O Herdeiro do Titã escrita por Rodrigo Kira


Capítulo 19
Uma Visão de Muito Tempo Atrás


Notas iniciais do capítulo

Oi, galerinha. Tudo certo? Primeiro, desculpem a demora pra postar, mas tive uns bloqueios criativos, além de outros compromissos e ideias que tive que trabalhar. Vou trabalhar mais duro para não deixar vocês no vácuo por mais tempo.

Vamos a uma retrospectiva?
David e seus amigos chegam em Washington e, antes de partirem para a Casa dos Imortais, decidem buscar pela Flecha de Apolo, citada na profecia. Nessa procura, David e Lucy acabam encontrando o próprio deus-sol, que pretende matar David. Mas o rapaz é salvo pela aparição de Lucy, que fica extremamente constrangida com a súbita aparição de seu pai. De qualquer maneira, Apolo explica que a flecha que eles buscam foi roubada há anos atrás, o que tornaria tudo em uma busca sem sentido. David e Lucy decidem voltar para se encontrar com o resto do grupo, e Apolo aconselha que o rapaz procure uma casa ali perto, dizendo que encontraria algo "interessante".
Quando os dois jovens voltam para o Monumento Washington, uma manada de monstros dispara em sua direção, forçando o casal a fugir. Nisso, eles acabam trombando com uma garota chamada Juliet Lasserre (participação especial da fanfic "Meu Namorado Quase Vivo"), e são forçados a arrastarem a garota junto para que os monstros não a pisoteassem. Os três então se escondem por um tempo, e David e Lucy se vão, deixando Juliet para trás.



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Depois de saírmos do beco, eu e Lucy procurávamos um jeito de encontrar o resto do grupo. Ainda estava preocupado com Juliet, mas não tinha mais nada que eu pudesse fazer àquela altura.

– David – chamou Lucy – , quem era aquela tal Juliet?

– Hein? Sei lá. – eu respondi confuso. – Eu só não podia deixar aquele bando de monstros pisotearem alguém inocente.

– Sei... ela era bem bonitinha... – ela disse. O tom azedo na voz de Lucy não deixava dúvidas.

– Lucy... você ficou com ciúmes? – a ideia era estranha até mesmo pra mim.

– C-claro que não! – Lucy exclamou. – Não invente coisas, seu convencido!

Eu ia retrucar, mas algo me deteve. Uma sensação esquisita, como um tipo de calafrio, mas nem um pouco desagradável. Era nostálgico. Olhei para um lado, na direção que aquele calafrio esquisito apontava. Me deparei com uma casa velha, de paredes desbotadas, com grama alta e mal-cuidada.

– Ei, David? – ouvi a voz de Lucy. – Alô? Tem alguém em casa?

– Hã? Lucy? Que foi?

– Como assim, “Que foi?”?! Você é que tava olhando pro nada!

Voltei a encarar a casa velha. De repente, as palavras de Apolo vieram à minha mente. “Se procurar em uma casa, ao sul, pode ser que encontre algo do seu interesse. Você saberá qual casa”.

– É que... acho que conheço esse lugar. – eu disse, apontando para a casa.

Antes que eu pudesse me dar conta, já estava andando em direção à porta, passando pela grama seca. A maçaneta, coberta de pó, deixava claro que ninguém entrava ali há anos.

– David? O que foi? – a voz de Lucy parecia ecoar do fundo de um túnel.

O lado de dentro não era melhor que o de fora. Nada mais do que móveis antigos, com camadas de pó tão grossas que dava pra cortar com uma faca, paredes cheias de rachaduras com pinturas gastas e fotos velhas. Apanhei um dos quadros, em cima da mesa empoeirada. A foto estava gasta pelo tempo, mas ainda se podia ver as pessoas retratadas. Uma mulher sorrindo, sentada em uma cadeira e com uma criança no colo. Um homem estava de pé, ao seu lado, segurando em seu ombro. Os olhos quase não eram mais visíveis, mas eu podia ver o brilho de felicidade, imortalizado na foto. A criança olhava para a mãe, sem entender nada.

Senti meus olhos ardendo e uma lágrima caiu no vidro da foto. Depois da primeira, as outras começaram a rolar, quase descontroladamente. Minha família. Aquela que eu nunca conheci. Com quem eu teria vivido, se não fosse um herdeiro de titã. Meu pai. Minha mãe. Abracei a foto, como se estivesse abraçando as pessoas ali retratadas.

Algo tocou meu ombro.

– David... – Lucy me chamou com voz mansa.

– Eu... eu vou ficar bem... – disse, tentando me controlar. – Daqui a pouco, voltarei a ser o mesmo cara de sempre...

Me levantei lentamente, sem largar a foto, e voltei a andar pela casa, imaginando como teria sido aquele lugar em seus melhores dias. Alguma coisa me instigava a olhar mais, quase como se tivesse algo ali que eu precisava encontrar. Subi as escadas, no fundo da sala, e me deparei com um corredor que com três portas, todas tão velhas e gastas como o resto da casa.

– David... que lugar é esse? – Lucy perguntou. Eu demorei um pouco pra responder.

– É a... casa dos meus pais... – eu disse com voz seca.

A primeira porta dava em um banheiro empoeirado. A pia estava cinza pelo longo tempo sem limpeza e as torneiras e o chuveiro tinham grandes manchas de ferrugem e pintura lascada. Os azulejos das paredes estavam esverdeados pela umidade e o rejunte estava preto.

A porta do lado era um quarto de casal. Uma cama grande e que devia ter sido bem confortável há alguns anos, mas agora estava coberta de poeira, com teia de aranha e os lençóis corroídos.

Por fim, fomos para a última porta. Um quarto de bebê, com paredes pintadas do que um dia foi azul claro, um berço de madeira, com vários buracos de cupins, um móbile de plástico, com patinhos e pequenos cachorros, uma cadeira de balanço velha.

– Você adorava brincar com seu pai nessa cadeira. – disse uma voz atrás de nós, quando me aproximei da cadeira de balanço.

Me virei para me deparar com uma mulher, envolta por uma suave luz dourada. Alta, cabelos compridos e castanhos. Usava a mesma roupa da minha lembrança de quando eu era um bebê. A mesma blusa roxa e calça bege.

– M... mãe...? – foi tudo o que consegui dizer.

*****

– Olá, David. – respondeu o fantasma de minha mãe, com voz macia. – Olhe só pra você... tão bonito e crescido!

– Mãe... é você? – eu não conseguia acreditar.

– Bem, mais ou menos, querido... – ela respondeu. – Sou apenas uma sombra do que fui um dia. O que restou depois que o tirei da Casa dos Imortais.

Então tinha sido naquela hora. Depois que minha mãe me deixou no orfanato... eles a tinham matado.

– Por que... por que isso aconteceu? – eu perguntei.

Minha mãe sorria com tristeza.

– Eles... os titãs... escolhiam crianças que tivessem força o bastante pra suportar seus poderes, para herdarem suas vontades. – ela falou. – Mas eu não sabia no que isso iria implicar... eu só queria que você fosse feliz, depois que... seu pai se foi...

– Ele... abandonou vocês? – ouvi Lucy falando.

– É claro que não! – minha mãe respondeu. – Ele era o homem mais amável e maravilhoso do mundo. Quando você nasceu, David, ele ficou tão feliz. Não parava de dizer o quanto você seria incrível quando crescesse... falava que queria ver você crescer e te ensinar a jogar bola, andar de bicicleta...

– O que.. aconteceu com o meu pai, então?

– Ele era... um soldado. – ela disse, com dor na voz. – Um dia, o grupo dele foi chamado para uma missão. Não era nada especial, mas ele teve que ir. Disse que não levaria mais do que um mês...

A imagem de minha mãe tremeluziu, enquanto ela se lembrava.

– Não sei bem o que houve... disseram que aconteceu um acidente... um ataque fora do previsto ou coisa assim... um dos amigos de seu pai veio me dizer... que ele tinha morrido, salvando outros soldados do grupo...

Essa era a história do meu pai. Ele deu a vida pelos amigos. Ele, mais do que qualquer um, tinha sido um verdadeiro herói.

– Eu fiquei desesperada... – minha mãe continuou. – Eu e seu pai amamos você mais do que tudo, mas eu não tinha como cuidar de você... Foi então que eu o ouvi pela primeira vez... me chamando até a Casa...

– Cronos? – perguntei.

– Isso... ele disse que iria nos ajudar, que você ficaria bem... Eles buscavam pais e mães, que de tão preocupados... iriam além de todas as consequências por seus filhos... Queriam gente que não tinha mais nada a perder... Então, fomos até lá... De começo, achei que estava ficando louca... Mas era um bom lugar, seguro, onde você e as outras crianças podiam crescer, felizes...

– Espere. – eu intervi. – Outras crianças? Os outros herdeiros?

Minha mãe assentiu, com a cabeça.

– Nós, pais e mães, olhávamos vocês com tanto amor... nos perguntávamos como vocês seriam quando crescessem, se seriam todos bons amigos... Se eu não tivesse ouvido aquela conversa, teríamos ficado lá para sempre.

– Que conversa? – perguntei.

– A Casa era servida por criados invisíveis. Vozes sem corpo, que ajudavam com tudo o que pedíssemos... Mas, naquela noite, ouvi dois deles conversando sobre o que aconteceria com vocês. Sobre o que faziam com vocês, como vocês cresceriam sob a tutela dos titãs, recebendo seus poderes, sobre destruírem os deuses em grandes batalhas e coisas assim...

Minha mãe soluçou novamente.

– Eu... eu já tinha perdido meu marido... seu pai... por causa de uma guerra... não suportaria que você fosse pelo mesmo caminho... Então, eu te tirei de lá. Te deixei na porta daquele orfanato, peguei uma pedra e continuei correndo. Eles acreditariam que eu estava levando você. Quando me pegaram, só com uma pedra... estava acabado. Sempre acreditei que seu pai manteria você seguro... para que nunca te encontrassem...

Eu só conseguia imaginar tudo aquilo. Por tudo o que meus pais passaram, pela dor de minha mãe quando perdeu meu pai... quando teve que me deixar.

– Achei que... finalmente poderia me reencontrar com seu pai... mas quando acordei, estava presa aqui... – ela continuou falando. – Na nossa antiga casa. Acho que fiquei tão preocupada com você, David, que não consegui descansar... Eu precisava saber que você estava bem...

Minha mãe se adiantou e tocou meu rosto. Seus dedos eram como névoa fria contra a minha pele.

– E aqui está você... forte, bonito... tão parecido com seu pai... se ele pudesse te ver agora, ele diria “ele tem os seus olhos, e o cabelo da mesma cor... mas em todo o resto é igualzinho a mim”... ele ficava dizendo isso sempre que via você dormir...

Notei que as pernas dela começavam a sumir.

– Agora... agora que vi você, meu filho... finalmente posso descansar... Meu filho cresceu... Espere só até o seu pai saber...

– Não, mãe, por favor! Não me deixe! – eu queria segurá-la, de alguma forma.

– Nunca deixei. Nem eu, nem seu pai. Sempre estaremos aqui. – senti o frio, em cima do meu coração. – David, você é forte. Sempre foi. E nós sempre estaremos olhando por você...

E quando ela sumiu, pude ver um último sorriso e uma lágrima escorrendo pelo seu rosto, iluminado por aquela luz dourada.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Se gostaram, curtam, comentem, favoritem! É, esse capítulo ficou bem emotivo, mas achei que eu devia explicar como o David se meteu nessa roubada toda. Por enquanto é isso, pessoal! Assim que eu fizer mais um capítulo, eu mando pra vocês! =D