada.

– Eu não sei, Lizzy. Nunca prestou tanta atenção em uma mulher como em você, mesmo sendo comprometida. Ele tentou algo com você? – perguntou mr.Darcy, ficando vermelho de raiva.

– Bom, ele tentava me tocar com segundas intenções e sempre era ousado em suas investidas. Mas nunca se foi além disso. Pretendia menciona-lo a você, mas temia que você se perturbasse com isso. Não queria atrapalhar seus negócios. Perdoe-me se fui omissa, mas era desconfortante falar sobre ele quando você ocupava minha mente.

– Compreendo. – disse ele, um pouco irritado, mas contido.

– Mr.Darcy, tem algo que me espanta. Se desconfia tanto de mr.Lewis, naturalmente poderia desconfiar de mim também? De que eu alguma vez o incentivei? – perguntou Elizabeth, confusa.

Mr.Darcy ficou novamente quieto, pensativo e olhando fixamente para o chão.

– Eu jamais desconfiaria disso. Eu lhe conheço, e sei, que a julgar pelo seu caráter, não se entregaria ou incentivaria o primeiro homem rico que visse. Quando Bingley e eu viemos a Hertforshire, você não fez isso. Nem mesmo com mr.Collins, nunca demonstrou interesse, mesmo pelo dinheiro. Então deduzi, que se você se interessasse seria por amor. Agora não sei quanto a mr.Lewis, ele é imprevisível e trapaceiro, sabia que ele iria para cima de você na primeira oportunidade, só que não previ que fosse tão rápido. – riu levemente.

– Sim, você realmente sabe como eu sou. Então, nunca desconfie de que eu amarei outro homem só por 2 ou 3 semanas afastados, eu nunca seria assim tão fria. – disse ela.

Ambos ficaram quietos, sorrindo um ao outro, e preenchendo todo o vazio de seu coração, amolecido pela falta do toque, do carinho e da presença.

– Elizabeth, espero que eu não seja tão precipitado ou que você não goste, mas eu venho querendo isso desde que estive em Londres. – disse mr.Darcy, se aproximando de Elizabeth aos poucos, e a encarando a centímetros, com seus narizes se tocando levemente e com um sorriso fascinante no rosto. Elizabeth estava com os olhos fechados, atraída e emocionada, sentindo seu coração bater como nunca. Seus lábios se roçaram, e mr.Darcy sentiu pela primeira vez, a maciez e gosto da doçura dos lábios de sal mada. O beijo se aprofundou, e Elizabeth sentiu suas línguas se tocarem, num beijo apaixonado e suave.

Ambos estavam ofegantes, com mr.Darcy trilhando dezenas de beijos pelo pescoço, chegando ao ouvido, fazendo cocégas, e num breve sorriso, Elizabeth sentiu a voz de mr.Darcy em seus ouvidos.

– Lizzy, quero lhe pedir um favor, amanhã cedo, quero partir imediatamente a Pemberly, para posteriormente nos casarmos. O que acha?