Escolha- quando se Convive com Jacob B escrita por many more


Capítulo 7
Capítulo 7- O maior de todos os sentimentos.




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Capítulo 7

Yona

     Jacob retornou antes de chegarmos ao norte. E agora seguíamos para o sul na maior velocidade possível, como lobos, caçando só em extrema necessidade de fome, dormindo só quando a exaustão nos impedia de correr mais. Chegaríamos ao sul em menos tempo do que quando subimos ao norte, era um recorde.
     Eu não sabia quais eram as intenções de Jacob para retornar daquele jeito. Ele não dizia, nem deixava transparecer com seus pensamentos, eu sabia apenas de uma data. A propósito, Bella Swan irrompia com menos intensidade nos pensamentos dele. Algo me parecia ter mudado. Isso me animou um pouco, mas fiz de tudo para não deixar que ele percebesse. Eu estava aprendendo a controlar meus pensamentos, agora a maioria sobre ele. Tentava me entreter com outras coisas, refletia sobre a vegetação, ficava a procura de flores diferentes, ou às vezes puxava conversa com Jacob e me focava só na conversa. Não conseguia controlar todas às vezes, quando via, já estava suspirando. E ele sabia das coisas que eu pensava, é claro, e sentia as mesmas coisas que eu também, para meu maior constrangimento. Na maioria das vezes, Jacob aumentava a velocidade na tentativa de interromper meus pensamentos. Não eram pensamentos muito constrangedores, eu ficava pensando em seu sorriso de sol, ou em seus trejeitos como passar a mão no cabelo da nuca para a testa, ou como apertava os olhos quando eu falava algo que não tinha nada a ver, ou quando dizia alguma coisa com sarcasmo.Tudo isso era muito bonitinho...
     Vamos nos transformar.- Jacob pensou com um som um tanto quanto alto. - Precisamos descansar e você gosta tanto da forma humana não é mesmo? E não deve ter humanos por aqui.
     Ele aumentou a velocidade se transformando um pouco distante e vestindo a bermuda com agilidade. Essa era nova... Se transformar para não ouvir meus pensamentos. O meu maior medo era que ele começasse a me ignorar por isso, como alguns meninos fazem quando falamos dos nossos sentimentos por eles... Idiotas. Por enquanto Jacob não parecia ter nenhuma mudança comportamental em relação a mim, ele só não queria estar ouvindo meus pensamentos sobre ele. Eu até compreendo, deve ser muito desconfortável ouvir uma pessoa dizendo coisas sobre você com tanta admiração. São como aquelas tias da sua mãe que aparecem um dia na sua casa e quando te vêem, lhe atribuem milhões de qualidades: “Ah, olha como ela é linda, e esses cabelos? Tão brilhantes... Seus olhos são lindos, iguaiszinhos os de sua mãe, e esse sorriso? Você é muito educada, uma gracinha...”. É de revirar os olhos. Quando somos crianças sim, adoramos elogios, mas quando crescemos não gostamos muito de elogios vinte e quatro horas por dia, faz nos sentirmos enjoadas. É... Jacob estava sendo gentil.
     Me transformei e me aproximei dele, colocando-me do seu lado.
     - Está ouvindo esse barulho de água? – ele perguntou.
     Concentrei-me nos milhares de sons que conseguia ouvir. Não muito distante dali, a água corria devagar por um estreito espaço entre pedras. Afirmei com a cabeça em resposta.
     - Vem, é por aqui. - Jacob disse, virando-se pela sua esquerda e seguindo por entre a mata.
     Eu o segui. A floresta era um pouco mais densa desse lado. Tínhamos que ficar desviando das plantas, e pisando com cuidado nos galhos e pedrinhas pontiagudas, além da grande espessura de húmus no chão, chegando a cobrir parte dos pés.
     - Ai! Droga - gritei de repente.
     - Que foi?- Jacob perguntou se virando. Estava bem mais a frente que eu.
     Segurei meu pé esquerdo, apoiando-o na outra perna, formando um quatro. Um espinho preto havia penetrado em meu pé, parte dele ainda estava para fora de minha pele e em volta de onde ele se encontrava doía, muito.
     - Pisei em um espinho. – disse segurando-o com a ponta das unhas.
     Jacob voltou alguns passos em minha direção na tentativa de me ajudar.
     - Já tirei. – disse logo antes mesmo de ele me alcançar.
     - Não fique muito para trás Yona.
     Caminhei até ele com o pé esquerdo contraído, para evitar pisar novamente em qualquer outra coisa.
     - Dói muito. – eu disse.
     - Eu sei. Daqui a pouco para.
     Continuamos a andar, a dor diminuía gradativamente a cada passo.
     - E se estiver envenenado? – perguntei sobressaltada. Eu não sabia se venenos faziam o mesmo efeito em nós como fazem em humanos normais.
     - Aí você morre. – ele disse com certo sarcasmo.
     Sobressaltei.
     - É claro que não estava envenenado. - ele riu. – E você também não iria morrer.
     - E se fosse uma cobra daquelas bem peçonhentas?- indaguei.
     - Sei lá. Nunca testei para saber. Quer tentar? – ele apertou os olhos daquele jeito, rindo.
     Eu sorri.
     - Não. Seu besta. – dei uma leve empurrada em seu braço. Ele sorriu com o canto da boca. Outro trejeito para minha coleção.
     O barulho da água ainda parecia estar distante. Andávamos e ainda assim não chegava. Cheguei a me perguntar se ele sabia para onde estava nos levando. Todo aquele silêncio me incomodava. Eu gostava de ficar falando, assim eu não ficaria contando o tanto de caminho que ainda faltava.
     - As pessoas da reserva sabem da existência de nós?- perguntei.
     - Não. Ninguém sabe. Bom, quase ninguém... Alguns pais sabem, outros não.
     - Só os pais?
     Ele pensou por um instante.
     - Não. As pessoas mais próximas sabem. - ele hesitou. – Bella sabe. Emily também.
     - Quem é Emily?- perguntei, disfarçando certo histerismo.
     - É a noiva de Sam. Bem, ela sabe por que tem toda outra história por trás dessa. - ele desviou o olhar para a mata.
     - Qual é?
     Ele riu. Eu acho que eu estava forçando o assunto demais.
     -... Sam sofreu imprinting por ela. E quando isso acontece, não é necessário mais guardar segredos.
     Eu queria perguntar o que era imprinting, mas fiquei com medo de forçar o assunto de novo. Talvez eu não precisasse saber de tudo sobre os lobos.
     - Imprinting... – ele começou a falar. Devia ter percebido que eu queria saber. -... é toda uma porcaria de amor a primeira a vista de lobos. Então você se apaixona por uma pessoa e aí passa a viver em função dela e tudo mais, para sempre. Dizem que é raro acontecer. Eu espero que assim seja.
     Suspirei baixinho, com os olhos abaixados para a terra. “Então você se apaixona por uma pessoa e aí passa a viver em função dela e tudo mais, para sempre.”
     - Bella... é sua impressão? – perguntei. Meu coração parecia estar sendo comprimido pelos meus pulmões.
     - Não. Eu não sofri imprinting por ninguém ainda. E espero nunca sofrer. – ele sibilou a última frase.
     Senti um alívio.
     - Ah, até que enfim chegamos. - Jacob falou.
     O pequeno lago era todo cercado por rochas, onde entre duas delas escorria uma quantidade pequena de água, e do lado oposto, a água se infiltrava nas rochas. As pedras cresciam gradativamente à medida que seguiam até o centro. O único espaço não coberto por pedras era na margem do lago. Onde estávamos. As pedras não eram altas demais, quase como em uma cordilheira, eram de tamanho respeitável. Na parte oeste do lago, elas pareciam sustentar um largo pedaço de terra, formando um barranco, alguém poderia se divertir bastante pulando lá de cima no água, se quisesse.
     Me aproximei da margem e agachei, pegando um pouco de água com as mãos em forma de concha e levando até a boca. Jacob fez o mesmo e quando terminou subiu nas pequenas pedras próximas dali, e foi subindo até que ficasse bem no alto. Eu ainda bebia água, estava morrendo de cansaço e sede.
     - Ei Yona! – ele chamou. Olhei-o lá de cima. – Pare de se afogar em água e venha até aqui.
     - Para que?- perguntei, sem nenhuma disposição para subir aquelas pedras.
     - Venha. – ele pediu.
     Levantei-me e fui subir as pedras. Não foi difícil chegar até onde Jacob estava.
     - Que foi?- perguntei.
     - Olha que interessante. – ele apontou para a água.
     Suspirei impaciente e me aproximei da ponta das pedras. Olhei para baixo, na água. Era bem clara, dava pra ver o fundo, as pedrinhas, a areia compactada e pequenos peixes que corriam em grupo para se esconder. As rochas que cercavam o lago e toda a mata que escondia tudo aquilo
     - É bonito. – eu disse, sem interesse.
     - Você não sabe aproveitar as coisas boas da vida. Você nunca mais verá algo assim e talvez sejamos as únicas pessoas que puderam ver e você nem para me falar, “Nossa é realmente lindo, obrigada.”.
     - É lindo. – sorri pelas palavras dele. Ele havia mudado tanto desde que o encontrei caçando aquele alce. Tão menos amargo. Esse deveria ser o verdadeiro Jacob.
     - Não é?- ele se aproximou da ponta também.
     Eu afirmei com a cabeça.
     Jacob segurou meus braços e me balançou fingindo que ia me jogar e disse “Cuidado para não cair.” Eu assustei, e recuei alguns passos da ponta. Ele riu de mim.
     - Você cai muito fácil nas brincadeiras. – ele disse, ainda segurando meus braços.
     - Não caio nada. Agora foi porque eu achei que você realmente ia me jogar.- disse como desculpa.
     Ele negou com a cabeça.
     - Cai muito fácil. –repetiu rindo.
     Sorri. Jacob ficou me olhando fixamente nos olhos, só com um leve sorriso no rosto.
     - Que foi?- perguntei incomodada.
     - Nada. - ele soltou meus braços e colocou as mãos nos bolsos da bermuda.
     Olhei o barranco, estava bem próximo de onde estávamos. Bateu-me uma vontade de exploração. Subi algumas pedras até chegar lá. O espaço de terra e mato que ali tinha não era muito cheio de árvores, havia só algumas poucas. Dali de cima podia se ver as copas das árvores na mata, não muito abaixo, se eu me deitasse no chão e estendesse as mãos bem esticadas poderia tocá-las com a ponta dos dedos. Um pouco mais distante, a mata voltava a se elevar, escondendo o horizonte. Me aproximei da ponta, Jacob chegou e se aproximou também, encostando o corpo em uma árvore que crescia ali.
- Olhe. - Mostrei com a cabeça. – Essa vista é mais bonita do que a do seu lago.
     - Ainda prefiro meu lago. – respondeu cruzando os braços.
     - Será que passamos por ali?- perguntei.
     - Não sei Yona. Não tem como saber. - ele soltou uma risada debochada.
     Olhei-o rindo.
     - Seus olhos têm uma cor esquisita. - ele me disse.
     - Nossa que motivador.
     - Não é esquisito de feio. É esquisito de diferente. Que cor são?
     - Sei lá! Castanho meio verde... Não sei definir.
     - Puxou de quem?
     - Minha mãe.
     - Posso ver de perto?
     Jacob se aproximou. Abri bem os olhos para ele ver direito. Ele segurou meu rosto com as duas mãos e olhou fixamente meus olhos por alguns segundos, desviou o olhar para minha boca e me beijou. Meu coração quase arrombou meu peito.
     Jacob segurou meu corpo e se aproximou. Eu o envolvi com meus braços, beijando devagar, fechei os olhos para concentrar todos os sentidos na minha boca, pressionando os lábios contra os dele. Ele afastou os lábios de mim, me olhando.
     Olhava-o sem reação. Os cabelos caindo sobre o rosto. Jacob os colocou para trás das orelhas, puxando meu queixo e me beijando novamente. Depois se virou, descendo as pedras no barranco. Permaneci parada.
     - Vem Yona, vai anoitecer e temos que continuar a correr. - ele gritou lá de baixo, interrompendo meu estado de não lucidez.
Eu nem poderia descrever minha felicidade naquele momento, nem milhões de adjetivos poderiam ter expressado tudo aquilo. Agora eu estava completamente apaixonada por aquele garoto.







     
          

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