Lembrou-se da primeira vez que a viu. De branco, assustada, ao lado de um selvagem, enquanto outros selvagens se matavam na sua cerimônia de casamento.

Não passava de uma garotinha assustada. E agora é uma Rainha, pensou Jorah enquanto vestia sua armadura, orgulhoso da mulher que amava.

Não sabia exatamente qual foi o momento que começou a amá-la, e não sabia se um dia conseguiria vê-la com outros olhos. Provavelmente não. Embora já tenham trocado carícias algumas vezes, sabia que nunca teria uma verdadeira chance com a Mãe dos Dragões.

– Lutarei por você, Minha Rainha. - Murmurou Sor Jorah Mormont para si mesmo aquelas palavras que já haviam quase virado uma prece, enquanto entrava no campo de batalha.

A carnificina já havia começado a muito tempo. Sabia como os nortenhos lutavam, lembrava-se da época da guerra de Robert e do Rei Louco. Nortenhos são difíceis de cair, pensou. Mas eu também sou um nortenho.

Avistou um homem de Sansa Stark, e disparou sua espada para cima do mesmo. Foi golpeado duas vezes, mas conseguiu bloquear a maioria até que, enfim, cortou a garganta do homem. Virou-se para o próximo.

Jorah tentava ao máximo esquecer que, de fato, chegou a trair Daenerys Targaryen. Levou a informação de que estava grávida para o Usurpador, e nunca havia se arrependido tanto de algum ato na vida. Nem quando vendeu escravos, nem quando decepcionou seu pai. A culpa me atormentará pelo resto da vida, pensou o homem, amargurado.

Tentou se focar na batalha à sua frente. Homens morrendo por todos os lados.

Um nortenho tentou atacá-lo por trás, mas Jorah já havia sentido a presença do mesmo e virou-se para encará-lo. Depois de bloquear dois golpes, conseguiu matá-lo.

Ao longe, Jorah Mormont viu uma mulher grisalha, porém grande e forte. Usava uma cota de malha preta, e em sua mão havia uma clava de espetos. Reconheceu-a imediatamente, e pareceu ao homem que a mulher o havia reconhecido também. Ela estava indo ao seu encontro, seus olhos em fúria.

– Jorah Mormont. - Disse Maege Mormont, sua tia. - Está lutando pela Sansa Stark?

Jorah segurou a espada à frente, numa posição de ataque.

– Não, tia. - Respondeu. - Estou lutando pela minha Rainha, Daenerys Targaryen.

– Oh, você me envergonha. Você envergonha seu pai, meu irmão. - Disse Maege, pronta para usar sua clava.

– Maege, não quero lutar com você. - Disse Jorah, engolindo em seco.

– Mas lutará. - Respondeu a mulher ferozmente.

Então ela rodou sua clava na direção de Jorah, e o mesmo se afastou rapidamente do golpe. Mas no segundo, o homem não teve tanta sorte. Maege acertou sua clava de espetos na barriga de Mormont, deixando-o sem ar por uns momentos.

Se recuperando, tentou golpeá-la uma vez, mas falhou. Foi logo bloqueado, e se recuperou para esperar o próximo golpe da clava.

Dessa vez, Jorah bloqueou o golpe e logo em seguida conseguiu acertá-la em sua clavícula, sabendo que havia machucado-a pelo menos um pouco.

– Maege, pare. - Pediu Jorah.

– Não! - Gritou a mulher, seus olhos em fúria. - Você não tem direito de usar meu sobrenome, rapaz. Você manchou nossa família, nossa Casa! Seu pai morreu sentindo vergonha do filho que teve.

Aquilo o encheu de raiva, e proferiu mais um golpe. A acertou dessa vez com força na barriga, em seguida com um soco no maxilar. Maege caiu com o golpe, e Jorah continuou golpeando-a.

A clave de Maege voou em seu rosto, deixando-o atordoado por alguns segundos, dando tempo para a mulher se recuperar. Desta vez, ela o jogou no chão e rapidamente subiu em cima do mesmo, deixando-o preso.

Proferiu mais um golpe no rosto de Jorah, e dessa vez o mesmo perdeu a visão momentaneamente e, com ela, alguns dentes.

Então ouviu-se um silvo. Maege parou e olhou para trás. Jorah, com a visão turva, conseguiu ver vagamente um dragão. Preto.

– Drogon. - Disse, sua voz não passava de um sussurro.

O animal furioso ia em direção dos dois. Maege ficou paralisada, branca, vendo a criatura na sua fente. Jorah Mormont nunca havia presenciado medo nos olhos daquela mulher.

Então Drogon silvou mais uma vez para os dois, a batalha ao lado parecia ter parado momentaneamente. Todos os homens olhavam o dragão. A Sombra Alada, Jorah lembrou do homem cuja filha havia morrido queimada.

Drogon abriu a boca e soltou seu fogo em cima de Maege e seu sobrinho. Jorah sentiu-se queimando, nunca havia sentido uma dor tão forte em toda sua vida, mas mesmo assim não conseguiu assimilar que estava morrendo.

Fechou os olhos, vislumbrando o semblante de sua amada. Cabelos loiros prateados, olhos ametistas. Um sorriso que fazia seu sangue ferver, aquecia seu coração. Ou seria a sensação das chamas?

Daenerys, me perdoe, pensou, por fim. Logo, tudo ficou escuro e indolor.