Aprendendo a Amar escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 5
Capítulo 4




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/569189/chapter/5

Quando a luz do sol invadiu o quarto ainda marcado pelo tema de bailarina, Jade escondeu a cabeça embaixo do travesseiro. O relógio na cabeceira marcava quase 7h30 e ela havia dormido nove horas direto, caindo na cama assim que chegou da casa dos Duarte.

Sentou na cama, se espreguiçando longamente. Jogou os lençóis para o lado e levantou, rumando para o banheiro do quarto em busca de uma ducha quente, já que nem havia tomado banho na noite anterior.

Na sala, Edgard já tomava café da manhã, a encarando com um olhar sério.

“Onde esteve, mocinha?” Questionou, depositando a xícara de café na mesa.

“Na casa dos Duarte... As coisas lá ficaram completamente insanas ontem.” Ela explicou, sentando ao lado dele e começando a se servir, enquanto narrava os acontecimentos da noite anterior.

“Então foi esse o fim que teve a Ruiva?” Jade confirmou, vendo o pai suspirar. “Meu Deus, uma menina tão jovem e talentosa, se afundar assim nas drogas. Mas também, com alguém como o Cobra...”

“O Cobra nunca mexeu com essas coisas, Ed, pode parar.” Ela repreendeu o homem, séria. “Eles terminaram exatamente por esse motivo, eu estava lá.”

“Mas e o menino? As sequelas podem ter sido imensuráveis.”

“Conhecendo a tia Dandara, hoje mesmo já vão levar ele ao pediatra. E isso me lembra que preciso correr. O Ricardo pediu para que eu fosse junto ao conselho tutelar, ele está meio surtado com tudo isso.” Ela limpou a boca com o guardanapo de pano, antes de afastar a cadeira da mesa.

“Me avise qualquer coisa.” Ele pediu, voltando a atenção para o tablet e a xícara de café.

A relação dos dois sempre havia sido muito tranquila, desde a mais tenra idade da bailarina. Nunca tendo sabido quem era seu pai biológico, acabou adotando aquela presença masculina constante como sua figura paterna e, quando a doença venceu de vez aquela terrível batalha, foi com ele que ficou.

Não costumava pegar seu carro para sair, preferindo um táxi, porém estava em cima da hora e demoraria para chamar um carro. Por algum milagre celestial, as ruas do Rio estavam calmas naquela manhã e conseguiu percorrer o trajeto em menos de meia hora.

“Karina?” Estranhou ver a amiga e o irmão gêmeo parados na porta da frente, sendo que já deveriam estar na escola. A aparência de zumbis também causou um certo choque.

“Aquela criança está chorando desde as 2h da manhã, sem parar.” Sibilou João, os cabelos mais bagunçados que de costume.

“Nós nem conseguimos ouvir o despertador.” Choramingou Karina, mal mantendo os olhos abertos. “Só estamos esperando eles saírem com o diabinho para enfim podermos dormir.”

“Foi tão feio assim?” Se espantou Jade.

“Sobe e veja por si mesma.” Indicou a amiga, se apoiando na parede e fechando os olhos.

Engolindo em seco, Jade atravessou a porta e começou a subir a escada. Na metade dos degraus, pode ouvir o eco do choro agudo de Gabe, que se esgoelava sem parar. Abriu a porta lentamente, enquanto o barulho triplicava.

“Cobra?” Chamou, observando o amigo no sofá, o rosto escondido entre as mãos.

“Ele não para, Jade, não para.” O lutador chorava desesperado, assustando a garota. “Já ofereci até meu fígado, mas nem assim ele para.”

“Cadê ele?” Perguntou, procurando o menino.

“No quarto com a Bianca. Minha mãe foi tentar acalmar meu pai, que quase quebrou a porta ao sair daqui.” Ele apontou o corredor, ainda com o olhar perdido. A dançarina correu para o quarto, encontrando a colega de Ribalta chorando, enquanto tentava acalmar o bebê.

“Ele quebrou, Jade, só pode. Parece um boneco que quebrou e não para de chorar.” Soluçou a atriz, acompanhada do sobrinho. “Eu não sei mais o que fazer.”

“Vai para a sala e se acalma.” Pediu Jade, estendendo os braços. “E deixa o Gabe comigo.”

“Faz o que quiser.” Bianca largou a criança nos braços da amiga, saindo cambaleante.

“Hey, hey, hey, calminha.” Cantarolou com a voz suave, começando a balançar o bebê com suavidade. “Não precisa chorar, anjinho, está tudo bem.”

Quando a voz dela começou a penetrar os ouvidos do bebê, o choro começou a diminuir gradativamente. Ele se aconchegou mais ao braços dela, sua cabecinha buscando conforto junto à curva do pescoço esguio. A dançarina não pode evitar sorrir ao sentir a respiração do pequeno desacelerar, enquanto ele adormecia.

A porta foi aberta de supetão, assustando ela e a criança. Ela o abraçou apertado, sussurrando um acalento, enquanto observava o clã Duarte inteiro a observando.

“Que raio de macumba você fez?” Um estarrecido João perguntou.

“Eu só conversei com ele e o balancei.” Contou Jade, afagando a costinhas do bebê para que ele voltasse a dormir.

“Eu consigo ouvir meus pensamentos.” Comemorou Bianca, se arrastando em direção à sua cama e caindo no colchão. “Eu ouço o silêncio, e isso é maravilhoso.”

“Vocês vão dormir?” Se horrorizou Gael, vendo que os gêmeos seguiam a irmã mais velha.

“Capotar.” Garantiu Karina, pulando para a parte de cima do boliche e se enrolando nas cobertas. “Boa noite.”

“Deixa as crianças, querido. Ricardo, troque de roupa, por favor. Jade, você poderia ficar com o Gabriel enquanto nos arrumamos para ir ao conselho tutelar?” Pediu Dandara, coçando os olhos.

“Claro, tia, sem problemas.” O casal Duarte saiu, enquanto Cobra ia até o guarda-roupa. Jade desviou os olhos, se forçando a não encarar a seminudez do amigo. Ouviu um ronco alto e riu ao constatar que ele vinha de Karina; João dormia agarrado com um ursinho de pelúcia de Bianca e a menina estava praticamente babando.

“Esse pestinha não me deixou dormir à noite, e agora não vai me deixar dormir durante o dia. Tem que ser um carma muito forte.” Resmungou o lutador, atraindo a atenção dela. “Como eu quero que esse DNA dê negativo.”

“Quando te ouço falar assim, quase me dá vontade de que ele realmente não seja seu filho, só para não ter que aguentar um pai vagabundo desses.” Ela admitiu, beijando o topo da cabecinha do bebê.

“E você acha que eu quero ser pai de um moleque irritante e chorão desses?” Ele terminou de vestir a camisa, pegando os documentos e saindo marchando. A dançarina se ultrajou com as palavras dele, mas não rebateu da maneira que ele recebia; em partes porque Gabirle estava adormecido em seus braços, em partes porque não queria acordar os três jovens recém-adormecidos.

Na sala, cobra estava emburrado no sofá, enquanto Dandara e Gael revisavam se haviam pegado todo o necessário.

“A advogada vai nos encontrar lá.” Avisou a matriarca da família. “Jade, já que o Gabriel fica bem com você, se importa de ir com ele no colo? Ainda não compramos uma cadeirinha.”

“Fica tranquila, tia. Ao contrário de certas pessoais, eu quero que o Gabe fique bem.” Ela alfinetou, fuzilando o pai da criança.

“Se é assim, está decidido: eu vou abrir mão da guarda desse pestinha. Acho que qualquer babaca vai ser melhor para ele do que eu, certo Jade?” Cobra levantou nervoso, mas Gael interveio.

“Você vai ficar na sua, Ricardo. Porque se for para escolher, o Gabriel fica e você vai.” Rosnou o mestre, recebendo um olhar estarrecido. “Eu te criei para ser responsável, moleque, inclusive pelos seus erros. Foi descuidado e isso gerou uma criança; se não quiser assumir sua responsabilidade sobre ela, nós assumiremos... Mas você vai pagar o preço das consequências.”

“Prefiro pensar que estou sendo adepto a filosofia de Freud. Como é mesmo aquela frase dele, Dandara?”

Haverá um dia em que deveremos deixar de ser as crianças que sempre fomos, deixar as ilusões de lado e encarar a vida hostil, tal qual ela se apresenta. A isso eu chamo de Educação para a Realidade.” Ela recitou, encarando o filho de forma séria. “Seu pai está certo, Ricardo. Você pode ser um rapaz ainda, mas vai ter que assumir uma responsabilidade de adulto. E ou a assumirá por bem, ou por mal.”

“A escolha é sua, Ricardo. Agora, que tal irmos logo? Já estamos atrasados.” Gael apanhou a pasta no sofá e saiu andando. Jade não disse nada, apenas saiu o lutador, com Dandara em seus calcanhares.

Cobra apenas suspirou, começando a caminhar atrás dos pais, da amiga e do filho.

~C&J~

“Bom, pedi que nos encontrássemos direto aqui na laboratório, para que o exame já possa ser feito. Pedi a liminar ao juiz ontem à noite e ele a assinou. Casos assim, em que a criança é abandonada pela mãe e já se ter uma certeza sobre o pai, costumam ser mais rápidos.” Miriam explicou a mudança repentina no local do encontro. “Temos aqui um laboratório de ponta, utilizado pela polícia forense. Como eu tenho alguns contatos, eles concordaram em analisar as amostras e nos darem uma resposta em algumas horas. Após colhermos as amostras, iremos para meu escritório, no local primeiramente combinado.”

“Vão colher o sangue dele?” Perguntou Jade, preocupada.

“É a maneira mais rápida e segura de fazer a análise.” Explicou o técnico do laboratório. “Faremos o possível para não assustá-lo.”

“Você pode acompanhar o Sr. Duarte e o Gabriel, Srta. Gardel.” Miriam sorriu compreensiva, enquanto a jovem assentia.

“Esperaremos aqui, está bem?” Dandara acariciou o rostinho do neto, que ainda dormia nos braços de Jade. Os dois jovens seguiram pelo caminho que o técnico indicou, encontrando uma sala de exames com uma enfermeira alta, loura e gostosona dentro.

“Uau.” Cobra assoviou baixo, recebendo um olhar torto de Jade.

“Oh, por favor, queiram se sentar.” Ela sorriu com os lábios perfeitamente pintados em carmim, indicando as duas cadeiras. “Sr. Duarte, começaremos por você e deixaremos esse rapazinho para o final.”

Os dois ocuparam os assentos, Gabriel despertando com o cheiro forte de álcool no ambiente. Jade ficou brincando e o distraindo, enquanto a enfermeira colhia o sangue de Cobra... E era descaradamente cantada por ele.

“Bom, agora é o Gabriel.” Avisou a mulher, ao que Jade apertou mais o pequeno contra si. “Não se preocupe, senhorita... Vai doer um pouquinho, mas vou tomar cuidado para que seu filho não sinta mais dor do que necessário.”

“Ela não é a mãe dele.” Avisou Cobra, admirando a bunda da loira.

“Oh, me desculpe.”

“Não precisa se desculpar, moça. Eu sou apenas uma amiga desse idiota, que se preocupa muito com o filho dele... Mais do que ele, até.” Explicou a morena, segurando Gabe com mais força. “Me diga o que fazer, por favor.”

“Sente-o no seu colo e segure os braços e o peito com um dos braços, e apoie a cabeça dele no seu próprio peito, segurando com a outra mão. Tente prender as perninhas dele entre as suas, assim ele não vai distribuir chutes.” A enfermeira foi explicando como proceder. “Ele vai assustar e começar a gritar muito, mas mesmo assim você não deve relaxar o aperto. Vá conversando com ele e tentando acalmá-lo, está bem?”

A garota seguiu as instruções da melhor maneira possível, diante do olhar gélido de Cobra. A enfermeira fez o torniquete no braço de Gabriel, que já começou a reagir impaciente. Assim que a agulha perfurou sua pele, o grito desesperado escapou de seus lábios.

“Calma, calma, não precisa chorar, amorzinho. Está tudo bem.” Sussurrava Jade, beijando o rostinho do pequeno. “Já vai passar, já vai passar.”

Mas ele não se acalmava, só gritava mais e mais, tremendo sem parar. A enfermeira não conseguia realizar o procedimento; sequer conseguia encaixar a agulha completamente. Jade não sabia mais o que fazer, e mesmo as duas juntas não conseguiam conter o bebê.

E foi então que, pela primeira vez na sua vida, Ricardo “Cobra” Duarte sentiu o que ele descobriu ser instinto paterno.

Saltou da cadeira e se ajoelhou ao lado de Jade, contendo as pernas do filho e começando a acariciar o rostinho do menino.

“Hey, hey... Calma, calma carinha, está tudo bem. Olha, o papai está aqui, o papai está aqui.” Começou a murmurar, afagando a bochechinha com o polegar. “Fica calminho, já vai acabar.”

Os olhinhos castanhos estavam encharcados, enquanto a boquinha miúda se transformava em um biquinho trêmulo, sentindo o carinho que o pai fazia em si. Jade não aguento e sorriu enternecida, os três presos em uma pequena bolha. A enfermeira sorriu, seguindo e finalizando a coleta depressa.

“Pronto, pronto... Acabamos.” Sorriu a mulher, pegando as duas embalagens com as coletas. “Podem consolar o pequenininho.”

Os dois afrouxaram a pressão em Gabriel, que começou a mover os bracinhos na direção de Cobra, pedindo o colo dele.

“Acho que agora ele quer o papai, Ricardo.” Avisou Jade, com a voz mais doce que tinha.

O lutador suspirou, se levantando e apanhando o filho do colo da dançarina, o aninhando a si e deixando que ele se acalmasse completamente, os pequenos soluços ainda balançando seu corpinho pequeno.

“O resultado saíra no final da tarde.” Sorriu a enfermeira, saindo da sala.

~C&J~

“Bom, o resultado dos exames mostram deficiência de vitaminas, e ele está bem abaixo do peso.” A pediatra do hospital leu o exame de sangue feito naquele dia, a segunda maratona que Cobra e Jade haviam enfrentado com Gabe. “Mas nada que uma boa alimentação não consiga reverter.”

“E ele tem alguma sequela devido a, sabe, o vício que a mãe teve durante a gestação?” Questionou Dandara, observando o pequeno.

“Ainda é difícil precisar, Sra. Duarte. Aparentemente não, mas só poderemos ter certeza conforme ele for crescendo e desenvolvendo suas funções motoras e cognitivas.” Explicou a mulher, escrevendo o receituário. “Aqui tem algumas vitaminas, um remédio para a inquietação noturna, que é algo comum em bebês que passaram pelo que o Gabriel passou com a mãe; também estou os encaminhando para uma nutricionista, que vai fazer uma dieta especifica para ajudar a reverter esse quadro de desnutrição.”

“O que importa é ele ficar bem.” Cobra sorriu para a criança, que brincava com a bexiga que a enfermeira da pediatria lhe dera. Jade lhe vigiava, maravilhada.

“O importante é o Gabriel não sair dessa dieta, mesmo que ele não vá mais ficar com você, Ricardo. Caso a paternidade não seja comprovado, é importante que quem cuidar dele, siga com esses cuidados.” A médica assinou o receituário, entregando à família. “Nos vemos no próximo mês, está bem?”

“Pode deixar.” Os três se despediram, saindo com Gabriel ainda rindo da bexiga presa em seu braço. Gael não os acompanhara ao hospital, indo com o advogado em busca dos documentos necessários para legitimar a paternidade do bebê.

“Bom, eu estou exausta. Vamos todos para casa, tomar um banho e jantar, colocamos o Gabriela para dormir e tentamos dormir também. Se Deus quiser.” Suspirou Dandara, apanhando um copinho de café e virando em um gole, sem açúcar.

“Quantos comprimidos podemos dar para ele?” Cobra coçou os olhos, bocejando.

“Menos, Ricardo, bem menos.” Mandou Jade, ajeitando o bebê. “Ele é pesado.”

“Dá ele, acho que você não está mais aguentando o braço.” O rapaz apanhou o filho com a lutadora, começando a brincar com a bexiga para distrair Gabriel. Um apito começou a soar, mas eles demoraram a perceber. “É meu celular?”

“Acho que sim.” Jade apanhou no bolso dele, atendendo. “Alô? Não, aqui é a Jade, ele está segurando o Gabriel. Só um momento, Miriam.”

“Dá aqui.” Ele segurou o menino com um só braço, pegando o celular e colocando no ouvido. “Alô, Miriam? Sim, aqui é o Ricardo, pode falar.”

Acabamos de receber a análise das amostrar, Ricardo. As amostras são compatíveis.”

“E-e isso quer dizer?” Ele tremeu, apertando a criança em seus braços.

Quer dizer que o resultado é positivo. O Gabriel é seu filho, Ricardo.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Heeeey, desculpem a demora, para começo de conversa, ok?
Bom, o capítulo está enoooorme hoje, para compensar a demora. Espero que tenham gostado dessa interação da Jade, Cobra e Gabe, achei muito amorzinho.
See you soon ;*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Aprendendo a Amar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.