Deuses: Anabella Pizzato escrita por Hari Zang Elf


Capítulo 3
Capítulo 3 - Prólogo: Verdades e revelações sempre doem


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos, no terceiro capítulo! Esse é o último capítulo do prólogo, aproveitem!



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— Pizzato? — A voz de Ana soava aguda até para os seus próprios ouvidos. Aquele cara era seu parente? Era a única coisa que se passava em sua mente enquanto via seu irmão pular em cima dele novamente.

— O que eu gosto em você, meu jovem principe, é que tem garra. — Nicola amparava cada soco e chute que o outro desferia com facilidade. Cansado daquilo ele o empurrou para a parede, fazendo o mais novo se chocar de forma a rachá-la. — O que eu detesto é como você é fraco!

— Gian! — Ana tenta alcançá-lo, caindo da cama. As pernas continuavam a não respondê-la. Mas sabia de alguém que poderia. — Maldito! Se isso é verdade vá lutar contra alguém do seu nível, seu covarde! Não fique surrando o coitadinho do meu irmão!

— Coitadinho... Ha... Ha... — Gian sentia vontade de chorar e de rir ao mesmo tempo ao ouvi-la, mas não podia estranhar ao se deixar ficar em uma situação como aquela. Se deixasse aquilo continuar ela ia zoar dele até não poder mais.

— Não posso fazer nada, principessa! Se ele continuar no meu caminho só vai apanhar!

— Quem vai apanhar é você! — Nicola segura seu soco, sentindo algo diferente na mão dele. Logo em seguida um raio a atravessa, passando também pelo seu braço e abrindo um buraco na parede.

— Anel de fogo... — Nicola diz com uma risada, o corte não parando de sangrar. Ele então lambe o ferimento com gosto, arrancando um pedaço de vidro dali. — Interessante.

Do ferimento começam a surgir vários pedaços de vidro, amontoando-se rapidamente enquanto Gian tenta atingi-lo mais uma vez, sem sucesso, os golpes cada vez mais lentos. O garoto então se afasta, vendo a enorme espada de vidro vermelho que se formou de seu ferimento em desespero.

— A diversão terminou! — Ele levanta a espada para atingi-lo, Ana fechando os olhos a beira das lágrimas, quando ouve o gatilho de um revolver.

— Três coisas: Por que você está aqui? O que pensa que está fazendo e assine logo a porcaria do documento de divórcio! — A voz da médica soava grave, mas calma. Ana arriscou abrir os olhos, vendo a doutora carregando uma pequena pistola e apontando-a diretamente para a cabeça de Nicola, que estava com o braço ainda levantado e a olhava de soslaio, com o sorriso assumindo uma forma estranha.

Depois de um longo período de silêncio ele suspirou, se dando por vencido.

— Angelina, mio fiore! — Nicola começou, fazendo-a apertar o gatilho com mais força. Sua sobrancelha tremeu e ele suspirou novamente. — Por ordens do nonno devo levar a figlia de Elea para a casa sede. O principe não queria deixar que eu levasse a principessa então estava brincando com ele... Acho que me empolguei.

— Sei. — Ela disse depois da rápida "correção" dele, empurrando a arma na cabeça dele. — Continue.

— E não vou assinar porcaria nenhuma de documento mi amore. — Ele disse em um único fôlego, fazendo Angelina atirar, mas ele se desvia por pouco, saltando pela janela e desaparecendo.

— Droga! — Angelina corre até a janela, socando o batente ao não encontrar nada. Anabella olhava para ela como um cãozinho perdido, implorando em silêncio por explicações. Ela suspira e aponta para o irmão dela. — Vamos tratar deles primeiro.

*

— Hum... — Exclama Ana olhando fixa e diretamente para a médica, depois dela tratar do irmão e dos amigos, se inclinando o máximo que podia da cadeira de rodas. Logo depois daquele homem, Nicola, partir, a estranha névoa desapareceu e tudo que havia sido destruído voltou como era antes, deixando apenas os feridos. A doutora havia inventado a desculpa de que os garotos haviam brigado dentro do quarto. Mas ela sabia que não era verdade. E queria saber o que mais escondiam dela.

— Se você continuar a me secar desse jeito vai ter gente pensando coisas estranhas, sabia? Contar o que você quer saber é responsabilidade do seu pai! — ‘Mas desse jeito quem vai contar sou eu!’ A doutora cada vez mais estressada acende o cigarro, liberando a fumaça no rosto dela de propósito, mas ela não se move, deixando-a ainda mais constrangida. — Onde está aquele homem? Eles são todos iguais! Quando mais se precisa deles eles somem!

— Anabella, sempre bela! — Gian recita com ironia enquanto observa a cena, pensando em como ela não havia mudado nada. Os pais sempre diziam aquela expressão quando a viam com aquela cara, teimando em algo. Mas ela também fazia isso quando não sabia se queria saber ou fazer aquilo. Quando se sentia insegura. Ele sorriu. Chegava a ser fofo. — Ai!

— Tira esse sorriso idiota! Seu moleque com complexo de sorella! — Ícaro exclama depois de lhe dar um tapa na orelha. Mesmo depois daquilo eles haviam saído sem nenhum osso quebrado. A única coisa que quebrou era o orgulho dele. O que o deixava extremamente irritado.

— Está vindo. — Exclama Zanchi de sua cama, ao lado da porta, enquanto aponta para o corredor que observava.

— Finalmente! — A doutora se levanta da cadeira, quase correndo em direção a porta, voltando logo em seguida e desabando na cadeira. — O que eu fiz para merecer isso? O que eu fiz?

— Vocês estão bem? Aconteceu alguma coisa?

— Sim...? — A capacidade de fala de Ana lhe é arrancada ao responder o pai e tentando processar o que via na frente dela. Ele estava usando uma roupa de papel alumínio por cima do avental sujo, além de um balde na cabeça. ‘Talvez seja uma boa idéia levá-lo ao psiquiatra... ’

Papa! Quantas vezes eu tenho que lhe dizer! Não acredite naquele charlatão! — Gian gritava e parecia quase chorar de desespero enquanto balançava as mãos freneticamente. — Não tem como você entrar lá!

— Eu achei que desta vez ia funcionar... — O pai se desculpava enquanto arrancava um pedaço da roupa de alumínio que se soltava.

— Entrar... Onde? — Ana interrompeu a conversa, fazendo todos se lembrarem porque estavam lá.

— Dentro da barreira... — O irmão explica com um suspiro, se deitando na cama de novo. — As pessoas o chamam por vários nomes... A névoa. O outro mundo. Realidade alternativa. É uma defesa do mundo para não ser destruído durante uma luta entre deuses.

— Não entendi muito bem...

— Tão bela e tão tola... — Ela fica irritada com o comentário de Ícaro. Estavam jogando as informações no meio, como queriam que ela entendesse? Ele lhe lançou um olhar irritado, como se pudesse ler a sua mente, fazendo-a se encolher. — Sabe quando estávamos lutando antes? Naquela névoa esquisita? Aquela é a barreira!

— Quando o papai sumiu... — O pensamento de Ana se clareou, começando a se lembrar do sonho. Talvez aquilo também tivesse relação. Mas podia deixar para depois. — E por que ele não entra?

— Porque só deuses podem entrar lá. — Zanchi responde com a voz calma, esperando a resposta dela.

— Será que eu entrei em coma durante a operação, depois da queda? — Ela pergunta depois de um longo silêncio, deixando todos chocados.

— É claro que não! — Todos respondem em uníssono.

— Embora eu entenda porque pense assim... — A doutora diz, preocupada. — Preste atenção.

A médica se levanta, pegando seu braço e um bisturi. Ela se encolhe, enquanto Angelina faz um talho no pulso dela. A dor era intensa e ela não conseguia parar de gritar. Mas depois de alguns minutos o corte sumiu, deixando apenas o sangue que vazou para trás.

— Parece um sonho?

— C...Com certeza. Não. — Ana limpa o lugar do ferimento, para ter certeza. Realmente. Não havia nada lá.

— Não podia ter escolhido um método mais gentil, não? — O pai reclama depois de se recuperar do choque, querendo agarrar o pescoço da doutora.

— Rapidez e eficiência é meu lema.

— Quando vocês falam deuses... Estão falando daqueles iguais da mitologia? — Ela ignorou a discussão dos dois adultos, se virando para o irmão e os amigos deles.

— É mais complicado... Eu também não sei bem como funciona... — O irmão responde, fazendo-a olhar diretamente para os amigos dele.

— Sou igual a ele. Não vem que não tem. — Ícaro responde se virando para o outro lado e resmungando algo ininteligível.

— Nos auto proclamamos deuses, mas... Pode-se dizer que somos mais como guardiões. — Zanchi fala para ela, nervoso com a forma como é observado. Anabella então abre um grande sorriso, encorajando ele a continuar. — A maioria dos mundos ainda é medieval. Por causa disso eles acabavam nos vendo como algo desse tipo.

— Mundos? Tem outros mundos? — Ana grita de alegria, tentando subir na cama do irmão para pular e alcançá-lo, para ouvir melhor, até notar que não saia do lugar. Já estava esquecendo que estava presa numa cadeira de rodas... Ela olha para os rapazes, suspirando. — Podemos visitá-los?

— Sim... Mas temos problemas maiores para discutir. — Marco vai até a filha antes que ela tenha mais idéias malucas. — Têm outras coisas que eu não contei a você. A nenhum de vocês dois.

— Não contou? — Gian se senta na cama, olhando fixamente para o pai.

— Vocês não devem se lembrar do acidente, não é?

— Lembro que passei um tempão no hospital... — Gian hesita, pois aquela era uma hora estranha para falar do assunto.

— Não me lembro de nada... — Ana começa, lembrando repentinamente do sonho e voltando a ficar enjoada. — Embora eu tenha tido um sonho estranho com isso antes de acordar...

— Sonho? Que tipo de sonho? — Angelina se aproxima dela, visivelmente preocupada.

— Sonhei que estava na entrada do hospital e vi a mamãe muito mal... Vi um médico se aproximar dela para dizer que nós ficaríamos bem... E ela tentou atacá-lo... O médico foi conversar com uma médica muito baixinha que disse que não tinha problemas ele ter sido reconhecido e que eles tinham muito trabalho, quando... — Ana não aguentou mais, vomitando no chão ao lado dela. Respirou fundo e continuou. — Quando eles entraram em uma sala de cirurgia com dois corpos de crianças despedaçados!

— Que sonho, hein?! — Ícaro se levantou ao ouvi-la contar a última parte, voltando a ficar interessado no assunto.

— Realmente... Mas impossível ele ser de verdade... Não é? — Gian se vira para o pai, que estava pálido e soava frio, torcendo um pedaço da roupa de alumínio na mão. Ele repetiu a pergunta com a voz trêmula dessa vez, sem receber uma resposta.

— Papai? — Ana empurrou a cadeira para o lado dele, segurando a sua mão, com os olhos úmidos. Ele deu um sorriso amarelo para ela, apertando a sua mão com mais força.

— É de verdade... Eram vocês! Eu sinto muito! — Ele desaba na cadeira onde a doutora estava antes, sem conseguir olhar para a cara deles.

— Como...

— Por causa de um experimento. — Angelina responde, pegando um copo de água para ela própria. Apenas desejava que fosse rum ou uísque, mas estava a trabalho. Afastou os pensamentos, girando o copo enquanto eles esperavam. — Aqueles dois eram cientistas.

— Vocês deixaram que eles fossem usados de cobaia? — Ícaro olha para o pai deles, visivelmente transtornado, assustando os dois irmãos ainda em choque. — Como você pôde deixar isso acontecer! Você é igual a ele! Maldito!

— Ícaro! — Gian tenta se levantar e ir atrás dele, mas não consegue, mal se levantando. Zanchi também faz a mesma coisa, caindo no chão.

‘Por quê? Eles estavam tão ruins assim?’ A mente de Ana mal processava o que estava acontecendo. De alguma forma a notícia anterior havia soado mais aceitável do que ele estava contando agora.

Ícaro ao contrário sai da cama com algum esforço, fazendo surgir uma pistola na mão dele e mirando no pai deles, as mãos tremendo.

— Não faça isso! — Gian cai e agarra a perna dele com esforço, jogando-o no chão. — Se for para ele ser castigado, não acha que nós é que devíamos decidir isso?

— Como se você fosse fazer isso! — Ícaro o chuta, empurrando ele para a parede e se levantando de novo, mas a esta altura o pai deles já tinha fugido. — Vigliacco!

— Você é tão precipitado... Não devia chamá-lo de covarde. Ele precisa ficar vivo, pelas razões dele. E devia ouvir o lado dele antes de tentar matá-lo... — Angelina fala sem emoção, terminando o copo de água e batendo-o com força na pia atrás dela. — Mas já que ele se foi, vão ouvir a estória através de mim. Estou cansada de enrolação. E eu não sou do tipo que enfeita.

Ela ajudou os garotos a voltarem para as camas, e depois de Ícaro parecer ter se acalmado ela começou.

— Aconteceu há dez anos. Vocês tinham sofrido um acidente e a central dos deuses foi informada, para atender a mãe de vocês. Graças ao aceleramento Elea não sofreu ferimentos mortais, embora não tenha ficado muito bem... Mas comparados com ela, deviam ter morrido ali mesmo.

— Aceleramento? — Ana pergunta para ela, confusa.

— O nosso corpo produz uma quantidade enorme de energia, que é acumulada pelas nossas células e pelo éter. Essa energia é liberada para "acelerar" certos fatores humanos. Velocidade de regeneração, raciocínio, aprendizagem, força, resistência, velocidade física... Isso permite que objetos comuns causem danos mínimos ou nulos. Além de permitir o uso das habilidades que nos caracterizam.

— Éter? Habilidades? — Ela pergunta de novo, começando a ficar fascinada com o assunto.

— Se eu for te explicar tudo, não termino essa estória. Fique com a explicação básica, sim? — Angelina suspira, pedindo mentalmente por paciência. — O esquadrão médico atendeu vocês, então, apesar do estado, conseguiram mantê-los vivos... Mas isso era temporário, já que ainda eram humanos, não dava para simplesmente fazer uma cirurgia mágica. Então os Pizzato, que são a família da mãe de vocês e não do seu pai, autorizaram que fosse feito um tratamento experimental em vocês. Seus pais também autorizaram, já que era a única chance de salvá-los... O tratamento funcionou, mas teve algumas consequências...

— Que consequências? — Gian perguntou, preocupado.

— Pizzato é a família da mãe de vocês, é? — Ícaro interrompeu, compreendendo a situação. Eles haviam feito um acordo com o pior tipo, pensava.

— A mamãe não parecia tão bem assim! — Ana gritou, um medo irracional começando a tomar conta dela.

— Eles vão morrer, não é? — Zanchi pergunta, fazendo todos se calarem.

‘Essa criança é mais esperta do que parece, não é?’ Angelina sorriu de leve ao perceber isso, acendendo mais um cigarro.

— Isso mesmo. Depois de dois anos vocês começaram a apresentar sintomas estranhos, então Elea e eu fomos atrás da pesquisa original. Mas não encontramos nada. Então para prolongar o tempo de vida de vocês ela usou uma técnica perigosa. O que, depois daquele acidente, ela com certeza não teria forças para se manter.

— Mamãe... — Ana gemeu, lembrando dos últimos dias dela. Eles haviam ficado doentes. Ninguém sabia o que eles tinham. Mas a mãe sempre os animava, dizendo que eles ficariam bem. Haviam ficado doentes por um ano e no final, tinham se recuperado misteriosamente... Mas foi a mãe deles que acabou adoecendo em seguida. Ninguém havia contado a ela o que a mãe tinha. E não se passaram dois meses e ela acabara falecendo. Anabella enxugou uma lágrima que teimava em cair, respirando fundo e se dirigindo a doutora com uma expressão séria. — E nós ainda não estamos bem, não é?

— Não. É por isso que vamos nos mudar. — Marco responde no lugar da doutora, entrando na sala. — Vamos para a cidade dos deuses.


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Notas finais do capítulo

Principe - princípe
Principessa - princesa
Mio fiore - Minha flor
Nonno - Vovô
Figlia - Filha
Mi amore - Meu amor
Sorella - Irmã
Papa - Papai
Vigliacco - Covarde

Espero que estejam gostando!



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