[AGNES]

Meu coração tem segredos, estes ele deve esconder até mesmo de mim. Ele deve esconder a verdade sobre meus sentimentos concernente ao Tobias, pois tudo isso é ilógico e eu não me preocupo em não ter uma resposta desta forma, eu prefiro respostas com bases emocionais, é isso que pretendo do Tobias, uma resposta baseadas nas minhas emoções. Agora, esperarei meu coração revelar a verdade.

— Agnes, já estamos chegando — diz Myra.

Será que eu realmente estou pronta? Estou pronta para encontrar o Tobias?

Eu realmente sei que há muitas chances do meu beta estar nesse acampamento, mas se ele não estiver aqui, ele está em Algarve e ele pode vir ao meu encontro quando ele quiser. Isso é o que nós queremos.

— Finalmente! — digo. — Ficar três horas sentada não é muito divertido.

— E nem deveria ser. — Olho para trás e vejo que a voz pertence a nova campista. Não havia prestado atenção nela até agora, mas consigo perceber que ela é bastante bonita. Tem pele cor de cappuccino e seu cabelo é tão liso quanto o meu, seus olhos são castanhos claros, mas consigo perceber, com a ajuda do sol, que o contorno da sua íris é verde-escura.

— Na verdade, para alguém que não saía de casa, você está bastante empolgada — diz Charlie.

— Vou encarar isso como um elogio — digo sorrindo.

Charlie fez menção de falar algo, mas desistiu assim que o carro parou.

Nós chegamos

[TOBIAS]

Meu reflexo no espelho parecia mais generoso. Eu nunca fui uma pessoa que se importava com a aparência, mas agora era diferente, pois a Agnes está vindo para cá.

— Ora, o que está acontecendo comigo? — sussurrei para mim mesmo.

Prendi minha unha do polegar entre os dentes e encarei meus olhos escuros no espelho.

Eu preciso me concentrar no que está acontecendo.

Eu vou voltar novamente para minha faculdade no Brasil nesta semana, eu irei para Lisboa hoje. Não terá tempo para namoro bestas . Não terá tempo para a Agnes.

Arrumei os botões metálicos da jaqueta marrom-escura que eu usava. Pensei em como será divertido viajar de avião para o Brasil, será divertido conhecer garotas legais no meu terceiro anos da faculdade.

— A Myra chegou! — Ouvi a voz do meu pai com dificuldade. Eu acho que ele já estava lá fora.

Peguei meu celular e liguei para a Agnes, devo à ela um dia para conversarmos, depois eu posso pensar na viagem, depois eu posso pensar que nunca poderemos deixar esse relacionamento fluir.

No primeiro toque Agnes atende.

— Tobias, eu acabo de chegar — diz.

— Sim, eu sei.

— Mas como? — pergunta Agnes.

— Meu pai acaba de me dizer.

— Ah — responde. — Agora tudo parece tão estranho.

— Não. Eu juro que para mim parecia estranho, mas percebo que será só... — Eu hesitei.

— Só o o quê? Só mais um encontro entre amigos? Isso que você quis dize?r — Apesar da frase dita, Agnes não aumentou o tom da sua voz. Ela não estava irritada.

— Não é isso que eu quero dizer, mas...

— Tobias, eu não o culpei por nada — diz e eu fico cada vez mais ansioso para conhecer a dona daqueles conceitos. Nem eu me manteria calmo se alguém importante para mim me comparasse à um amigo qualquer.

— Agnes, você tem que parar de ser assim — falo sorrindo.

— Assim como? — O sorriso em seu rosto é nítido no tom da sua voz.

— De ser alguém legal. Eu passei o dia tentando me convencer de que não era nada especial, mas...

— Não espere demais das pessoas, Tobias. Inclusive de mim.

— Eu não espero demais de você, eu já vejo demasia.

— Tobias, eu não quero te atrapalhar nas ilusões e nesses elogios insanos, mas eu praticamente estou onde você está então, poderia por favor vir aqui ou eu serei forçada a invadir onde é que você esteja.

Escuto passos que se aproximavam do meu quarto, cada vez mais perto. Será que era a Agnes?

Distancio o telefone do rosto e foco na porta. Myra entra.

— Se for para me deixar cuidando daqueles campistas sozinha, vou acabar dando uma surra em você.

Reviro os olhos e saio do quarto. Faço isso não para agradar Myra. Não faço isso para cuidar dos campistas, pois afinal só quero ver a Agnes e ela nem é uma campista para mim. Ela é minha autora.

— Eu já estou indo — falo e Myra faz menção de sair do quarto. — Myra!

Ela me olha sobre o ombro.

— O quê? — fala desinteressada.

— Eu estou bonito? — falo tocando a gola da jaqueta como se estivesse brincando.

— Está fofinho — diz Myra e finalmente sai, fechando a porta com força.

[AGNES]

A brisa bagunçava meus cabelos. Me irritei com a situação e os prendi em um coque malfeito. Charlie segurou minha mão e eu sorri para ele.

Eu gostava quando meu amigo me passava segurança. Ele sabe que eu nunca fui muito segura de mim mesma. Eu sempre me achei diferente e tinha medo da aceitação que os outros teriam de mim. Mas Charlie é o oposto, ele é alguém autoconfiante.

— Por que está tão tensa? — pergunta Charlie.

— Está tão evidente assim?

Ele assente.

Eu balancei nossas mãos entrelaçadas e sorri forçadamente.

— Eu te amo, Ags. — Charlie me olhava de um jeito diferente, como meus pais olham pra mim. Com orgulho.

— Você é como o irmão mais velho que nunca tive — falo sorridente.

— E você minha irmã caçula. — Os olhos verdes do meu amigo eram alegres e encantadores. Eu também tenho orgulho de tê-lo como amigo.

Eu não sei se sou bonita o suficiente. Eu não sei se sou boa o suficiente. Eu não sou segura o suficiente.

— Agnes, venha conhecer os outros campistas! — falou Myra enquanto acenava loucamente para mim e para Charlie.

Arrastei minha bagagem com dificuldade e fui até Myra.

— Vai lá, Dona Tensão — diz Charlie sorrindo e eu aceno para ele.

Focarei em mim agora. Focarei no que realmente me faz segura.

[TOBIAS]

Quando saio do meu quarto, encontro um grupo de garotas sentadas na grama. Conheço todas elas, com exceção de uma.

Me aproximo mais e vejo que ela não é a Agnes, pelo menos não é a mesma garota que eu vi nas fotos que minha autora usava como ícone, mas me aproximo mesmo assim.

— Olá, meninas — falo e as garotas me encaram e arrumam os cabelos. Posso ver que a garota que não conheço é bastante bonita. Acho que ela é uma das novas campistas, será que ela conhece a Agnes? Não custa nada perguntar.

— Você chegou hoje? — Aponto para a garota nova.

— Sim, eu sou a Júlia, prazer.

Antes que ela levasse a conversa para segundas intenções, eu agi com exatidão:

— Você veio com uma garota chamada Agnes?

— Ah, sim — responde. — Eu acho.

Aceno para as meninas e corro em direção aos chalés.

Eu tenho que encontrar a Agnes.