Capítulo 6

Yona

“ Você é uma mentirosa, porque não cumpre suas promessas?”

            Era o que Jacob me falou constantemente durante umas três semanas. Eu não estava cumprindo o prometido, e como eu não gostava de lembrar que estava sendo uma fracassada, eu o lembrava que ele também estava sendo um, pensando sempre em Bella Swan, a garota que sempre irrompia em seus pensamentos e sonhos. Quando ela aparecia, junto com Jacob eu também me sentia angustiada, desanimada e queria correr cada vez mais para bem longe. Eu odiava ter que vê-la em meus pensamentos, odiava ter que dividir a companhia de Jacob com ela. Eu não tinha nada contra ela, eu não a conhecia, mas ficava agoniada por ter que me sentir como ele, de ver como ele sofria quando pensava nela, e não entendia o por quê. Jacob não falava. E então começava a troca de palavras ofensivas entre nós dois.

            Caçar e comer era questão de se acostumar para não morrer de fome. Era um dilema para mim, mas eu fui me acostumando aos poucos, até que um dia eu respirei fundo e cacei sem ajuda alguma e comi. Fiquei orgulhosa de mim mesma, até Jacob, mas ele não disse nada.

            Isso foi no fim de um mês.

            Desde daquele dia da promessa, percorremos o Canadá do oeste a leste e partimos rumo ao norte, onde não havia índice humano. Por essa razão, assim que a temperatura começou a decair e permanecer nos 10º C , Jacob parou de impedir que eu me transformasse na forma humana, e até se transformava também. Ele só dizia para eu não me acostumar, e dizia isso com seu tom habitual de sarcasmo.

            Eram nessas horas humanas que nos entendíamos mais, e conversávamos sobre as histórias passadas.

            Eu ficava admirada com as histórias de Jacob, eram tão livres. A reserva Quileute e a praia que ele me descreveu pareciam ser aqueles sonhos que temos, de viver em um lugar onde não há preocupações, onde você vive todo dia intensamente. La Push tinha uma comunidade de mais ou menos 750 pessoas. Todo mundo devia se conhecer. Eu imaginava como devia ser morar lá, estudar em uma escola da reserva, conhecer as histórias dos ancestrais e tudo mais, longe de todo capitalismo de que eu estava acostumada. Eu não entendia o porquê do meu avô ter saído de um reserva como aquela, para viver em Northampton, com 28.978 habitantes. Era para eu ter nascido em La Push. E eu conheceria  Jacob e os outros, e não teria tantas dúvidas sobre o que eu sou.

            Eu acho que toda essa minha admiração nem era tanto pela história, era como ela era contada. Jacob se revitalizava, ficava alegre e não dizia palavras monossilábicas comigo, dizia frases completas, às vezes até parágrafos. E ele dava sorrisos esplendorosos e risadas contagiantes. E eu passei a querer aquele Jacob perto de mim, fazendo com que meu coração oscilasse nos batimentos.

            Tornamos tão íntimos que um dia ele contou sobre Bella Swan... Ele foi embora por causa dela.

            Bella Swan tinha o coração de Jacob, mas ele não tinha o dela. Ela amava outro cara, a qual Jacob mantinha certa inimizade. E agora Bella iria se casar com o rapaz, e Jacob não queria aceitar. Está parecendo Romeu e Julieta, só faltava os três morrerem juntos num cemitério escuro. E Jacob não era o Romeu, não. Era o Páris. Eu disse isso a ele. Ele riu e falou que não morreria primeiro. Mas não era para rir, eu queria abrir os olhos dele, na tentativa de ajudá-lo disse que ele estava sendo um boboca infatil, disse para ele aceitar que ela não o amava e que agindo assim ele estava prejudicando Bella, o noivo dela, os outros lobos, eu, ele. Todo mundo. Eu ainda falei que se ela o chamasse agora, ele voltaria correndo. Eu fiz mal. Jacob ficou chateado por dias, voltando a ser monossilábico.

            Cheguei à conclusão de que eu não devia mesmo ter tentado ajudá-lo e nem falado aquelas palavras, era a última coisa que eu devia ter dito. Eu me sentia horrível.

            - Jacob?- falei quase em súplica.

            Ele não respondeu, andava na frente, na forma humana, nem ao menos pareceu me escutar. Apressei o passo até alcançá-lo.

            - Jacob?- repeti. - Me desculpa?

            Ele passou a mão no cabelo da nuca para a testa.

            - Olha, eu não devia ter falado daquela maneira. Eu sei que é difícil pra você aceitar que ela... é...- eu estava complicando as coisas.- Bom, Bella é linda com todo aquele cabelo longo e chocolate... Eu tenho certeza que você é melhor que o outro cara... Então eu acho que você devia lutar para consegui-la. – eu sorri sem saber o que estava falando, as palavras só apareciam e saiam.

            Jacob me olhou de canto de olho, estreitando-os.

             Hesitei e engoli minhas palavras. Resolvi me calar. Jacob não me perdoaria,tudo  por causa da minha boca grande. Por que eu não pulava logo de um penhasco?

            - Você não seria uma boa advogada. Nem me convenceu. - ele disse.

            Eu sorri.

            - Você está fingindo! Idiota.- dei-lhe um tapa.

            - Eu não te desculpei ainda, por que está me batendo?- Ele sorriu com o canto da boca.

            - Desculpou sim.

            - Não.

            Eu podia sentir o tom de simpatia na voz de Jacob.

            - Desculpou siim. - repeti.

            - Você deve ser a Rainha das desculpas. Faz as coisas e depois vem... Se a cada desculpa que você me falasse, eu ganhasse cem dólares, cara, eu já estava rico. - Jacob sorriu.

            - Ahh...- eu o abracei com força.

            Jacob voltou a reluzir seu sorriso pelos cantos. E eu cada vez mais era atraída por aquele sol. As coisas começavam a seguir caminhos errados.