Aprendendo a Amar escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 3
Capítulo 2




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A bagunça na casa dos Duarte movimentou toda a vizinhança. Helena, a vizinha que havia ligado para a polícia (e que a propósito era uma tremenda fofoqueira), estava ali prestando esclarecimentos.

“Eu ouvi um choro de criança extremamente alto e intenso. Como não há bebês no bairro, desci para ver o que acontecia. Quando cheguei na porta dos Duarte, o choro ficou mais forte. Como a porta da rua está sempre aberta, resolvi checar; e foi aí que vi esse pobre bebezinho, abandonado e aos prantos.”

“Controle seu sensacionalismo, Helena, pelo amor de Deus.” Rosnou Gael, irritado. Desde que Jade havia entrado na academia aos berros, gritando que a polícia estava na casa do mestre, seu humor estava obscuro.

“Guarda Eduardo, nenhum de nós imaginava que essa criança estaria aqui, isso eu garanto.” Explicou Dandara, mais calma que o marido. “Sequer sabíamos da existência dela.”

“De onde ela surgiu, essa é a pergunta.” João estava sentado no canto da sala, com Karina e Pedro ao seu lado.

“Talvez isso explique algo... Está endereçado ao sr. Ricardo.” Observou Miriam, a assistente social.

“A senhora me desculpa, mas eu não tenho nada a ver com isso.” Garantiu o rapaz.

“Cobra... A Dona Dalva viu a Ruiva saindo daqui, um hora atrás.” Avisou Bianca, surpreendendo o irmão. “Pode ser que você tenha algo a ver sim.”

“Mas, a Ruiva... Já faz mais de um ano.”

“Lê a carta, Cobra, é o melhor que você faz.” Pediu Karina, abraçada com o namorado. O lutador encarou Jade, que estava sentada ao lado do cesto do bebê, o observando. Ela ergueu os olhos para o amigo e assentiu com a cabeça.

Ele suspirou, estendendo a mão e apanhando a carta que Miriam lhe estendia.

“Lê em voz alta, filho, por favor.” Pediu Dandara, segurando o braço do marido.

Ricardo... Esse é o Gabriel, nosso filho. Eu não posso cuidar dele; tentei por seis meses e não consegui. Aí estão os papéis nos quais eu abro mão de qualquer direito sobre o moleque, ele é seu. Faça o que quiser, o que seja melhor para ele. Assinado, Ruiva.” Ele leu o bilhete.

“Como alguém fala do filho desse jeito?” Foi a primeira pergunta feita; por Jade, inclusive.

“Ricardo, você realmente não sabia de nada?” Perguntou Dandara, se aproximando do filho.

“Mãe, depois que eu e a Ruiva terminamos naquela briga e...” Ele trocou um olhar com Jade. “A briga.”

“O que foi?” Questionou a assistente.

“Nós encontramos com ela em uma quebrada, se drogando fortemente.” Contou Jade. “Pelo tempo, ela já deveria estar grávida.”

“Quando nós a vimos na rua também.” Lembrou Karina e Jade gelou. Não haviam contado o ocorrido à ninguém. “Quando você mandou ela para a reabilitação.”

“Para o quê?” Cobra guinchou, encarando a amiga e a irmã.

“Esperem, esperem... Drogas? Reabilitação? Devo abrir uma queixa formal?” Questionou Miriam.

“Garanto que está tudo bem confuso para nós também, senhorita.” Resmungou Gael, massageando as têmporas.

“Então vamos resumir: o senhor Ricardo Duarte é o pai da criança; ele não sabia da existência dela até esse exato momento; a mãe, essa tal... Bárbara Borges, esteve na reabilitação por uso de drogas diversas e não contou sobre o filho para ninguém; e por último, ela deixou o menino aqui, abrindo mão de todos os direitos sobre ele?” Listou Miriam, e todos concordaram. “Existe alguma certeza real de que ele é filho do Ricardo?”

“Eu estava em um relacionamento com a Ruiva, na época em que ela provavelmente engravidou. Mas ela passava as noites com esse pessoal drogado, não sei o que fazia.” Relatou o jovem lutador.

“Nesse caso, precisaremos entrar com um pedido de reconhecimento de paternidade.” Explicou a mulher, analisando os papéis assinados pela mãe da criança. “Isso se o senhor for querer assumir o Gabriel.”

“Mas é claro...”

“Que sim.” Gael completou a fala do filho. “Eu não criei filho meu para abandonar o próprio filho.”

“Sr. Duarte, essa é a uma escolha do Ricardo.”

“Que vai ser essa, se quiser continuar morando na minha casa e sendo sustentado por mim.” Avisou o mestre, nervoso. “Entre com esse pedido de reconhecimento da paternidade logo, entendido?”

“Ricardo?” Miriam se virou para o rapaz, que suspirou.

“Claro, por favor.” Pediu, sorrindo amarelo.

“Então faremos isso.” Concordou a assistente, colocando os papéis dentro da pasta.

“E o que acontece com o Gabe enquanto isso?” Jade perguntou, atraindo a atenção de todos. “O quê? Gabe é um apelido fofo.”

“Ela já apelidou o menino, meu Deus.” Suspirou João, recebendo uma cotovelada de Karina, enquanto Pedro ria baixinho.

“Eu posso levá-lo para o abrigo até que o resultado do exame saia.” O outro assistente saiu de seu estado vegetativo para se aproximar do bebê, mas Gael negou.

“Ninguém tira esse menino daqui a não ser que seja provado que ele não é meu neto. Até que esse reconhecimento saia, o Gabriel é filho do Ricardo e ficará aqui, conosco.”

“É bem melhor para ele que seja assim. Mas eu preciso ter certeza de que ele estará sendo bem cuidado.” Pediu Miriam, sorrindo.

“Pode ficar tranquila, Miriam... Eu, a Dandara e a Karina vamos ajudar o Ricardo com o meu sobrinho.” Prometeu Bianca.

“Bom, nesse caso eu vou pedir que vocês arranjem um advogado e compareçam nesse endereço, amanhã, às 9h. Aí então começaremos os procedimentos do reconhecimento paterno, incluindo o exame de DNA.”

“Então não haverá queixa, correto?” Perguntou o policial Eduardo.

“Não, guarda... Foi apenas um mal entendido.” Garantiu Miriam, observando toda a família. “Acho que podemos ir e deixar que eles se organizem para passar a noite.”

“Seria bom.” Agradeceu Dandara. “Eu os acompanho até a porta.”

Ela saiu com os policias e assistentes sociais, rumando com eles para as escadas da casa e a porta da rua. Na sala, ficou o silêncio incômodo, quebrado por barulhinhos ocasionais de Gabriel.

“Pronto, já foram.” Dandara voltou, suspirando. “Agora precisamos decidir o que fazer.”

“Eu e a Karina vamos voltar para fechar a academia, enquanto eu tento me acalmar e não dar uma coça nesse moleque irresponsável.” Gael rugiu, nervoso. “E você precisa fechar a Ribalta, Edgard não está aí hoje.”

“Eu e o João te ajudamos, tia.” Avisou Pedro, e o amigo concordou.

“Se quiserem, eu e o Duca podemos correr na farmácia. Acho que a Ruiva não deixou nada do Gabriel com ele.” Bianca ofereceu, recebendo um aceno da madrasta.

“É uma excelente ideia, querida. Ele precisa de fraldas, mamadeira, chupeta, leite em pó... Talvez uma troca de roupa ou duas, nesse primeiro momento está bom. Amanhã pensamos nisso com calma.” A jovem assentiu, saindo depressa com o namorado. A cantora suspirou, voltando à atenção para a família. “E quem fica aqui com o Ricardo e o bebê?”

“Pode deixar, tia; eu fico aqui até vocês voltarem.” Avisou Jade, que acariciava a barriga do bebê sonolento.

“Você não tem compromissos, querida?”

“Não, hoje não tenho nada.” Suspirou a dançarina, voltando sua total atenção para o bebê.

“Então vamos logo.” Mandou Gael, saindo soltando fogo pelas ventas. Dandara suspirou, saindo atrás do marido, seguida dos filhos caçulas e de Pedro.

E depois disso, o silêncio se instaurou por vários minutos.

“Ele parece com você.” Comentou Jade, observando o bebê. “Os olhos, principalmente.”

“Claro que não, cala a boca.” Ele rosnou. “Esse exame vai dar negativo, eu tenho certeza.”

“Cobra, aceita que dói menos. Você e a Ruivinha transaram até dizer chega, todo mundo sabe disso. E se vocês se prevenissem, você saberia com certeza que ele não é seu. Ela pode ter dormido com mais alguém, mas a chance de o bebê ser seu é dez vezes maior.”

“Jade, eu não posso ser pai, você não está entendendo.” Ele virou para ela, os olhos transparecendo pânico. “Eu mal sei cuidar de mim, quanto mais de uma criança.”

“Vai ter que aprender, Ricardo.” Ela deu de ombros. “Porque o Gabriel é seu filho, você gostando disso ou não. E ele é sua responsabilidade. A mãe dele já o abandonou, ele não merece que o pai faça isso também.”

Ele bagunçou os cabelos já desgrenhados, caminhando e sentado do outro lado do cesto. Encarou a criança ali deitada, que piscava os olhos sonolentos.

“Eu não sei se consigo fazer isso, Jade.”

“Vai conseguir. Seus pais vão estar do seu lado, mesmo o tio Gael sendo meio turrão; suas irmãs vão te ajudar e eu sei que o João vai te apoiar. Você tem uma família incrível, Cobra, e ele vão te ajudar a passar por isso, tenho certeza.” Ela segurou o braço dele, sorrindo.

“E você? Vai estar ao meu lado?”

“Acho que eu sou sua melhor amiga apesar de tudo, não é?” Ele sorriu para ela, que sorriu de lado. “O Gabe vai precisar de alguém para proteger ele do pai desastrado.”

“Gostei desse apelido... Gabe.” Ele encarou o bebê. “Só não sei ainda se gosto da pessoa para quem ele é endereçado.”

“Vai aprender a gostar.” Ela prometeu, observando que o bebê se remexia inquieto. “Acho que ele não está gostando de ficar aí.”

“E o que eu faço?”

“Chá com bolinhos.” A dançarina debochou, enquanto se levantava e puxava o bebê do cesto, o trazendo para junto do peito e apoiando sua cabecinha no ombro. “Calminha, Gabe; já te tirei do cesto desconfortável.”

Continuou a niná-lo suavemente, conversando com a voz doce. Os olhinhos da criança não deixavam seu rosto por um momento sequer, hipnotizado com aquela voz angelical.

E pela primeira vez, Cobra sorriu ao admirar aquele quadro, que um dia ele chamaria de “pintura divina”.


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Notas finais do capítulo

Heeeey
Acho que vocês não curtiram muito o capítulo anterior, teve Cobra e Ruiva demais.
Então nesse tem bastante Cobra e Jade, ok?
E agora a história realmente começa.
See you peanuts ;*



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