Ainda existem flores escrita por Detoni


Capítulo 2
F4


Notas iniciais do capítulo

Bom galera, é o segundo cápitulo. Espero que gostem :3



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"Ser inconveniente é comum, mas ser superior é raridade"- LISPECTOR, Clarice.

Quando meu avião finalmente pousou o frio em minha barriga já era incontrolável. Busco minha bagagem e vou para a área de desembarque, buscando sem sucesso pelo carro que o internato havia mandado.

Entediada, sento no café do lado de fora da sala de desembarque, aguardando  a pessoa que deveria me buscar aparecer. Peço um café e um waffle, folheando  a revista que está em cima da mesa. Em sua capa está um jovem que deve ter a minha idade de cabelos vermelhos pintados e um sorriso sarcástico. Castiel Sworis, o herdeiro da empresa Sworis, a mais poderosa companhia de toda a América ou talvez do mundo inteiro.

A empresa Sworis controlava tudo pela América e meu pai já havia até sido posto para investigar suas filiais no Canadá, mas aparentemente não haviam atividades ilegais acontecendo ali. Castiel deve ser um dos meninos mais lindos que já vi na minha vida. Seu rosto fino e seus lábios com o enchimento perfeito...  É um  exemplo de jovem perfeito. Rico, lindo e inteligente. Que coisa banal.

— Senhorita Chase?- uma voz me chama. Me viro a tempo de ver um senhor de terno com uma placa que estampava o selo do internato Sweet Amoris, ao lado do nome “Teresa Chase".

— A própria.- digo terminando meu waffle com uma mordida e virando meu café de uma vez, o que acabou deixando minha boca com um gosto amargo demais.  

— Vamos.- ele disse pegando minha mala. Durante o caminho permiti que ele tagarelasse sobre o lugar e sua posição de segurança. O frio na minha barriga estava tão intenso que ouvi qualquer coisa seria melhor do que mandá-lo ficar calado agora. 

Meu estômago chega no ápice de parecer que irá saltar para fora quando avisto o internato de longe. Ele me lembra um pouco até um castelo, porém moderno. É enorme e só de pensar na área aberta... céus. Quando nos aproximamos mais percebo que esta acontecendo uma movimentação exagerada no exterior, e começo a divagar se seria por minha causa. Mas ninguém parece olhar para o carro, estão todos correndo em direção à algo.

— Se quiser pode dar uma volta e depois seguir para a sala da diretora. Levarei suas malas para o seu dormitório.- o segurança/motorista diz.

— Obrigada. - agradeço as pressas e saio do carro. 

Corro na mesma  direção em que as pessoas estavam indo e logo adentro uma grande multidão que cercava um prédio enorme. Todos estão rindo e gravando alguma coisa com um celular. Vejo uma garota morena de olhos azuis  chorando em um canto e resolvo me aproximar.

— O que esta acontecendo? Você esta bem? - pergunto meio sem jeito.

— Ele não pode pular. - ela disse em prantos. - A-a-achei que ele conseguiria ser mais forte.

— Calma garota! Alguém vai pular daquele prédio? É bung jump ou o que?- pergunto tentando conter meu choque. Ela nega com a cabeça.

— Isso é coisa bem comum por aqui, transferida. É suicídio- ela diz voltando para seu choro e percebo que não conseguirei mais nenhuma informação por meio dela. Suicídio...

Quando percebo o que meus instintos estão fazendo, já estou correndo para dentro do prédio. O visor do elevador aponta que ele está no terraço, então o chamo em uma tentativa desesperada, mas apenas começo a subir as escadas, totalmente movida por adrenalina agora. 

Quando finalmente chego ao terraço encontro uma multidão de pessoas, assim como embaixo. Algumas delas estão com o celular, outras simplesmente rindo. Percebo que nenhuma esta chorando como aquela menina de cabelo castanhos.

Me espremo para conseguir uma visão do que está acontecendo e vejo uma menina loira em estado de choque na frente de todos. Ela está cercada por outras duas garotas, uma que deve ser chinesa e a outra morena meio estranha, as quais tentam reanima-la sem eficiência alguma. 

O garoto que vai pular está sangrando na beira do prédio. Ele é loiro e consigo ver de relance seus olhos cor de mel. Percebo uma certa semelhança com a garota loira que está em estado de choque e presumo que são irmãos. 

— Ei. - chamo. Droga, eu e minha impulsividade. Diversos olhares se viram para mim, inclusive o dele. - Você é idiota? Por que vai pular?

— Ah, uma novata. Faça um favor a si mesma e vá embora enquanto ainda tem tempo. - o garoto loiro diz. Sustento seu olhar e vejo dor em meio à sua ironia. Ele realmente planeja tirar sua vida. 

— Sabe eu achei que já tinha vivido drama demais para minha vida. - resmungo tentando fingir estar descontraída. - pare com isso que eu te pago um salgado. - ofereço esboçando um sorriso nervoso. Muitas pessoas a minha volta começam a rir como se eu tivesse feito a melhor piada do ano.

— Você é retardada ou algo do gênero? Eu vou pular. Melhor que viver mais um dia com a F4. - ele diz.

— F4? - pergunto confusa.

— Ah, então não é só retardada. É ignorante.- ele diz. Certo, ele está me ofendendo, mas por algum motivo sinto que isso é de fato algo que eu deveria saber. De qualquer forma, não posso brigar com um cara que está prestes a se jogar de um prédio. 

— Olha cara, seja lá o que for essa F4 não tem o poder de fazer isso com você. Pare com isso. Ninguém é capaz de fazer isso com as outras pessoas. - digo me aproximando um pouco. Ele me encara com curiosidade por trás de seu cabelo loiro grudado com sangue em sua testa. - Por que ninguém te defende?- pergunto baixo, agora próxima o suficiente para que apenas ele me escute.

— Se fosse uma amigo seu, e ele estivesse machucado no mesmo estado que eu e defendê-lo resultaria em  você ficaria no mesmo estado, você o defenderia? - ele perguntou no mesmo tom de voz baixo. Imagino Viktor sendo surrado por alguém e querendo se jogar de um prédio.

— Eu faria qualquer coisa pelos seus amigos. - digo com uma convicção que expressa a certeza que tenho que sempre defenderei quem eu amo. Como o Viktor. 

— Qual seu nome, garota? - ele pergunta. Vejo uma lágrima escorrer deixando um rastro em meio ao sangue de sua bochecha. Ele estaria hesitando? Espero que sim. 

— Pode me chamar de Tessa. - digo tentando sorrir meigamente. 

— Invejo seus amigos, Tessa. Foi divertido te conhecer.- o loiro diz e finalmente da um passo para frente.

Não penso duas vezes antes de me apoiar no peitoral do terraço e agarrar seu braço. As pessoas estão falando coisas atrás de mim e ouço barulho de fotos sendo tiradas. Onde está alguma autoridade? Por que ninguém faz nada? Essa situação não está estranha demais? 

Com esforço consigo puxá-lo para cima do terraço, fazendo-o desabar ao meu lado tossindo sangue. Seus olhos dourados me encaram antes que se fechem quando ele perde a consciência. 

***

Estou sentada na cama de meu novo quarto. Ainda nem fui ver a diretora e minhas roupas já estão sujas de sangue. Sangue do garoto loiro que descobri se chamar Nathaniel cobre minha blusa, meus jeans e até minha jaqueta.

Começo a me levantar para tomar um banho, mas sou detida por uma garota entrando no quarto. Seus olhos são cor de mel e seu cabelo parece feito de seda branca. A sinto me avaliar por alguns momentos, até que por fim, sorri.

— Então quer dizer que minha companheira de quarto é a mulher maravilha? - ela pergunta com um ar admirado. -  Meu nome é Rosalya.

— Do que você me chamou? - pergunto confusa.

— Ah, está no blog da patricinha. É a rede social da escola. Você salvou o Nathaniel e todos estão te chamando de mulher maravilha. - processo suas palavras enquanto ela caminha até a cama no lado oposto à que eu estava. - A propósito, a diretora me pediu para eu te entregar isso.- ela diz me estendendo uma caixa. Ela parece bastante simpática, mas ainda estou hesitante com a normalidade com a qual ela esta tratando o fato de um garoto ter tentado suicidar. 

— Eu ia me encontrar com ela daqui a pouco... - começo a dizer para criar algum assunto, mas ela me interrompe. 

— Ainda vai. Esse é o uniforme e se não quiser chamar mais atenção é melhor vestir. Apenas a F4 não o usa. - ela diz. Ai está, F4, esse nome novamente. 

— O garoto loiro... Nathaniel mencionou esse nome. O que é a F4?- pergunto.

— Bom, estou surpresa por você não saber mesmo sendo de outro país. São os garotos mais ricos de todo o... continente, eu acho. Kentin, Armin, Lysandre e Castiel. - ela diz com simplicidade. 

— Esses nomes me são familiares. - reflito. Mas o que isso tudo quer dizer? Rosalya me segue até o banheiro enquanto retiro minha roupa manchada pelo sangue e entro dentro do chuveiro.

— Claro que devem ser. Kentin é filho de um dos caras da máfia mais influentes do mundo. O exército fez questão de recrutá-lo antes da idade, na esperança de salvá-lo, o que lhe deu um excelente treinamento militar. Armin é famoso por ser gamer. Já ganhou diversos campeonatos até ficar bilionário. Seu pai é o chefe da Ninsy. - Rosalya me conta e eu assinto. Sei quem é o Armin, jogo alguns jogos que ele joga também. Ninsy é melhor empresa de games do mundo. Todos os jogos primordiais são dela.

— Certo... Castiel eu sem quem é. O herdeiro do império, certo? O herdeiro da empresa Sworis.- digo me lembrando da revista que vi mais cedo no aeroporto. 

— Exatamente. E por fim vem o Lysandre. Ele é um músico inacreditável. Ele toca todos os instrumentos que você pensar. Além disso, sua família é dona de quase todos os hospitais da costa leste da América. Simplificando então: a F4 se resume a garotos lindos, ricos e inteligentes. Eles parecem gênios ambulantes e olha que eu nunca os vi estudando.

— E eles estudam aqui? - pergunto um pouco chocada enquanto me enrolo na toalha. Eles estudam aqui? E eles fizeram aquilo com aquele loiro? 

— Estudam, mas em uma sala especial separada. Porém a presença deles está em todos os lugares, já que controlam a escola a sua maneira. Foram eles quem fizeram aquilo com o Nathaniel.- ela diz. Meu corpo estremesse. 

— O que? Eles bateram nele? - pergunto horrorizada, imaginando quatro réplicas do Riquinho batendo no garoto loiro de mais cedo, usando colares de ouro com pingente de cifrões. 

— O que? Não! Eles tem gente para fazer isso. Nathaniel os enfrentou a respeito deles tratarem todos mal e no dia seguinte recebeu um F4. É um cartão vermelho que quando você recebe... bom, todos da escola vão querer te destruir para agrada-los. Isso dura até você suicidar ou pedir transferência.

— Por isso aquela garota disse que suicídios eram comuns aqui.- digo tremendo de novo. Certo, claramente uma escola super normal. Temos quatro cópias do riquinho se achando os reis do mundo e maltratando adolescentes.

Levo então minha atenção para meu uniforme: uma blusa social branca com uma gravata, uma saia preta e um suéter cinza sem mangas. Tinha um blazer também, mas está calor demais para eu colocar aquilo. Rosa sorri em aprovação enquanto coloco meu tênis. O uniforme não ficou tão bem em mim quanto nela. Ela tinha... corpo. Sim, isso era óbvio. Não que eu não tivesse, mas ela tinha mais. E céus, isso não é superficial demais para se preocupar quando um garoto acabou de tentar cometer suicídio? 

— Então, garota maravilha, você tem algum nome fora esse? - ela pergunta finalmente. Agradeço a oportunidade de poder tirar meus pensamentos de Nathaniel e sorrio um pouco para ela. 

— Pode me chamar de Tessa. Apelido de Teresa. - digo pegando dentro de uma das minhas malas a mochila com os materiais que minha mãe tinha comprado sem minha permissão ou conhecimento. 

— Entendi.- ela diz sorrindo.- A propósito, pode me chamar de Rosa. Acho que vamos nos dar muito bem. - Ela pisca para mim e saímos do quarto. Claro, vamos nos dar bem. Como se eu fosse acostumada a ter amigos. 

 Porém, enquanto conversamos percebo que Rosa é uma garota muito simpática e viciada em moda. Mas o que mais me fez admirá-la é que ela realmente parece não se importar com os olhares que recebemos e os cochichos enquanto passamos.

Finalmente chegarmos em frente a uma porta de madeira envelhecida e Rosa sorri para mim, antes de ajeitar a gola da minha camisa. Certo, talvez nós realmente possamos ser amigas. 

— Aqui é minha deixa. Nos vemos depois, Tessa!- ela acenou enquanto partia. 

Bato na porta ansiosa. Como será a diretora de uma escola em que suicídios são comuns? Sério, passaram mil possibilidades sobre como poderia ser meu primeiro dia na escola, e impedir um suicídio com certeza não estava nessa lista. 

— Entre.- uma voz feminina diz.

O escritório da diretora é espaçoso, provavelmente do tamanho do quarto que eu compartilhava com Rosa. Nas paredes estão espalhadas diversas fotos da empresa Sworis e dos fundadores. Nada muito especial ou diferente. Zero instrumentos de tortura, para minha decepção ou alegria. Atrás de uma longa mesa de madeira, está uma senhora usando um terninho rosa e o cabelo grisalho preso meticulosamente em um coque no alto de sua cabeça. Sua boca se meche em um gesto de desaprovação quando me encara e percebo que já não seremos melhores amigas. 

—Senhorita Chase. Ao que parece você mal chegou e já é a sensação.- ela diz.

— Acabou acontecendo, não é o tipo de atenção que eu gostaria também.- digo sem deixar meu olhar baixar diante dela. 

— Percebo que é alguém que gosta de confusões. Acho que você já deve ter aprendido a se locomover pela escola, então não me darei ao trabalho de colocar alguém para te ensinar a fazer isso. Vamos terminar isso logo. Quais são seus hobbies úteis?- a diretora pergunta. Claro, quanto antes acabarmos antes fico longe dessa senhorinha, então resolvo cooperar. 

— Eu sei cozinhar. Sou nadadora também, costumo fazer atletismo. Ah, e claro, sei algumas artes marciais, deve ter visto alguns dos meus prêmios na minha ficha. - digo propositalmente me gabando um pouco. Em geral, qualquer docente ficaria impressionado com meu currículo de atividades extracurriculares e minhas notas elevada. 

— Pretende fazer teste para alguma das equipes?- ela a diretora pergunta somente. Sou obrigada a engolir minha frustração por ela não ter se impressionado jogo meu peso para trás na cadeira, em uma posição bem desleixada. 

— Acho que por agora não. Agora me diga, diretora, você ia deixar um aluno suicidar?- pergunto sorrindo. Se ela não quer se impressionar comigo, talvez eu deva simplesmente colocá-la contra a parede. 

— O senhor Percival será tratado de acordo com seus transtornos. É o que a escola pode fazer. - ela diz. Certo, vamos fingir que ele é um problemático e ninguém o levou a tentar se matar, bem mais fácil, certo? 

— Bom, ao que parece a F4 controla a escola e a senhora. - comento. Eu e minha mania de querer me rebelar diante de autoridades que não babam meu ovo. 

— Você já pode se retirar, senhorita Chase. Seja bem vinda a Sweet Amoris. - ela diz simplesmente, me dispensando com um gesto de mão. Sou obrigada a conter minha raiva enquanto me levanto e saio de sua sala. 

Enquanto ando pelos corredores as pessoas continuam me encarand  e cochichando e uso todo meu auto controle para não esboçar reação à isso. Estou à um ponto de explodir, o melhor que tenho a fazer realmente seria tentar caminhar. Isso, vou dar uma volta pela escola, talvez conhecê-la, esfriar a cabeça e depois procurar Rosa para saber onde eu devo ir. 

Estou passando perto do bosque da escola, aparentemente próxima à pista de atletismo quando escuto uma música. Deve ser a música mais doce que já ouvi na minha vida. Resolvo seguir a melodia, e acabo em um banco solitário, não muito para dentro do bosque. Um garoto está sentado ali, de olhos fechados e um delicado violino apoiado em seu queixo.

Seus cabelos são meio prateados com algumas mechas pretas. Seu rosto é fino, parecendo ter sido desenhado, e suas mãos... céus, elas são longas e se movem com experiência através das cordas de seu instrumento. Como descrever ele? Lindo. Simplesmente lindo. Maravilhosamente lindo.

Fico o encarando completamente em transe, enquanto ele continua a tocar. Era como se aquilo se tornasse parte de mim e me obrigo a fechar os olhos, o que com certeza não foi uma boa ideia. Uma corrente de ar passou por mim, tirando meu equilíbrio o que me fez gerar alguns barulhos para me recompor. E quando ergui meu rosto para o músico que já não tocava mais, ele estava me encarando. Como se ele não fosse lindo o suficiente, possuía olhos deslumbrantes e intrigantes. Um era verde e o outro dourado. E eles não deixaram de sustentar meu olhar desesperado enquanto ele se colocava de pé para me ajustar em seu campo de visão. 

Percebi lentamente que ele não usava uniforme e sim uma calça jeans e uma blusa social preta combinando com seus tênis. Me lembrei de que a Rosa havia me dito que de todo o corpo discente e docente apenas a F4 não utilizada uniforme. Ele seria um dos quatro então? Seria possível um menino aparentemente tão doce ser um dos monstros que fazem pessoas suicidarem? 

— An... eu... estou procurando... mhn... a pista de atletismo - digo o primeiro lugar que me vem à cabeça, devido a placa que eu havia visto momentos atrás. Ele me encara com divertimento e curiosidade, apontando a direção com o violino. - Você toca muito bem.- acrescento me esforçando para não corar. Seu sorriso de divertimento aumenta. Certo, eu sou uma piada aqui. E claro, quando estou nervosa começo a tagarelar me deixo em uma situação cada vez mais desconfortável. - Continue tocando! Desculpa ter atrapalhado. Por ali né? - pergunto mostrando a direção de novo e ele consente segurando o riso.

Droga. Eu devo ter parecido patética, mas ele é tão lindo, tão... interessante, parece que fiquei presa em um feitiço enquanto estava sob sua presença. Teresa desde quando você liga para essas coisas? Ele é da F4. Deve ser só um cara banal e idiota, um monstro que faz mal as pessoas. Afinal, Lucifer não era lindo? Mas enfim, qual era o nome dos integrantes? Kentin, Armin, Castiel e... aquele de nome estranho, o músico... Lysander? Acho que é isso.

O sinal da escola anunciando o almoço me chama a atenção e percebo que é melhor finalizar minha exploração. Acho que será melhor eu pegar as aulas da tarde hoje, para não ser uma surpresa completa amanhã. 

Vou para o prédio onde ficam as salas do segundo e terceiro ano e vejo pessoas conversando e rindo no térreo e rindo. Tudo normal, como se alguém não tivesse tentado suicidar nesse mesmo prédio apenas algumas horas atrás. 

Me sinto incomodada e deslocada, procurando uma porta para o refeitório quando vejo uma menina de cabelos castanhos e olhos azuis como o gelo caminhando em minha direção. Fico um pouco desconfortável, mas não deixo transparecer e apenas a observo se aproximar. 

— Oi! Você é a mulher maravilha, certo? Eu achei super legal o que você fez pelo Nath. Meu nome é Debrah.- ela me estende a mão. Aceito sua mão e sorrio. Alguém então não acha o suicídio algo legal aqui, finalmente. 

— Me chame de Tessa. - digo.

Debrah vai falar alguma coisa, mas todos começam a gritar e se reunir em volta do prédio. Eles estão gritando alguma coisa, mas não discernir as palavras. 

— Mais um suicidio?- pergunto desesperada. Debrah nega com a cabeça achando graça.

— É a F4. - ela diz animada, apesar de claramente não querer demonstrar isso. Ela me puxa para dentro do refeitório e consigo então uma visão perfeita da entrada. 

Os gritos param quando um grupo de garotos começa a percorrer o caminho entre os estudantes. Na frente do grupo está um jovem que reconheço como Castiel Sworis, que esboça o sorriso sarcástico que eu havia visto na capa da revista essa manhã. Ele usa uma camisa social vermelha e uma calça social preta.

Em cada um de seus lados se encontram mais dois garotos incrivelmente bonitos: um de calça do exército, uma camiseta preta e uma camisa social branca aberta; e um com uma camisa normal azul, um cachecol roxo e calças jeans. O de calça do exército tem olhos verdes como esmeralda e cabelos castanhos. Acho que esse é o Kentin. O outro é moreno de olhos incrivelmente azuis e por todos os fóruns de jogos que já participei facilmente o reconheço como Armin Prior. 

O garoto que eu havia visto a pouco no bosque esta um pouco mais atrás de Castiel, fechando um losangolo. Sou obrigada a segurar  o fôlego quando ele olha na minha direção, com a mesma expressão de divertimento que trazia mais cedo, enquanto eu gaguejava na sua frente. Droga, pelos céus, espero nunca ter que conversar com ele para não me recordar desse mico. 

Uma garota sai do meio da multidão com um bolo na mão. Ela é ruiva de olhos verdes e se aproxima de Castiel com o bolo estendido e um olhar repleto de esperança. Claramente ela estava planejando esse momento à tempos. 

— Castiel Sworis, eu sou Íris Azela do 2° C. Desde a primeira vez que eu te vi eu me apaixonei por você. Por favor, aceite esse presente que eu fiquei a manhã inteira fazendo.- ela diz. Sou obrigada a segurar o riso. Que tipo de declaração pública é essa? E que formalidade é essa? 

Castiel a encara de cima abaixo como se fosse a coisa mais ridícula que ele já tinha visto e meu sorriso some, sendo que a diversão que senti agora fora substituída por pena. Porém, para surpresa geral ele pega o bolo e após encará-lo por alguns instantes, o joga na cabeça da menina. Todos começam a rir e ele se aproxima da garota loira de mais cedo, Ambre, a irmã do Nathaniel, limpando sua mão no blazer da garota. 

— Castiel só come do melhor. - Ambre diz e a menina ruiva começa a chorar antes de sair correndo e ir embora. Céus, o que foi isso? Existem limites para o bullyng, certo? 

Todos começam se dissipar e fico parada, com ódio, me forçando a me manter afastada dos demais, inclusive de Debrah. Mas acho que estou no percurso da F4, pois eles vem na minha direção. Nunca fui boa em controlar minhas emoções, por isso sei que estou com o ódio estampado no rosto. 

Castiel se aproxima de mim e me encara de forma desafiadora. Lysander me encara com um aviso silencioso de que devo ficar quieta. Armin e Kentin me examinam curiosos enquanto Castiel começa a rir me esnobando.

— Algum problema, garota?- ele pergunta.

Mentalmente eu lhe chamei de bastardo e apliquei um golpe perfeito, que facilmente o teria colocado no chão com pelo menos duas costelas quebradas. Mas resolvo seguir o aviso de Lysander e fico calada, mas não abaixo meu olhar. Muito pelo contrário, retribuo e sustento seus olhos, também cinzas pelo que pareceu uma eternidade. Me pergunto qual olhar possuía a maior tempestade naquele momento, mas acredito que juntos teríamos causado o dilúvio com nossa intensidade. 

— Não, nenhum.- digo. Ele da um sorriso sarcástico e esbarra o ombro em mim, enquanto passa. Os garotos da F4 o seguem, nenhum deles olha para trás. Eu continuo encarando a escada que eles desapareceram por um certo tempo, antes de finalmente ir almoçar. 

Naquele momento em que eu estava saindo do meu transe eu nunca tive mais certeza de uma coisa do que tenho agora: eu realmente odeio a F4.


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Notas finais do capítulo

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—Detoni