Inf3cted escrita por young


Capítulo 2
Capítulo 1: "Sam Whitelock" - POV LuAnn


Notas iniciais do capítulo

Peguei informações sobre a necropsia, perícia, médicos legistas e etc no site da revista Mundo Estranho!



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GOLD COAST, AUSTRÁLIA - CASA DA FAMÍLIA ROGERS. 16 DE DEZEMBRO DE 3726. 11:30 PM

É incrível como as pessoas têm coragem de viajar e deixar os filhos sem absolutamente nenhuma supervisão. Deve ser muita confiança ou uma extrema falta de bom senso.

Entretanto, devo dizer que essa falta de bom senso não é de todo mal. Dá para aproveitar bastante essas oportunidades. Como agora. Os gêmeos Rogers estão dando uma de suas festas tão conhecidas, raras e esperadas, de tão bem feitas que são. Há uma lista de convidados fixos, que só não aparecem em último caso. O restante dos convidados recebe os convites por mérito; há todo um processo de seleção, o qual eu não tenho nenhuma pista sobre, só os gêmeos conhecem os critérios.

A casa é enorme e quase todas as paredes do térreo são feitas de vidro. As paredes externas são brancas, a mobília é elegante e dá um ar de juventude e modernidade. A área externa tem um bom espaço, com piscina e churrasqueira. A piscina é incrível. Por sinal, meus pés estão dentro dela neste exato momento. A água está com um brilho verde, originado das luzes dentro da piscina.

Tiro os olhos dos meus pés e olho para Peter, que está dentro da casa, segurando dois copos de refrigerante. É curioso como ele se modificou com o passar dos anos. Quando éramos crianças, ele era incrivelmente tímido e meigo, mas radiante com todos aqueles com quem tinha intimidade; agora, ele é prestativo e caloroso com todos à sua volta. Antes, ere ela esquelético e pequeno; agora, ele está alto e com um corpo apropriadamente desenvolvido.

Peter, aliás, é um dos garotos mais bonitos que conheço. Cabelo loiro - normalmente arrumado em topete -, olhos de um bonito azul-céu, 1,92m de altura. Ele está sempre com um sorriso confiante no rosto. Parece ter muito menos que seus dezesseis anos.

Sou surpreendida por um beijo na bochecha. Viro para a direita e vejo Peter de cócoras, sorrindo para mim. Não tinha reparado que ele já havia se aproximado. Ele pisca um olho e senta-se, colocando os pés já há muito tempo descalços na piscina. Ele me dá um dos copos e apoia um braço atrás de si.

— Por que está aqui sozinha, Lu?

— É bom só olhar a multidão de vez em quando, Pet.

Peter sorri e olha para o céu escuro, os cabelos loiros refletindo o brilho verde da piscina.

— Ano que vem é nosso tão sonhado último ano na escola. E aí, liberdade. Acha que está preparada?

— Não sei. Veremos.

Peter olha para mim. Ele coloca o copo dele no chão e levanta-se, estendendo uma mão para mim. Olho intrigada para meu amigo, que somente coça a nuca e me dirige um sorriso tímido. Coloco meu copo ao lado do dele e seguro sua mão; ele me ajuda a levantar e me leva para a pista de dança. Vejo algumas pessoas olharem para nós, creio que Peter também percebeu. Porém, ele começa a dançar, sem se importar com os olhares. Solto uma risada e ele começa a rir também, sem parar de dançar, e começo a dançar com ele.

Em poucos instantes, os gêmeos - que, por sinal, são grandes amigos nossos desde que éramos crianças - chegam perto de nós e começam a dançar conosco. A música é eletrônica, muito antiga. O tema da festa é o Milênio II, caracterizado pelo caos e desespero provenientes de inúmeras guerras e falta de recursos naturais, tão diferente do milênio atual.

E, então, no meio da música, um grito. Um grito agudo vindo do jardim da frente da casa. Paro de dançar imediatamente e encaro Peter; os gêmeos já se apressaram para ver o que está acontecendo. Eu e Peter saímos da pista de dança e seguimos em direção ao jardim, a fim de saber o que está acontecendo.

De longe e por entre os ombros das pessoas, consigo ver que Melissa Martin e seu grupo de amigas mais próximas estão em estado de choque ao lado de um arbusto próximo à calçada, já nos limites da calçada. Há um grupo grande de pessoas tentando chegar perto do local, o que me impede de me aproximar mais. Antes de eu chegar na metade do caminho entre eu e o grupo de meninas, recebo uma ligação: Gwen Stone, minha chefe. Atendo, andando de cabeça baixa entre as pessoas, para que eu não pise nos pés de ninguém.

— LuAnn, você está na festa da casa dos Rogers? — ela pergunta e respondo positivamente. — Ótimo. A polícia já foi chamada. Suba na viatura assim que esta chegar.

Abro a boca para perguntar algo, mas ela finaliza a chamada antes que eu tenha a oportunidade. Levanto os olhos, já na beirada interna do círculo de pessoas, e me deparo com o motivo da aglomeração de pessoas, do grito e da ligação de Gwen.

Atrás do arbusto, está o cadáver de Sam Whitelock.

GOLD COAST, AUSTRÁLIA - LABORATÓRIO DE NECROPSIA, DELEGACIA DE SOUTHPORT. 17 DE DEZEMBRO DE 3726. 00:23 AM

Após a observação da cena do crime, o registro e a coleta de evidências, o trabalho sujo fica para nós, os legistas. Nós que temos que examinar os cadáveres e esse tipo de coisa.

Sou interessada em crimes desde que vi minha mãe adotiva ser morta, quando eu tinha cinco anos de idade. Entretanto, só me deixaram fazer um curso quando eu tinha dez anos, mas adquiri bastante conhecimento prévio. Passei o final da infância e mais da metade da minha adolescência frequentando a escola comum das oito da manhã até as três da tarde e indo para uma faculdade antecipada - própria para órfãos, que tem que se sustentar sozinhos quando saem dos orfanatos aos dezoito anos - durante a noite, além de passar quase todo o meu tempo livre estudando. Completei o curso de Medicina esse ano, no dia do meu aniversário. Na semana seguinte, comecei a cursar pós-graduação em Medicina Legal, com aulas durante a noite.

Faço estágio desde os doze anos, sempre aos sábados, o que conta como estudo, eu acho. Minha pós-graduação só vai acabar no dia do meu aniversário de dezoito anos, mas eu me formarei no colégio com dezessete. Tenho planos de fazer outra pós-graduação - em Perícia - quando a que estou fazendo terminar, então exercerei ambos os cargos: Perita Criminal e Médica Legista. Posso fazer o curso de Perícia por conta do meu diploma em Medicina. Como terei dezoito anos e estarei formada no colégio desde o ano anterior, poderei exercer meu trabalho de Médica Legista enquanto faço a pós-graduação em Perícia. E trabalhei em tempo integral com ambos os empregos.

Apesar de estudar tanto e ainda ter 16 anos, minhas notas sempre foram maravilhosas e sempre fui uma aluna exemplar tanto na escola quanto na faculdade/pós-graduação, além de ainda arranjar tempo para minha vida social e fazer alguns extras - como hoje - no trabalho, sempre que precisam de mim ou quando não há gente o suficiente.

— LuAnn! Começa a analisar esse cadáver aqui e me dê os resultados que o perito Roy conseguiu. — grita Gwen assim que abro as portas de vidro do laboratório.

Jogos os resultados para ela e deslizo na mesa de metal frio onde está o corpo, tomando cuidado para não encostar nele e danifica-lo. Ele era Sam Whitelock, estudava na minha classe de Literatura Avançada na escola. É alguns dias mais velho que eu e estava no time de lacrosse, era o capitão. O garoto também era um gênio, ganhou os mais variados prêmios para a escola. Negro, com um metro e oitenta de altura, dreads e tinha um futuro brilhante pela frente. Ótimo filho, irmão, aluno, colega e amigo, não consigo ver uma razão para alguém querer mata-lo. Sam era uma das melhores pessoas que já conheci.

Suspiro, contenho o choro e amarro o cabelo, colocando uma touca nele e luvas nas minhas mãos.

— Hey, Gwen! Cadê o Louis? Ele sabe que enquanto eu for menor de idade e ainda estiver fazendo a pós-graduação, eu tenho que ser só a auxiliar e ele, o mé...

— Aqui, Smith! — Louis Bane entra no laboratório com o perito Thomas Roy e o detetive Barry Snow. — Tivemos que resolver algo com os repórteres, desculpem-nos.

Louis bagunça meu cabelo e vai se preparar para fazer a necropsia. Aliás, nosso time é maravilhoso. Louis, Gwen e Thomas têm vinte e seis anos, Barry tem trinta e dois e eu, dezesseis. Médico legista, perita criminal federal (ela trabalha para o Instituto de Criminalística), perito criminal, detetive e médica legista auxiliar. Eles me ajudam muito e já me fizeram ganhar muitos créditos em atividades extra-curriculares na escola, no curso de medicina e na pós.

Sorrio para Louis e começamos a trabalhar no cadáver, enquanto Gwen investiga as roupas e os objetos deixados próximos ao corpo e Thomas nos fala o relatório completo da perícia: o corpo estava caído como se a vítima simplesmente houvesse deixado de ter força nas pernas; somente um copo fora deixado no local e este estava próximo o bastante da vítima para concluir-se que que Sam estava bebendo daquele copo; não há sinais de luta nem presença de armas, digitais suspeitas não foram encontradas e as fotos só servem para comprovar tudo o que Thomas diz.

Sam não tinha nenhuma doença, era um jovem saudável e bem nutrido, com certeza fora assassinado. Não há sinais de estupro ou de agressões físicas. Não encontramos furos de bala nem lesões. Sam nunca teve nenhuma tatuagem nem cicatriz. Abrimos o corpo para examinar os órgãos, fazendo um rasgo do pescoço ao púbis, com formato de I.

Os pulmões estão inchados, cheios de pintas vermelhas e com a face arroxeada, típicos indicadores de asfixia. Também há sinais de envenenamento. Louis retira o estômago para analisar a substância utilizada como veneno. Não há sinais de hemorragia nem de pneumonia. Corto o couro cabeludo de orelha a orelha e retiro a tampa do crânio com uma serra elétrica e, então, corto os nervos que conectam o cérebro ao resto do corpo, os nervos ópticos entre eles. Entrego o cérebro para Louis poder analisa-lo devidamente. Não há sinais de fratura no crânio.

Quando terminamos, reinserimos os órgãos e fechamos o corpo. Incineramos os pequenos pedaços que utilizamos nos exames e Louis usa uma costura contínua para remendar o corpo.

— Um veneno do caracol Conus mamoreus causou a asfixia. — diz Louis, sentando-se, cansado após duas horas e meia de trabalho, numa cadeira próxima.

— Não deveríamos reverificar a boca, então? — opino.

— Para que, LuAnn? Já sabemos qual foi o veneno e a causa da morte. — contrapõe Louis.

— Não sei. — dou de ombros. — Só pensei e falei. Imaginei que pudesse haver alguma coisa a mais na boca, sei lá. Ele pode ter ingerido alguma coisa com o veneno.

Louis pondera um instante e aproxima-se novamente do corpo, com as luzes apropriadamente posicionadas para uma melhor iluminação da boca. Louis verifica os lábios por dentro e por fora, o interior das bochechas e a acarda dentária. Mas sua expressão de surpresa o entrega quando ele olha a parte inferior da língua. Aproximo-me para ver o que é e me surpreendo. É uma cicatriz recente, não deve ter sido ganha antes da festa e com certeza foi feita com mãos habilidosas de alguém que sabia o que estava fazendo.

É uma suástica, um símbolo budista.


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