Aprendendo a Amar escrita por ColorwoodGirl


Capítulo 22
Capítulo 21




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Não foi preciso esperar outro dia. Carmen Santos estava no fórum, aguardando que a reunião acabasse. Torcia intimamente para que não precisasse intervir, que as partes se acordassem.

Sua história era triste, dolorosa até. Hoje tinha uma relação razoável com a filha, e com os netos, mas nunca ocupara plenamente seu lugar de mãe. Não havia estado no altar em seu casamento, ou sido uma das primeiras a saber de sua gestação. Não foi para ela que a filha ligou quando a hora de dar à luz chegou, nem quem cuidava das crianças para que os pais saíssem.

Até hoje não havia sido chamada de mãe pela pessoa que tanto amava, e os netos ainda a chamavam de tia Carmen. Hoje tinha outros dois filhos, já chegando à idade adulta, mas ainda sentia um buraco em seu peito.

Por isso se esforçava tanto, se empenhava em casos assim. Quando Bárbara e Rita entraram em sua sala, se viu ali, décadas antes. O sofrimento, a dor... Tantos problemas em uma garota tão jovem. Claro que jamais tiraria a criança de sua família, ainda mais considerando que a mãe faria tratamento psiquiátrico para sempre. Porém, queria ajudá-la, queria que ela pudesse fazer parte da vida do filho novamente.

Bipolaridade não é uma doença fácil, e lidar com pessoas assim é bastante complicado. Bárbara mudava de atitude muito rapidamente, e isso a preocupava. Em um instante, era a mãe sofredora e saudosa, querendo reaver seu bebê; no seguinte, era fria e calculista, até um pouco vingativa em relação ao ex-namorado e Jade.

Havia barrado suas propostas insanas, reorganizado de acordo com as leis e do que achava justo. Especialmente após chegar em suas mãos os documentos do juizado e o BO da polícia. O samba não era bem o que a jovem mãe pintava, e tinha muita coisa mal explicada.

“Nós propusemos a visita semanal e um final de semana por mês, além dos R$2.500. Ela negou veemente.” Fernando explicou sentado diante da mulher, o olhar sério. “Ela insiste na revogação da adoção, além do direito aos 15% dos lucros mensais do Ricardo e as outras exigências.”

“Ela não está em posição de fazer exigências.” Observou a juíza, franzindo o cenho.

“Ela alega ser a bipolaridade. Ela não consegue controlar.” Ele resmungou, massageando as têmporas. “Meritíssima, com sua permissão, esse caso é absurdo. Estamos falando de uma mulher que abandonou o filho na porta de uma casa, sem dar notícias para ninguém, e que volta anos depois querendo que o mundo se reajuste ao seu bel-prazer.”

“Eu tenho plena noção disso, sr. Neves. E sei que o senhor está preocupado e não concorda com meus métodos; nem crê que eu possa ser imparcial. Mas acredite, há muitos anos um caso não me tirava o sono como esse. Eu quero ajudar a Bárbara, e quero fazer o que for melhor para Gabriel e seus pais; porém, como o senhor percebeu, essa bipolaridade não facilita em nada o meu trabalho.”

“Então revogue isso por hora, meritíssima. Ela não está apta a cuidar de uma criança ainda, está instável... Por Deus, ela chamou os paparazzi ontem até o local onde foi se encontrar com eles sem prévio aviso, perseguiu o Ricardo e o Gabriel por meses. Uma pessoa assim não pode receber a guarda de uma criança.” Rogou o promotor, ansioso.

“Isso quem decide sou eu, Dr. Neves. Antes de mais nada eu gostaria de falar com o Gabriel. Ele está aí?”

“Está com os pais e os tios na cantina. Tivemos que afastá-los na Bárbara, ela estava se tornando inconveniente.” A mulher estava virada para a parede e se encolheu ao ouvir aquilo. “Quer que mande chamá-los?”

“Eu gostaria de conversar só com você e o menino, por favor.”

Do lado de fora, todos estavam na cantina. Os quatro adultos cercavam Gabe, que conversava animado sobre algo que havia visto na escola, enquanto Bárbara e Rita discutiam. Aquilo, aos olhos de Fernando, era bom. Se a mulher perdesse o apoio incondicional da assistente, fraquejaria.

“A juíza Carmen pediu que eu levasse o Gabe até ela. Ela quer conversar com ele.” Ele explicou, assim que todos se viraram para ele.

“Sozinho?”

“Eu estarei com ele, Ricardo, não se preocupe.”

“Eu vou entrar junto.” Bárbara veio marchando. “Meu filho não vai entrar sozinho.”

“Ela está muito petulante.” Rosnou Jade entredentes.

“A juíza pediu que ele entrasse comigo, srta. Borges, por favor, respeite. Vamos, Gabriel?”

“Posso ir, mamãe?” Ele virou para Jade, que assentiu.

“Esse é o Fernando, filho. Ele é legal, pode ir com ele sim.” Só naquele momento o promotor percebeu que a criança não o conhecia, e por isso estava acuado.

“Você vai conversar com a essa moça, a juíza Carmen. Pode falar tudo para ela, ok? Não precisa ter vergonha. Ela só quer ajudar, está bem?” Cobra perguntou, beijando o rosto do filho.

“É, Gabe... Ela vai ajudar a gente a ficar junto de novo.” Bárbara avisou em voz alta, enquanto o menino se encolhia contra a mãe.

“Não escuta ela. Vai lá, meu amor.” Jade beijou a cabeça dele, enquanto ele dava a mão para Fernando e saia andando.

“Vocês sabem que a justiça está do meu lado, não sabem?” Bárbara perguntou assim que os dois se afastaram, e Jade a encarou irritada.

“Não foi isso que pareceu ali dentro, Bárbara. Se a justiça estivesse realmente do seu lado, eles já teriam acatado suas condições.”

“E vocês acham que eu sou burra, João? Acham que eu passei anos estudando direito na clínica para quê? Eu sabia que iam recusar minha proposta, eu queria mesmo era chegar até a juíza... É ali que as coisas vão dar certo para mim.” Ela profetizou, sorrindo friamente, antes de virar-se e sentar novamente ao lado de Rita.

Já no andar de cima, Fernando e Gabe acabavam de entrar na sala da juíza. Ela estava trajada em roupas comuns, para não intimidar a criança, e sentada em seu sofá de couro. O menino entrou um pouco acanhado e tímido, ainda não conhecendo bem o companheiro e a mulher que o chamava.

“Gabriel, essa é a juíza Carmen.” Fernando apresentou a mulher, que sorriu bondosa.

“Olá, Gabriel, como vai?”

“Bem, dona juíza.” Ele respondeu ainda tímido.

“Pode me chamar só de Carmen, pode ser?” Ele assentiu, enquanto assumia uma poltrona. Fernando sentou na outra, os três ficando em silêncio. “Você sabe o que está fazendo aqui?”

“Mais ou menos. A mamãe e o papai me explicaram ontem, mas ainda é um pouco confuso.”

“O que é confuso, querido?”

“Ter duas mães. Sabe, minha tia Bianca também tem duas mães.”

“Ah é. E ela se dá bem com as duas?”

“A primeira mamãe dela morreu, logo depois que ela nasceu. Aí meu vô conheceu a minha avó, e ela resolveu virar mãe da tia Bianca. Elas se gostam muito.” Ele contou perdendo um pouco a timidez, e os adultos sorriram.

“E a tia Bianca é irmã da sua mãe?”

“Não, a mamãe não tem irmãos. O papai tem três: a tia Bianca, a tia Karina e o tio João. A tia Karina e o tio João são gêmeos, que nem os meus irmãos.” Ele narrou animado. “A mamãe só tem o vovô Ed... E ele também não é o papai de verdade dela.”

“Então tem muitos casos de adoção na sua família?” Perguntou Fernando, e ele franziu o cenho.

“O que é adoção?”

“É o nome técnico que se dá a isso, quando uma pessoa resolve se tornar mãe ou pai de alguém que não nasceu dele. Como foi com a sua tia, com a sua mãe e com você.” Explicou a juíza.

“Ah, é essa a tal lei que vocês criam?”

“É, Gabriel, é mais ou menos isso.” Ela sorriu para ele. “Mas me conte mais sobre a sua mãe e o seu avô. O que aconteceu com a sua avó?”

“A vovó Lucrécia morreu muito antes de eu nascer. Ela teve uma doença chamada câncer, você conhece?”

“Conheço sim, Gabriel. E sinto muito por isso.”

“É, eu queria ter conhecido ela. Todo mundo diz que ela era muito legal, e uma ótima professora de dança. Sabia que minha mãe era bailarina?”

“Ouvi falar nisso. Ela não dança mais?”

“Ah, ela dançava quando eu era pequeninho. Aí ela parou para ficar cuidando de mim quando a gente foi morar lá longe, em Miami. Depois ela começou a dar aula em uma escola aqui no Rio, para crianças sem dinheiro. Mas agora que a Lara e o Theo nasceram, ela deixa o tempo dela todinho para nós três.” Ele contou sorridente, já totalmente desinibido.

“E você gosta dos seus irmãozinhos?”

“Gosto sim. O Theo parece um montão comigo, sabia? Meus pais não tinham foto minhas de quanto eu nasci, mas eles têm minhas do tamanho que o Theo tá agora. A gente é igualzinho! E a Lara também parece um pouquinho comigo, mas acho ela mais parecida com a mamãe.”

“E você e o Theo se parecem com o seu pai?”

“Um pouquinho. Eu acho que a gente tem o olho igualzinho o da mamãe. E nós dois gostamos de ficar na praia, o papai e a Lara não. Ela fica irritada de ficar na areia, assim como o papai.”

“E o que você achou dessa nova mamãe? O que seus pais te falaram sobre isso?” Ela perguntou, vendo-o endurecer um pouco a expressão.

“Eles me disseram que ela e o papai foram namorados, e que ela ficou muito doente quando eu nasci. Aí, os médicos cuidaram dela e ela melhorou, mas isso demorou muito tempo, e eles nem sabiam quanto tempo ia demorar. Aí, que nem aconteceu com a tia Bianca, a mamãe e o papai se apaixonaram e começaram a namorar, e a mamãe quis cuidar de mim. E eu amo a mamãe, Carmen, amo mesmo.” Ele parecia um pouco nervoso, e Fernando colocou a mão em seu ombro.

“Ninguém duvida disso, carinha. Dá pra ver o quanto você ama seus pais, e vice-versa.” Garantiu o homem, sorrindo tranquilizador.

“Eles também disseram que ninguém vai me obrigar a nada que eu não queira. É verdade?” Perguntou o pequeno, olhando para a juíza.

“É claro que não, Gabriel. Mas é preciso que você entenda que você tem sim outra mãe, que é a Bárbara. E que ela também gosta muito de você, e quer fazer parte da sua vida.”

“Eu sei, Carmen, mas eu não quero outra mãe. Só a minha tá bom, sabe? Ela pode ser minha amiga, se ela quiser, a gente pode passear... Mas eu não quero sair da minha casa, ficar longe dos meus pais, dos meus irmãos. Eu sinto vontade de chorar quando penso nisso.”

“Ninguém vai te forçar a isso, Gabriel, pode ficar tranquilo. Muitas crianças na sua situação ficam assustadas, não se preocupe. Não vamos te tirar dos seus pais, ou dos seus irmãos, eu te prometo. O que vamos fazer é deixar que você conviva com a Bárbara, no seu ritmo, e vá desenvolvendo essa relação da forma que achar melhor.”

“E como seria isso?”

“Bom, você gosta de tomar sorvete?” Ele concordou. “Então você pode ir tomar sorvete com ele um dia desses, conversar um pouco.”

“Meus pais podem ir junto?”

“Se você se sentir mais confortável, podem.” Garantiu Fernando, e a juíza concordou.

“Tudo será feito ao seu tempo e ritmo, não forçaremos nada. Você acha que pode fazer isso?” Ele concordou, ainda um pouco confuso. “Ótimo.”

O primeiro passo estava dado, havia chegado em um consenso com a criança, além de colher detalhes preciosos. Uma família com tantos casos de adoção era raro, e muito bonito. Estava descabelada de ver casos de casamentos que acabavam porque um dos conjugues não havia se dado com o rebento do parceiro.

Ali, a ordem parecia outra, em que as uniões se fortaleciam pela adoção. Pareciam ser muito unidos e felizes, além de próximos. Talvez isso fosse bom, facilitasse a aceitação de novos membros, ainda mais depois de todo aquele tempo.

Mas, é claro, ela ainda não havia encontrado os adultos cara a cara. E era isso que lhe preocupava.


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Notas finais do capítulo

Heeeeeeeeeello, como vão vocês?
Eu vou bem, obrigada. E aí, gostaram do capítulo? Tão curtindo as tretas? Tá cheio de treta, to ligada HAHAHAHAH Gabe é um lindo, quero casar com ele. E não odeiem a juíza Carmen, ela vive em um dilema eterno. Ela não é malvada, prometo.
Espero que estejam gostando.
Nos vemos logo
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