Lola escrita por Cecília Rosa


Capítulo 4
Capítulo 4 - Lembre-se de carregar o celular




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Eram três horas da tarde de uma sexta ensolarada e quente. Ao fechar os olhos no ônibus lotado a caminho de Ipanema e da casa de Felipe, Lola pensou em descer no próximo ponto e em uma fuga desesperada mergulhar na água gelada e cinematográfica do mar. Cuja a cor azul clara estampava cartões postais espalhados por todo o mundo.
Estava desesperada, muito mais do que seus olhos esverdeados permitiam que fosse visto. Não tinha a mínima idéia do que pensar, estava tão enlouquecida pelos beijos sedentos e os sonhos insanos com o professor de matemática que fingira-se de doente para a mãe pela manhã: não aguentaria ir à aula e ver suas melhores amigas, Teca e Rosa, sem poder-lhes contar qualquer coisa.

" bom, pelo menos enquanto eu ainda nem tiver certeza do que pensar"

Sabia que contar qualquer coisa nesse momento só tornaria a situação mais difícil, Rosa balançaria seus cabelos ruivos de um lado para o outro, arquearia as sobrancelhas cuidadosamente delineadas antes de chama-la de louca. " uma coisa é pega-lo em um festa, Lo, outra ficar com o seu professor". Sentia o tom de desaprovação vibrando em cada entonação da voz da amiga.
Enquanto isso, teca colocaria uma mecha do seu belo e despenteado chanel castanho para trás, abriria o maior sorriso e cutucando Rosa, faria um enorme sinal de aprovação, podia imaginar a garota exultante, recitando de cor todas as qualidades daquele homem, que tinha mais de Deus do que de humano.

Viu seu ponto se aproximar, levantou-se e deu o sinal. Desceu tranquila no calçadão da Delfim Moreira, atravessando a rua na primeira oportunidade, e entrando no enorme prédio esverdeado e antigo em que o amigo morava. O condomínio de luxo em frente à praia era extremamente bem cuidado por mais discreto que fosse por fora, bastava ver os seguranças vestindo ternos pretos e mal cortados para perceber isso.

– Boa tarde- disse um deles, com um fio de rádio que ia até o ouvido- para onde a senhorita vai?

– para a cobertura do bloco B - Lola ouviu-se dizer com a voz mais, simultaneamente séria e doce que conseguia.- Estou aqui para ver o Felipe, meu nome é Lola Friedmann.

O segurança assentiu com a explicação, e pressionando o pequeno fone no ouvido sibilou algo que Lola não conseguiria entender mesmo se estivesse prestando atenção. Minutos depois ela havia atravessado o elegante lobby de entrada, com seu chão de mármore e mobília de couro branco. Adentrou o primeiro elevador à direita, com diversos botões brilhantes sob um espelho, e apertado o mais alto deles com uma letrinha "c" brilhando ao lado. Saído do mesmo, em um minúsculo hall todo branco, tocado a campainha e esperado.

Um Felipe desarrumado e sem camisa abriu a porta. Ele usava uma calça de um fino tecido branco, os cabelos despenteados como quem acabara de acordar, os pés descalços. Lola sentiu suas bochechas corarem, algo no olhar divertido do menino a sua frente dizia que ele esperava vê-la agora, tanto quanto ela o imagina encontrar sem camisa.

– Lolita - ele riu, e um sorriso perfeito acendeu todo o seu rosto- sabe, você deveria olhar seu celular, eles existem para estabelecer contato entre as pessoas.

Acordara completamente sem cabeça para as trezentas e cinquenta e sete mil mensagens no whatsapp ou mesmo todo aquele jogo de ser feliz em qualquer outra rede social. Lola Friedmann não estava feliz, estava confusa, em poucas horas sentia-se louca. E não entendia como aquilo acontecera. Portanto, a primeira coisa que fizera depois de fingir um mal no estômago fora desligar o celular. Agora, ela olhava completamente constrangida para um menino muito bem humorado que por mais que estivesse brincando com seus humores, fizera lágrimas brotar em seus olhos.

murmurou qualquer desculpa, e virou de costas pronta pra ir embora antes que a situação ficasse pouco mais vergonhosa. Ouviu a voz surpresa e rouca de Felipe sibilar.

– Lo, pelo amor de Deus. Eu só estava brincando, o pessoal foi estudar na casa do Dani, acho que todos te mandaram mensagens,mas pelo visto você não as viu, relaxa, vou partir pra lá mais tarde.... vamos, entra.

Ele segurou seu pulso de modo firme e carinhoso ao mesmo tempo. Deixando seu polegar correr suavemente por sua pele. Ela se virou, olhou os olhos azuis do amigo a sua frente, e sentiu todo o seu corpo se encher de um calor que nunca imaginará poder vir dele.

Assentindo, deixou com que o braço forte das muitas horas de remo se enroscasse ao redor de seus ombros, mais que isso, deixou-se gostar do conforto que o cheiro conhecido fazia seu corpo sentir.


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