Apesar de Tyrion não querer admitir para si mesmo, ele sabia que, no fundo, não tinha ideia do que fazer agora que estava, enfim, na presença de seu irmão mais velho. O irmão que um dia tanto amou.

O anão continuou em silêncio, fitando por mais alguns segundos o rosto cansado de Jaime. O mesmo estava com vários fios brancos, tanto nos cabelos quanto na barba por fazer. Suas olheiras já haviam passado do cinza; mas o pior era a expressão de seus olhos. Como se estivesse prestes a, finalmente, se entregar para seu destino. Para a sua morte.

– Olá, Regicida. - Tyrion Lannister disse, por fim. Sua voz saiu rouca e trêmula. Seu pequeno corpo tremia ao lembrar do segredo que Jaime havia guardado dele. Eu confiava em você, irmão, lembrou-se.

Ao pronunciar o apelido tão odiado pelo Lannister mais velho, Jaime o olha com raiva nos olhos.

– Parece que somos os irmãos Regicidas, agora. Aposto que você gostou. - Retrucou, entredentes.

– Não sou apenas Regicida, como também Parricida. - Disse, abrindo um sorriso cruel. - Significa "filho que mata pai", caso sua inteligência não seja grande o bastante para entender minha piada negra. - Jaime nada disse, nem mudou sua expressão. Apenas abaixou a cabeça, cansado. Tyrion imediatamente lembra da cena que iria assombrá-lo até seu último dia na terra: seu pai, morto, na privada. Para onde as putas vão, pai?– Para onde Tysha foi? - Perguntou o Lannister, sem rodeios.

Jaime levantou a cabeça. Agora, seus olhos não continham mais um brilho de raiva, e sim de arrependimento.

– Não sei para onde ela foi. Eu não queria ter feito aquilo, Tyrion. Você tem que acreditar em mim.

– Mas também não queria desapontar o pai, não é mesmo? - Retruca o pequeno homem.

Jaime abre a boca, parecendo querer dizer algo, mas logo muda de ideia. Abaixa a cabeça mais uma vez.

Um silêncio que parecia durar uma eternidade toma conta do recinto escuro.

– Eu matei Cersei. - Jaime quebra o silêncio, sua voz não passando de um sussurro. Tyrion abre levemente a boca, assustado. Quando soube da morte de Cersei, não ficou feliz, mas tampouco triste. Apenas se divertiu pensando no semblante de seu irmão quando descobrisse que sua amante havia perecido antes dele. Isso é mentira, disse para si mesmo. Embora até agora não tenham encontrado o assassino de sua querida irmã, sabia que não tinha sido Jaime. Mas o que ele ganha mentindo?, se perguntou. Certamente não minha compaixão.– Ela matou Tommem. - Continuou Jaime, com o mesmo tom de voz, sem olhar nos olhos do irmão. - Estava enlouquecida. Completamente enlouquecida. Havia matado Tommem, e queria queimar tudo. Todos. Parecia o Rei Louco. Eu... Eu estava vivendo tudo aquilo de novo. Só que dessa vez não era Aerys, e sim Cersei. - Tyrion pôde perceber uma lágrima escorrendo pelo rosto sujo do homem. - Sabe qual o pior de tudo? - Perguntou, fechando sua mão em punho. - Eu não sinto remorso. Se pudesse voltar atrás, a mataria novamente. Ela... - Sua voz engasgou por um instante, mas logo se recuperou. - Ela pediu para que eu matasse Brienne. Foi a gota d'água para mim...

– Brienne? Aquela mulher loira de cabelos curtos? - Tyrion perguntou, mas já sabia a resposta.

– Sim. - Jaime agora o olhava nos olhos. - Minha esposa. Ela teve um aborto espontâneo. Perdi todos os meus filhos, Tyrion. - Continuou encarando-o, analisando-o e o anão se sentiu um tanto desconfortável com a expressão do Lannister. - Você matou Joffrey? Me diga a verdade.

Tyrion, abalado pelas revelações, esqueceu que por um momento aquele era o homem que tanto amou e confiou, e que devolveu esses sentimentos o traindo. Por um momento, pensou em dizer a verdade. Mas então, se lembrou de Tysha mais uma vez. Tysha não era uma prostituta. Foi tudo real, pensou, amargurado. Ela me amava. Meu casamento foi real. Mas Jaime mentiu para mim...

– Tanto quanto matei meu pai. - Respondeu, sua voz cavernosa, transbordando de ódio. Sem conseguir olhar por mais um segundo o seu querido irmão, Tyrion saiu de perto das celas, bamboleando de volta à Fortaleza Vermelha.