Inf3cted escrita por young


Capítulo 3
Capítulo 2: "Nightmare With Red Hair" - POV LuAnn


Notas iniciais do capítulo

Olá! Não precisei de pesquisas para escrever este capítulo, mas o fiz com todo o cuidado possível. Obrigada a todos que estão lendo (:



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GOLD COAST, AUSTRÁLIA - CAFETERIA KENT, BURLEIGH HEADS. 17 DE DEZEMBRO DE 3726. 8:15 AM

— Smith? — um suspiro. — LuAnn... Por favor, vamos lá... Deixa eu te levar pra casa, você precisa dormir mais.

Levanto a cabeça da mesa e vejo Peter parado atrás da cadeira do outro lado da mesa da cafeteria, com um olhar suplicante, o cabelo ainda úmido do banho e dois cafés em copos de papelão reciclado nas mãos. Esfrego os olhos e apoio meu queixo nos meus braços cruzados sobre a mesa. Minha expressão corporal entediada o faz respirar fundo e sentar-se na mesa, colocando um dos copos na minha frente. Suspiro e encaro o copo.

— Os gêmeos foram acusados de serem cúmplices no assassinato de Sam. Mas duvido que sejam. Eles devem ter convidado um extremista por engano. — Digo, sem tirar os olhos do copo e meio que tentando convencer a mim mesma deste fato.

Pet encosta a cabela na parede ao lado da nossa mesa e me olha com preocupação. Sei exatamente o que ele está pensando: pode ter sido qualquer um. Um profissional pode ter conseguido entrar na festa de alguma maneira. Entretanto, não acredito nisso. É imensamente difícil entrar de penetra nas das festas dos gêmeos; eles ficam pessoalmente nos portões da casa até todos os confirmados entrarem - o que não demora muito, pois ninguém quer perder um segundo que seja dessas festas.

A necropsia acabou pouco antes das três da manhã, mas só fomos terminar os relatórios por volta das três e meia. Levei quinze minutos para chegar no orfanato, mas estava acordada o suficiente para informar um Peter ainda acordado e muito preocupado sobre o que acontecera.

Minha equipe chegou à conclusão de que o assassino tem muito conhecimento teórico, mas pouca experiência prática: por isso ele matara por envenenamento; é jovem e alguém próximo o suficiente de Sam para que este aceitasse um copo de bebida. O assassino também teve o tempo necessário para desenhar a cicatriz na língua da vítima e desaparecer entre os convidados da festa, mas ele tem que ter a habilidade para se esconder atrás de um arbusto, desenhar à pouca luz e atuação, para as pessoas ao redor não percebessem o que estava acontecendo.

Encontrar um culpado seria fácil se Sam não houvesse pulado de grupo em grupo durante toda a festa e aceitado tomar do copo de várias pessoas. Ele foi visto diversas vezes com muitos grupos. E, no local onde ele fora encontrado morto, havia uma boa quantidade de pessoas bêbadas e drogadas, então não há exatamente uma confiança no testemunhos dessas pessoas. Os sóbrios disseram que Sam estava sozinho quando foi para perto do arbusto e que estava aparentando "estar estranho" enquanto estava por lá, porém acharam que ele estava bêbado ou sob efeito de drogas.

O arbusto é localizado em uma área mais isolada e longe de janelas - as lâmpadas do jardim não estavam todas acesas e estavam programadas para exibirem uma luz fraca; essa era uma das áreas onde não havia lâmpadas, a pouca iluminação era provinda de luzes não tão próximas -, além de que o arbusto estava sendo utilizado como um dos alvos de vômito, então ninguém havia percebido até aquele grupo de meninas chegar lá para vomitar.

O assassino utilizou muito bem o ambiente isolado e pouco iluminado para desenhar a suástica, porém pode ter necessitado de algum tipo de aparelho que proporcionasse um pouco mais de luz para que o desenho ficasse tão perfeito dentro da boca de Sam.

— Lu! — ouço a voz um pouco mais alta de Peter e pisco os olhos, saindo do meu devaneio.

Situo-me novamente na cafeteria ao meu redor. Olho para Pet como quem pede desculpas; ele sorri e dá de ombros, um "tudo bem". Ajeito-me na cadeira, pego meu copo e tomo metade do conteúdo, sentido o calor do líquido se espalhar pelo meu corpo e a cafeína viajar por minhas veias. Peter chama a garçonete e pede dois mistos-quentes.

Assim que ela se vira para fazer o pedido na cozinha, Pet segura minha mão livre, que está apoiada na mesa. Entrelaço meus dedos nos dele. O melhor de conhecer Peter desde o maternal é me sentir segura o suficiente para pequenos gestos como este, sem achar estranho ou me preocupar com o que as pessoas vão achar; é tão natural quanto abrir os olhos ao acordar.

— Não se preocupa com os gêmeos. Tenho certeza que essa situação irá se resolver bem. — diz ele.

— Tomara. — digo, com um suspiro.

Ele me dirige um sorriso torto, triste. O celular dele toca e ele tira a mão da minha para responder à mensagem, enquanto usa a outra mão para levar o copo à boca. Observo-o enquanto ele recebe e envia mais alguns sms's, numa velocidade incrível de envio/resposta. Peter levanta o olhar bem na hora que a garçonete retorna com nossos pedidos. Ele sorri timidamente e agradece. Também sorrio agradecidamente para ela. Começamos a comer imediatamente e ela vai embora.

— Hm. — começa Peter, entre mordidas — O ensaio da banda foi adiado para amanhã. Quer ir? - faço que sim com a cabeça. — Ah, e Marilyn e Melinda me mandaram uma mensagem. Uma encomenda da prefeitura chegou para você lá no orfanato.

Marilyn e Melinda sãos as irmãs que coordenam o orfanato.

— Deve ser a caixa com as informações sobre meus pais biológicos. Pedi para meus contatos na prefeitura verem se conseguiam me mandar e eles me disseram que iriam enviar o máximo possível e que eu poderia manter a maioria das coisas, caso eu queira.

— Quer que eu vá com você? Já passei por isso, você sabe.

Abaixo meu misto-quente e olho para Peter com uma sobrancelha erguida e um sorriso no rosto.

— Claro, né?

Peter sorri um sorriso radiante para mim.

Rimos e, em poucos minutos, terminamos nossa refeição. Pagamos e começamos a andar de volta para casa, falando sobre qualquer coisa para nos tirar Sam e os gêmeos da mente.

Caminhamos para finalmente descobrir de qual homem e de qual mulher sou filha.

GOLD COAST, AUSTRÁLIA - ORFANATO LEGACY, SOUTHPORT. 17 DE DEZEMBRO DE 3726. 11:32 AM.

Meus pais eram militares. Meu nascimento foi o desejo de morte deles. Eles morreram em uma guerra na América do Sul, tentando acabar com uma revolta. Revolta essa que tinha o objetivo de fazer com que o continente parasse de exportar água e outros recursos naturais.

Meus pais já namoravam há algum tempo, desde o colégio. Entraram juntos no Exército e se voluntariaram para servir na guerra onde morreram. Eles eram novos, mas já tinham moral e eram generais-da-brigada com trinta anos, idade com que morreram.

Devido à moral que tinham e à alta patente, a carta que escreveram antes de irem para a guerra foi levada à risca. Li a carta e vi que até a escolha de genes para mim foi obedecida. Eles morreram a uma distância mediana da base, por isso os corpos foram encontrados e enterrados juntos no mausoléu do Exército, em Sydney. Os nomes deles eram Nelson e Robin Queen.

E eles realmente queriam que meu nome fosse LuAnn, além de eles serem mesmo daqui de Gold Coast e desejarem de verdade que eu nascesse aqui.

Olho para os papéis espalhados na minha frente, sem saber exatamente como reagir. Quero fazer um comentário, mas não tenho palavras. Abro e fecho a boca diversas vezes na tentativa de pronunciar algo decente, mas nada é o suficiente. Passo a mão pelo cabelo ainda não totalmente seco do banho, desesperada por não saber o que fazer.

Peter está do outro lado dos papéis, o cabelo loiro bagunçado - ele também mexera muito no cabelo durante as últimas duas horas. Estamos sentados no chão do nosso quarto, agora vazio e quieto, sem a presença das outras quatro crianças com quem nós com quem dividimos o quarto - todas cinco anos mais novas que nós, pelo menos.

Respiro fundo, trêmula. Pego novamente a carta escrita por eles, cuja caligrafia é da minha mãe. Eles deixaram bem claro quais genes eles quiseram para mim e posso identifica-los claramente. Meus olhos azuis, meus cabelos ondulados de um tom castanho-médio, nenhuma doença, nenhuma alergia. Tudo o mais próximo possível do que eles queriam. Olho para Peter, que está concentrado em terminar a leitura da carta escrita para mim. Carta esta que tive que ler algumas vezes para conseguir assimilar completamente o conteúdo.

Espero Peter terminar de ler e, quando o faz, ele me olha com um sorriso triste. Ele vem para meu lado e apoio minha testa no ombro esquerdo dele. A reação dele é me abraçar com um braço só.

Estou com uma sensação estranha. Queria chorar, mas não me sinto triste. Ao contrário, estou feliz ter descoberto sobre meus progenitores, eles pareciam ser boas pessoas. Todavia, um sentimento maior se sobrepõe à felicidade. É um vazio, nem bom nem ruim. É como terminar um livro muito bom, ler o último livro não lido da estante ou uma mistura de ambas as situações. Claro que exponencialmente maior, pois descobrir quem são seus pais é algo muito maior do que terminar um livro.

A presença de Peter é reconfortante. Não só por ele ser o meu melhor amigo desde que éramos crianças, mas também por ele já ter passado por isso. Ele descobriu quem era a família dele há alguns anos, em uma época em que eu ainda não tinha coragem o suficiente para fazer o mesmo.

Peter levanta-se subitamente. Apoio minhas mãos no lado direito do corpo para que meu rosto não bata no chão. Ele começa a andar pelo quarto, reunindo e organizando os papéis dentro da caixa. Quando saio do meu estado de perplexidade, faço-o parar, segurando sua mão livre quando ele passa na minha frente. Utilizo-o para me levantar e pergunto o que diabos ele está fazendo enquanto ele tira sua mão da minha.

— Nós temos que sair daqui. Você precisa de ar. Vamos para o parque. — responde-me ele, colocando os papéis que estão em sua mão dentro da caixa.

Paro na frente dele antes que ele possa pegar mais.

— Pet. É uma decisão minha. — ele ergue uma sobrancelha para mim. Respiro fundo. — Certo. Ir para o parque pode ser uma boa ideia neste momento. Mas eu vou guardar esses papéis junto com você.

Ele não protesta. Terminamos de guardar os papéis e colocamos a caixa com os documentos embaixo do beliche que dividimos desde que me mudei para cá. Então, ele segura minha mão e descemos juntos as escarias, só parando na mesa do hall de entrada para avisar para as Irmãs que estamos indo almoçar no parque.

Deixo Peter me guiar pelo caminho e afundo no meu vazio, mal percebendo que a atenção dele se divide em não me deixar ser atropelada, acertar o caminho e mandar mensagens de texto para não sei lá quem. Assim que chegamos nos portões do parque, volto a prestar atenção no mundo à minha volta.

Respiro fundo e solto o ar pela boca. Peter ri e eu reviro os olhos. Entramos no parque e procuramos por uma mesa vazia que esteja, preferencialmente, embaixo de uma árvore. Com o calor que está fazendo, a maioria das pessoas está concentrada nas praias; o restante das pessoas deve estar trabalhando ou em frente a algum ventilador. Nossa busca pela mesa ideal, então, não demora muito.

Sentamos um do lado do outro na mesa de madeira e Peter manda mais algumas mensagens. Olho para ele, intrigada, mas ele só balança a cabeça. Reviro os olhos e olho ao redor, vendo algumas barraquinhas de comida. Agrado-me com uma que vende cachorros-quentes e, com a cabeça, indico a Peter que irei comprar comida lá. Ele não demora em me pedir para comprar alguma coisa para ele também. Saio da mesa e entro na fila da barraquinha.

Enquanto espero, fico encarando os ombros do cara em minha frente, pensando em como meus pais exigiram meu nascimento. Na carta que escreveram para mim, desculparam-se caso eu achasse a decisão deles cruel. De certa forma, acho. Porém, eles me escreveram com tanto amor e carinho que acabei os perdoando. Eles já me idealizavam e pretendo me tornar a mulher que eles imaginaram. Na carta, eles disseram que eu não precisava seguir qualquer padrão para ser mais amada por eles; que eles já se orgulhariam de mim, desde que eu fosse uma boa pessoa. Eles também escreveram que sabiam que iriam morrer, os rebeldes da América do Sul podem ser quase imbatíveis se trabalharem juntos, e esse era o caso. Porém, eles queriam que eu aprendesse com as mortes deles: vale a pena morrer quando se tem uma boa causa. A deles, no caso, era impedir que o resto do mundo ruísse novamente com a falta de recursos naturais para todos os continentes.

De repente, sou abraçada. Cambaleio para o lado e, assim que fico livre do aperto, vejo Kim e Bethany a meu lado. Olho para a mesa e aceno para Frederick, Will e Louis, que chegaram com as meninas. Eles gritam para que compremos algo para eles também e fazemos um sinal positivo para em resposta. Eles são amigos da escola e devem ter vindo juntos, buscando cada um em sua devida casa.

Enquanto a fila anda, converso com as meninas sobre meus pais. Creio que Pet deve estar falando a mesma coisa com os meninos, pois eles lançam sorrisos para mim, como se estivessem orgulhosos por eu ter tido coragem de olhar a caixa.

Paramos de conversar só para realizar a compra, mas retomamos o assunto assim que começamos a nos dirigir para a mesa. Chegando lá, os meninos pegam seus cachorros-quentes. Peter realmente falou sobre meus pais, mas eles já mudaram de assunto: estão falando sobre a morte de Sam.

Enquanto comemos, os atualizo sobre o que descobrimos na necropsia. Nenhum deles assistiu ao jornal matinal, acordaram tarde demais para isso. Então, tudo o que digo a eles é notícia. Tento ao máximo tornar o assunto menos nojento, para poupar os almoços dos meus amigos.

E continuamos a conversar mesmo após terminarmos a refeição. Mudamos de assunto várias vezes.

Diversos assuntos vão e vêm enquanto o brilho do sol vai diminuindo. Quando percebemos que ainda não jogamos os restos dos nossos almoços no lixo, que o sol já está se pondo e que passamos a tarde sentados numa mesa, juntamos nosso lixo e os jogamos no devido lugar. Então, começamos a andar pelo parque, apreciando a vista e o pôr-do-sol, parando só uma vez para comprar churros. Durante a caminhada e a conversa, olho para Peter com um olhar de agradecimento. O dia com amigos realmente melhorou meu humor e me fez esquecer um pouco do vazio eu que estava sentindo mais cedo.

Chega a hora em que há uma decisão geral para voltar para casa. Todos nos despedimos e seguimos cada um nossas devidas direções. Assim que saímos do parque, dou um soquinho no braço de Peter enquanto andamos. Ele me empurra e rimos.

A caminhada para casa é bem tranquila, com a brisa fresca da noite balançando levemente nossos cabelos.

Porém, antes mesmo de virarmos a esquina para o orfanato, vemos uma coisa esquisita: viaturas de polícia cercando todo o quarteirão. Peter e eu trocamos olhares assustados e nos apressamos para a casa, somente para um policial nos barrar ainda na calçada. Olho perplexa para os policiais na rua e no jardim do orfanato. O que diabos está acontecendo aqui?

Então, vejo algo que me deixa ainda mais confusa.

Dois policiais estão saindo do orfanato com Draco Eagle entre eles. Draco este que saiu do orfanato há dois anos, assim que completou dezoito anos. Ele está curvado, com a cabeça abaixada e os cabelos ruivos lisos caindo sobre os olhos verdes. Entretanto, ele levanta o olhar e eu gelo. Ele está com um olhar de ódio, diferente do Draco animado e cativante que eu conheci enquanto ele ainda vivia sobre o teto de Marilyn e Melinda. Ele percebe meu olhar e me dirige um sorriso maníaco que só faz com que eu fique ainda mais arrepiada.

O policial que parou a mim e a Peter começa a nos fazer perguntas, que mal ouço enquanto observo Draco entrar na viatura. Respondo tudo automaticamente: Draco é quatro anos mais velho que eu, por isso não éramos muito íntimos, apesar de conversarmos e brincarmos juntos às vezes. Entretanto, quando ele saiu daqui com dezoito anos, ele ainda era o menino gentil e engraçado que sempre fora durante o tempo em que convivíamos todos os dias. Respondo que não sei o que ele fez nem que ele estava vindo para o orfanato, mas que o vi rapidamente na festa - todavia, ele não demonstrava estar alterado ou com tendências assassinas. Continuo em meu estado de torpor até o oficial nos contar o que está acontecendo.

O orfanato é um dos lugares onde a polícia achava que ele se esconderia, diz ele. O lugar mais provável, aliás. Marilyn e Melinda foram avisadas para contatarem alguma delegacia caso Draco aparecesse. Caso contrário, seriam acusadas de serem cúmplices de um crime gravíssimo, por esconderem um provável criminoso. Quando pergunto do que ele está sendo acusado, perco o ar.

Ele é um dos principais e pouquíssimos suspeitos de terem matado Sam Whitelock.


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Notas finais do capítulo

Perdoem-me caso o capítulo tenha ficado muito grande.



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